sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Capítulo 2 - Escândalo

Poucos minutos depois, a pista de dança foi aberta na área interna, o que fez com que a maioria dos funcionários presentes na festa fosse para o lado de dentro. Apesar de ser noite e a brisa do mar estar correndo, ainda estava bastante quente.
Ana Maria e Dimas foram um dos que ficaram do lado de fora, bebendo o champanhe devagar e aproveitando a noite estrelada. Eles acabaram emendando uma conversa:
- Ana, o que te fez sair de Charmosinha e tentar a vida aqui no Rio?
- Ah, eu sempre quis algo a mais para mim. - sorriu - E não era naquela cidadezinha que eu ia achar.
- Sua família tem algo com o mercado das flores?
- Minha mãe trabalha com essências! Ironicamente, ela produz sabonetes também.
- Por isso que veio trabalhar na empresa?
- Também! Bom, digamos que eu entendo um pouquinho, só não devo ter um nariz treinado igual ao seu.
- Acredite, é horrível ter o nariz sensível assim! Até agradeço quando pego um resfriado.
Os dois riram juntos, apesar da pequena hierarquia entre eles, o clima estava bem leve. Até que ele indagou:
- E tem vontade de seguir carreira trabalhando com flores, essências, sabonetes?
- Na verdade, não. Sempre gostei muito de arte, de esculturas.
- Interessante!
- Uma pena que, com o trabalho, eu não tenho praticado muito.
- Imagino que more bem longe da sede, não é?
- Sim! Pego transporte cheio para ir e voltar.
- Nem consigo imaginar isso! Sempre tive tudo na palma da mão.
- Eu tive que brigar até para nascer!
- Como assim?
- É uma história longa, mas... Eu sou a caçula de três irmãs. Mamãe não queria mais filhos, mas ficou grávida de mim, ela não me queria, mas meu pai insistiu. Depois que nasci, ela nunca me deu muita atenção. Sou basicamente a filha rejeitada!
- Sinto muito por isso!
- Eu estou acostumada. - sorriu cabisbaixa - Acho que é por isso também que não teve tanto drama quando me mudei.
- E o seu pai?
- Bom, ele faleceu quando eu tinha 13 anos. Ele estava viajando a trabalho e sofreu um acidente.
- Também perdi meus pais num acidente, uns anos atrás. Somos só eu e a minha avó!
- Sinto muito pelo seus pais!
- Obrigado! Acho que é por isso que continuo com a empresa, para manter o legado e poder dar orgulho a eles onde estiverem.
- Com certeza eles estão orgulhosos! Olha tudo o que você conquistou!
- Seu pai também deve estar muito orgulhoso de você.
Ana Maria sorriu, agradecendo.
Enquanto os dois conversavam, a dupla que adulterou a bebida observava, esperando o efeito para colocar a segunda parte de seu plano em ação.
Apesar de ter levado um pouco de tempo, Dimas estava com uma sensação estranha em seu corpo. No começo, pensara realmente ser o calor, aumentado pela quantidade de roupas que usava, tanto que até tirou o paletó no final do discurso para ficar mais à vontade. Porém, com o decorrer da conversa com Ana Maria, aquilo não passava. E ele notou que ela, mesmo usando uma roupa mais fresca, tinha alguns fios de suor escorrendo pelo pescoço e começou a se abanar.
- Tá um calor né? - ele soltou, quebrando totalmente o assunto de antes
- Sim! Mas acho que é só a gente que está se sentindo. - ela passou a mão no pescoço - Que droga, estou até suando!
As narinas de Dimas se mexeram enquanto ele olhava Ana Maria, sendo inebriadas pelo cheiro do suor dela, misturado com seja lá o que aqueles outros dois botaram na bebida. Ele realmente estava interessado na garota, mas ainda estava bastante controlado e se aproximando devagar - por isso a conversa mais leve e informal -, só que algo dentro dele estava se descontrolando e não parecia só o calor.
Ana Maria já sabia que o chefe de sua empresa era um homem bem bonito só pelas fotos, contudo ao vivo, era muito mais. Mesmo sendo tímida, ela estava correspondendo às investidas dele, porque ele pareceu bem simpático, sendo até um pouco esquisito. Mas, quem não o é? Enquanto conversavam, além do calor, sentia outra coisa dentro de si, talvez efeito do que colocaram na bebida, porém ela era muito ingênua neste assunto para poder compreender com exatidão.
Dimas, num impulso repentino, deu um passo à frente e ao mesmo tempo puxou Ana Maria para perto, obrigando que seus lábios se encontrassem. Primeiro foi só um toque, que depois se tornou intenso demais. Levou alguns segundos até que os dois encontrassem o ritmo da coisa. A dupla que estava espionando comemorou e já tirou algumas fotos daquela cena, mas eles ansiavam por mais e esperavam que eles fossem alguns andares para cima.
Quando Ana e Dimas se desvencilharam, estavam surpresos pelo que tinha acontecido.
- Desculpe por isso! - ele falou - É que...
- Tudo bem! - sorriu sem graça
- Eu sou seu chefe, pode pegar mal para você.
- Acho que ninguém viu. Estamos aqui neste canto! - comentou olhando em volta e vendo as poucas pessoas no recinto distraídas e conversando
- Não sei o que deu em mim! - disse, olhando para a boca dela - Eu não sou assim.
Ele mal conseguiu terminar de falar e ocorreu outro beijo, da mesma forma que o anterior. Mas agora, as mãos dele estavam procurando lugares para tocar o corpo da funcionária.
O beijo terminou e os dois estavam ofegantes, sentindo calor e se olhando. Ana tentava fingir que estava tudo bem, que não tinha problema, mas ela queria mais daquilo e sabia que não era uma vontade natural, só que era desconhecido até então, mas ainda assim delicioso. Pensou ser o momento que a amiga tanto lhe falou sobre isto! Dimas sabia que estava perto do seu limite e ainda não compreendia como aquele fogo surgiu do nada, passara boa parte da tarde com ela e não tivera isso, talvez fosse o efeito da bebida. Precisava tomar uma atitude e resolver aquilo, fosse sozinho ou com Ana Maria. Segurou a mão dela e fez a pergunta fatídica:
- Quer ir lá para o quarto comigo?
Ela apenas assentiu, dizendo sim.
Então, os dois voltaram para o lado de dentro e pegaram o elevador, ignorando a tudo e a todos em volta. Enquanto subiam, eles trocaram alguns beijos e se embolaram no pequeno ambiente flutuante.
A porta se abriu e Dimas puxou Ana pela mão, arrastando-a para o quarto. Destrancou com o cartão e entraram. Um pé com sapato social fez a porta se fechar e os dois quase que caem no chão em vez da cama. Não se sabia onde começava um e terminava o outro. Mesmo com o ar condicionado do quarto, que ficou ligado, o calor não passava, só aumentava. Não houve tempo para pensar, só para sentir e aproveitar aquelas sensações inesperadas.
As peças foram saindo, dando lugar a um contato pele a pele. O penteado e maquiagem foram se desfazendo, os perfumes foram se misturando. As bocas não se desgrudavam, os gemidos começaram baixos e se tornaram cada vez mais altos. Para ela, era a sua primeira vez e nunca tinha sentido nada assim antes, aquele fervor, aquele desejo. Para ele, poderia até ser uma vez como tantas outras que tivera, mas o cheiro daquilo, o cheiro dela estava tomando conta de seus pulmões, liberando alguma sensação desconhecida por ele até então.
Os dois se uniram naquela cama bagunçada, trocando carícias, beijos, gemidos, chegando ao ápice quase que ao mesmo tempo, influenciados pela substância que colocaram em suas bebidas e que desencadeou tudo aquilo. E quando acabou, todo aquele fogo descontrolado simplesmente se fora, dando espaço à consciência e duas pessoas ofegantes.
Dimas deitou-se ao lado de Ana Maria e logo soltou:
- Esqueci a camisinha. Que merda! - pôs a mão no rosto
- O que o pessoal vai falar? - ela se perguntou
Eles nem tiveram tempo para pensar e sequer descansar do ato, pois a porta do quarto se abriu abruptamente e a luz cegou os seus olhos. E o que surgiu, quando a visão voltou ao normal, foram duas figuras, gritando e uma delas com o celular filmando e tirando foto daquela cena. Imediatamente, cada um dos dois puxou um lençol, tentando esconder o que desse, em especial Ana Maria escondeu o rosto de tanta vergonha. Porém, logo o chefe esbravejou, pois reconheceu aqueles dois:
- O que vocês estão fazendo aqui?
- Acabando com sua reputação, jovem Dimas. Não queremos você metido com a nossa cidade! - falou um
- Até porque, como confiar em uma empresa que o dono se relaciona com as subordinadas. - gargalhou, puxando o lençol onde Ana se escondera
- Ana Maria! - gritando em uníssono
- Cunhado! - ela respondeu
- Peraí? Vocês se conhecem? - apontou e já tirando conclusões , esbravejou em seguida - Isso era um plano de todos vocês?
- Não! - Ana Maria tratou de responder, querendo apenas sumir
- A gente nem sabia que ela trabalhava na sua empresa. - disse o cunhado
- Não reconhecemos ela porque estava sem os óculos. - disse o pai do cunhado
- Eu não acredito em nenhum de vocês.
- Foi a minha primeira vez... - Ana disse num sussurro, sentindo as primeiras lágrimas caindo no rosto
Dimas sentiu a verdade naquela frase incompleta, percebendo que ela era vítima daquela situação igual a ele. Só que agora havia imagens dos dois naquele quarto e ele tinha que dar um jeito dessas fotos sumirem. Levantou-se depressa, se enrolando no lençol e tentou alcançar a dupla para pegar o celular, mas os dois foram mais rápidos. Sentiu que precisava de ajuda para resolver a situação. Retornou para a cama, simulando a derrota, pegou seu telefone, mandou uma mensagem ao seu assistente, pedindo para que ele subisse ao quarto rápido, trazendo seguranças. Enquanto esperava os reforços, resolveu enrolar a dupla:
- O que vocês querem para que essas fotos nunca sejam divulgadas?
- Já dissemos! Não o queremos envolvido com os negócios de Charmosinha. - o cunhado disse
- O que eu fiz demais para despertar tanto ódio do sindicato?
- Você é um ricaço metido que quer se aproveitar das nossas pequenas produções para sua empresa. - disse o outro
- Já pensaram que talvez isso aumente e muito o comércio de lá? - ele retrucou
- Não queremos saber! Já vimos seu contrato, tem coisas que não admitimos.
- Sobre isso, nós podemos sentar e resolver!
Ana Maria continuava encolhida na cama, debulhada em lágrimas, enquanto o CEO continuava debatendo com os outros dois. Até que ele soltou:
- Queriam tanto me prejudicar que até envolveram uma pessoa inocente em toda essa situação. Ela não tem nada a ver com o assunto e agora corre risco de ter sua imagem divulgada em todos os lugares. Inclusive, nós dois fomos dopados... O que adiciona uma coisinha a mais no processo que posso mover contra vocês.
- Não seria capaz disso! - duvidou o cunhado
- Sou muito capaz! Segundo vocês: não tenho escrúpulos!
Nesse instante, chegou o Assistente Antônio, acompanhado de dois seguranças do hotel.
- O que houve, senhor? - indagou o empregado
- Esses dois entraram aqui e tiraram fotos íntimas minhas e desta moça ao meu lado.
- Estão usando uniformes de garçom. - disse um dos seguranças - Como entraram aqui?
Os outros dois simplesmente olharam em volta e encontrando uma brecha, saíram correndo, sendo seguidos pelos dois seguranças. A perseguição rolou por poucos minutos no andar, deixando a dupla de Charmosinha encurralada. A janela que dava para os fundos do hotel, no corredor, estava aberta. Quando foi cercado, o cunhado recebeu uma trombada e o aparelho celular voou para fora, se espatifando no chão vários andares abaixo. Após isso, os dois foram detidos e levados de volta ao quarto. Um dos seguranças perguntou:
- O que quer que façamos, senhor? Chamamos a polícia?
- O celular? - indagou o assistente
- Se espatifou no chão lá embaixo. - disse o cunhado chorando - O aparelho que ainda estou pagando.
- Só tirem eles daqui. Não quero me aborrecer mais com isso! E obrigado pelo serviço, senhores.
Os dois seguranças apenas assentiram e saíram arrastando os outros dois para fora do hotel. Quando ficaram a sós, o assistente perguntou:
- Como isso foi acontecer?
- Eles doparam nossas bebidas e depois que aconteceu tudo tiraram fotos e filmaram.
- São de Charmosinha mesmo?
- Sim! Inclusive, parentes da Ana Maria.
- Ana Maria? - coçou a cabeça - A moça que ganhou o sorteio e é sua convidada da noite?
- Ela mesma! - apontou para a pessoa escondida nas cobertas, lembrando de uma coisa - Preciso que compre uma coisa na farmácia para mim.
- E o que seria?
Dimas cochichou no ouvido do assistente, que logo saiu correndo para providenciar o pedido. Assim que ele sumiu de vista, o CEO fechou a porta e retornou à cama, mas desta vez, parando ao lado de Ana Maria.
- Ei! - chamou, puxando a coberta - Pode sair desse casulo. Eles já foram!
Ela tinha ficado em silêncio na maior parte da situação, não sabia como reagir e a única coisa que ela queria era sumir da face da Terra. Mas, ela sabia que tinha que falar alguma coisa para não deixar o outro preocupado:
- Eu... Eu... Não sabia que eles estavam aqui. Não tenho nada a ver com isso.
- Eu sei! Nós somos vítimas dessa história toda!
- Se eu soubesse que isso ia acontecer, tinha ficado em casa.
E ela danou a chorar de novo, mas Dimas apenas se sentou perto dela e abraçou, oferecendo consolo naquele momento.
Alguns minutos depois, o assistente retorna com o que comprou, abrindo a porta usando o seu cartão.
- Aqui, senhor. - disse mostrando - E trouxe isto também, só em caso de dúvida. - mostrou as camisinhas
- Obrigado! Pegue um copo de água e traga o comprimido para mim.
Ele fez conforme o outro solicitou e ao entregar perguntou:
- Tudo bem com ela?
- Está abalada! Dê tempo a ela! Pode nos deixar a sós? Pode voltar para a festa.
- Claro, senhor! - falou se afastando - Com licença!
Assim que a porta bateu, chamou Ana. Ela levantou a cabeça, olhando para ele e tentando entender o porquê do copo e do comprimido.
- É uma pílula do dia seguinte. Nós fizemos sem proteção!
- Ah sim! - pegou o comprimido e tomou sem falar mais nada
- Desculpe ter estragado a sua primeira vez. - ele declarou
- Tudo bem! Na verdade, tirando a parte do bebida, até que foi... - e sorriu, tímida - Acho que eu também fui afetada seja lá pelo que eles colocaram no champanhe. - e riu
Ana Maria pegou seus óculos e seu celular, que estavam na cabeceira da cama. Ela olhou a hora e falou:
- Hora da carruagem virar abóbora!
- Já é tão tarde assim? - disse ele olhando o relógio do celular - Bom, pelo menos tome um banho de banheira... Não tem no seu quarto!
- Posso mesmo? - ela perguntou
- Claro! É a minha convidada da noite.
Sem nem pestanejar, ela correu para o banheiro, encheu a banheira com água morna, colocou alguns sais de banho e perdeu a noção do tempo, distraída em pensamentos. Pensou sobre aquele dia maluco e tudo o que tinha acontecido e em como ela queria matar o cunhado e o pai dele. Acho que estava vivendo um momento especial, mas era apenas efeito de algo externo. Não que ela não tenha se sentido atraída pelo chefe, porém toda situação aconteceu fora de seu controle. Não foi ruim, só não foi da forma que ela imaginou e fantasiou.
Saiu do banho enrolada na toalha e viu que já tinha uma muda de roupa pronta e separada por Dimas para ela.
- Vou te levar de volta ao seu quarto.
- Não precisava da roupa.
- Precisava sim! Inclusive... - disse entregando o vestido e os sapatos de festa que estavam espalhados no quarto até pouco tempo antes - Isso é um presente!
Ela agradeceu e os dois desceram de elevador até o andar dos quartos mais simples. Dimas deixou-a na porta do quarto e antes de se despedir, disse:
- Bom, talvez nos vejamos no café da manhã.
Ele ia se afastar, contudo Ana o puxou pelo braço e deu um beijo nele, algo que ele não estava esperando.
- Nos vemos amanhã!
Ana Maria entrou no quarto e encontrou a amiga ainda acordada.
- Isso são horas, dona Ana? - brigou de brincadeira
- Eu estava com o chefe!
- Até agora? - se espantou - Então a noite foi boa hein?
- Na verdade não!
E então, Ana e Larissa ficaram acordadas ainda um bom tempo, para uma deixar a outra atualizada do que tinha ocorrido.

***

A dupla, constituída do cunhado e de seu pai, foi enxotada do prédio do hotel e logo ao serem jogados na entrada, viram as peças do celular todas espalhadas no chão. O cunhado recolheu os pedaços e dentre eles estava um cartão de memória e que ele comemorou muito que ele estava inteiro.
- Que alegria toda é essa? - indagou o mais velho
- O cartão de memória está inteiro. O computador tá lá no carro?
- Sim! Por quê?
- Preciso dele.
Os dois foram ao estacionamento onde estava o carro e aproveitaram para ir embora. Enquanto o pai dirigia, o cunhado ligou o notebook e encaixou o cartão de memória na entrada própria e o dispositivo foi reconhecido. Ele abriu e estava tudo lá, as fotos e os vídeos.
- Está tudo aqui!
- Que maravilha! - comemorou o pai - Agora acabamos com esse rico de merda!
- Mas, e a Ana Maria?
- Borramos o rosto dela! Mas isso precisa estar na internet no máximo na segunda.
- Vou providenciar. - respondeu o meu novo
- Vamos para o nosso hotel e faremos isso de lá.

***

As duas amigas, após horas de fofoca, dormiram bem e acordaram para aproveitar as últimas horas da hospedagem tomando um café daqueles.
Arrumaram suas bolsas e já deixaram tudo pronto para irem embora. Ambas queriam voltar cedo pois tinham que trabalhar no dia seguinte e o transporte nos domingos era péssimo. Desceram para o restaurante, pegaram a comida e enquanto se alimentavam, distraídas, uma pessoa veio falar com elas.
- Bom dia, senhoritas. Posso me sentar com vocês?
A amiga quase deu um pulo por causa do susto. Já Ana Maria apenas sorriu e cumprimentou de volta, respondendo sim à pergunta feita.
- Ele enlouqueceu né? Sentar com a gente? - a amiga perguntou
- Só quer ser simpático, uai.
- Fale por você, já que vocês né... Ontem né...
Ana Maria riu, constrangida, mas a outra não estava errada.
Ele pegou a comida e sentou-se ao lado da funcionária que não estranhava sua presença, resolveu inclusive puxar conversa:
- Gostaram da estadia no hotel? E da festa? - a segunda pergunta sendo direcionada para a amiga
- Bastante! - respondeu a amiga - Tomamos banho na praia, aproveitamos o spa do hotel, a comida também... Foi maravilhoso! E a festa, bem, foi animada!
- Animada? - rebateu Ana Maria - Mais que animada né?
- Para você também, Aninha! Não fui só eu que aproveitei a noite.
Ao ouvir a frase, o chefe se engasgou com a comida, tendo uma crise daquelas de tosse. Ele bateu algumas vezes no peito e Ana Maria deu uns tapas nas suas costas. Não demorou muito e a tosse passou. Ela brigou com a amiga:
- Você sabe que foi por culpa do meu cunhado né?
- Sei, eu sei, Aninha.
- Foram circunstâncias além do nosso controle. - o chefe complementou
- Não finjam que foi só por causa daquilo. - aprontou o garfo para a amiga
Os dois se olharam, pois não era mentira, eles só não queriam admitir.
- Será que podemos trocar de assunto, Lari? - Ana pediu
- E perder a chance de te ver constrangida? - riu de leve - Tudo bem, eu paro! E não se preocupem, não vou contar para ninguém o que aconteceu na noite passada.
- Agradeço a sua discrição. - o chefe agradeceu - Seria um escândalo e tanto!
- Mas seria pior para mim. - Ana completou
- Exatamente! - a amiga concordou - Então, isso morre entre nós três. - fez o símbolo de fechar a boca com os dedos, guardando segredo
Ficaram um tempo comendo em silêncio, até que o chefe puxou novamente:
- Como farão para voltar para suas casas? Vão chamar algum carro?
- Carro? - a amiga debochou - A gente nem tem dinheiro para isso.
- Vamos de transporte mesmo! Por isso vamos sair mais cedo.
- Quanto tempo isso leva?
- Uma hora e meia. - respondeu a amiga - De carro deve dar uns quarenta minutos. Só para você ter uma estimativa!
- Eu levo vocês! - ele declarou
- Não precisa! É do outro lado da cidade. - protestou Ana Maria
- Faço questão! Já que amanhã estarão na sede da empresa, devem chegar descansadas.
- Poxa, não vou recusar! Já que faz tanta questão! - a amiga soltou, sentindo um chutão de Ana na sequência - Ai!
- Por favor! - disse ele olhando para Ana - Para chegarem em segurança.
Ela apenas assentiu, concordando enfim.
Eles terminaram o café da manhã, fizeram o check-out do hotel e rumaram para o carro, logo pegando o caminho para o subúrbio da cidade, para as casas de Ana e Larissa. As bolsas estavam no porta-malas e elas foram guiando-o no trajeto. O grupo foi conversando brevemente no trajeto, falando sobre suas funções na empresa.
- É do setor contábil como a Ana, Larissa?
- Sim! Praticamente entramos juntas na empresa.
- Fazemos de tudo um pouco. - completou Ana
- Eu sei. É uma falha deste setor, porque certeza que vocês teriam capacidade para cuidar de mais coisas e sozinhas.
- Por isso que nós duas queremos alcançar uma promoção... Trocar de setor! - disse Lari
- E qual setor gostaria de ir? - indagou ele
- O desenvolvimento de produtos. - respondeu ela
- E você, Ana?
- Marketing. - sorriu
- Em breve devemos abrir um processo seletivo interno para tal. Sempre fazemos!
- Então iremos nos inscrever. - sorriu a amiga
Depois, a viagem para a zona menos turística da cidade seguiu apenas com comentários sobre como foi a festa, que provavelmente seriam os comentários da manhã seguinte, quando todos estariam de volta. Como dançaram, como beberam, como conversaram e riram.
Cerca de quarenta minutos de trajeto e Larissa foi deixada primeiro em sua casa. Se despediu da amiga e do chefe, entrando no condomínio onde fica seu apartamento.
- Esse condomínio não aparenta ser ruim. - soltou Dimas
- Isso porque você ainda não a ouviu falando sobre as coisas que acontecem aí. - riu
- Eu imagino! - riu de volta - E você, onde mora?
- Não é muito longe daqui e bem... Não é nenhum condomínio. É uma quitinete!
- Mostre o caminho.
Ana fez conforme ele solicitou e em menos de cinco minutos, eles estavam na frente do portão da pequena vila onde ela morava.
- É aqui?
- Sim! Obrigada a carona!
- Não tem de quê!
Ana Maria foi pegar sua bagagem na mala, porém com a quantidade de coisas que ganhou da festa - ainda mais porque foi a convidada de honra do CEO - acabou se estabanando para tirar, sofrendo com o peso. Essa situação chamou a atenção de Dimas, que desceu do banco do motorista e foi ajudá-la. Acabou que ele teve que carregar até o lado de dentro, pois realmente estava muito pesado.
A moça de óculos seguiu na frente e entrou numa das casas, passando por um pequeno corredor com algumas portas, parando na frente de uma delas e abrindo. Dimas estava atrás dela e deixou a bolsa pesada ao lado da porta, observando como o ambiente era pequeno. Ele tinha ideia de que as pessoas moravam em locais apertados, mas nunca vira com seus próprios olhos.
- O que foi? - Ana o tirou do devaneio
- É pequeno né?
- Um pouco! Mas, é só para mim e eu não sou tão espaçosa, então, até que funciona.
- Bom, eu já vou indo.
- Está bem! - olhou para baixo, tímida - Até mais ver!
Dimas sentiu um cheiro diferente no ar, dizendo que ela não queria que ele fosse embora. E ironicamente, ele também não queria.
- Tem certeza? - indagou - Não parece que quer que eu vá. Senão nem teria me chamado para entrar... Com a desculpa da mala!
- Eu... Eu... - Ana tentava encontrar as palavras
Dimas fechou a porta, trancando apenas eles dois no ambiente. Ficou olhando para aquela garota que conhecera da maneira mais inusitada no dia anterior. Ela parecia tão comum aos olhos de outras pessoas, mas, para ele, ela tinha algo de diferente. Talvez fosse realmente o cheiro que o atraiu, porém, as poucas horas que passara com ela já lhe mostraram um pouco de sua personalidade. Ela não ia falar, ele quem tinha que tomar uma atitude. E assim o fez, dando um beijo nela. Calma, tranquilo, como deveria ter sido na noite anterior. Quando os lábios se separaram, ela protestou:
- Não devia ter feito isso!
- Por quê?
- Agora mesmo é que não vou deixar você ir.
Ao terminar a frase, Ana simplesmente se jogou nos braços deles, emendando um beijo atrás do outro. Primeiro, os dois se atracaram no sofá da pequena sala e depois, precisando de mais espaço, se jogaram na cama que era bem ali do lado. Não havia metade da ferocidade, mas havia o dobro de desejo se comparado com a noite anterior.
As peças de roupas foram caindo e se espalhando pelo chão, arremessadas uma a uma. Logo estavam apenas de roupas íntimas. Dimas parou um segundo para observar Ana, que fazia o mesmo com ele. Estavam guardando aquele momento em suas memórias!
Dimas tirou os óculos de Ana e colocou-os na mesa de cabeceira, voltando a beijá-la logo em seguida, misturando ainda mais o seu cheiro com o dela, criando uma fragrância que ela nunca mais esqueceria.
Ana sentia os toques de Dimas em seu corpo como pequenos choques que percorriam por toda sua espinha. Ela ainda estava descobrindo como era se relacionar com alguém desta forma, ainda estava para descobrir sobre o que gostava ou não. Talvez ele fosse um bom guia para a tal descoberta.
Não demorou muito e logo eles estavam com respirações sincronizadas, fazendo a cama de madeira ranger ao arrastar no piso, sem esquecer da devida proteção dessa vez. A temperatura aumentava dentro daquele ambiente fechado. Eles atingiram o ápice, soltando gemidos baixos para que os vizinhos de parede não pudessem ouvir.
Terminaram esticados na cama, olhando para o teto, tentando recuperar o fôlego.
Dimas ainda ficou mais algumas horas na quitinete com Ana Maria, mas teve que voltar pois na manhã seguinte já viajaria a trabalho novamente.
- Espero que nos vejamos de novo. - ele disse antes de ir
Ana ficou sorridente, arrumando a bagunça que eles fizeram. Depois se preparou para descansar, pois o trabalho já voltava no próximo amanhecer, o que ela não sabia era que não seria mais uma manhã qualquer.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Capítulo 1 - Acontecimento na Festa do Trabalho

Ana Maria estava a caminho de seu trabalho e viu que chegara a sua estação para descer do transporte. Como estava lotado, ela teve uma certa dificuldade e quase que não conseguiu sair. Pelo menos, uma brisa correu e ela sentiu um certo alívio de ter saído. Saiu da estação pela roleta e caminhou até chegar no prédio da Lírio d'ouro, que é um empresa de cosméticos com sede localizada na zona sul do Rio de Janeiro.
Ana Maria se mudou de sua cidade natal em Minas Gerais para conseguir um emprego e uma perspectiva melhor de vida, porém a sua formação apenas permitiu que ela fosse auxiliar de contabilidade, realizando pequenas funções e quem sabe logo não fosse promovida. Tinha pouco mais de um ano que ela estava morando e trabalhando na cidade, mas já tinha vivido o suficiente para vinte e cinco anos.
Ana Maria era aquela pessoa que se era apenas mais uma entre tantas, ela passava imperceptível em meio a multidão. Ou seja, ela era comum, com um nome comum e uma vida comum. Tinha os dois sobrenomes mais usados no Brasil: Santos e Silva. Escondia seu rosto num cabelo comprido e óculos de grau forte. Vinha de uma cidade pequena onde todo mundo vivia apenas naquele espaço e a sua família a criticou quando ela resolveu tentar a sorte sozinha no Rio. Trabalhou alguns meses e foi juntando dinheiro e procurando trabalho na cidade. Quando conseguiu algumas entrevistas, ela pegou o primeiro ônibus disponível e por sorte logo passou na vaga da Lírio d'ouro.
Com alguns minutos de caminhada, ela chegou à construção imponente que tinha mais vinte andares. Era uma empresa grande e era impossível todos os funcionários se conhecerem, mal conhecia as pessoas do seu andar e estava tudo bem para ela.
O saguão de entrada era sempre bem decorado e o tema da vez era o aniversário de 67 anos da empresa, que havia sido aberta pelo avó, passada para o pai e agora estava sob a gestão do neto: Dimas. Porém, ele nunca estava na cidade, sempre viajando para a empresa. Diziam que ele era um excelente perfumista e responsável pela escalada da empresa nos últimos anos, assim que assumiu. E todos os anos ele fazia questão de dar uma enorme festança nesta data, sempre trazendo algo especial. Naquele ano, ele preparou uma festa no hotel mais famoso do Rio de Janeiro, o Copacabana Palace, com direito a bebida e comida à vontade. Também tinha um a mais, um funcionário seria sorteado e ganharia uma hospedagem no hotel com direito a um acompanhante. E como a festa já era no final de semana seguinte, todos estavam empolgados e querendo ser o ganhador. O sorteio seria já naquele dia!
Ana Maria pegou o elevador e desceu em seu andar e se dirigiu até seu setor, sendo recebida pela amiga de trabalho: Larissa.
- Bom dia, Aninha. - sorriu - Animada para o grande sorteio?
- Na verdade, não. Segundo as probabilidades, a chance de ser uma de nós em meio a tantos funcionários é impossível. - foi realista
- Ora, não seja pessimista. Uma chance é uma chance!
O assunto acabou ali e logo começaram a trabalhar. O período da manhã passou rapidamente e, pouco antes do horário de almoço, o alto-falante da empresa resolveu dar um comunicado.
- Funcionários da Lírio d'ouro, antes de irem para o almoço, vamos realizar o sorteio para saber quem é o ganhador da hospedagem com direito a um acompanhante na nossa festa anual da empresa. Vou puxar o ganhador! - um breve silêncio se fez e logo voltou - A sorteada é a Ana Maria Silva Santos, do setor de contabilidade.
Larissa olhou para a amiga e abriu um sorriso enorme. Ela pulou e comemorou mais do que a real ganhadora. Ana Maria recebeu parabéns do resto dos colegas. O alvoroço foi interrompido pelo som novamente:
- Ana Maria, venha ao setor responsável para saber mais detalhes de como será no dia. Agora sim, todos liberados para o almoço!
Ao final do anúncio, todos os funcionários saíram de seus setores, fosse para comer do lado de fora, enquanto outros iam para os refeitórios esquentar suas marmitas para se alimentar. Este era o caso de Ana Maria e Larissa, que sempre levavam comida de casa para economizar. Não demorou e elas estavam sentadas uma de frente para a outra, conversando:
- Aninha, estou tão feliz que foi você a grande sortuda.
- Eu nem queria, na verdade. - confessou - Não gosto de festa, você sabe. Se pudesse nem iria nesta da empresa.
- É o grande evento do ano! É uma das poucas vezes que vemos o Sr. Dimas em pessoa. E claro, sabemos melhor sobre os lançamentos do próximo ano.
- Fico sabendo disso depois no saguão do prédio.
- Você nunca foi, vá pelo menos uma vez. Aliás, não sei se te falaram, mas o hotel fica bem na frente da orla. Ficando hospedada, pelo menos deve dar para tomar um banho de mar.
- Eu nunca vi o mar!
- Exatamente! - se animou - Vai ser a sua chance! Eu vou com você.
- Se intimou como minha acompanhante? - Ana riu
- Ora, Aninha, quem mais você iria levar? - fez careta
- Tudo bem! Você será minha acompanhante!
- Oba! - quase pulou derrubando a mesa e as comidas
Elas mudaram de assunto e terminaram a refeição.
Pouco depois, já na hora do retorno do almoço, foram ao setor para saber mais do que deveriam fazer para aproveitar o brinde que o sorteio deu.
***
Alguns dias se passaram, era um sábado, dia da grande festa anual da Lírio d'ouro.
Dimas, o CEO da empresa estava voltando de viagem só para poder participar do grande evento. Saiu do aeroporto, o motorista o pegou e eles rumaram para o local. Durante o trajeto, ele ficou pensando no ano que passara, mais um onde ele conseguiu trazer mais lucros e sucessos para a empresa. E ele estava pensando em trazer produtos de maior qualidade para as produções de sabonetes da empresa, usando essências de flores naturais, especificamente de uma cidade no interior de Minas Gerais. As negociações estavam complicadas, mas ele tinha certeza de que ia conseguir.
Porém, todo esse sucesso não era o suficiente para sua avó, que queria muito que o neto se casasse e tivesse a sua família. Só que o rapaz estava feliz apenas sendo o dono da empresa, ficando com quem ele quisesse de vez em quando.
Dimas era aquele tipo de pessoa que é sempre lembrada, é a pessoa de quem todos querem estar próximo, talvez por um interesse em seu dinheiro. Ele toca o negócio da família, mas tem a sua formação de perfumaria e antes de ser o CEO foi parte da equipe de produtos e ainda participa ativamente da confecção dos mesmos. Ele é conhecido como a pessoa com o melhor nariz quando se trata de cheiros.
- Senhor, estamos chegando! - o motorista falou, tirando-o de seus devaneios
Ele olhou pela janela e viu o céu aberto, unido a faixa de areia com diversos pontos coloridos das cores dos biquínis e guarda-sóis. Uma pena que ele não conseguia dar um mergulho sem transformar aquilo num evento noticiado.
Ana Maria já estava com Larissa no Copacabana Palace. Chegaram no horário combinado e já tinham pegado o quarto. Antes de aproveitarem o spa e a piscina do lugar, decidiram ir à praia. Mais por convencimento de Lari do que qualquer outra coisa.
Como Ana Maria não tinha biquíni, aproveitaram um dos intervalos de almoço do resto da semana para comprar nem que fosse um!
A primeira coisa que eles fizeram depois de deixarem a pequena muda de roupas no quarto foi ir tomar um banho no mar. Ana Maria já tinha visto paisagens praianas em muitas fotos, mas ela se sentiu maravilhada quando viu aquilo tudo. Sentiu a areia entre seus dedos, já um pouco quente por causa do sol. Depois, foi acompanhada da amiga para se deliciar na água salgada que estava bem gelada, pois era o início da manhã.
Elas ficaram pouco mais de uma hora se divertindo entre a água e a areia. Pelo horário, a praia ainda estava vazia, mas logo mais pessoas chegariam e ficaria lotado, como todo final de semana que tinha algum Sol.
- Só por termos vindo à praia, já valeu a pena. - soltou Ana Maria, alegre
- Eu disse que você ia gostar! - respondeu a amiga
Voltaram, tomaram banho e foram comer alguma coisa, aproveitando que a hospedagem que ganharam dava direito a refeições no restaurante do hotel. Pediram o prato mais diferente que viram e comeram sentindo cada sabor daquilo. Não era todo dia que pessoas trabalhadoras como elas podiam aproveitar do bom e do melhor.
Depois, foram aproveitar mais a praia, mas desta vez na orla, bebendo mais alguma coisa. Como o Rio é uma cidade turística, tinham muitos gringos e pessoas de lugares diferentes do país. Lari começou a trocar olhares com um homem que também estava no quiosque e se ela investisse com certeza iria rolar algo.
- Aninha, aquele gato não para de me olhar um segundo.
- Mas ele é lindo! - riu - Vai lá falar com ele, uai.
Ela fez conforme a outra disse e ficou alguns minutos conversando com ele. Pelo jeito que se comportavam, dava para saber onde aquilo levaria. Até que os dois se aproximaram de Ana, Larissa pediu:
- Me empresta o quarto um pouco? - já com segunda intenção na voz
- Claro! - sorriu
- Obrigada, Aninha. - puxou o outro pelo pulso - Vamos!
Só restou Ana Maria rir da amiga, que adorava ter encontros e transas casuais. Enquanto isso, a jovem do interior pensava por quanto tempo mais ela ia ser virgem. Nunca tinha aparecido ninguém que a fizesse ter vontade daquilo, mesmo que consumisse essas coisas nos filmes e livros. Ela sempre fantasiava de como seria este momento!
Distraída em seus pensamentos, ela retornou ao hotel, ficando sentada na varanda externa, que dali algumas horas estaria lotada com os seus colegas de empresa. Ela observava a orla e a faixa de areia lotada de guarda-sóis, com o Sol lá embaixo, que logo iria embora. Estava tão relaxada, se sentindo tão bem, com a mesma sensação que tinha durante a sua infância despreocupada no interior.
Porém, alguns segundos depois, ela teve a sensação de alguém próximo e bem atrás dela. Se virou e viu que era um homem, muito bem vestido, só que ele estava com o seu rosto próximo ao dela, pois estava antes próximo ao seu cangote. No segundo seguinte, ela deu uma truncada nele, jogando-o para trás.
- Ei, o que você pensa que está fazendo?! - esbravejou
- Desculpe a minha indelicadeza. Eu sou Dimas Al’Beytar, sou CEO da Lírio d'ouro. É que eu senti o seu cheiro de longe... E fiquei inspirado! O que você usa normalmente de perfume?
- Ah, me desculpe, senhor. - ela baixou o tom quando percebeu que era seu chefe - Na verdade, eu usei uma loção corporal que a minha mãe fez. Nossa família e a cidade de onde vim trabalha com flores.
- Você é de Charmosinha? - ele soltou - Acabei de vir de lá!
- Sim. Tem mais de um ano que me mudei para cá e comecei a trabalhar na sua empresa! Não sinto tanta falta de lá assim.
- Ora, você é minha funcionária?! O que faz aqui tão cedo? A festa é só daqui algumas horas.
- Eu sou a ganhadora do grande prêmio do sorteio.
- É a Ana Maria então. - sorriu - É um prazer!
- Igualmente! O pessoal fala bastante de você. - riu, sem graça
- Você vai para a festa assim? - perguntou se referindo as roupas dela
- Não! A minha amiga está ocupada no quarto. E pelo visto deve demorar. Mas não tenho uma roupa de festa e na verdade, eu nem queria estar aqui, ela quem insistiu. Vou bem simples mesmo!
- Ah, mas nada disso. Você é minha convidada de honra da noite!
- Como é? - ficou surpresa
- Não te falaram? A pessoa ganhadora tem direito também a um spa completo, cabelereiro, maquiagem e vestimenta para participar do evento.
- Certeza que a Lari ia gostar bem mais.
- Não seja tímida, por favor. - olhou para ela - Sei que tem uma beleza escondida atrás desses óculos!
Com medo de colocar o emprego em risco, pois era o seu chefe, ela aceitou.
Imediatamente, Dimas chamou um empregado do hotel e solicitou um cabeleireiro, manicure, pedicure, maquiador e estilista para Ana Maria. Primeiro, ambos foram para o spa, onde fizeram uma massagem relaxante e uma limpeza de pele. Logo em seguida, os dois se dirigiram para a suíte presidencial do Copacabana Palace, que era onde o CEO passaria aquela noite depois da festa.
- Nossa, é tão maior que o meu quarto!
- Ah, sim! É porque a sua é apenas uma acomodação simples, mas já dá para curtir os serviços do hotel só com ela.
- Eu não estou reclamando. - ela disse
- Não disse que estava... Desculpe se lhe entendi mal! - ele fungou o ar, sentindo algum cheiro diferente - Estranho!
- O que é estranho?
- Nada! É que é horrível ser perfumista e ter um nariz sensível, tem hora que tudo se mistura. - desconversou - Fique a vontade, logo sua parte 2 de dia de Rainha chega.
- Rainha? - ela riu - Não mereço isso tudo.
- Não diga isso. - pegou na mão dela - Ainda mais sendo tão bonita... E cheirosa!
Ana Maria gargalhou, o chefe da sua empresa era uma figura bastante engraçada e talvez bastante ligada aos perfumes.
Logo chegou o batalhão que arrumou a jovem funcionária para o grande evento anual. Recebeu tudo o de melhor que tinha, um belo penteado e maquiagem, unhas da mão e do pé pintadas, colocou um belo vestido preto com sapatos combinando, mas ainda faltava uma coisa. Levou um bocado de tempo e já estava praticamente escuro lá fora e era possível já ouvir a música e as vozes dos funcionários chegando para a grande festa. Como ela estava arrumada, todos os empregados foram embora, dando lugar a mais uma pessoa, que trazia uma maleta pequena.
- Quem é esse?
- Um amigo meu, que trabalha com lentes de contato.
- Eu estou bem assim, obrigada. Aliás, esse trem é muito caro!
- Boa noite! - disse a outra pessoa - Posso ver? - apontou para os óculos
Receosa, Ana entregou o objeto. O homem puxou um aparelho que fez uma medição do grau e com esses dados, abriu mais um pouco da maleta e puxou uma caixinha.
- Vou te ajudar a colocar por casa da maquiagem. - declarou - Já usou antes?
- Não, nunca!
- Bom, então, meu amigo vai te ajudar a tirar. Colocando neste porta-lentes, com o devido líquido lubrificante. - olhou para Ana Maria - Com licença, isso pode incomodar um pouco.
Com bastante cuidado, ele pegou cada uma das lentes e pôs no canto do olho dela, pedindo que fechasse os olhos e os mexesse em seguida. Assim, as lentes se encaixaram nas córneas e quando abriu os olhos, pela primeira vez em muito tempo, Ana Maria via o mundo sem ser com seus óculos. Ela abriu um sorriso!
- Agora vá se olhar no espelho! - disse Dimas
Ela se levantou da cadeira onde ficou sentada por horas a fio e se viu no espelho de corpo inteiro que tinha ali perto. O vestido destacava seu corpo de maneira modesta, assim como a maquiagem própria para a festa, mas sem ser exagerada e o penteado era um coque de lado, com uma mecha solta e encaracolada do outro. Ela nunca tinha se sentido tão linda!
O nariz de Dimas fez um som de fungado de novo. O amigo deu um cutucão nele, repreendendo e falando para ele ir se vestir.
- Só vou trocar de terno e descemos. Ao que parece, já está todo mundo ai!
Ele se arrumou e os dois pegaram o elevador. O trajeto seguiu parte em silêncio, até que ele indagou:
- Nervosa?
- Um pouco, uai.
- Todos os olhos estarão em você, já que vai aparecer comigo.
- Obrigada, isso me deixa tão mais calma.
- Vai dar tudo certo!
O bipe do elevador indicou que eles chegaram ao andar de destino. Dimas estendeu o braço, curvando-o ao lado do corpo.
- Vamos? - perguntou
Ana Maria apenas assentiu, cruzando seu braço com o dele para fazer a grande entrada da noite. Ao passar pela porta, encontraram a área externa lotada, com todos os funcionários, independente do cargo, usando suas melhores roupas. Não levou muito tempo para que o reconhecessem, sendo bastante aplaudido e ovacionado. Ele abriu um sorriso e acenou cumprimentando todos a distância. Mesmo com o holofote em cima dela, o seu chefe era bem mais brilhante do que ela, tanto que até pela mesma não conseguia tirar os olhos dele por muito tempo. Ela não notou nenhum olhar em cima dela, contrariando o que ele dissera. Ficou tranquila, pois ela estava invisível, como sempre foi, até que Dimas finalmente virou o rosto e olhou para Ana Maria, sorrindo, fazendo assim com que todos finalmente a vissem. E pequenos comentários surgiram nos sussurros que ela ouvira:
- Bonita ela! Quem é?
- Amei o vestido dela.
Foram poucos segundos, mas a caminhada até o pequeno palco montado pareceu uma eternidade para a jovem Ana Maria. Era estranho estar com todas as atenções voltadas à ela. O secretário Antônio, que não tinha aparecido até então naquele dia, cumprimentou o patrão e disse que já estava tudo certo e lhe entregou o resumo do discurso da noite. Ele agradeceu e antes de subir as escadas falou com Ana Maria:
- Espere aqui em baixo. - sorriu - Pode ficar com sua amiga.
- Claro! Boa sorte no seu discurso!
- Obrigado! - ele respirou fundo, inebriando-se com o cheiro dela
E já dava para ver Larissa correndo animada até ela, que a arrastou para longe dali só para começar a fofoca, então todos estavam atentos ao discurso do CEO. Ele começou assim:
- Boa noite a todos! Comemoramos 67 anos da Lírio d'ouro, que foi fundada pelo meu avô, passada para meu pai e agora está sob minha gestão. É uma honra poder continuar este legado, carregando a herança de minha família, trazendo também os melhores produtos para os nossos clientes. E para deixar tudo isso ainda mais especial, junto com a equipe de projetos, elaboramos novos sabonetes, seguindo as primeiras receitas do meu avô, usando essenciais florais e naturais. Dando um ar mais artesanal aos produtos desta coleção, que chamados de: Charme das Flores. - uma salva de palmas surgiu e dispersou para eu ele continuasse falando - E este é só o começo do que planejamos para o ano, teremos fragrâncias inéditas nesta coleção, usando outros florais e frutais. No mais, quero agradecer a todos os nossos funcionários pela dedicação e trabalho duro por mais um ano, sem vocês muitas coisas nessa empresa não estariam como estão hoje. A empresa pode ter começado com meu avô, na minha família, mas agora, essa família somos todos nós! E esta noite é em comemoração a tudo isso! Então, aproveitem! Obrigado!
As palmas vieram bem mais altas com o final do discurso, quando alguns executivos vieram conversar com Dimas.
Ana Maria explicou para a amiga em resumo como ela tinha se encontrado com o CEO e como ela recebeu uma quase transformação e virou a acompanhante dele naquela noite! No fim, a amiga apenas falou:
- Que babado, Ana! E quem diria que logo você estaria com o patrão hoje.
- Eu não fiz nada demais, a gente só se esbarrou por aqui. Só isso, uai.
- Ora, não seja ingênua... Eu vi o jeito que te olhou quando entraram. Acho que ele está a fim de você.
- Cê jura? - meio incrédula - Achei que estava apenas sendo legal.
- Aninha, sempre tem uma segunda intenção. Ainda mais se for o Dimas.
- Acredito em você! - ela sorriu para amiga
- Pode pegar um pouco mal ou até ser um escândalo se você ficar com ele.
Ana Maria arregalou os olhos, sua amiga estava certa. Talvez fosse algo a mais que ele queria e viu chance na ingenuidade dela. E por ela ser subordinada, aquilo colocava seu emprego em risco. Bem que ela tinha razão de querer ficar em casa e não ir nesta bendita festa... Agora estava enfiada num vestido chique, sendo o troféu de um cara rico - e que era seu chefe - pelo resto da noite e ela não queria descobrir como aquilo iria terminar.
Lá de longe, dentre a equipe de garçons, duas figuras observavam com afinco as cenas do CEO e de Ana Maria. Eles viajaram por horas para estar ali, pois não queriam que o acordo comercial com Charmosinha que Dimas pretendia fosse fechado e para que o plano desse certo, eles precisavam acabar com a reputação do CEO.
- Que bonitinho os dois pombinhos. Vai ser ótimo dopá-los, fazê-los ir para o quarto e pegá-los no ato. - quase gargalhou um deles
- E ai a reputação impecável de Dimas vai por água abaixo, pois ele passou a noite com uma funcionária. - riu de leve - Prepare as duas taças de champanhe, quando eles se reencontrarem, é a nossa hora de atacar.
- Preparando e colocando nosso ativadorzinho de virilidade. - disse entornando dois frascos de líquido em cada uma das taças.
Agora era só eles esperaram para realizar o movimento.
***
Não tardou muito e Dimas conseguiu despistar o resto dos executivos e também acionistas, se encontrando com Ana Maria e a amiga encostadas na sacada observando a praia à noite.
- Com licença, senhoritas. Você deve ser a amiga da Ana né?
- Isso! Também sou sua funcionária! - sorriu, tentando não transparecer tensão por conta da amiga
- Está gostando do evento?
- Sim! A comida e bebida estão excelentes. Estou doida para que abram a pista de dança!
- Tem pista de dança? - Ana Maria questionou
- Sim, lá do lado de dentro. - respondeu Dimas
- Bom, vou deixar vocês a sós. Afinal, ela é sua convidada da noite. - e piscou para a amiga, saindo
- Desculpe se lhe assustei. - ele soltou
- Com o quê?
- O jeito que te abordei e te arrastei pelo salão com todo mundo olhando. Dá para ver que é bastante tímida!
- Uai, que isso! Não tem problema.
- Aceitam uma champanhe? - o garçom disfarçado apareceu
- Claro! - respondeu Dimas, pegando as duas taças - Obrigado!
Assim que o outro se afastou, o chefe disse:
- Vamos fazer um brinde! - deu uma das taças para Ana Maria
- A quê?
- A mais um ano de sucesso para a Lírio d'ouro e que a minha proposta de comércio com os produtores de Charmosinha dê certo.
- Um ano de sucesso a mim também! - sorriu, concordando
Então, os dois beberam um bom gole da bebida, o que eles não sabiam era que logo tudo o aquilo teria um efeito e traria consequências que nem eles podiam calcular.
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