quarta-feira, 30 de março de 2022

Na mesma Estação - 12 Meses com Minorin: Março


“Nós no mesmo trem.

É o destino!

Onde é o final da jornada?“


(Vogayer Train - Minori Chihara)


***


Já é tão cedo e eu estou parado na mesma plataforma, da mesma estação, esperando o mesmo trem, como em todos os outros dias. É segunda-feira e é dia de voltar a labuta.

E quando se anda muito de transporte público você se acostuma com algumas coisas. Os horários; onde desembarcar para não precisar andar muito; atividades para passar o tempo da viagem; as mesmas pessoas. E o pior que isto é o que eu mais presto atenção: nas pessoas que estão presentes. Tão diferentes de tamanhos, tons de peles e de estilos. E claro, por sempre estar aqui na mesma faixa de horário, as figurinhas sempre se repetem. Raramente acontece algo diferente, até mesmo os atrasos dos ramais são algo bem comum.

Só que hoje, descendo pelas escadas e indo em direção a plataforma, vem uma garota, creio que na mesma faixa de idade que eu, trajando uma camiseta de banda, uma calça escura e tênis. Seu cabelo era de um roxo bem escuro e ela parecia distraída ouvindo música em seus fones de ouvido, carregando sua mochila na frente do corpo.

Sua imagem é bem distinta de quem costumo ver por aqui, sempre usando uniformes de trabalho e cabelos no máximo no espectro castanho/loiro/ruivo. Não vou mentir, realmente a garota chama a minha atenção!

A vontade é de puxar conversa com ela, mas uma coisa que alguém que usa fone de ouvido já informa de cara é que não quer que a perturbem. Recolhi-me apenas a ficar admirando-a até que o trem chegasse à plataforma e todos que esperavam finalmente embarcassem.

Presto atenção na garota roxa - se é que posso chamar assim - e vejo que ela desceu algumas estações antes de mim.

Talvez seja a primeira e única vez que a tenha visto!


***


Já no dia seguinte, fico distraído, mexendo no celular, enquanto espero o bendito do trem - que resolveu atrasar vinte minutos, logo hoje que tem uma reunião importante - e sou surpreendido por ver aquele cabelo roxo novamente. Ela está com um vestido preto, usando os mesmos tênis, mochila e claro, os fones.

Continuo a observando de longe e admirando seja lá o que for que achei de interessante nela.

E então, tenho outra surpresa! Ela olha para minha direção e nossos olhares se encontram por um segundo. Foi um olhar sem nada demais, talvez ela tenha me olhado, porém não me visto. Aqueles olhos castanhos não sairiam da minha mente pelo resto do dia.

Logo se ouviu a buzina de um trem que apenas passou direto, levantando vento por todo o caminho. Vários cabelos e roupas voaram no processo, incluindo o cabelo roxo e o vestido, que teve que ser segurado para não mostrar nada constrangedor.

Confesso que dei uma risadinha por dentro com a cena.

Logo o nosso trem chegou, entramos e cada um seguiu para o seu destino.

Durante o resto daquela semana, a menina dos cabelos roxos continuou aparecendo no mesmo horário. Variando suas roupas pretas e no máximo para um cinza mais escuro. Sempre com o fone de ouvido, o que me dava zero abertura para tentar puxar assunto ainda. E nem seria a coisa mais legal do mundo um cara sem noção, em plena seis da manhã, querer conversar com você.

Restou para mim observá-la e admirá-la de longe mesmo!

A menina dos cabelos coloridos logo se transformou em mais uma das figurinhas que faziam parte da minha paisagem matinal, porém ela era a que mais se destacava. Sempre via ela vindo de longe, com aquele cabelo que logo foi desbotando para um lilás pastel, depois ela trocou a cor para azul, verde, rosa. Vi diversas de suas fases à distância!

E sempre ficava pensando naquela garota durante os finais de semana, secretamente esperando reencontrá-la na estação, mesmo que eu nunca fosse falar com ela.


***


E o final de semana passou bem rápido, como sempre. E esta é a maior tristeza do trabalhador: o final de semana sempre passa rápido demais.

O despertador da segunda-feira tocou, para o meu desgosto, levantei, me arrumei e logo fui caminhando para a estação.

Desço as escadas e a plataforma está lotada, como de costume. O alto-falante já anuncia que alguns trens estão circulando com atraso por culpa de um acidente na via.

Já percebo que muitos dos outros passageiros estão reclamando, seja com quem também está ali ou com alguém no celular. Mas o fato é que há um alvoroço no local!

Claro que sinto falta da figura colorida que sempre aparece naquelas manhãs. Será que ela se atrasou?

A buzina do trem surge! Acho que dei sorte, pelo menos! O trem se aproxima, para e abre as portas. Todos conseguem entrar, já que este é um especial que disponibilizaram por conta da situação. Eu deixei para embarcar depois dos outros, para poder ficar na porta, já que não desço tão longe assim.

Quando o trem estava com as portas para fechar, vejo lá de cima ela, com os cabelos da vez, que são amarelos, gritando:

- Segura o trem!

Imediatamente, coloquei meu pé na frente e impedi que a porta fechasse. Ninguém sabia quando outro trem passaria, então tive que fazer algo.

Todas as outras portas fecharam e só a que estava segurando ficou aberta. Todo mundo do meu vagão olhando puto para mim - porque eu estava atrasando ainda mais a viagem.

Ela desceu as escadas correndo, agarrada na bolsa.

- Ei, entra aqui! - atendi ao seu pedido desesperado

Nossos olhares se cruzaram e ela continuou a corrida até chegar a mim, finalmente entrando e respirando ofegante pelo exercício forçado. Ela se encaixou num cantinho que ficou sobrando bem do meu lado, já que estava abarrotado. Tirei o meu pé, a porta trancou e o trem partiu.

- Obrigada! - falou entre os suspiros

- Nada. Acho que se perdesse este, nem sei que horas passaria outro.

- Ramal atrasado de novo?

- Sim! Ao que parece foi acidente, não tinha muito tempo que eu cheguei na estação.

- Entendi. - ela sorriu

Num situação normal, nosso assunto acabaria aqui, mas ela prosseguiu:

- Você está sempre por aqui neste horário, né?

- Sim! Pego geralmente esta hora. - desconversei

- Te encontro na estação todo dia quase. - ela foi direta

- E eu te vejo de vez em quando. - menti

- E onde você trabalha? Tá sempre arrumado! - ela questionou

- Eu trabalho numa multinacional e lá tem que sempre estar bem vestido. E você?

- Sou tatuadora! Por enquanto, estou num estúdio de uma amiga.

- Que legal! Eu sempre quis fazer uma.

- E qual você faria?

- Isso, eu não sei. Talvez representando algo que goste, alguma frase.

- Quando for fazer, não se esqueça de mim. - e riu

A nossa conversa seguiu enquanto as portas da locomoção, que estavam bem do nosso lado, iam parando em outras estações e mais pessoas saiam e entravam, mantendo a pequena caixa de lata ainda lotada. Porém, a gente não se importou com isto, estávamos isolados numa pequena bolha.

Ela me contou sobre como começou na carreira de tatuadora, que tinha pouco mais de dois anos e ela trabalhava em estúdio de amigos e agora estava neste da amiga e estava adorando fazer tattoos dos mais variados estilos.

Já eu nem tive nada muito interessante para contar, só sobre a minha formação e como eu ingressei na empresa em que trabalho, onde cuido da área financeira. Mas, como toda pessoa jovem da nossa geração, eu tenho o sonho de construir e ter o meu próprio negócio.

Ficamos tão distraídos que quase que ela perde a estação para saltar. Antes dela descer, eu perguntei a coisa mais importante e que eu tinha esquecido completamente:

- Eu sou o Henrique! E o seu nome, qual é?

Neste segundo, a porta se abriu e ela saiu. Numa cena que parecia saída de um filme, ela só me responde:

- A gente se vê amanhã, Henrique!

Então, o trem partiu e eu fiquei me martirizando pelo resto do dia por ter conversado por meia hora com esta garota e sequer saber o nome dela.


***


Eu mal dormi, ansioso para reencontrar com a moça dos cabelos coloridos na estação. Aliás, a preocupação foi tanta que eu mal me concentrei no trabalho também. A minha sorte foi ter sido um dia mais tranquilo. 

E ela estava lá de novo, sorriu ao me ver e foi falar comigo:

- Bom dia, Henrique!

- Bom dia… Eu não sei o seu nome, desculpa.

- Cristal. - e riu - Perdão não ter falado ontem.

- Tranquilo! Eu que escolhi a pior hora para perguntar. - cocei a cabeça, constrangido

- Acho que ficamos tão envolvidos na conversa que a gente só esqueceu.

- Verdade! - mudei de assunto - E ai? Que tatuagens legais fez ontem?

- Vou te mostrar. Peraí! - disse pegando o celular e abrindo a galeria

Ela mostrou uma bela rosa que fez no pé de uma mulher, uma espada num antebraço de um cara e um gatinho que fez em um pulso.

- Ficaram lindas!

- Obrigada! Uma pena que são desenhos prontos, raramente gostam de algo original.

- Tem desenhos originais? Posso ver?

- Claro!

Nesse meio tempo, nosso trem chegou na plataforma e tivemos que empurrar bastante para conseguir entrar. Estava cheio, mas ainda era possível mexer um braço aqui ou ali, ou seja, dava para usar o celular.

Ela abriu outro álbum do celular e foi me mostrando as ilustrações originais. Algumas estavam ainda no papel, outras estavam em suas telas vivas, mas todas eram muito bonitas.

- Tem certeza que faz dois anos que tatua?!

E ela só riu da minha brincadeira.

- Nem minha amiga acredita. Sempre gostei disso e de desenhar.

- Pena que meu trabalho envolva números e não tenha uma foto legal para te mostrar. Talvez só de algum gráfico ou algo do gênero.

- Cada pessoa tem a sua aptidão, não se rebaixe por isso. Todos os trabalhos são importantes!

- Você só diz isso porque trabalha com o que gosta!

- Só digo isso porque fui desacreditada e com o que faço muitas vezes. Geralmente são as profissões que envolvem arte que são as mais menosprezadas.

- É verdade! - concordei

A conversa fluiu de novo e ficamos falando sobre os nossos problemas de autoestima. Eu não me achando tão bom assim no trabalho e ela que nunca tinha apoio da família.

Logo chegou a estação dela e nos despedimos. Dessa vez, o meu martírio foi não pedir o número dela ou outra forma de contato.

Só esperava que nos reencontrássemos de novo na mesma estação.


***


Já no dia seguinte, assim que encontrei com a Cristal na estação, tratei de pedir o seu número de telefone - assim como ela pegou o meu -, usando a possível desculpa de que pretendia fazer uma tatuagem. Eu sabia muito bem minhas reais intenções e acho que ela também, mas a gente só fingiu que não era sobre isto e sim uma relação profissional.

Ou será que eu ainda estava criando coragem para chamá-la para sair?

Então, eu percebi uma coisa. Cristal era tatuadora e não tinha nenhum desenho na pele aparente. Pelo menos não nos braços, pernas ou partes que as roupas revelassem. Ela notou o meu olhar pensativo e indagou:

- O que foi, Henrique?

- É só que… Eu percebi agora… Você não parece que tem tatuagem. - e já tratei logo de explicar - Não significa que a sua profissão implica que deva ter uma, é só um detalhe que me atentei agora e achei curioso.

- Não se preocupe! - disse sorrindo - Não é regra, mas eu tenho sim, mas em partes que nem todos podem ver.

- Entendi! - sorri amarelo - Desculpe pela pergunta inconveniente!

- Não foi! - disse tocando em meu braço

A buzina do trem ecoou e logo a locomoção chegou e parou na plataforma. Nós entramos e eu fiquei tão sem graça que a gente nem conversou no caminho.

Antes dela descer, se despediu apenas com o olhar e eu idem.

Mais tarde, na hora do almoço, recebi uma mensagem dela, dizendo o seguinte:

“Henrique, senti que ficou um pouco sem graça hoje de manhã. Não foi por algo que eu disse né? Enfim, bom resto de dia de trabalho e a gente se vê, amanhã quem sabe.”

E eu respondi:

“Não foi você, eu que fui muito invasivo ao conversar hoje. Ai fiquei sem graça!”

“Ficou com vergonha de ter deixado claras demais suas intenções comigo?”

“Como é?”

“Henrique, não finja que você só pegou meu número porque quer uma tatuadora. Eu sei que está a fim de mim!”

Encarei a tela do celular sem saber como retrucar aquilo, ela era mesmo muito direta. Resolvi confessar, pois já não tinha tanta saída:

“Estou sim!”

“Que tal a gente sair então no próximo sábado? E finalmente fazer a sua tatuagem? Que tal?”

“Acho uma ótima ideia!”

“Vou marcar um horário para você aqui. Vá pensando numa ideia, vendo inspirações e tudo o mais.”

“Onde nos encontramos?”

“Na estação, às 9h.”

“Ok! Até lá!”

E a conversa acabou ali. Acho que nunca na vida fiquei tão interessado numa mulher que toma a iniciativa deste jeito. Eu não soube nem como reagir e eu ia pra um “encontro” com ela e ainda fazer uma tatuagem.

Eu tava era ferrado, com F bem grande.


***


Logo o sábado chegou e fiz algo fora da rotina. Arrumei-me com uma roupa mais casual e caminhei até à estação. O sol estava mais alto no céu do que de costume e a quantidade de pessoas paradas era bem menor.

E lá estava ela, usando os mesmo tênis e usando um vestido cinza escuro, com uma bolsa pequena a tiracolo. Acenou para mim quando me viu e eu me aproximei. Nos cumprimentamos e ela perguntou:

- E ai? Pensou no que quer fazer e onde?

- Talvez faça no braço. - disse apontando - Agora, quanto ao desenho… Talvez um dos seus!

Ela sorriu, talvez feliz, talvez admirada. Eu não sei! Mas eu realmente pesquisei e não encontrei nada que me agradasse. Só pensei que uma arte original dela ficaria de bom tamanho.

- A gente decide lá então, quando ver a pasta com desenhos.

- Ótimo!

Demorou um pouco mais que o normal, mas logo o trem chegou. Entramos e por um milagre de final de semana, conseguimos ir sentados.

Viemos conversando sobre coisas banais no trajeto, como foi o meu trabalho durante a semana e o dela. Eu estava sorridente por fora, mas por dentro estava ansioso.

Descemos no nosso destino e saímos da estação, andando algumas quadras até o estúdio. 

Cristal pegou a chave e abriu o portão de lata, jogando-o para cima. E com outra chave, ela abriu a porta de vidro, revelando finalmente o local em que trabalhava.

Para quem não soubesse pensaria que era só mais uma loja, mas as paredes pichadas e grafitadas chamavam bastante a atenção para o lugar. Era tudo muito bem decorado e até colorido, dando totalmente um ar de estúdio de tatuagem.

- É bem legal aqui! - comentei

- É mesmo! Todos esses grafites nas paredes me inspiram muito.

- Vai ser só a gente aqui? - perguntei

- Por enquanto sim. No sábado as pessoas costumam marcar para mais tarde, então acaba abrindo mais tarde. Mas, como eu tinha um cliente às 10h de um sábado, minha chefe me deu a chave!

- Posso escolher meu desenho já?

- Pode! - respondeu ela, pegando atrás do balcão uma pasta com o seu nome escrito nela

- Fique à vontade para escolher, já que temos tempo.

Sentei-me num dos sofás localizados ali e comecei a folhear as páginas com os desenhos protegidos por uma capa de plástico.

Cristal perguntou se eu tinha tomado café e disse que ia comprar algo para a gente comer, já que talvez a tatuagem demorasse e com certeza teríamos fome. Por sorte, tem uma padaria bem na frente.

Os desenhos da Cristal eram bem variados, entre coisas mais elaboradas e minimalistas. Mas, todas eram muito bonitas. Contudo, uma me chamou bastante atenção, era um casal, parados um dos lado do outro, apenas com os traços básicos. E de uma forma muito estranha, aquilo lembrou a mim, a Cristal e nosso encontro doido numa estação de trem.

Talvez no futuro me arrependesse muito de fazer um desenho no meu corpo relacionado a alguém que só conheço há pouco mais de algumas semanas. Fora isso, eu só a observava de longe. Mas, foi a vontade que me deu na hora e vai ser esta!

Assim que ela voltou, trouxe uns pães, biscoitos e suco.

- Já decidiu? - indagou

- Sim! - apontei

- Esta… Interessante! É uma das mais novas que desenhei. Fiz no dia em que você segurou a porta do trem para mim.

- Sério?

Ela assentiu. Então, era essa mesmo que ia querer.

- É mesmo! Bom, vou preparar tudo aqui para podermos começar. Vai ser no braço mesmo?

- Sim!

Ela arrumou tudo. Higienizou o local que iríamos usar, pegou instrumentos estéreis e descartáveis e passou aquele desenho para uma espécie de papel carbono para poder marcar na minha pele e se guiar durante a tatuagem.

Pediu para eu sentar numa das cadeiras e ela foi para a outra. Entre nós estava um tipo de maca, que as pessoas precisam para quando vão fazer em outros lugares. Só coloquei meu braço ali (o direito) e Cristal usou o papel para deixar o traço de guia na minha pele.

- Não vai demorar, já que ela não é grande. Deixa eu só colocar uma música para ajudar a passar o tempo e a dor. - disse, se virando em direção a TV pendurada no teto, ligando-a.

Colocou uma playlist de músicas de animes antigos para tocar.  Vestiu as luvas, ligou a máquina, que fazia um barulho chatinho, igual broca de dentista.

Lá se foi mais de uma hora daquele aparelho marcando a minha pele pela primeira vez. A dor não era tão grande, talvez pelo local que escolhi, era apenas uma cosquinha um pouco persistente, mas nada dentro do insuportável.

Primeiro ela fez os traços básicos, sempre com as mãos firmes, para que todas as linhas ficassem retas. Durante o processo, a gente continuou as nossas conversas iguais as das viagens no trem.

E de repente, ela perguntou:

- Vai querer colorido ou em preto e branco?

- Como é o seu desenho?

- Colorido! O homem tem cabelos castanhos e a mulher tem…

- Cabelos roxos!

- É, roxo! - sorriu - Ainda bem que interpretamos o desenho da mesma forma.

- Dos personagens sermos eu e você é?

- É…

- Acho que tá bem na sua cara também que você tá a fim de mim!

- Eu nunca disse que não. - riu, sem graça - Sabe, eu ficava te olhando na estação todo dia.

- Eu também ficava! Desde o primeiro dia que apareceu.

Ela se levantou e pegou as tintas coloridas, falando assim que retornou à cadeira.

- Vamos fazer assim: mantenho as roupas com preto e branco e os cabelos coloridos, que tal?

- Acho ótimo!

- E depois vem o branco…

- Por que branco?

- Pontos de luz e tudo o mais.

- Claro!

Levou mais um tempo, mas ela coloriu tudo e passou o branco, que parece que doeu mais que o resto da tatuagem toda. No fim, ela limpou, passou o gel e pediu para que olhasse no espelho, para ver melhor.

Dirigi-me ao espelho e vi como a tatuagem ficou ornando com o resto de mim e ficou muito bom. Agora eu era um gado que fez uma tatuagem para agradar uma crush. Tem hora que a gente é bem otário né? Confesso que ri deste pensamento e a Cristal perguntou, curiosa:

- O que houve, Henrique?

- É que… Isso é tão ridículo!

- O que é ridículo?! - disse, passando o plástico filme no meu braço para proteger

- Não é da tatuagem, eu adorei! Mas, eu deixei você fazer em mim só para te impressionar ou quase isso. Como eu sou besta! - e ri de novo

- Besta sou eu, que convidei um cara para vir fazer uma tatuagem comigo só como desculpa para marcar um encontro com ele.

- Isso é um encontro então? Estou surpreso!

- Não finja que não sabia.

Após dizer isso, nós não resistimos ao impulso e nos beijamos. Nossos lábios se encontraram em um desejo já há muito contido. A coisa foi um bocado violenta, porque a gente veio tropeçando em algumas das coisas que estavam naquele enorme salão, até ela sentar na mesma maca que nos separava minutos antes. Enlaçou suas pernas nas minhas costas e a minha mão foi direto pras suas coxas. Porém, nós dois fomos surpreendidos por uma voz chegando, era a amiga e chefe de Cristal.

- Bom dia, Cristal!

- Ah, bom dia! - falou descendo e indo arrumar a bagunça

- Sabe que não pode ficar namorando os clientes, né? - ironizou

- Sou o Henrique, é um prazer! - me apresentei

- Sou a Juliana, dona do estúdio. Não sei de onde conhece a Cristal, mas melhor nem perguntar.

- Nos conhecemos na estação de trem. - respondi mesmo assim

- Você é o cara que segurou a porta pra ela naquele dia?

- Eu mesmo!

- Ela fala de você o tempo todo!

- Ju, por favor! - deu para ouvir a voz de Cristal lá do fundo

Eu e Juliana rimos. Logo Cristal retornou e eu fiz questão de pagar pelo serviço, mesmo que fosse o nosso encontro.

O estômago deu aquela roncada básica, por causa do horário. Cristal e eu decidimos almoçar (e prosseguir com o nosso encontro), deixando a Juliana no estúdio, já que o cliente que ela marcou já estava chegando.

Tinha um restaurante ali perto e iríamos comer lá, mas com certeza isso não ia acabar no almoço, não depois do que a gente começou lá no estúdio. Então, assim que saímos, falei com ela:

- Quer ir lá para casa depois?

Ela sorriu e assentiu, dizendo sim.


***


Alguns anos depois


Muito tempo se passou desde que conheci a Cristal, porém algumas coisas nunca mudam.

A nossa estação continua a mesma e no mesmo lugar, só que agora nós sempre pegamos o trem juntos, porque trabalhamos juntos.

Depois daquele encontro e mais alguns outros, começamos a namorar e a caminhar juntos com nossos sonhos. Ela com o seu próprio estúdio e eu com meu próprio negócio. 

Primeiro ela continuou um tempo no estúdio da Juliana, juntando dinheiro para conseguir algum espaço, por mínimo que fosse. Já eu continuei trabalhando na mesma empresa, também para juntar uma grana, pensando em ideias do que poderia fazer.

Na verdade, nós juntamos as duas ideias. Inauguramos poucos meses atrás, o estúdio junto com a nossa marca de roupas. Por enquanto, apenas fazemos apenas camisetas simples, mas logo vamos incluir outras peças.

O estúdio da Cristal também abriga os amigos mais jovens e iniciantes, assim como ela foi recebida. E é gratificante ver tudo acontecendo conforme a gente planeja. 

Os trens e as estações continuam as mesmas, só que agora eu tenho alguém com quem fazer esta jornada.

Não me importa o amanhã, desde que esteja com ela ao meu lado.


***


“Um grito de coração que cresce cada vez maior na hesitação

Eu quero um lugar onde eu sinta que não estou sozinho


(...)


Eu quero conhecer uma paixão indelével

Meus pensamentos se sobrepõem e estou indo para amanhã

Vamos apostar tudo no futuro

Mesmo se você for atingido por um vento contrário ou se molhar na chuva fria

Vamos correr com uma paixão indelével

Desejos iluminam o amanhã como a luz”


(Mukaikaze ni Utare Nagara - Minori Chihara)

 
  
 

sábado, 26 de março de 2022

Capítulo 27 - Voltando a rotina

 

O final de semana da viagem passou mais rápido do que eu gostaria e quando percebi já era o domingo em que pegamos o caminho de volta para casa. Por mim ficava mais dias lá, só para aproveitar mais com a Helena.

As sessões de fotos foram ótimas e renderam imagens que gostei muito de ter tirado. Eu e H já tínhamos feito uma pré-seleção durante a viagem mesmo. Agora só faltava definir todas as que sobraram e fazer as pequenas correções de luz e outros detalhes e estaria pronto.

Chegamos de volta ao condomínio na tarde daquele dia, subimos com as nossas malas e cada um resolveu que iria ficar no seu próprio apartamento. Helena queria dormir, pois passou muitas horas dirigindo e eu queria trabalhar mais um pouco naquele final de domingo.

Nem fiquei tanto tempo assim, só aproveitei para desfazer as malas e descarregar o resto das fotos no meu computador de casa. Organizei todas as fotos em pastas e fiz questão de deixar o vídeo escondido em uma delas, para que até eu esquecesse que existe. Só de lembrar fico constrangido!

Depois de tudo arrumado nos seus devidos lugares, tanto as minhas roupas quanto meus arquivos, tirei o resto da noite para ficar vendo uma série e relaxar. Não deixei de pensar na Helena e no que ela disse no começo da viagem, sobre corresponder meus sentimentos. Achei que isto nunca aconteceria comigo e ainda estou processando tudo. Sei bem que eu e ela decidimos deixar a coisa rolar e dar um nome depois, mas confesso que estou ansioso para que se torne algo mais sério. Quem sabe namorada?

Como também estava cansado, resolvi dormir cedo, porque o dia seguinte seria de bastante trabalho, mas desta vez, trabalhando em casa, porque eu tinha todos os ensaios de praticamente duas semanas inteiras para arrumar, editar e enviar para todos os clientes. Tanto que nem marquei novos freelas para esta semana. Talvez eu nem tivesse tempo para tocar nas fotos do ensaio sexy e nu que fiz com a Helena.

***

Acordei no dia seguinte já no gás total. Tomei café depressa e já fui para a minha estação de trabalho. Verifiquei as ordens de prioridade e fui fazer o processo de decupagem das fotos, por um ensaio de cada vez. Primeiro o do casal, depois o da menina de 15 anos e assim por diante.

Claro que não seria um processo que faria inteiro em um dia só. Se ao menos conseguisse dois projetos por dia, já estava de bom tamanho. Mal falei com a H durante o dia, acho que ela deve estar bastante ocupada também, até porque nós dois deixamos acumular e precisamos colocar tudo em dia.

Eu engoli qualquer coisa durante o almoço e continuei na ativa. Estava quase completamente escuro quando eu terminei a meta do dia. Respirei aliviado, pois finalmente ia descansar um pouco.

Mal me joguei no sofá e meu telefone tocou, pensei ser a Helena, mas era o Matheus. Ele queria pegar uns equipamentos meus emprestados para fazer uma sessão de fotos e como ele não pode pegar da empresa dele, pede para mim. E tudo bem, ele sempre devolveu no mesmo estado em que recebeu. Marcou de passar no meu apartamento imediatamente e poucos minutos depois o porteiro ligou e autorizei que ele subisse.

- Fala, Gustavo. Fiquei sabendo da sua viagem, como foi? - perguntou assim que chegou

- Sim, passei uns dias num local com praia.

- E foi com aquela sua vizinha gostosa?

- Bem, sim… - respondi coçando a cabeça

- Se deu bem, hein? - e riu

- Se você quer encarar assim. - retruquei 

- Foi bom para dar uma folga dos trabalhos infinitos que você anda fazendo. E tirou o atraso também.

Eu nem tinha o quê responder para isso, então fui direto ao ponto:

- Bom, do que precisa, Matheus?

- As suas softboxes, um tripé para câmera e umas lentes com maior angulação.

- Vamos lá no escritório pegar.

Assim, fomos para o cômodo onde ficava meu computador para pegar parte das coisas.

- Caramba, está quente aqui. - ele falou - Ficou no escritório o dia todo?

- Sim! - disse arrumando as primeiras coisas que pediu - Editando as fotos.

- Eu posso ver? Quero saber no que meu amigo tanto trabalha.

- Pode. Deixa eu ir lá pegar as lentes no quarto, porque as guardo num lugar escondido da luz.

E fui fazer conforme falei. E não sei o que aconteceu que estava péssimo de achar. Procurei no lugar de sempre e demorei a encontrar. Separei todas as lentes certinho e coloquei na bolsa especial para que meu amigo levasse e assim, retornei ao escritório.

- Pronto! Tudo aqui!

- Muito boas que ficaram as fotos. Gostei bastante! Tem que divulgar essas nas redes sociais também, aproveitar aquele engajamento que a Echii te deu. Aliás, vão fazer outro trabalho juntos?

- Ainda vou mandar pros clientes e depois vou separar as que vão para as redes. E quanto a Echii, talvez em breve haja uma novidade, ela entrou em contato comigo de novo. - menti

- Excelente! - disse se levantando da cadeira - Bom, Gustavo, obrigado de novo. Daqui uns dois dias te trago tudo de volta.

- Tranquilo!

Nos despedimos e ele saiu. E finalmente eu pude descansar a cabeça. Descompromissadamente, mandei uma mensagem para a H:

“Oi, sumida. Não falou comigo o dia todo.”

Logo ela respondeu:

“Eu tomei banho e capotei ontem. Já hoje passei o dia todo adiantando coisas da Contemporânea.”

“Também trabalhei o dia todo. Arrumando as fotos.”

“Nossas fotos?”

“Ainda não. Não devo mexer nelas tão cedo. Estou adiantando coisas dos freelas.”

“Se quiser, podemos fazer isto juntos.”

“Está muito ocupada agora?”

“Não, na verdade acabei a última postagem da semana agorinha mesmo.”

“Posso passar aí?"

“Vai me dizer que está sem comida em casa de novo, G?”

“Não, só tô com preguiça de cozinhar mesmo.”

“Ou você quer fazer outras coisas?”

“Isso também! haha”

“Tudo bem, pode vir. Vou colocar mais feijão no fogo.”

Só vesti uma blusa, abri a minha porta, tranquei-a em seguida e rumei para o outro lado do corredor. Helena já estava na porta, me esperando. Dei um beijo nela, mesmo com só um dia de distância - que é de um simples corredor - a saudade era grande. Esse é meu nível de apaixonado!

- Só não vamos ao quarto agora porque eu estou cozinhando.

- Eu sei! Só não pude resistir!

- Me ajuda a terminar então? Já que se convidou para jantar aqui. - e riu

Assenti e terminamos logo de fazer o jantar, comemos assistindo a série da Helena, que é bem divertida. Vimos um episódio e logo depois arrumamos a cozinha e lavamos a louça.

Íamos até ver mais um episódio, mas deu cinco minutos e a gente começou a se embolar no sofá, como sempre acontece. A gente passou o final de semana junto, transou bastante, mas nunca nos cansávamos um do outro.

Trocamos nossos beijos e nossas carícias num ritmo já conhecido por nós. Minha mão dentro da blusa de Helena, que não estava usando sutiã naquele dia, apertando seus seios com vontade. E ela tinha feito a mesma coisa na minha calça. Não demorou muito e decidimos ir pro quarto. Tanto eu quanto ela já estávamos mais do que prontos.

Tiramos o resto de roupa, ou melhor, ela toda, porque dessa vez elas não quiseram ficar no lugar. Coloquei a camisinha e ela montou em cima de mim. Começou a rebolar com o quadril, me apertando por dentro, acho que intencionalmente. Helena me encarava diretamente e aquilo estava me dando um tesão fora do comum. O olhar firme em mim e o movimentos perfeitos do corpo dela subindo de descendo. 

Eu sempre observo-a quando vou tirar as fotos e o fiz bastante durante a viagem, mas é totalmente diferente de quando estamos transando. Por trás da câmera tenho uma visão mais artística e como homem, ou melhor, como Gustavo tenho uma maneira mais carnal, entorpecida pelos desejos por ela. Chega a ser engraçado perceber a diferença! Ou será que eu vejo a Echii através das lentes e a Helena na minha “visão normal”?

- No que você está pensando? - ela disse porque me percebeu distraído

- Em você, H! - joguei na lata

- Mas eu estou aqui, G.

- As duas “você” que eu quero dizer.

- A Echii e a Helena? É hora para isso?

- Desculpa. Não consegui evitar!

- Então, por favor, dê atenção pra mim, não para a outra, aquela é lá do blog.

- Tudo bem! - sorri

E ela acelerou o movimento, me levando a loucura. Comecei a gemer baixo, sentindo meu corpo se arrepiar inteiro, especialmente na virilha. Helena gemia também e mudou a posição das pernas para facilitar o movimento. Acho que ela gozou primeiro, porque eu fui esmagado pelo interior dela, o que me levou ao ápice também. No fim, ela se jogou sobre meu peito e ficou ali recuperando o fôlego.

Eu decidi que dormiria lá. Até aquela altura estava tudo retornando a rotina, mas a manhã seguinte reservava algo terrível para nós dois!

sexta-feira, 25 de março de 2022

Capítulo 26 – Fazendo as fotos

A chegada ao local de viagem e das fotos tinha sido animada e bem quente, modéstia à parte. Realizei a minha fantasia de ser filmada, Gustavo me dá tanta abertura em tantas coisas que fico à vontade para pedir minhas pequenas loucuras.

Dormimos dividindo a mesma cama e nos demos o luxo de acordar um pouco mais tarde. Seria finalmente o dia de começar a sessão de fotos e eu estava animada. Acordamos, preparei o nosso café e comemos. Gustavo ficou arrumando a cozinha, enquanto eu fui me trocar. Aproveitei e deixei os biquínis todos separados para ficar mais fácil.

Sai vestindo um dos visuais que escolhemos na noite anterior. Gustavo já estava sentado me esperando, com a câmera no pescoço, vestindo uma camisa florida de botões, uma bermuda e chinelos.

- Pronta? - indagou assim que me viu

- Mais do que pronta! - sorri – Vamos começar na praia?

- Sim! Aproveitar o sol da manhã.

Abrimos a porta da cabana e pisamos na areia. Gustavo mandou que eu fosse na frente e já ligou a câmera para começar a clicar. Eu corri para pertinho das ondas e me permiti molhar os pés e senti aquela água gelada maravilhosa arrepiar meu corpo inteiro. Respirei fundo e agradeci a seja lá quem por aquele momento tão especial com uma pessoa também especial.

Gustavo se aproximou, ficou ao meu lado, me deu a mão e olhou aquela paisagem.

- Já tirou quantas fotos só nessa minha corrida para a água? - perguntei

- Algumas. - e riu - Só vai ser complicado escolher as melhores depois, mas penso nisso mais tarde.

- Eu te ajudo a escolher. - beijei a sua bochecha – O que quer que eu faça agora?

- Estenda a canga no chão, vou tirar umas fotos com você sentada e depois vamos tirando a roupa.

- Tudo bem, Sr. Fotógrafo. Você quem manda!

Fiz conforme ele disse e as fotos foram saindo. Primeiro vestida, seguida do topless e por último sem nada. E nestas fotos em que eu parecia mais de perto, ele tratou de tomar cuidado e deixar um ar de mistério sem mostrar meu rosto.

Repetimos esse processo algumas vezes, trocando as peças de biquíni. Usamos a espreguiçadeira, comigo bebendo uns bons drinks e sensualizando. Usamos a varanda da casa, comigo sentada lendo um livro – e também tampando certas partes para ele. Até aproveitei para tomar um banho de mar que há muito não fazia.

O clima estava agradável e leve. Estávamos já acostumados um com o outro. Com certeza as fotos estavam maravilhosas.

Fizemos uma pausa para o almoço, ou melhor, outra parte da sessão de fotos foi comigo fazendo a comida. Gustavo fez questão que eu escolhesse uma roupa decente e nada de biquíni na cozinha. Estava bem sexy, devo confessar! Fico imaginando como ele não está se controlando, porque na primeira sessão de fotos – a de lingerie – ficou numa situação tensa. Imagine agora comigo completamente nua desfilando para ele. Acho que terei que compensar mais tarde!

Aí sim, a pausa veio quando fomos realmente comer a refeição. Conversamos enquanto isso:

- Você nem falou como as fotos estão ficando.

- Estão maravilhosas! Quando acabarmos hoje e eu passar para o computador, eu te mostro.

- Vai querer fazer algo mais tarde, G?

- Algo tipo…

- Eu estou passeando e tirando minha roupa na sua frente desde às 9h. Não é possível que não esteja reagindo de alguma forma.

- Não gosto de ficar falando sobre isso, H! Mas a minha situação está tensa e dramática aqui em baixo.

- Imaginei. Vamos tirar mais fotos depois do almoço?

- Já são quase 15h, podemos parar por hoje, se quiser.

- Quer dar uma volta na cidade hoje a noite?

- Podemos! - sorriu

Terminamos de comer e Gustavo disse que ia cuidar da louça, porém eu não deixei. O puxei para o quarto comigo e decidi que ia dar um trato nele. Joguei-o na cama e tirei sua bermuda e cueca. O membro se mostrou pronto e eu o abocanhei. Fiz um oral daquele jeito, chupando cada cantinho, mordiscando, colocando tudo na boca. Sentia o corpo inteiro dele pulsando, como se implorasse por mais, cada vez mais. Até que ele finalmente gozou, gemendo baixinho. Ajudei-o a limpar e a se vestir novamente. Ele suspirou e disse:

- Obrigado por isso! Estava precisando.

- Não foi nada. - olhei para ele – Você estava se segurando desde cedo. E bem, a gente não transou hoje de manhã.

- Acho melhor ir lá descarregar e separar as fotos logo.

- Fica aqui mais um pouco e descansa. - falei

- Iria fazer isto à noite, mas como vamos sair…

- Só meia hora, G! - pedi

- Está bem! Vem aqui! - ele me abraçou

Ficamos ali por um tempo até que eu peguei no sono. Quando acordei, a cama estava vazia. Levantei, fui para a sala e encontrei Gustavo sentado na mesa, mexendo no computador e arrumando as fotos.

- Ah, finalmente acordou. Não quis lhe tirar do seu cochilo.

- Posso ver as fotos?

- Pode, senta aqui.

Peguei uma cadeira e sentei ao seu lado, que foi me mostrando as fotos e tinha razão quando disse que estavam maravilhosas. Nem eu estava acreditando no quão bonita e gostosa eu era naquelas imagens. Ainda vou descobrir a magia que ele faz para que as pessoas fiquem tão mais belas através das suas lentes.

- Claro que algumas precisam de ajuste de cor e luz, mas no geral não vai ficar muito diferente disso. Gostou?

- Eu amei! - sorriu – Só você para me deixar assim nas fotos.

Gustavo ficou meio tímido e agradeceu o elogio. Olhei para o relógio e vi que já passava das 17h.

- Vou me arrumar para irmos na cidade, tá?

- Tudo bem! Já devo me trocar também.

Não demorou muito e já estávamos no centro da cidade de novo. E ela ficava linda nesta hora, com os restaurantes e outras lojas abertas e todas iluminadas. Gustavo fez questão de trazer a câmera para aproveitar o local e tirar mais algumas fotos, só não sei se essas irão para o nosso ensaio ou se será outra parte e que talvez ele coloque nas redes sociais dele.

Encontramos uma praça ali por perto e, como ainda estava cedo, também estava vazio. Era a hora perfeita para mais algumas fotos. Tinham diversos banquinhos e as árvores que serviram de cenário para mais série de outras belas fotos.

Conforme clicava, G ia me mostrando como estavam ficando. Uma coisa mais leve e pura, eu diria. Uma sessão de fotos normal no meio de toda essa bagunça que a gente inventou com esta viagem.

Logo depois bateu a fome e dessa vez escolhemos um restaurante mais chique para jantar. Sentamo-nos numa das mesas que fica do lado de fora, próximo a praia e curtíamos o vento daquela noite. Pedimos um dos pratos mais caros, até porque queria nos dar este mimo e comemos conversando e rindo, como sempre.

- Está sendo ótimo tirar estas fotos. - ele disse

- Para mim também! Só espero que venda bastante. - e ri

- Quer dizer que você só está pensando é no dinheiro, H?

- Um pouco por essa parte… Mas vai me dizer que você também não quer que venda bastante? Pensando com uma mente capitalista, você precisa.

- Eu sei! Tô fodido de grana ainda, mesmo trabalhando igual condenado!

- Eu passei esses perrengues pouco depois que saí do meu emprego. Peguei uns freelas e eles pagavam muito mal! Mas, faz parte! Quem sabe logo você não abre um estúdio e vai ganhar bem.

- Assim espero!

- Que pena que amanhã já é sábado… - soltei

- Voltamos no domingo de manhã, né?

- Sim! Já tem gente para ir depois de nós! O dono pediu que saíssemos cedo para poder realizar a limpeza.

- Entendi! Bem que você disse que foi sorte.

- Eu queria ficar mais tempo, G… - resmunguei - Tão bom se afastar da vida e dos problemas um pouco.

- É verdade! Eu concordo! Só não viemos aqui apenas para passear, viemos aqui para trabalhar também. Creio que até amanhã no final do dia tenhamos terminado, H.

- Aí podemos aproveitar a última noite pelo menos. - sorri - Já está ótimo!

Aproveitamos o resto da refeição e demos mais uma volta na cidade, que até aquela hora já estava um pouco mais cheia. Havia casais, famílias, pessoas de todos os tipos andando por ali. Gustavo e eu passamos numa lojinha de lembranças e compramos presentes simples para todo mundo e para nós também. Passamos numa loja de bebidas e compramos umas coisinhas para animar aquela noite.

Sem muito mais o que fazer por ali, entramos no carro e voltamos, dispostos a beber e tudo mais o que tinha direito.

Fomos relaxar vendo um filme. Preparei uma pipoca e separei alguns doces e deixei uma garrafa de vinho para gelar e duas taças separadas para depois. O filme era de comédia bem besta e a gente gargalhava bem alto por conta das maluquices que os protagonistas faziam.

Esperei o filme acabar e peguei o vinho. Abri e bebemos conversando e rindo no sofá. G foi me contando sobre os trabalhos que fez na semana, contou sobre a sua época de estágio. Eu também contei histórias da minha fase como universitária. A garrafa foi se esvaziando, as risadas aumentando e o clima foi subindo. Não deu cinco minutos depois disso e a gente já estava atracado no sofá.

Mas diferente de outras tantas vezes em que estávamos juntos, não tinha pressa (e também não tinha câmera para dar uma ansiedade a mais). Éramos só nós dois, as duas taças de vinho que subiram a cabeça e o sofá. Ele estava em cima de mim, me amassando e agarrando as minhas coxas e nuca com vontade, me beijando ferozmente.

Ficamos nisso por um tempo, até perceber que ali era apertado demais. Gustavo me pegou no colo e me carregou até o quarto, me jogando na cama. Foi aí que as peças de roupa foram saindo, uma de cada vez, no mesmo compasso de nossas respirações ofegantes. Ele me queria e eu queria ele. Esse sentimento de entrega entre nós dois era sempre recíproco.

A vontade era tanta que as preliminares se resumiram a beijos e carícias apenas. Logo ele pegou a camisinha e colocou. Decidimos testar uma posição diferente: de ladinho. Eu continuei deitada e ele veio por trás de mim - parecido quando deitamos juntos para dormir - e penetrou. Eu soltei um gemido alto, porque foi tudo de uma vez.

Ele começou o movimento com o quadril e mordendo partes das minhas costas levemente no processo. Eu agarrei uma de suas coxas com vontade, deixando marcas das minhas unhas nelas, enquanto controlava para que os gemidos não fossem tão altos.

- H, pode fazer barulho. Estamos sozinhos aqui! - ele falou entre seus suspiros de tesão

E foi aí que eu me soltei e me permiti. A cada estocada o som vinha mais alto e eu parecia que ia explodir se aquilo durasse tempo demais. Não que estivesse ruim, mas é há momentos que a transa é tão boa que a gente acha que não vai aguentar. E já estava chegando este momento… Soltei um último gemido, sentindo o orgasmo percorrer a minha espinha e enfraquecer as minhas pernas. Ironicamente, Gustavo também chegou ao ápice comigo.

Nenhum de nós dois conseguia falar no fim. Olhamos um para o outro e sorrimos, sem precisar de palavras para entender o quanto era bom estar na companhia um do outro. Pois é, acho que eu amo este homem!

Gustavo jogou a camisinha fora, deitou ao meu lado e depois disso, nós pegamos no sono.

***

Despertei com o sol da manhã pegando no meu rosto, vindo pela única fresta da janela por onde ele entrava. Resmunguei, levantei e botei uma blusa, pois havia dormido só de calcinha. Fui preparar o café da manhã. Gustavo acordou, veio se arrastando e se sentou na bancada, me dando bom dia.

- Bom dia! Animado para o último dia de sessão de fotos, G?

- Mais do que animado, ansioso.

- Aliás, eu esqueci de perguntar: primeiro faremos uma venda digital das fotos ou será em livro direto?

- O que você achar melhor, H.

- E se fosse como uma arrecadação coletiva? Como uma pré-venda?

- Temos que ver isso com mais calma depois, mas não é uma má ideia.

Dei pulinhos de animação com isto. Depois comemos e eu tomei um banho e me arrumei para o segundo dia de fotos. G pegou a câmera e o nosso cenário do dia seria o quarto e a sala da casa. Então, eram as lingeries sexys e não os biquínis. Ele abusou da meia luz encobrindo a luz do quarto com a cortina e tirando fotos bem semelhantes com as primeiras que aconteceram no meu apartamento.

Primeiro com a camisola sexy e o roupão, seguindo pelas peças sendo tiradas uma a uma, enquanto tocava uma música sensual no fundo. E usamos alguns acessórios como almofadas, flores e até doces, inclusive um pirulito.

Da mesma forma que no dia anterior, eu me sentia leve e a vontade. Eu me sentia confortável e segura! E tudo isso transparecia nas fotos que Gustavo tirava e ia me mostrando. E a manhã foi assim, com fotos em alguns dos cantos da casa, comigo fazendo pose e rindo das besteiras do Gustavo.

Almoçamos rápido para aproveitar o sol da tarde para terminar as fotos de biquíni. E dessa vez, ele pediu que me lambuzasse de areia para tirar umas fotos mais sexy e algumas até engraçadas, porque teve um momento em que pediu que eu deitasse na areia e ele cobriu a parte dos meus seios com areia e desenhou por cima dali. Eu me diverti com aquilo, o que rendeu mais fotos maravilhosas. E fez a mesma coisa, só que com o bumbum.

E quando o sol estava se pondo já. Gustavo aproveitou para tirar umas fotos de silhuetas minhas, coisas bem para colocar nas redes sociais dele. Tirei sentada na areia e também na água. Ficaram lindas, devo confessar, assim como todas as fotos do ensaio.

- Pronto, H! Acabamos! - comemorou

- Agora guarda esta câmera e vem tomar banho comigo, a água está uma delícia. - falei

Ele fez conforme falei e logo veio correndo e entrou. Nesses quase três dias ali, ele sequer tinha tomado um banho de mar. Como ele consegue?

- Satisfeito com nosso trabalho? - brinquei

- Claro que sim! - sorriu e me derreti inteira

Ficamos ali um pouco, curtindo os últimos minutos de sol daquele dia. Só que a gente não consegue ficar muito tempo sozinho juntos sem fazer algo a mais, com exceção de fotografar. Gustavo me puxou pela mão e me deu um beijo calmo e eu correspondi.

- Quer ir lá para dentro? - ele indagou

- Não! Podemos fazer aqui. - disse – Sempre tive vontade também.

Começamos a nos agarrar ali mesmo. O sal da água e o pouco de areia davam uma atrito diferente naquilo tudo. Gustavo afastou as cortinas do meu biquíni e brincou com meus seios, chupando-os e apertando-os. E a minha mão foi direto na sunga dele e ele já estava mais que pronto.

Tirou a sua sunga e eu a parte de baixo do biquíni e jogamos para a areia mais ao longe, só para não perder. Pulei em seus braços e pendurei minhas pernas em suas costas, a penetração foi quase instantânea, junto com o meu gemido. Mexemo-nos juntos, aproveitando um pouco da lubrificação extra que a água dava.

Dessa vez foi sem camisinha mesmo, mas estava tudo bem. Não deu cinco minutos e fomos para a areia. Gustavo me deitou na ponta da praia e continuou com o mesmo movimento de sempre e eu com as pernas ainda presas nas costas dele. Demos nossas mãos antes de atingirmos o ápice, sendo que ele foi um pouco antes de mim. Tudo isso enquanto as ondas da praia nos banhavam.

No fim, ele deitou sobre meu peito e ficou recuperando o fôlego. Até essa hora já estava totalmente escuro e só dava para ver a luz da varanda da cabana acesa ao longe.

- Acho que está na hora de tomar um banho né? - perguntei

- Sim! - ele assentiu

E foi isto que fizemos! Aproveitamos o resto da noite revendo as últimas fotos e já fazendo a pré-seleção. E de novo, meu olhar passou pelo vídeo que gravamos e eu nem sei o que faremos com ele, quem sabe não pegue uma cópia para eu ver sempre que quiser?

Transamos de novo antes de dormir de novo e pegamos no sono.

Acordamos no domingo meio chateados porque tínhamos que logo ir embora. Apenas fizemos nosso desjejum, arrumamos as coisas de volta nas malas, colocamos tudo no carro, trancamos a casa e, antes de sairmos, Gustavo me chamou.

- Ei, vem aqui. Vamos tirar uma foto juntos!

- Não fizemos isso nos três dias aqui!

- Eu esqueci! - riu

E tiramos uma selfie simples no meu celular, já que ele havia guardado a câmera.

Entramos no carro, passei na casa do dono, devolvi a chave e rumamos de volta para casa e as nossas rotinas. Foi bom poder tirar uns dias de folga e curtir apenas nós dois juntos!

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