quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Capítulo 21 - Sociedade

Na manhã seguinte, eu tive um julgamento e retornei mais cedo para casa. Falei com Kazuko e Keiko. Dei um beijo no meu filho. Tomei banho apenas para relaxar e fui descansar mais ainda lendo outro trecho do diário.
Oi diário,
acabei de voltar de festa de aniversário do chefe de Makoto: Yuuki. Mas tenho coisas a contar antes disso!
Acordei com Makoto na mesma posição. Tirei o braço dele e fui ao banheiro. Tomei banho com o sonho que tive na cabeça. Sonhei com um possível futuro parto, com todos a minha volta, me sufocando. Gritando para eu empurrar o filho do Makoto. Quando ele finalmente saía, todos se voltavam para ele e me esqueciam. Eu ficava ali, ofegante.
Olhei para a minha barriga e falei:
–Espero que não seja assim, bebê. - coloquei a mão – Não será como naquele sonho.
Saí, fui colocar uma roupa. Coloquei a calcinha e decidi me olhar no espelho. Notei o quanto meus seios estavam maiores e também doloridos. Virei de lado e pude perceber a protuberância da minha gravidez aparecendo. Percebi muitas mudanças no meu corpo em apenas algumas semanas.
Ele levantou e veio atrás de mim no espelho.
–Bom dia, Kazuko.
–Bom dia, Makoto. - falei me virando para ele
–Eu não tinha visto o quanto seus seios aumentaram.
–Não só os seios, o corpo todo praticamente.
–É, você engordou um pouquinho. - pegou em meus ombros e me pôs em direção ao espelho – Mas é por uma boa causa: Nosso filho. - colocou a mão na barriga, abraçando-me por trás
–Nosso não, Makoto, só seu.
–Nosso sim. Esqueceu que estamos junto nisso?
–Não me esqueci.
Posicionei minha mão sobre a dele, sorri e uma lágrima caiu do meu olho direito. - ele olhava para através do espelho.
–Não precisa, Makoto. - respondi, rindo – Eu preciso comer, para tomar o meu chá.
–Tudo bem.
Então fomos tomar café, e Makoto me disse da festa de mais tarde.
O resto do dia se passou normalmente, até que nos arrumamos e saímos para a festa.
Não era muito longe, logo chegamos. O chefe de Makoto também morava na cobertura do seu prédio. O apartamento estava cheio. Makoto desejou parabéns ao chefe e lhe deu o presente. Em seguida, fui falar com ele.
–Obrigado, Kazuko. Parabéns a você também, pelo seu bebê.
–Obrigada.
–Bebê? Como é? - era Yoko, ela aparecera
–Boa noite, Yoko. - falei – Eu estou grávida.
–Ora, meus parabéns!
Sorri, agradecendo.
Revi pessoas que foram ao aniversário de Makoto e conheci muitas outras. Nunca recebi tantos parabéns na minha vida, nem no meu aniversário.
Ele foi conversar com outros, e fiquei sentada no sofá. Só que eu tenho essa cara de escrava e chamo atenção das pessoas. Dessa vez foi da Yoko e as amigas dela. Elas se sentaram ao meu lado e à minha frente.
–Está de quantos meses?
–Acho que um mês e meio, quase dois.
–E é escrava do Makoto há quanto tempo?
–Menos de seis meses.
–Nossa, você é apresadinha em.
–Pois é, meu marido achou cedo eu ter engravidado no segundo ano de casamento.
–E tem uns três anos que estou tentando ter o meu segundo.
–E como fez para conseguir tão fácil? - outra me indagou
–Ora, só esqueci de tomar o anticoncepcional.
–O quê? Não foi intencional?
–Nem um pouco.
–Poder da juventude.
–Enquanto isso, Yoko está tentando ter o dela.
Yoko fechou a cara, detestando aquele comentário. Seu olhar se encontrou com o meu, me fuzilando. Senti o ódio que carregava. E fiquei tentando entender o porquê desse olhar ser para mim. Quem falou foi a amiga dela, não eu.
Não quis continuar ali, parecia que o se assunto se estenderia mais ao ponto de ficar desfavorável para mim. Pedi licença, educadamente, e me isolei na varanda daquela cobertura. Fiquei apoiada na sacada observando o céu noturno. Podia ouvir o som dos carros lá em baixo e também as vozes atrás de mim. Percebi alguém se aproximar e falar comigo.
–Kazuko, o que faz aqui?
–Apenas aproveitando a vista, senhor...
–Me chame de Yuuki. Mas meu sobrenome é Shimono. - falou sorrindo – Elas te pertubaram muito?
–Só aquela indagação infinita que é muito comum na minha vida. Perguntam como aconteceu, o que Makoto achou e de quanto tempo estou. Não é mais fácil simplesmente entender que estou grávida e ficar sem fazer perguntas?
–Nem faço ideia de como se sente, mas a Yoko pareceu um pouco perturbada com essa notícia.
–Deve ter notado a maneira que ela me olhou.
–Ela também falou comigo. Ela se sente impotente quando vê que alguém engravida e ela não.
–Tem muito tempo que tentam?
–Desde que nos casamos. Até adotamos o Hiro. Nós o amamos muitos, porém ele não supriu a vontade de ter um filho biológico. E bem... Ela ficou meio revoltada com a facilidade com a qual você conseguiu.
–Yuuki, eu lamento por vocês, mesmo não gostando tanto da Yoko.
–Já sei dessa história. - riu – Mas vamos parar de falar de coisas tristes, afinal, hoje é meu aniversário. E eu sei que um dia terei o meu filho em meus braços e você, em breve, também terá o seu.
–Assim será, Yuuki. - respondi sorridente
–Vou voltar para dentro, tenho que dar atenção aos meus convidados.
Yuuki retornou a festa. Outra pessoa foi a varanda: Makoto.
–O que conversava com o meu chefe?
–Nada demais.
–Não estavam falando mal de mim, né?
–E o que eu diria de mal sobre você?
–Eu sei lá qualquer coisa.
–Estávamos falando da Yoko. Há anos ela tenta ter um filho e não consegue.
–Eu já os aconselhei a fazer inseminação artificial, contudo a Yoko ainda quer que seja do jeito tradicional.
–Ela tem algum problema?
–Não que eu saiba. Só sei que ela abortou algumas vezes quando mais jovem.
–E agora que quer, não consegue.
–Bem por aí.
–Foi por isso que quis ficar com ele? - coloquei a mão na barriga
–Pode ser que você queria um filho no futuro, um aborto acaba machucando o seu corpo e prejudicando as futuras chances. Pode ser que eu queria mais um filho no futuro e não tenha sucesso. Então essa não teria sido uma oportunidade jogada fora. E é injusto com a vida que está se formando... Interrompê-la assim.”
Deu para notar, claramente, que eu sou contra o aborto, não é?
Acho que Kazuko entendeu que se ela engravidasse dez vezes, terias os dez filhos. Não permitiria que abortasse.
Já vi muitos casos parecidos com de Yoko. Abortaram antes e depois ficavam sofrendo na tentativa.
É melhor não brincar com o destino e com a sorte. Eles podem não querer colaborar de novo.
Não fazia ideia de que ele pensava assim. Sinto-me bem sabendo que levou em conta os três lados da situação.
Um silêncio se fez, não tinha o que responder. Depois, soltei:
–Entendo. Não seria uma coisa boa matar essa criança.
Makoto sorriu e me abraçou, de forma bem parecida daquele dia lá na estrada, quando víamos toda a cidade do alto. Entramos em seguida.
Durante o resto da festa fiquei junta a Makoto, apenas acompanhando a conversa dele com seu chefe. Dava para perceber que elas eram bem amigos.
Uma mulher prestava muita atenção onde estávamos, e a todo momento olhava para Makoto. E Makoto também trocava olhares com ela. Acabou indo falar com ela e não tive como não perguntar para Yuuki:
–Quem é essa?
–É Kobayashi Kana, amiga da minha esposa. E se não me engano, ela e Makoto já namoraram.
Isso é um mau sinal. “Pode ser que tenha que dormir sozinha hoje”, pensei.
Pude ver que a conversa era bem íntima. Isto poderia me causar problemas. Aliás, o que não poderia me causar problemas pelo simples fato de ser escrava?”.
Permitam-me explicar está última observação da Kazuko. Afinal, por que tudo é problema para uma escrava?
É justamente por ser uma posição de impotência e risco constante.
Se uma escrava engravida: problema.
Se uma escrava se rebela: problema.
Posso ficar aqui citando várias situações, mas o que Kazuko quis dizer é que aquela mulher com a qual eu conversava poderia lhe causar problemas.
Quando o dono se relaciona, a escrava corre o risco de ficar de lado, esquecida. Isso, de certo ponto de vista, é ruim. O dever da escrava é satisfazer o dono. Porém, se o dono já tem um outro alguém para isso, pode acontecer a alforria do escravo. Isso é bom! Só que considerando o fato de que alguns largam os estudos, como vão seguir a vida?
É algo, inclusive, bem relativo. Cada um pensa de um jeito. Então, levarei em conta o que minha própria esposa disse: “Eu me sinto vulnerável”. Se sente desesperada e com medo de qualquer coisa que acontecer.
Makoto ficou um bom tempo conversando com ela. Após isso, cantaram o parabéns e cortaram o bolo. Voltamos para casa.
Ao chegarmos, tomei um banho, Makoto também. E fez algo bem fora do padrão dele depois disso. Agarrou-me e atirou-me na cama. Despiu-me e fez umas preliminares bem básicas e penetrou. Assim, seco e grosso!
Foi um sexo básico e sem graça. Ele só queria descarregar. Obviamente porque viu a ex e deve ter fantasiado com ela. Ficou mais claro ainda quando balbuciou o nome dela antes de gozar.”
Eu nem me lembro disso. Que merda! (risos)
Com outro sussurro ao nome dela foi ao lado vazio da cama.
Eu me senti péssima. Tudo bem que nunca foi algo que me completasse. Sempre sinto um vazio quando as transas acabam. Só que nessa hora, o vazio foi bem maior.
Normalmente, eu me sinto um objeto. Mas ao ouvir o nome de outra pessoa, piora essa situação.
É muito complicado de explicar!
Olhei para o teto escuro, com uma enorme vontade de chorar. Não queria que ele me visse! Levantei e caminhava a porta do quarto. As lágrimas começavam a escorrer. Makoto me chamou.
–Kazuko, aonde você vai? - falou, pegando no meu braço e então, percebeu – Espera aí! Tá chorando?
–Não é nada, Makoto. Só preciso ficar sozinha.
–Vem cá!
Tentei protestar, mas ele me alojou em seu peito, me abraçando. Começou a acariciar meus cabelos e foi aí que eu realmente desabei.
Ele não falou nada, não perguntou nada. Só permitiu que eu chorasse em seu ombro.
Quando eu me acalmei, voltamos a nos deitar. Makoto me obrigou a dormir sob o seu peitoral. Por que ele está com essas atitudes agora?
Esperei ele cair no sono e dei uma escapada para escrever aqui. Eu precisava colocar o que sentia para fora. E o único lugar possível é aqui.
Agora partirei, pois preciso dormir. E também ele não pode perceber que eu fugi. (risos)”
Kazuko entrou no quarto e me chamou para ficar com ela e Keiko lá na sala.
–Você tá muito isolado. - foi o que ela disse

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