quinta-feira, 2 de agosto de 2018

My name's WOMEN



Veja os tempos, - tudo que nos rodeia --
Eles têm mudado tanto, - mas mesmo assim --
Porque é que as pessoas continuam a dizer que "Lágrimas são as armas das mulheres" ?


Nós não choramos facilmente

Nós não estamos sempre embelezadas
Nós não somos bonecas
Que estão só bem-vestidas


Nós temos nossos pontos fracos

Nós parecemos estar sorrindo, mas não estamos
Não existimos para sermos úteis para vocês
Não se esqueça


(My Name's WOMEN - Ayumi Hamasaki)


***
Cresci dentro de um lar machista, onde apenas minha mãe e eu realizávamos as tarefas domésticas, enquanto meu pai e irmão ficavam fazendo qualquer outra coisa.
Na verdade, eu sempre reclamei e nunca entendi muito bem porque eu não podia ir brincar como meu irmão depois do almoço, eu tinha que lavar a louça e guardar. Aquilo vivia perturbando a minha cabeça. E em todo o resto da família era assim.
Já na adolescência, notava a diferença em como meus pais reagiam a um caso amoroso do meu irmão, parabenizando-o, e ao meu, eu era repreendida e diziam que eu não tinha idade para tal.
Comentava sobre isso com amigas, com parentes, fossem primas ou tias e acreditem, elas diziam: "Isso é coisa da sua cabeça. Não tem nada demais."; "É porque ele é homem!".
Esse último então que não me descia pela goela. Ser homem fazia dele algum ser especial? Super herói?
Só mais tarde que eu entender muita coisa que via e não entendia.
Por que as meninas do meu colégio sempre brigavam pelo garoto enquanto ele mesmo não estava nem ai para elas? Brigavam para ver quem tinha as melhores roupas, o melhor material escolar, o melhor penteado. Tudo era motivo para uma competição. Tudo mesmo!
E ai de quem fosse mais ou menos para a aula, ou fosse mais gorda que as outras, era certo de muitas ficarem comentando. Alias, era só ser diferente que era motivo suficiente.
Não compreendia isso também, perguntava as colegas de classe e só respondiam: "Ela é assim e quer que façamos o quê?"; "Se não se cuida, não arruma namorado".
Eu mesma nunca vi problema em alguém não gostar de arrumar, passar maquiagem, colocar uma roupa mais estilosa, ter um corpo diferente.
Questionava todos a minha volta e sempre me informavam que a vida era assim mesmo. Achei que fosse loucura da minha cabeça.
Continuei apenas seguindo a corrente... Mesmo que fazer e ver muitas destas coisas me irritassem e não me sentisse bem com isso. E não tinha com quem falar sobre isso.
Mas ai, passados uns anos, já na faculdade... Aconteceu o estopim!
Soube de uma colega de curso que fora estuprada dentro da faculdade. Isso porque o cara já a perseguia tinha semanas. Ela falou com todo mundo sobre e ninguém acreditou, apenas eu. E eu sempre fazia questão que saíssemos juntas quando possível.
E isto aconteceu no único dia em que não pude estar com ela.
A história se espalhou pela faculdade inteira. Comentários surgiram de todos os lados e dos piores possíveis. E ninguém acusava o cara e sim culpavam ela.
Quem mandou vir com aquela roupa para a faculdade? Tava pedindo.
Saindo aquela hora sozinha da faculdade ela queira o quê? Tava pedindo.
E sabe o que era pior? Ver essa menina entrar na faculdade e todos olharem para ela, com reprovação. Até as meninas.
Eu dava o máximo de apoio que conseguia. Fui com ela na reitoria para contar o caso, pois sei que ela não ia gostar de lembrar do que houve. Registramos queixa contra ele, sabíamos bem quem era.
Quem era só uma colega acabou virando amiga por conta dessa situação horrível.
Infelizmente, a pessoa nunca foi punida. Isto chateia nós duas. Até hoje!
Ainda lembro de ter comentado com as minhas avós sobre o assunto, numa reunião de família. Até esperei que elas fossem falar algo do gênero do que sempre ouvia, mas elas me surpreenderam ao achar boas as minhas atitudes e que devia fazer isso sempre. Nunca pensei que minhas avós fossem ser mais mente aberta do que o resto da família.
Contei as mesmas coisas aos outros e só recebi respostas de como era boba de estar ajudando ela. E que eu seria a próxima. Isso não é coisa que se diz a alguém.
E sabe o que eu fiz? Apresentei a amiga as minhas avós e formamos um quarteto que de vez em quando sai para passear, almoçar, fazer uns bordados até.
Hoje digo com orgulho que sou feminista, amiga de outras mulheres, sejam elas quem forem.
Assim como todas as outras mulheres que já passaram pelo mundo e que com seu pouco ajudaram tantas a ter muito. Mulheres que foram impedidas antes de fazer muitas coisas, minhas avós, por exemplo, e viram que não tinha nada de justo em algumas de suas limitações e pediram por seus direitos, por uma igualdade. Com muita luta, elas foram conquistadas. Muita coisa já mudou, mas ainda há um longo caminho a trilhar. Um passo de cada vez chegaremos lá, com certeza. Juntas, somos mais fortes, com certeza. Apoiando-nos umas nas outras somos mais fortes. Sororidade, palavra que aprendi tem pouco tempo, nos faz mais fortes.
Somos mulheres!
***
No jardim iluminado pelo sol, nós demos as mãos,
Nós ficamos próximas e nos consolamos.
Dissemos que nunca nos apaixonaríamos novamente.


Uma ligação tão poderosa mudou-nos

E agora nós nos tornamos tão fortes.
Esse é nosso estilo de vida, todos os dias... o tempo todo.


(...)



Começando amanhã, novamente e com estilo,

Eu me tornarei uma mulher que todos irão notar.
Mesmo se nós duas estivermos separadas, Nossos corações sempre serão como um só.

(Rinbu Revolution - Masami Okui)

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