sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Capítulo 11 – Trabalho e distância

O almoço com a família da Helena foi bem divertido, acho que mais para mim do que para ela. Eu entendi agora tudo o que ela chegou a comentar comigo sobre as críticas dos pais e os motivos de ela manter a identidade dela como Echii em segredo praticamente de estado. Eu percebi o quanto ela ficou desconfortável e até com raiva dos comentários dos familiares.

Eu nem consigo me imaginar no lugar dela, que tanto se esforça e trabalha no blog dela e tem que ficar ouvindo esses tipos de coisas de quem mais devia dar apoio. Meus pais sempre me animaram a seguir com o que eu queria fazer e mesmo estando um pouco fodido de dinheiro, eles sabem que faz parte da vida, pois muitas vezes nós ficamos com o orçamento apertado. Hoje eles vivem bem com aposentadoria e eu não quero ficar incomodando-os com meus perrengues e meus próprios problemas, já sou grandinho e sei me cuidar. Mas, de alguma forma, sei que para qualquer coisa eles estarão lá comigo para me segurar de uma possível queda.

Uma pena que a família da Helena talvez a jogasse direto no abismo pelo jeito que são. Acho as duas únicas pessoas que dariam a mão para ela são a irmã e a prima, que elogiaram o trabalho da Echii. Só que por um ponto faz sentido, elas tem a idade e ideias muito parecidas com as que o blog traz.

Eu fiquei nesse devaneio enquanto voltávamos para o condomínio, distraído, olhando a paisagem pela janela, até porque a Helena estava quieta desde que saímos. Senti que estava estranha e não deixei de pensar se era eu quem tinha feito alguma coisa ou se era por toda a situação que passamos durante o almoço.

Deixei que a gente chegasse ao estacionamento para perguntar, assim que desci do carro:

- Helena, aconteceu alguma coisa?

- Nada. – disse cabisbaixa

Tentei me aproximar para talvez abraçá-la e tentar oferecer um ombro amigo. Porém, ela me rejeitou.

- Gustavo, não. – reclamou

- Eu fiz alguma coisa? Se sim, me desculpe.

- Não foi você. Eu só estou chateada. Só isso!

- Até posso imaginar o que seja.

- Eu só preciso de um tempo sozinha.

- Tudo bem! Vamos subir então.

E no mesmo silêncio do carro, pegamos o elevador e descemos no nosso andar. Antes de nos separarmos disse:

- Se precisar, pode me chamar, manda mensagem ou eu vou ao seu apartamento.

- Obrigada, Gustavo, – sorriu, sem graça – especialmente por ser tão compreensivo.

- Não custa ter empatia. Fica bem tá? O que sua família disse lá no almoço não tem nada a ver com você. Eu sei que você sabe disso.

- Não é sobre o Contemporânea, é também uma série de outras coisas que não quero falar agora.

- Tudo bem! Até logo, H.

- Até logo, G. – disse tentando se animar

Então, cada um de nós caminhou em direção a seu respectivo apartamento. Entrei e logo sentir meu telefone tocar, era o meu amigo Mateus.

- Fala ai, Gustavo.

- Diga, cara.

- Acabei de ver a postagem das fotos lá no Contemporânea Erótica. Eu nem sabia que você conhecia a Echii e muito menos que tinha feito fotos dela. Por que não me contou?

- Era segredo esse trabalho, até porque você sabe que ela esconde quem é de todo mundo. – fui sincero

- Ela deve ser ainda mais gostosa pessoalmente né?

- Eu não vou responder a essa pergunta. – e muito menos falar sobre o meu acordo com a Helena

- Você e esse seu profissionalismo tem hora que me dão no saco! Enfim, seu perfil está bombando. Bem provável que esse trabalho com a Echii te renda outros trabalhos.

- Sim. Eu nem tive tempo de responder as mensagens que chegaram. Estive ocupado o dia todo.

- Fazendo o quê?

- Sai com uns amigos pra um almoço. – o que era meia-verdade

- Cara, não perde tempo e marcar todos os trabalhos que conseguir. Liguei só para te dar parabéns, porque foi um trabalho de ouro que você conseguiu.

- Nem é para tanto. É como outro qualquer!

- Cê perdeu a noção né? Tirar fotos da Echii não é “qualquer coisa”, deixa de ser modesto.

- Obrigado, cara! – ri

Depois disso, nos despedimos e desligamos. Acho que finalmente estou conseguindo separar a Helena da Echii, ou talvez não. Talvez seja que eu finalmente esteja enxergando além daquela pessoa dos textos, porque eu estou convivendo com ela já tem algum tempo e eu sei sobre sua vida, seu passados, seus sonhos. Eu não vejo mais a ídolo que eu tinha, mas sim como ela é de verdade. E isso não significa que ela não seja menos encantadora!

Tomei um banho, coloquei só uma cueca e eu fui finalmente olhar o meu perfil com mais calma e poder responder o máximo de pessoas possível. E confesso que eu fiquei umas boas horas nisso.

Dentre as mensagens e comentários, haviam desde os elogios ao meu trabalho e parabéns pela fotos da Echii e também algumas pessoas oferecendo propostas de trabalho, perguntando sobre a agenda, os valores, o que eu fazia especificamente. Calmamente fui respondendo a essas mensagens todas! Com certeza algumas delas se reverteriam nos freelas e me dariam a grana que eu estava precisando para fechar o mês de forma decente.

Eu já tinha montado um plano de divulgações para aquela semana, resgatando alguns dos trabalhos que já fiz, incluindo algumas das fotos que fiz da Helena e não chegaram a ir pro blog. Passei minha semana montando e fazendo tudo, aproveitei aquele resto de noite para conseguir programar tudo, usando um outro aplicativo a parte. Iria aproveitar a chegada dos novos seguidores para divulgar o meu trabalho.

Depois, fui ver um filme e acabei me deitando um pouco tarde.

O dia seguinte começou meio arrastado por ser um domingo. Abri minhas redes e já tinham respostas de algumas das mensagens. E fui tomando meu café enquanto respondia as pessoas. E já terminei aquela refeição com vários trabalhos marcados para a semana, começando já na segunda. Eu teria, depois de um bom milênio, uma semana atribulada na minha vida.

Aproveitei o resto do meu domingo para ficar em casa de bobeira. Mas, não esqueci de agradecer a Helena por tudo o que a sessão de fotos que fiz para ela proporcionou.

H, estou cheio de trabalho essa semana. Graças a você!”

Meus parabéns! =D O seu trabalho é muito bom. Você merece, G!”

E como você está? Melhor?”

Na medida do possível, sim!”

Você sabe que nada do que a sua família disse é verdade. Você é incrível e o que faz no blog é maravilhoso!”

Obrigada! Só espero que não esteja dizendo isso porque transou comigo. haha”

Claro que não! Alias, quer falar das outras coisas que disse que te incomodavam?”

Prefiro pessoalmente!”

Entendi. Tem mais algum projeto fotográfico pro blog? Ou tem mais algum produto daquela caixa para testar?”

Por enquanto não! Mas podemos pensar em algo. Quanto a caixa, falta pouca coisa, as lingeries usei com você, as camisinhas idem, os óleos de massagem, acho que falta a calcinha comestível.”

Podemos testar ela então. Quer que eu vá ai?”

Não. Aproveita e descansa. Você vai ter uma semana agitada.”

Despedimo-nos e bloqueei o telefone. Passei o resto do dia fazendo vários nadas. Fui dormir relativamente cedo porque já tinha uma sessão marcada para a manhã seguinte.

***

Acordei correndo na segunda e em todos os outros dias da semana, porque realmente eu estava desesperando por dinheiro e usei todos os horários humanamente possíveis para fazer sessões de fotos de vários tipos: casal, criança, festa de aniversário, animais. Eu fiz de tudo um pouco na semana que passou. Trabalhei até no sábado. E mal descansei no domingo, porque eu tive que olhar as centenas de fotos que descarreguei no computador e selecioná-las. O que levou quase a manhã toda, já que sou bem rápido de selecionar as melhores fotos.

Eu mal parei em casa e respirei essa semana e também praticamente não falei com a Helena. Mas, creio que ela estivesse tão ocupada quanto eu, porque o Contemporânea Erótica teve uma semana agitada de postagens e eu lembro que ela me disse que iria aproveitar para tentar trabalhar no livro dela. Não faço ideia do que ela estava escrevendo, só espero que não seja nada erótico. Mas, lembro da postagem falando sobre a aceitação da família sobre o que fazemos. E lá ela incentivou os leitores e leitoras a correr atrás dos sonhos e fazer o que quisessem, mesmo que ao ver de algumas pessoas não fosse válido. Eu adoro quando ela escreve essas postagens mais reflexivas. Ainda recordo quando ela escreveu sobre relacionamento abusivo e que as forças que fazemos para perceber que estamos dentro de um. O que agora me fez lembrar que ela comentou do ex-namorado dela. Nem consigo imaginar o inferno que foi, porque não é único relato desse tipo que já ouvi ou até li na internet.

Confesso que essa semana um pouco distante dela me fez ficar com um pouco de falta dela. Quem sabe a gente não se encontre essa semana, porque eu vou trabalhar, mas num ritmo menos frenético porque consegui cobrir meus gastos para daqui um tempo. Sua companhia é muito boa!

Aproveitei o final da noite e desci para comprar um lanche ali perto, onde tem a praça com as barraquinhas. Minha fome estava daquelas!

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