segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Boletim de Anelândia: #39 - A autora com letra feia (Lidando com insegurança da não-caligrafia)

 
Olá, pessoas! Sejam bem-vindos a mais uma edição do Boletim de Anelândia.
Hoje quero falar sobre uma coisa que me incomoda e muito, não só na carreira de autora, mas até no meu trabalho. É tanto que até teve vídeo em um dos meus canais já faz uns bons anos!
A maioria de vocês só me vê usando palavras digitadas… Ou melhor, não é o tipo de informação que saio espalhando por aí. Mas, sim, hoje falaremos sobre eu ser uma autora que tem letra feia.
Se preparem que essa é uma edição reflexiva e bem aleatória. Então, segurem na minha mão e simbora!

Eu juro que eu tentei e muito

Como toda criança que está na fase de alfabetização, eu tinha a letra feia. Só que isso ocorre por conta da ainda ainda falta de coordenação motora fina e que se desenvolvendo ainda na infância.
Então o que fazem com a pobre da criança? Colocam ela para fazer caligrafia! Geralmente num caderno com mais linhas do que o normal, onde as letras devem ficar dentro daquele espaço e seguindo os desenhos de cada uma dessas letras. Para que se tenha o desenvolvimento tanto a coordenação motora necessária, quanto tornar a letra mais legível e agradável aos olhos. (Até porque o prefixo cali significa bonito!)
Sei que usei algumas palavras meio pesadas, mas é porque eu tenho um belo de trauma de ter que fazer caligrafia e meio que ser obrigada a isso. Pois é!
Por convenções sociais, não é aceitável que uma menina tenha uma letra feia. Afinal, as meninas têm que sempre ser bonitas, todas delicadas, arrumadinhas e com uma letra bonitinha.
Uma vez até ouvi uma conversa de duas senhoras e uma delas estava comentando justamente sobre esse assunto e de que ia botar a neta para fazer caligrafia para não ficar com a letra feia. Confesso que me coloquei no lugar da menina por uns instantes!
Eu juro que eu tentei e muito me encaixar nisso, fazendo vários cadernos de caligrafia durante a infância e na maior parte das vezes, era porque outros parentes acabavam por esse pensamento (especificamente uma tia que era professora de 1º segmento) de “menina não pode ter letra feia”.
Só que o quê aconteceu? A letra continuou feia e a pessoa ficou com trauma e sempre se sente insegura por causa da “letra feia”.

Análise!
 

Isso sempre foi uma questão 

Como falei acima, eu ser uma pessoa com letra feia sempre foi uma questão que me permeou e ainda permeia a minha vida!
Por sorte, minha letra nunca foi uma questão de bullying. (Como se todo o outro bullying que eu sofri fosse menos né?) Mas, ao ponto de alguns professores questionarem e até reclamarem da minha letra e sofrerem para entender.
Ainda lembro um caso específico, de um professor da faculdade de letras que disse que a minha letra era bem de criança - ele usou o termo pueril - e aquilo foi bastante ofensivo para mim!
Eu até hoje tenho pena de usar qualquer coisa de papelaria, principalmente folhas que sejam fofinhas ou que eu achei lindas. Acho que minha letra vai acabar “estragando” elas! Até hoje tenho um item da Hello Kitty que nunca usei por pura pena!
Como eu ainda recebo reclamações no meu trabalho - e que lá no começo quase me fez não passar da experiência - de que a professora não tem uma letra que dê para ler, que ela tem a letra feia. Eu já chego nas primeiras aulas e já aviso de que minha letra não é lá essas coisas, só para evitar a fadiga!
Como eu tenho até vergonha de dar autógrafos porque eu tenho a letra feia. Eu penso que vou estragar o papel com a minha letra.
Claro que minha letra melhorou bastante com o passar dos anos, seja no caderno ou até quando estou escrevendo no quadro durante as minhas aulas. Só que ainda sim, eu sinto que estou sendo observada por causa disso.
 

Só que, na real, é traço de personalidade 

Apesar de tudo o que eu falei acima, eu de alguma forma tento lidar com essa questão o máximo que passo. Tento até me blindar já dando desculpas antecipadas para ver se os julgamentos não cheguem. Usando o tal do humor autodepreciativo, sabe?
Só que por outro lado, eu já entendi que, na verdade, a minha ser assim é só um traço de personalidade! Não me lembro onde que eu vi, mas se procurar rápido deve dar para achar, mas pessoas com letra feia costumam ter o pensamento mais rápido e outras coisas. 
Eu já percebi que quanto mais rápido estou escrevendo mais rápido são que meus pensamentos estão fluindo. Quando eu escrevia meus livros de forma manuscrita, eu sentia muito isso.
Minha letra tem momentos e momentos. Posso até começar escrevendo devagar, mas pode ter certeza que eu perder a paciência e vou começar a escrever rápido!
É comum, inclusive, eu acabar comendo algumas palavras enquanto escrevo, porque minha cabeça chega a ser mais rápida que minha mão… Até digitando acontece!

Então, eu costumo falar que a beleza das minhas palavras está justamente em outro lugar e que não é aquele que percebemos à primeira vista, é preciso ler para poder perceber! (Já que a gata é escritora!)
E posso dizer com orgulho que eu já dei umas canetadas dentro dos livros, bem daquele meme da caneta pegando fogo!
 

A ironia é que: eu gosto de Lettering

E vejam como são as coisas né? Ainda vou fazer uma edição sobre meus hobbies por aqui. Só que um deles envolve exatamente a caligrafia, que é o Lettering.
Eu sempre gostei de desenhar, mas nunca fui boa; só que na pandemia acabei por encontrar justamente essa arte de desenhar as letras. Na verdade, eu inventava de desenhar letras desde o ensino médio. Só que eu enxergo mais como um desenho do que algo a ver com escrita ou com caligrafia em si.
Tudo bem que não acho meus letterings as coisas mais bonitas do mundo, porém é hobby que eu realmente faço por ser hobby mesmo.
Cheguei até a desenhar alguns relacionados aos meus livros e quero fazer de todos, se for possível!




 
Bem, pessoal, é isto!
Peço desculpas por toda essa reflexão e que a edição de hoje fosse fora dos padrões.
Até o próximo Boletim de Anelândia!

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