sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O dia que o Tempo deu - 12 Meses com Minorin: Fevereiro

 

Nossos passos ligaram nós dois

Mas porque os laços de sonho em apenas nossos corações se desataram

Eu quero voltar, ligando dizendo que devemos voltar

Um milagre não vai acontecer, é meu destino

(Kimi Ga Kureta Anohi - Minori Chihara)

***

Todos me conhecem! Eu sou aquele que todos medem, que dizem ser o melhor remédio, que eu curo tudo, que passa e ninguém percebe. Todos me chamam de Tempo!

E com a ironia da redundância, estou aqui desde o início dos tempos, desde bem antes dos humanos povoarem a Terra. Na verdade, desde bem antes de existir o planeta.

Nasci junto com o universo e o vi se formar, enquanto "crescia" e a minha própria função me amadurecia.

Vi estrelas nascerem e morrerem, espécies surgirem e chegarem à extinção, eras glaciais, tantas coisas que fica complicado de listar. Tudo o que surge também tem o seu tempo de sumir e eu sei exatamente quando cada uma dessas coisas se extinguirá, pois há uma contagem regressiva que só eu posso ver.

Uma das melhores coisas que já vi foi a humanidade e tudo o que ela construiu até hoje. Uma pena que o tempo de cada humano é tão curto, um piscar de olhos se for contar sob minha perspectiva, porém é encantador tudo o que eles fazem.

Pode até parecer que é tudo muito solitário para mim, mas eu tenho uma companheira, a minha melhor amiga e o destino certo de tudo: A Morte.

A minha, digamos, casa fica num local afastado de toda realidade, na ponta do universo. Não é tão grande, mas é repleta de relógios por todas as partes, seja nas paredes ou o chão. No meio existe uma bacia funda coberta por água, sendo este o meu espelho para observar o universo. Só encostar a mão na superfície que posso ver outra coisa.

Infelizmente, o meu trabalho não tem descanso!

***

Estou eu distraído usando o espelho quando a Morte vem para uma de suas visitas rotineiras. Usando roupas e uma capa preta, utilizando de uma foice para redirecionar as almas, recolher as energias e poder renová-las.

É nessa hora que eu lhe indico e lhe passo o que deve morrer até o próximo ciclo.

São sempre muitas coisas, animais, plantas, planetas, estrelas e pessoas.

- Você sempre me assusta! - reclamei com ela

- Eu nem faço para te assustar. - protestou

- Chegando de surpresa com essa sua fumaça preta não tem como.

- Para de graça! Qual é a lista do dia?

- Estou terminando de anotar. - disse enquanto terminava de preencher o pergaminho

- Quando vamos nos modernizar, hein? - indagou indignada

- Vou providenciar um tablet em breve. Você não acha que eu também odeio isso?!

Logo terminei e lhe entreguei. Ela abriu e observou a lista, a mesma coisa de sempre, ela nem precisava falar, pois eu sabia.

- Quando este trabalho melhora?

- Acho que nunca! E olha que estou nisso há mais tempo.

Ela deu de ombros, disse que voltava mais tarde e desapareceu em sua fumaça escura.

Aproveitei o breve momento de pausa para relaxar, passeando pelo local que tinha relógios de vários tipos fazendo seu tique-taque característico. Se fosse alguns ciclos atrás, seria um barulho ensurdecedor, pois as contagens regressivas de tudo estavam naquelas paredes. Porém, meu poder evoluiu e apenas enxergo esta contagem como um número acima de tudo o que vejo, como uma espécie de relógio digital.

Após isto, sentei-me em minha varanda e fui tomar um chá, só para ser interrompido pela Morte novamente.

Eu dei um pulo e derramei o líquido em cima da minha roupa. Bufei e ela gargalhou!

- Já acabou? - ela sempre era bem rápida

- Na verdade não! Nós temos um problema! - disse passando o dedo no cabo da foice, meio sem jeito

- De que tipo?

- Uma alma está se recusando a ser levada.

- Já sabe o protocolo para esta questão.

- Conversei com ela, mas continua se recusando. Aliás, quer falar com você.

Essa situação já aconteceu algumas outras tantas vezes, mas a Morte explicar tudo costuma resolver. O que há de novo nesta agora? Será que eu mesmo terei que convencer?

- Como assim? - levantei da cadeira - Deixe-me ver a lista.

Ela me estendeu o pergaminho, indicando o nome. Puxei e li:

- Alina, 7 anos, câncer terminal. Qual o motivo da recusa?

- Diz ela que quer conhecer a irmãzinha que vai nascer hoje.

- As regras do tempo são rigorosas.

- Sei disto! Mas, ela pede mais um dia. Como não sabia o que fazer, disse que viria até aqui.

- Sob as ordens de quem?

- Minhas. - deu língua

- Quando eu quero só um pouco de paz e sossego, me acontece isto. Deixa eu só me trocar, já que você fez questão de sujar o meu terno favorito.

Ela apenas assentiu. Vesti-me depressa e rumamos para o lugar onde estava internada Alina.

Era um hospital infantil, onde diversas crianças com câncer passavam por seus tratamentos. A maioria delas conseguia vencer a doença, mas outras não.

Confesso que não achava justo uma pessoa nascer com tão pouco tempo na sua contagem, ainda mais quando esta ia acabar ainda na primeira fase da vida.

A Morte me indicou qual era o quarto e entramos. Na cama estava deitada uma menina tão enfraquecida pelos tratamentos pesados e sem nenhum cabelo no topo da cabeça. Assim que nos viu ela sorriu.

- Olha só que você não trouxe ele mesmo? - se dirigindo a Morte

- Eu disse que ia convencê-lo né? - e riu

Quão rápido elas já haviam se tornado tão cúmplices? Apenas a menina podia nos ver e eu estava estático observando-a da porta. O monitor cardíaco fazendo barulho, mostrando que seu coração batia. Ela estendeu a mão, me chamando. Atendi e sentei-me no colchão, segurando em sua mão. A Morte foi vigiar a porta, caso alguém pudesse atrapalhar ao ouvir a voz da pequena.

- Você é mesmo o Tempo? - indagou, em tom baixo

- Sou sim! E você é?

- Sou a Alina.

- Do que precisa de mim?

- Quero que me dê mais um dia. Pode fazer isto?

A contagem restante dela era de apenas alguns minutos, ela tinha pouco para me convencer.

- E por que precisa de mais um dia? - estava confirmando a história

- A minha irmãzinha... Ela vai nascer hoje. Quero muito conhecê-la antes de partir.

- Ela vai nascer aqui neste hospital não é?

- Sim, meus pais estão lá em cima já.

- Você sabe que poderia pedir para ficar com sua irmã para sempre? Posso te dar todo o tempo que quiser.

- Eu não quero isso. - disse cabisbaixa - Meus pais já sofreram muito por minha causa. Eu também já sofri por eles estarem assim. Quero só que eles sejam felizes com a minha irmãzinha. Só isso!

Quantas vezes já não tinha ouvido os humanos me pedirem mais tempo? Fosse para algum projeto, para poder salvar alguém, para poder viver, qualquer coisa. Geralmente são causas bem egoístas! Raramente eu cedo. Mas, essa garotinha só queria mais 24 horas, só para poder ver a nova irmã. Aqueles olhos tristes e aquelas palavras logo me persuadiram. Eu podia mexer uns pauzinhos, ou melhor, uns ponteiros, para que os pais e ela fossem felizes juntos uma última vez e pudessem se despedir.

- Tudo bem! - apertei a sua mão - Vou te dar mais um dia. Aproveite!

Fiz um gesto com as mãos passando sobre a cabeça dela e o contador incluiu o que ela pediu.

- Obrigada! - ela sorriu - Não queria que o dia do nascimento dela fosse o mesmo da minha partida.

- Eu compreendo! Bom, amanhã, eu e a Morte viremos te buscar. Ok?

Ela apenas assentiu. Despedi-me dela, logo eu e a Morte estávamos de volta a minha casa.

- Quem diria que você ia ceder para aquela menina?

- Têm humanos para os quais abro uma exceção.

***

Logo me ocupei novamente dos meus afazeres. Observando o universo e suas coisas. Até porque já tinha mais um ciclo se aproximando e eu precisava listar tudo para quando a Morte aparecesse para cumprir a sua função, talvez me dando outro susto daqueles.

Como já faço isto desde que me lembro - só para não dizer desde sempre - acabo terminando rápido.

A curiosidade sobre a situação da família daquela menina me surgiu. Decidi usar o espelho para ver como eles estavam. Toquei em sua água e pensei na garotinha e no seu nome, era desta forma que o espelho me mostrava o que eu queria ver.

Ela continuava da mesma maneira que a encontrei, deitada na cama do hospital. Só que desta vez já estava escuro e a iluminação vinha da televisão que passava um desenho animado e do qual ela ria bastante. Seu contador já havia caído para metade das horas que lhe dei.

Mudei para a perspectiva dos pais dela, que estavam no andar da maternidade. A mãe ostentava um barrigão e vestia a camisola do hospital. Caminhava pelos corredores, entre uma contração e outra, sendo acompanhada pelo pai. Mas, parecia que não ia demorar muito mais, o período entre cada uma estava bem curto.

De vez em quando, o pai descia para a ala infantil, só para ver como estava a mais velha. A menina perguntava sobre a mãe e a irmã e ele respondia.

Assim que retornava para a maternidade, a mãe perguntava sobre a outra filha e o pai lhe informava. O pai estava sendo mensageiro entre as duas naquele momento.

Eu já estava me sentindo culpado pelo relógio daquela menina ter que zerar e a morte vir buscá-la, mas regras são regras. Já fiz muito lhe dando um dia a mais, espero só que ela consiga o que deseja.

Uma lágrima resolver escorrer dos meus olhos, porque toda essa situação me deixou muito sentimental. Desliguei o espelho e fui fazer outra coisa, de preferência descansar, porque logo já vinha outro ciclo. Era sempre assim: um em cima do outro.

***

Eu lia um livro, sentado na varanda, quando a Morte e a sua fumaça escura apareceram. Dessa vez não pulei da cadeira e nem entornei nada na minha roupa.

- Chegou cedo! - comentei

- Eu sei! Na verdade, eu vim ver como estão os pais daquela menina. Será que a irmãzinha já nasceu?

Ela se dirigiu em direção ao espelho e eu a segui.

- Não sei. Observei-os umas horas atrás e o trabalho de parto parecia bem avançado.

- Parece que não fui só eu a ser curiosa!

- Eu tenho que ver se as horas que lhe concedi estão sendo bem usadas.

- Você sabe muito bem que ela nem consegue sair daquela cama. Não seja tão pragmático e frio, está preocupado com a situação.

- Confesso! Eu estou sim. - senti os olhos marejarem - Últimos desejos são coisa séria!

A Morte sorriu para mim, me consolando, compreendendo perfeitamente como me sentia.

- Não fique assim. Vai dar tudo certo! A irmãzinha dela vai nascer, elas vão se conhecer e nós vamos buscar sua alma. Tudo isso dentro do tempo que ela pediu.

- Assim espero. Senão, vou ter que lhe dar mais algumas horas, mesmo contra as regras.

- Não vai ser necessário. Confie em mim! - passou a mão em meu rosto - Agora, será que podemos ver como está tudo?

- Claro!

Passei a mão no espelho e mentalizei o que queria ver. Logo apareceram os pais da menina, na sala de parto e a mãe já fazendo força para a bebê sair. Acompanhados de uma médica e uma enfermeira, a pequena Francesca veio ao mundo. Chorando a plenos pulmões. Por sorte, o contador dela mostrava muitos anos de vida, até ela ficar bem velhinha.

Eu e a Morte nos abraçamos, comemorando! Era sempre bom ver algo nascer.

A recém-nascida foi colocada no colo da mãe e o pai tirou foto da cena, mandando para uma das enfermeiras que estava trabalhando na ala infantil, só para mostrar para a Alina.

Toquei no espelho para poder vê-la e também a sua reação.

A funcionária veio depressa correndo para o quarto para mostrar a foto. A menina abriu um sorriso gigante, toda feliz. Também soube que dali algumas horas, quando a mãe estivesse descansada e tudo certo com a irmã, eles a levariam lá para conhecê-la.

Então, sim, ia dar tempo. Eu e a Morte estávamos aliviados por isso!

***

Mais um ciclo logo se iniciou, a Morte foi fazer o seu trabalho. Ela não costumava demorar, então combinamos que iríamos buscar a alma de Alina.

Certifiquei-me se os pais já haviam descido com a mais nova para conhecer a irmã, mas isso não tinha acontecido ainda. Acho que teríamos que esperar um pouco ainda!

Confesso que estava ansioso, o que não é muito comum, até porque eu já vi de tudo, porém sempre aparecem aquelas almas que são diferentes e nos cativam à sua própria maneira.

Não tardou muito e a Morte surgiu, acompanhada de sua fumaça característica. Eu já a esperava, sentado lendo um outro livro. O meu outro terno, aquele que derramei chá, ainda não estava limpo, então coloquei o melhor logo após ele.

- Ora, ora, todo chique para buscar só uma garotinha?

- Tem humanos que merecem a nossa melhor roupa.

- Segunda melhor né? - ironizou ela

- Você entendeu! A melhor disponível agora!

Ela gargalhou, divertida. Era até engraçado a Morte ter esse bom humor, pois ela lida com a pior coisa do universo. Mas, ela já me disse que é o jeito para que não pire. Na verdade, ela acha que a morte é o momento em que todas as criaturas se igualam. Tudo tem um começo e também tem um fim.

- Vamos? - perguntou ela, enquanto eu devaneava em meus pensamentos

Apenas assenti e usamos do meio de transporte dela para chegar mais rápido.

Logo estávamos de volta àquele quarto no hospital. A menina estava do mesmo jeito, deitada e sorriu assim que nos viu.

- Vocês vieram!

- E seus pais? Já trouxeram sua irmãzinha para você ver? - perguntou a Morte

- Ainda não. A enfermeira disse que eles estão vindo agora. Será que podem esperar um pouco? - pediu olhando para mim, de novo

- Claro! - ela tinha bastantes minutos de sobra

- Eles podem te ver? - se dirigiu a Morte

- Não, só você!

- Vamos ficar aqui do lado para não atrapalhar.

- Tudo bem! - ela sorriu - Obrigada!

Logo, a enfermeira entrou no quarto, anunciando os pais. O pai veio na frente e abraçou a filha e a mãe veio logo atrás carregando a neném embrulhada na manta.

- Olha quem veio te ver! - disse ela, colocando a bebê no colo da filha

- Ela é tão linda! - o olhar de Alina se acendeu - Qual o nome dela?

- Francesca!

- Gostou do nome? - o pai questionou

- Sim!

Então, perguntaram para a enfermeira como a filha mais velha estava.

- Animada como o nascimento da irmãzinha, comeu bem ontem e não reclamou de dor.

Os pais já tinham plena ciência do estado terminal da filha, então só queriam que ela ficasse confortável. E bem, o sofrimento daquela família acabaria logo.

Eles ficaram alguns minutos conversando sobre como foi o nascimento da irmã e outras trivialidades. Aproveitaram para tirar algumas fotos do momento também, coisa que a enfermeira fez questão de ajudar a registrar.

O contador da menina ia diminuindo cada vez mais e a Morte começou a se desesperar, porque ela não queria que os pais vissem a filha morrer na frente deles. Ela apertou minha mão, já preocupada.

A pequena Alina, algumas vezes, olhava para o canto do quarto onde estávamos. Nenhum dos adultos percebeu os pequenos desvios dos olhos dela para nós. A menina sabia que logo seria a hora e também não queria que os pais a vissem partir.

Para o alívio de todos, a bebê tinha que fazer mais alguns exames e os pais logo se despediram. A enfermeira se despediu também, dizendo que voltaria mais tarde trazendo o almoço. E assim o quarto ficou vazio novamente! Então, eu e a Morte nos aproximamos, sentando cada um de um lado da cama.

- Minha irmãzinha é linda né?

- É sim! - sorri para ela - Seus pais e ela serão muito felizes.

- Fico pensando se eles esquecerão de mim... - confessou

- Eles sempre vão lembrar com carinho de você. - a Morte falou

O monitor cardíaco estava ligado e apitando, mostrando os batimentos dela, que logo cessariam. Ainda bem que deu tempo de atender ao desejo dela!

- Está na hora! - olhei para a Morte

- Será que isso dói? - indagou a menina

- Não! Confie em mim. - pediu a Morte, usando a foice, com cabo retrátil, para fazer uma abertura no tronco da menina - Apenas relaxe!

A Morte então tocou na mão de Alina, depois em seu peito e num movimento bem suave, se utilizando da passagem que abriu, puxou e separou a alma da menina do corpo. E a imagem que apareceu era bem diferente da que víamos deitada naquela cama. Ela tinha os cabelos mais compridos e tinha as bochechas do rosto mais cheias, cheia de energia, que era o que emanava dela. A Morte a conduziu para fora da cama. E eu segui-as.

Um bipe longo soou pela sala e ouvimos uma movimentação vinda do corredor. A enfermeira que disse que traria o almoço mais tarde, mesmo não querendo transparecer, sentiu vontade de chorar. Ela simplesmente foi até a tela e a desligou, falou, passando a mão na cabeça da agora casca vazia:

- Vá em paz, Alina. Vou avisar seus pais!

A enfermeira saiu e a menina olhou para nós, sorrindo e só disse:

- Obrigada!

Após isto, a Morte levou a sua alma onde deveria ir e eu voltei para a minha casa, porque logo outro ciclo começaria.

***

Muitos ciclos, mas muitos ciclos se passaram. Vocês humanos chamariam isto de anos, porém tem algumas histórias que não esqueço e a da menina que me pediu mais um dia para conhecer a irmãzinha foi uma destas.

De vez em quando pegava olhando a família que ela deixou, como fazia com tantos outros que me marcaram. Sua irmã recém-nascida daquele dia era agora uma moça jovem e eu me perguntava onde e como estava a alma daquela garotinha.

Finalmente nos modernizamos e agora não usava mais um pergaminho e sim o tablet para listar o que morreria no ciclo seguinte. A Morte ficou alegre até demais com o nosso novo brinquedo, era um para ela e um para mim. E claro, facilitou o nosso trabalho.

Já estava esperando a sua visita naquele dia. Ouvi um som vindo da porta de entrada e pensei ser ela, mas tive a surpresa de ver que era uma moça jovem, com os cabelos num penteado e usando um vestido azul e longo. O que ela estava fazendo ali? Será que estava perdida?

- Olá! - cumprimentei-a - O que faz aqui nos confins do espaço-tempo?

- Não se lembra de mim? - ela jogou de volta

- Eu deveria? - cruzei os braços

- Não se lembra da menina que te pediu mais um dia?

- Alina, é você? - disse surpreso - Está diferente!

- Os ciclos também passaram para mim. Terminei de crescer para onde fui.

- Ficou muito bonita! - falei, sem graça - Enfim, qual o motivo de estar aqui?

- Bom, eu vou voltar, dessa vez para viver bastante. Mas, antes, vim lhe trazer um presente.

As almas sempre se renovam, voltando a viver e sempre são pegas pela morte várias vezes, é algo bem normal. E tudo se renova e assume novas formas e cumpre outras funções. O que ela ia fazer não era nada incomum.

- Que presente seria?

- Abra! - e me estendeu uma pequena caixinha

Fiz conforme ela disse e era um relógio, daqueles de bolso, com ponteiros e os números posicionados em círculo, com um botão que os revelava atrás da proteção. Um dos tipos de relógio que acho bem bonito. Era um presente engraçado para dar para o Tempo.

- Sei que não é o presente mais criativo, mas eu pensei naquela roupa que você estava quando veio me buscar com a Morte e achei que este relógio combinaria com ele.

- Obrigado! Vou usar sempre. - e resolvi questionar - Como será o seu retorno?

- Virei como filha da minha irmã. - sorriu - Dessa vez com bastante tempo na minha contagem.

- Aproveite a sua nova vida, estarei olhando daqui.

- Promete me buscar de novo quando for a hora?

- Prometer não posso, sou muito atarefado. Mas, posso tentar.

- Assim já está bom! Depois agradeça a Morte por ter me dito onde morava.

- Não sei como vocês se encontraram, mas pode deixar!

- Encontro com ela mais vezes do que gostaria, levando muitas almas para onde moro.

E assim, nos despedimos!

Olhei para o mais novo relógio da minha coleção, mas este com certeza é o que mais tenho apreço.

***


Eu percebi isso

Logo a dor agora vai se afastar, a esperança vai nascer

Eu percebi isso

Até as promessas podem desaparecer, e isso também é o começo

(Kimi Ga Kureta Anohi - Minori Chihara)

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