sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Santuário da Luz - 12 Meses com Minorin: Janeiro


 
"Quando os olhos sagrados te mostram a dor

Deixe-se virar

Truque desprende sua paixão

O ponto de apoio em ruínas. Os dois não podem voltar

Não solte a mão que você estendeu uma vez"


(Paradise Lost - Minori Chihara)


***


Lá em cima, independente do que você ache que tenha lá, além do céu e além das estrelas. Um local que todos os habitantes da Terra, sejam eles plantas, animais ou seres humanos,não fazem ideia que existe. É o que chamamos de um outro universo, por este motivo ele não é visível aos olhos comuns.

Ele tem o seu próprio chão, o próprio céu, as suas próprias criaturas e habitantes. Talvez seja um lugar parecido com o nosso, talvez nem tanto. Mas, eles sabem que nós estamos aqui e de vez em quando veem o que estamos fazendo.

Aliás, as nossas energias e pensamentos chegam até eles em algumas destas vezes.

Porém, a nossa história se focará na Deusa deste lugar e em seu santuário e o dia em que a escuridão o invadiu.


***


A Deusa Album passava seus dias, e que sempre era dia, pois neste mundo não havia noite, cuidando de seus súditos, atendendo a quaisquer problemas e pedidos que tivessem. Ela tinha contatos diretos com eles. Era uma das coisas diferentes deste universo ao se comparar com o nosso.

Outra coisa muito presente em sua rotina era visitar o seu jardim e observar o céu, passear na sala de espelhos e supervisionar para ver se tudo estava funcionando corretamente. Também parar na sala de observação dos outros universos e ficar olhando os outros planetas e os seus moradores, especialmente a Terra, que ficava ali perto.

E claro, se isolar no seu salão espiritual e concentrar seus poderes e espalhá-los por todos os seus domínios. Era desta forma que a contagem de dias, como a nossa, era realizada. Então, o processo era realizado uma vez a cada 24 horas, contabilizando um dia completo.

Pode parecer um pouco estranho falar que era sempre dia, porém já estavam acostumados aos dias sempre claros e limpos, com poucas nuvens. A responsável por manter todas estas coisas, inclusive o clima funcionando, era a Deusa, canalizando a sua energia de luz e a propagando por todo o lugar.

Naquela sala especial havia um lustre, repleto de cristais, cujos refletiam os raios de luz que a Deusa emitia e logo após saíam pelas aberturas da sala e levavam aqueles feixes de luz aos seus destinos.

Tudo era muito tranquilo e pacífico. Sempre dia, sempre claro, sempre limpo. Os habitantes eram tão acostumados à claridade, que usavam roupas sempre com cores vivas, sendo as predominantes o branco, o dourado e o prata.

Já a deusa sempre usava belíssimos vestidos, sempre brancos. Esta era a sua cor, assim os raios de luz que saiam de suas mãos.


***


Um dia, a Deusa estava andando na sala de espelhos, pois ela aproveitou para ver com mais detalhes como ficara o seu novo vestido. Ao olhar mais atentamente para o seu rosto, ela tomou um susto, pois uma sombra apareceu atrás dela. Ela se virou para ver melhor o que era, mas já havia sumido.

Os habitantes daquele mundo conheciam as sombras, porque mesmo a luz de todos os lados podia projetá-la abaixo de você. Só que aquela era diferente, tinha algo de estranho e a deusa sabia bem disso.

Naquele mesmo dia, na sala de observação, um dos operadores disse o seu relatório sobre o que vira nos outros lugares.

- Senhora, a Terra está com muitos problemas. Há uma energia muito ruim emanando de lá!

- Que tipos de problemas?

- Brigas, guerras, morte.

- Mas isto sempre houve por lá e nunca nos afetou ativamente!

- Eu sei bem disso, senhora. Porém, desta vez está numa escala muito maior.

- Obrigada! Apenas continue observando e fale se acontecer mais alguma coisa.

- Tudo bem!

- Agora irei para a minha sala de concentração, preciso emanar luz novamente.

E se despediram. A Deusa fez o mesmo procedimento como em outros dias.

O curso normal do tempo se seguiu, com todos os afazeres de todos os habitantes daquele pequeno universo. Com uma pequena exceção, a Deusa continuou encontrando a sombra em outros dias. Fosse no jardim, novamente na sala de espelhos, em seu quarto. Ela já estava ficando preocupada com uma possível perseguidora.

Ela contactou todas as deusas das cores, suas filhas. Todas nasceram da luz que emanava de dentro dela, como os espectros da luz se dividiram num prisma, elas eram sete: Violet, Anila, Zulita, Vert, Gelb, Nara e Rubra.

Cada uma delas geria uma das sete províncias adjacentes à central e tinha como cor dominante em suas roupas, a cor que lhes deu origem.

Todas as deusas menores se locomoveram de suas localidades para a reunião.

E na grande mesa redonda, as sete se sentaram. Havia um local vazio bem na cabeceira, onde a matriarca sentava. Olhando umas às outras e se perguntando o que poderia ser tão importante e preocupante que as convocou até ali.

- O que será que a mãe quer conosco? - indagou Anila

- Será que é finalmente sobre a sucessão? - sugeriu Vert

- Não acho que nossa mãe se aposentará. - Violet, a mais velha falou

- O que pode ser então? - Zulita perguntou

- Confesso que estou curiosa. - Nara declarou

- Será que está preocupada com a nossa gerência das outras províncias? - Gelb levou a questão

- Se fosse só isso, ela pediria um relatório - finalmente se posicionou Rubra - Só podemos esperar ela chegar para saber o que é.

Todas concordaram com a irmã mais nova. Eram muitas dúvidas, mas nenhuma delas com resposta. A única que podia lhes dar o que queriam era justamente quem as chamou ali.

A Deusa maior entrou na sala por último, todas as filhas encontraram o olhar da mãe, que parecia bem aflita. Aquele estado da mãe preocupou as filhas, pois era a primeira vez que elas viam a mãe fora da calmaria e do seu pacifismo.

Ela se acomodou em seu assento e começou a falar:

- Minhas filhas que bom que atenderam a meu chamado prontamente!

- O que aconteceu, mãe?! Todos nós estamos preocupadas! - falou primeiro Violet

- Tenham calma que irei lhes explicar. - falou calmamente Album - Uns dias atrás, vi atrás de mim, enquanto estava na sala dos espelhos, uma sombra. Não consegui identificar o que era e quando me virei ela tinha sumido.

- Não falou isto com mais ninguém? - Gelb questionou

- Foi só esta vez? - Anila falou

- Ai que a situação piora. - a Deusa se pronunciou - Desde aquele dia, essa sombra tem aparecido em diversos locais que eu passo sempre. Estou com a sensação de estar sendo seguida.

- Caramba, mãe! - falou Zulita

- O que podemos fazer para ajudar? - Vert perguntou

- Podemos elaborar uma solução juntas. - Anila disse

- Primeiro precisamos saber com o que estamos lidando. - Rubra comentou

- Rubra tem razão. - Violet tomou a frente

- Podemos ficar por aqui alguns dias e ficar com a senhora, observando para ver se tal sombra aparece. - Nara se pronunciou

- E por ser uma sombra, acho que a Rubra enxergaria melhor do que nós. - Gelb acrescentou

A visão das filhas era bem aguçada, apenas para a cor que lhes era predominante e o motivo de seu nascimento. As irmãs do meio enxergavam dentro do normal das cores, enquanto as irmãs mais velha e mais nova, viam, respectivamente, os espectros de luzes acima e abaixo dos seus. O ultravioleta e o infravermelho. Então, para este caso, todas pensaram que fazia sentido a visão aguçada da Rubra.

Após uma longa discussão, ficou decidido que todas passariam alguns dias no santuário, para ver com mais calma como lidar com este possível inimigo. Até porque para os habitantes, uma sombra era sinal de escuridão e para eles isto era uma coisa muito, mas muito ruim.

Logo, as sete irmãs se alojaram e uma nova pequena rotina se formou. Agora a Deusa Album tinha companhia para cada um dos seus afazeres diários. As filhas alternavam de vigia uma vez a cada dia. Porém, desde quando este plano foi montado, a sombra não apareceu mais. Isso já fazia as deusas menores acharem que aquilo tudo era apenas história da mãe e foi uma desculpa ridícula para trazê-las para o santuário.


***


Num dos momentos de troca entre Gelb e Rubra, algo terrível aconteceu.

As trocas eram feitas no momento em que a deusa maior se concentrava em sua sala para difundir a luz por todos os seus domínios.

Rubra já aguardava Gelb e Album quando entraram para a cerimônia diária.

A Deusa se dirigiu ao altar, que ficava no centro e posicionado bem abaixo do lustre, e começou a canalizar a sua energia. Enquanto isto, as duas irmãs conversavam, em tons de sussurro para não atrapalhar:

- Aconteceu algo hoje, Gelb?

- Nada! Tudo normal, Rub. Ainda acho que a Zulita está certa de isso tudo ser uma mentira.

- Não acredito que seja mentira. Você viu a cara dela assustada quando a vimos.

- Mas não é estranho que a sombra tenha magicamente sumido?

- É sim, não deixa de ser suspeito. - Rubra falou - Inclusive, um dos vigias da sala de observação dos outros mundos me falou algo preocupante.

- E o que seria? O que outro mundo pode ter a ver com isto?

- Bom, eu estou perguntando tudo o que posso a todos que trabalham aqui. E ele disse que tem energias horríveis vindo da Terra pra cá!

- Sempre tem energias péssimas vindas de lá. Não é surpresa! - Gelb cruzou os braços, tentando ainda entender o ponto da irmã

- A escala está bem maior desta vez! - Rubra pôs as mãos na cintura - Quantos habitantes tem lá mesmo?

- Acho que são 7 bilhões!

- Ele me mostrou guerras, brigas e outras coisas que estão afetando a todos naquele planeta. As pessoas estão com raiva, sem esperança, tudo junto.

- Ainda não entendi a relação disso com a mamãe.

- Nosso pequeno universo absorve as energias vindas deste outros lugares, a Terra é um deles e essa escala ruim pode estar afetando a mãe e por isso ela vê aquela sombra.

- Você só pode estar louca, Rubra.

- É só uma hipótese! Falarei com nossas irmãs sobre isto mais tarde.

Então, as duas irmãs passaram a observar a mãe fazendo o seu ritual diário. Seu corpo inteiro se enchia de um brilho branco e uma grande bola de luz se formava entre suas mãos. Esta que subiria e ao entrar em contato com o lustre, se espalharia. Contudo, algo deu muito errado! Diante de Album a sombra finalmente apareceu, deixando as duas irmãs surpresas. Gelb só viu algo totalmente preto, enquanto Rubra viu uma figura exatamente igual a sua mãe, mas usando roupas pretas. Aquilo ainda era muito estranho!

Album se assustou com a figura, porque viu a mesma coisa que a filha: ela mesma, mas com outra aparência. A deusa se desconcentrou e grande bola de luz mágica se transformou em pó, escorrendo das mãos de Album, que continuava estático olhando para a sombra.

E pela primeira vez, em toda a história daquele mundo, a escuridão e a noite chegaram.

Da mesma forma que apareceu, a sombra sumiu. As duas filhas foram ver se a mãe estava bem.

- Eu estou bem! Ela não tocou em mim.

- Mas o ritual falhou. - Gelb disse

Rubra repreendeu a irmã mais velha. Não era hora de se preocupar com aquilo.

As outras cinco irmãs vieram correndo de onde estavam, pois estranharam que ficou tudo escuro na sala em que estavam.

- O que aconteceu?! - Anila perguntou

- A sombra apareceu. - Rubra respondeu

- Como é? - Vert se surpreendeu

- A mãe se desconcentrou durante a cerimônia, por isso que não tem luz.

- Isso é horrível! - Nara falou

- Minhas filhas… - a Deusa falou - Eu preciso me concentrar novamente, para fazer ser dia de novo.

- Descanse um pouco, mãe. - Rubra disse - O que é só um dia de escuridão? Seus súditos vão entender.

- Pare de falar besteiras, Rubra. - reclamou Violet - A mamãe sabe as responsabilidades dela.

- Vamos deixá-la sozinha um pouco. - disse Anila

E as sete filhas saíram, deixando a mãe sozinha para se preparar novamente para o ritual.

A deusa Album respirou fundo e tentou tirar da mente aquela imagem da sua cabeça. Canalizou novamente a energia e a luz começou a surgir ao seu redor. E novamente, aquela figura surgiu à sua frente, olhando bem para ela. Tocou-a e a Deusa se sentiu abraçada por um sentimento desconhecido por ela até então. Ela ouviu caos, barulho, pessoas, uma energia vinda daquele planeta. Esses sons estavam há semanas na sua mente e foram a corrompendo pouco a pouco e ela nem percebera. Esta energia se mostrava como aquela antiga sombra.

Da mesma maneira que antes, a energia que emanava de suas mãos se tornou uma areia branca.

Então, num piscar, a Deusa se transformou e suas vestes ficaram de cores pretas, como a escuridão que agora tomava conta dela.

Ela se levantou e saiu da sala, surpreendendo todas as suas filhas.

- Mãe, o que é isto? - Zulita perguntou por todas

- O quê? - a Deusa respondeu - Sou eu! Não significa que estou com esta cor de roupa que não sou eu.

E simplesmente saiu, deixando as filhas loucas com seus pensamentos.

- Eu disse para vocês, o que eu vi foi que a sombra era igual a nossa mãe, mas exatamente desse jeito que ela apareceu agora. - Rubra falou

- A nossa mãe foi corrompida? - Vert indagou

- Se foi, pelo quê? - Nara desta vez

- A Rubra estava falando comigo antes de tudo isto, que na sala de observação dos outros planos, relataram que vinha muita energia ruim da Terra. Certeza que foi isto! - Gelb discursou

- Não devíamos tê-la deixado sozinha. - Anila comentou

- O que faremos? - Zulita levantou a questão

- Teremos que descobrir! - Vert falou

- Logo os súditos começarão a vir aqui. Vai ser um problema! - Violet se desesperou

- Irmãs, calma! - pediu Rubra - Vamos pensar em algo, enquanto isso dizemos que nossa mãe está doente.

- Ótimo, Rub, mas como resolvemos este problema? - Zulita apontou para a janela, que mostrava a noite

- Alguma de vocês sabe manipular a luz? - Rubra rebateu - Temos que curar nossa mãe disto.

- Talvez a Violet possa tentar… - Nara disse tímida - Você emana luz ultravioleta, que parecem com os raios de Sol.

A irmã mais velha inflou o peito, toda orgulhosa, quem sabe não era finalmente a sua vez de tomar o seu lugar como sucessora. Afinal, ela era a mais velha, a do espectro de luz mais alto.

- Tudo bem! Eu tento canalizar a energia para o lustre.

- Ótimo! Faremos isso agora. - disse Vert

- Como é? - Violet se desesperou

- Ué, não é você que quer resolver rápido? - Gelb devolveu

- Alguém não devia ir atrás da mãe? - Nara disse - É seu dia ainda. Vai lá Rubra!

Sem protestar, a mais nova seguiu atrás da mãe, onde quer que ela estivesse.

As seis irmãs restantes se dirigiram até a sala. Violet subiu no altar, respirou fundo e se concentrou, pensando nas suas energias canalizadas. Primeiro uma bola violeta se formou entre suas mãos, depois ela foi ficando mais e mais clara, na visão das outras irmãs, e mais violeta para a deusa menor. Quando estava grande o suficiente, lançou para cima, porém ao entrar em contato com o lustre, a luz não teve força suficiente e mal para se espalhou dentro daquela sala.

Uma iluminação muito fraca e muito leve.

- Ora, Violet. - Anila soltou - Que pena! Agora é minha vez.

- O que é? - Zulita protestou

- Certeza que tudo isto é para descobrirmos quem será a grande deusa sucessora. E sou eu! - respondeu

- Então, todas nós tentaremos! - Gelb falou

- Que seja assim então. Quem conseguir trazer o dia de volta, será a nova Deusa maior. - Vert declarou

Então, o resto das irmãs tentou realizar o mesmo ritual. Todas inutilmente! A sala apenas se iluminou brevemente com as cores que as representavam.

Nara, que tomava conta da província próxima a de Rubra, era a segunda mais nova, ficando apenas antes da irmã de cor vermelha. E assim como ela, via que era uma besteira sem tamanho ficar brigando sobre a história de sucessão, já que ambas estavam no final da fila. Fez o ritual só por fazer, mas sabia que não tinha capacidade para assumir o lugar da mãe.

Aquela era uma ideia inútil e fracassada!


***


Rubra logo encontrou a mãe no jardim, olhando o novo céu noturno. Admirava, pela primeira vez, pontos de luz que não se originaram dela.

- Mãe! - Rubra a chamou

- Ah, Rubra, filha. - sorriu - Sente-se e venha ver que lindo!

- Sim, as estrelas são lindas mesmo! - disse se alocando ao lado - Pode não parecer, mas até as coisas no escuro têm a sua beleza.

- Estou percebendo isto agora! Porque eu sempre queria que fosse dia? É tão lindo assim!

- O dia e a noite tem suas próprias belezas. - respondeu Rubra

- Noite? É assim que chama? - questionou a mãe

- Assim que os humanos na Terra chamam. - a filha era estudiosa dos outros mundos

Ficaram alguns minutos admirando as belezas do escuro. Até que Rubra finalmente perguntou:

- O que aconteceu na sala de cerimônia, mãe?

- A sombra… Não era bem uma sombra… Ela parecia comigo!

- Eu sei! Eu a vi!

- Na verdade, ela era eu mesma, em outra forma.

- Mãe, sabe que as energias humanas que estão mexendo com você, né?

- Energias humanas? Elas nunca me afetaram, por que fariam isto justo agora?

- Sempre tem uma primeira vez, assim como hoje é a nossa primeira noite.

- Será que pode ser isto?

- É o que eu e as irmãs tentamos descobrir. - e levantou outra pergunta - Como se sente?

- Muito bem! Nunca estive melhor.

“Vamos ver em quanto tempo isto a afeta mais profundamente.” Pensou Rubra.

Houve um pequeno segundo de silêncio, contemplativo do céu, até que a Deusa indagou a filha:

- E suas irmãs? Onde estão?

- Devem estar no salão do ritual, tentando a todo custo trazer o dia de volta.

- A Violet e a Anila vivem brigando sobre quem vai me suceder.

- É verdade! - sorriu Rubra

- Sabe, filha, nunca parei para pensar sobre isso, afinal sou uma deusa imortal. Porém, acho que meus anos de trabalho estão cobrando o seu preço.

- Não diga isso, mãe. Vamos dar um jeito de resolver isto.

- Eu espero que consigam. - a Deusa agradeceu - Bom, acho que é hora de ir descansar. Me acompanhe até meu quarto, Rubra.

- Claro! - assentiu

Rubra seguiu a mãe até os seus aposentos e a deixou lá descansando, acompanhada de dois guardas na entrada que estavam em alerta para qualquer eventual barulho ou movimentação estranha nos arredores.

A Deusa permaneceria calma como estava ou será que aquela energia a afetaria mais com o passar das horas?

As sete filhas tinham que dar um jeito de resolver aqui, o mais rápido possível.


***


Tinham poucas horas que a escuridão se instaurara e o saguão principal do palácio estava lotado de súditos e todos eles em polvorosa e acalorada reclamação com as outras seis irmãs.

A mais nova chega ao recinto e ouve um esbravejar:

- O que será de nós sem a luz da Deusa?

- Nossas plantas e animais, como nós vamos sobreviver?!

- Súditos, peço calma. - Violet se pronunciou - Album está apenas cansada, amanhã mesmo ela trará a luz e o dia de volta.

- Afinal, o que um dia de escuridão pode trazer de mal? - Zulita falou

- Antes da nossa Deusa aparecer, este mundo era só escuridão e nós tínhamos sempre medo do que espreitava onde não enxergávamos. - disse outro

- Eu e minhas irmãs estamos elaborando uma maneira de resolver isto. - Nara se pronunciou - E que seja o melhor para todos. Nós teremos os dias de volta, não se preocupem.

- Rubra, o que faz aqui? - Gelb questionou ao ver a irmã

- Deixei a mãe descansando. - respondeu

- Como está nossa Deusa?! - gritou um lá da frente

- Olá, súditos. - Rubra falou - Serei sincera com vocês, a deusa Album não conseguiu fazer o ritual do dia de hoje, mesmo com todo o possível não conseguiu, usou de todas as energias disponíveis para tal e não adiantou.

- E como vão resolver essa coisa da noite eterna?

- Não é uma noite eterna. - disse Anila

- O que pedimos a vocês é um pouco de tempo para que resolvamos isto. Vai dar tudo certo. - Vert soltou

- Não vai adiantar ficar aqui gritando e brigando. Isso não vai resolver nada! - Violet completou

- Assim que tivermos novidades, vocês saberão. - Nara disse

Apesar de serem um pouco agressivas, a mensagem foi passada e os súditos se dispersaram e saíram do castelo, retornando aos seus afazeres.

Com a situação mais tranquila, era hora das sete irmãs se reunirem e pensarem num plano para reverter aquela situação.

E no mesmo local onde se encontraram com a mãe ao chegarem ali foi feita esta reunião. Elas sentaram ao redor da mesa redonda e resolveram jogar as ideias e ver como poderiam aproveitar.

- Então, irmãs! - Violet assumiu o controle - Alguma ideia para resolver esta situação?

- Já estamos com problemas, só ver o que aconteceu na sala do trono hoje. - Zulita discursou

- Tentar fazer o ritual nós mesmas não funcionou. - Anila desta vez - Nenhuma é forte o suficiente para tal.

- E como está a nossa mãe? - Nara se preocupou

- Bem, por enquanto. - Rubra respondeu - Ela ficou admirando as luzes das estrelas maravilhada e perguntou sobre as coisas da noite para mim. Mas, não sei por quanto tempo ela vai ficar tranquila assim, as energias negativas podem afetá-la a qualquer momento.

- De que forma? - Violet novamente

- São energias caóticas, como violência, tristeza, raiva… - Gelb falou

- Como sabe disso? - Vert indagou

- Eu perguntei na sala de controle que tipos de energias negativas estavam chegando aqui nestes últimos dias.

- Ela pode ter episódios com a manifestação destas emoções então… - Nara disse

- Continuaremos de olho nela, para evitar esse tipo de coisa. - Anila soltou

- E alguma de vocês pensou em uma maneira de resolver isto? - Rubra tomou a palavra e recordou o assunto daquela reunião

- Eu pensei que poderíamos fazer um ritual de purificação com a mamãe. Ela precisa se livrar destas energias ruins. - Vert comentou

- Não é má ideia! - Zulita sorriu para a irmã - E depois de purificada, ela pode realizar o ritual.

- Mais alguma ideia? Precisamos de um plano B. - Violet falou

- Eu tenho uma outra ideia. - Rubra disse

- Claro que você tem uma ideia não, Rubra? - Anila criticou

- Deixe ela falar. - Nara protestou - Fica reclamando, mas não ofereceu nenhuma opção.

- Verdade, Nara. - Gelb concordou, era uma mania horrível das mais velhas fazer isto com as mais novas

- Fala, Rub. - Vert pediu

- Bom, é meio radical, mas é caso não consigamos reverter a situação da mãe.

- Como é? - Violet reclamou - É claro que a mãe vai se recuperar disso.

- Nós sete somos a divisão dos poderes da nossa progenitora, cada uma de nós representa uma cor certo? A junção de nós sete traz a luz branca, então pensei que talvez todas nós possamos fazer o ritual do dia juntas.

- Você enlouqueceu né? - Zulita quem apontou desta vez

- Rub tem razão. Talvez funcione. - Nara ajudou a irmã

- Será o nosso plano Z. - Violet de novo

- É apenas como um último recurso. - a mais nova respondeu

- Vamos de todas as maneiras tentar que ela se reencontre com suas energias positivas e a sua luz interior. - Vert falou

- Ela precisa perder o contato com essas más energias. - Gelb acrescentou

- A próxima na vigia sou eu. - disse Nara - Então, deixo com vocês para elaborar algo para ajudá-la.

E assim, a reunião foi encerrada e cada uma das irmãs foi até seu aposento descansar, exceto Nara e Rubra. Elas sentiam que precisavam fazer algo mais. Então, retornaram à sala do trono para conversar com mais calma.

- Obrigada pelo apoio de sempre, Nara.

- Não precisa agradecer, Rub. - sorriu - Um dia ainda vou entender o que as três mais velhas têm contra nós. Você não faz ideia do quanto foi ridículo elas tentando realizar o ritual… Inutilmente.

- Eu estava conversando sobre isso com a mamãe mais cedo. Essa briga delas por sucessão!

- Se bem que o seu plano de nos unirmos no ritual é a nossa melhor chance de trazer o dia de volta.

- Então, você está com o mesmo pensamento que eu: de que vai ser difícil trazê-la de volta daquele estado.

- Sim! Ainda mais com nossas irmãs brigando desse jeito.


***


Os dias escuros se seguiram, enquanto as sete filhas, de todos os jeitos, tentavam purificar as energias de Album, trazê-la de volta em seu estágio de deusa poderosa da luz. Porém, todas as tentativas foram em vão. Dentre elas, meditação, banho com água purificada e outros rituais dos mais variados tipos.

Conforme a escuridão se tornava algo comum, os súditos enchiam cada vez mais o salão de entrada do palácio, pedindo por respostas e uma solução da situação. O clima também estava uma bagunça, vinham ventos e chuvas muito fortes sem aviso algum. E tudo aquilo começou a afetar os animais e as plantas, da forma que os habitantes disseram e não levaria muito para afetá-los também.

As irmãs estavam preocupadas, desesperadas e sem muitas opções. Além disso, tinha um agravante, conforme esperavam, a Deusa começou a ser afetada pelas energias que a corrompiam.

A Deusa Album tinha pequenos acessos de raiva, tristeza e outros sentimentos durante aquela noite eterna. E nenhuma delas tinha um motivo aparente. Estava mais do que claro qual era a razão.

Um desses episódios foi durante a refeição, a Deusa simplesmente jogou todos pratos para longe e começou a gritar coisas sem sentido. Nara e Rub depressa foram acalmar a mãe, abraçando-a. Já as outras irmãs ficaram muito assustadas.

Outro episódio foi quando a deusa estava caminhando pela sala de espelhos. Ela já havia se acostumado a sua imagem com roupas escuras. Porém, repentinamente, ela sentiu uma vontade de chorar copiosamente. E o fez! Ficou meia hora encolhida no chão e chorando, até que a filha que a acompanhava naquele dia achou estranha a demora. Acabou por encontrar a mãe naquele estado.

Enquanto isto, as energias que vinham não paravam. Na verdade, elas só pioravam. Os vigias do local de monitoramento de outros locais alertaram que a situação poderia se agravar e se não ficassem atentas, provavelmente elas sofreriam a mesma coisa que a mãe.

Era o sinal de alerta para elas fazerem alguma coisa ou tudo podia piorar muito!


***


A cada três dias, as sete irmãs faziam uma reunião no mesmo salão em que se encontraram quando chegaram ali, sempre para ver o que mais elas podem fazer para resolver a situação da mãe e como podem cuidar do reino. Porém, naquele dia, elas sabiam que estavam ficando sem tempo e tinham que acabar logo com aquela noite eterna e curar a sua mãe da escuridão.

Violet era sempre que tomava a frente e disse:

- Irmãs, tudo o que fizemos até então para reverter o estado de mamãe não adiantou.

- Alguém tem alguma outra sugestão? - Anila soltou

- Será que não é a hora de tentarmos fazer o ritual todas nós juntas? Conforme a sugestão da Rub. - Nara opinou

- É o nosso plano Z. - Zulita protestou

- Bom, na atual conjuntura… - Gelb começou

- É a única opção que nos resta. - Vert concordou

Rub não falara até então, pois a cada encontro daquele, ela insistia na sua ideia, mas as irmãs mais velhas ignoravam apenas. E cada vez que era deixada de lado, ela falava menos sobre seu plano. Então, as mais novas, que depois de tantas tentativas inúteis, viam que era realmente o último esforço e tinham que tentar.

- Não sei por que continuam insistindo com essa ideia ridícula. - Violet reclamou

- É a ideia da Rub, ela mesma não está perturbando, por que vocês estão? - Anila questionou

- Eu já cansei de colocar a minha ideia nas nossas reuniões e ser ignorada. - Rubra respondeu - Mas, agora é realmente a nossa única opção e quero que façamos algum plano meu pelo menos uma vez.

- Ainda lembrou que não deu certo quando fizemos o ritual. - Zulita disse

- Quando fizemos individualmente. - Nara intercedeu

- E quem quis muito tentar foram vocês três. - Vert pontuou

- Eu só fiz porque vocês pediram muito, mas eu sabia que não ia funcionar. - Gelb acrescentou

- Venho que estão as quatro contra nós. - Violet cruzou os braços

- Olha só, vocês querem resolver isto ou não? - Rub praticamente gritou, ela já estava irritada porque era sempre a mesma coisa

Elas foram interrompidas por um dos guardas que ficavam na porta enquanto a mãe descansava. Ele estava ofegante e tinha algo importante para falar:

- A Deusa Album saiu de seus aposentos e foi até o salão do lustre.

- O que ela foi fazer lá? - Nara indagou desesperada

- Eu não sei lhes dizer. - ele respondeu

- Acho melhor irmos para lá. - Rubra disse - Ela pode querer fazer o ritual de novo.

E as sete irmãs correram, acompanhadas pelo guarda. No grande portal que dava acesso à sala, o outro guardião estava presente. Apenas disse que a deusa pediu para ele ficar do lado de fora. As irmãs pediram para que ambos ficassem ali na frente e qualquer coisa pediriam ajuda. Então, entraram e lá encontraram Album parada abaixo do lustre e ela estava prestes a começar o ritual quando percebeu as filhas.

- Minhas filhas, vieram ver o ritual?

- O que está fazendo, mãe? - Violet perguntou - Não está em condições.

- Eu acho a noite tão bonita, quero que sempre seja noite. - a Deusa soltou

Rub, Nara, Vert e Gelb se olharam preocupadas, o tal plano Z teria que ser feito a força agora.

Nara correu para ver se conseguia impedir a mãe de tornar aquilo pior ou talvez irreversível. Rubra tentou de novo convencer as mais velhas para que elas tentassem o ritual para trazer o dia de volta.

Ambas as tentativas foram novamente sem sucesso. Album se preparava para realizar o ritual e as mais velhas desacreditaram de novo de Rub.

Conforme a deusa concentrava a sua energia, a sala, que estava iluminada por algumas tochas, ficava mais escura. Aquilo assustou todas as filhas.

- Mudança de planos! - Nara disse quando retornou - Precisamos parar a mamãe ou curá-la agora, senão não tem jeito. O que sugerem?

- Será que podemos juntar nossas forças para purificá-la? - Rubra levantou o questionamento

- Como? - indagou Vert

- Imagino que ela tenha pensada que da mesma forma que o ritual, certo? - disse Gelb

- Exatamente! - Rub respondeu

- E vocês três? - Nara olhou para Violet, Anila e Zulita - Vão se juntar a nós?

- Temos opção? - protestou Anila

- Não estamos lhes obrigando. - respondeu Vert - Mas a ajuda seria ótima!

As três mais velhas se olharam e viram a mãe lá trás, percebendo que realmente elas tinham que dar um jeito naquilo. Assentiram concordando!

As sete irmãs fizeram uma roda em torno da mãe e embaixo do lustre. Como a ideia foi de Rubra, num acordo sem palavras, ela assumiu a frente da situação.

Conforme a deusa concentrava suas novas forças sombrias, uma bola de energia escura se formava em suas mãos. Então, Rub pediu às irmãs:

- Deem suas mãos, fechem os olhos e vamos nos concentrar. Pensem na luz, em coisas boas, vivas, claras, na nossa mãe do jeito que sempre foi. Canalizem suas energias nisso.

Fizeram conforme instruído. Ficou um silêncio no recinto, com energias boas e más sendo canalizadas por cada um dos dois lados. Logo o local se iluminou com as bolas de energia das sete irmãs: Violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. Cada uma delas saiu de sua criadora e foi subindo, em direção ao lustre, num movimento sincronizado. Quando as luzes coloridas se encontraram lá em cima e se convergiram, viraram uma só cor, o branco, o mesmo da luz que a mãe delas emanava. A sala se iluminou, desconcentrando e cegando brevemente a deusa Album. Sua bola de energia da ausência de cor se transformou em areia, primeiro preta e depois branca, escorrendo por entre seus dedos. Essa mesma luz vinda das irmãs bateu no lustre e saiu pelas aberturas da sala, iluminando aquele mundo com outro dia depois de tanto tempo de escuridão.

As irmãs abriram os olhos e viram a mãe, ainda com roupas pretas, mas com a areia clara em mãos. Todas as filhas tem a visão daquela sombra, simplesmente caindo e sumindo. Já a mãe delas caiu desmaiada para o outro lado, logo na frente delas. Para o alívio de todas, suas roupas estão da cor que sempre foram.

As sete vão em seu socorro e a deusa abre os olhos e sorri ao ver as filhas e a primeira coisa que fala é:

- Que bom que está claro de novo. Estava com saudade dos dias!


***


Os súditos e todos os outros no reino ficaram muito felizes com o retorno dos dias e também da melhora da deusa. Aquela noite longa tinha acabado e era isso o que importava.

Para comemorar, foi dada uma grande festa no jardim do palácio, chamando todos que moravam próximos dali. Foi um enorme banquete, com direito a música e dança.

Com tudo resolvido, logo as sete irmãs - que finalmente resolveram suas desavenças - retornariam para seus próprios subdomínios e deixariam Album cuidando do Santuário, que era da mesma predominante cor da deusa.

Porém, a Deusa tinha um anúncio importante a fazer e o fez no momento de seu discurso:

- Olá, leais súditos! Espero que estejam aproveitando a festa em comemoração ao retorno dos dias claros. Quando fui corrompida pelas energias ruins e a noite se instaurou, minhas sete filhas fizeram de tudo para resolver. E bem, elas mesmas me trouxeram de volta e o dia também. No período em que entrei em contato com aquelas energias, conheci um lado meu que até então não sabia. E bem, agora, depois de refletir e meditar sobre o que aconteceu, notei que tudo precisa de equilíbrio: eu, minhas filhas, vocês e o reino. Aprendi que tenho que conviver com as más influências vindas dos outros locais próximos daqui, mas não posso deixar que elas me mudem. Todos nós devemos aprender sobre a luz e a sombra, o claro e o escuro, os opostos. Então, a partir de agora, teremos momentos de claridade e de escuridão em nosso reino, para que possamos aproveitar o melhor de cada parte. Sem esquecer, é claro, das luzes que vivem dentro de nós e nos protegem do desconhecido em volta.

Um alvoroço e muitas palmas se seguiram.

Aquele era o começo de novos tempos para aquele paraíso e mundo perdido e escondido lá em cima. Nós o vemos apenas como uma estrela, mas eles sabem muito bem quem somos nós!

***


"As palavras brancas como a cor das penas estão voltando à pureza.

Esperemos que a felicidade venha até nós.

Eu posso ver isso; doce meu doce meu sonho.


(...)


O paraíso flutuando no espaço – poderia ser o fascínio das estrelas?

O arco-íris torna-se uma escada para alcançá-lo".


(Junpaku Sanctuary - Minori Chihara)

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