sexta-feira, 26 de março de 2021

Capítulo 19 - Conhecendo os amigos

Helena passou o dia seguinte inteiro comigo, apenas sentada no meu escritório, organizando as coisas dela, enquanto eu ajustava as fotos dos ensaios. Por sorte, não precisei me preocupar com a comida, já que ela providenciou tudo. Então, pude ficar trabalhando e deu para adiantar muito. Assim que ela me chamou para comer, senti meu estômago roncar e como a a comida dela é deliciosa, aproveitei para tirar a barriga da miséria.

A tarde acabou passando relativamente rápido e ficamos fazendo companhia um ao outro. Eu editando as fotos, a Helena escrevendo coisas do livro dela e vendo mais detalhes sobre a nossa viagem. Até porque ela viu as fotos e teve a ideia brilhante e como sempre tive vontade de fazer um ensaio nu, acabei aceitando a proposta. Ela disse que vai escolher um local afastado e confesso que estou ansiosa para tudo isso. Tenho certeza que não vamos só aproveitar a viagem para tirar fotos.

Assim que escureceu, meu celular tocou e eu vi que era que meu amigo Mateus. A questão é o que ele queria. Helena percebeu e perguntou se não ia atender. Imediatamente, peguei e ao apertar o botão verde no display, falei:

- Oi, Mateus.

- Cara, tu tá em casa? Tô ai perto. Quero passar para falar contigo.

- Claro! Pode vir! Pode falar pro porteiro que eu autorizei você subir.

- Valeu!

E desligamos. No instante seguinte, H questionou:

- Quem era? Se não for incômodo perguntar.

- Um amigo meu. Ele vai passar aqui. Se quiser, pode ir para casa.

- Não, tudo bem. Vou continuar aqui escrevendo. - respondeu, retornando os olhos para a tela brilhante.

Alguns minutos, ele tocou a campanhia e eu fui lá abrir a porta.

- Fala, Gustavo. Tu anda sumido cara!

- Finalmente trabalhando bastante. Deu muita sorte por eu estar em casa hoje.

- Meu amigo ficou muito requisitado depois das fotos da Contemporânea Erótica. Ainda quero saber como conseguiu isso?

- Eu tenho meus outros contatos. - e ri, nem podia dar pista de nada sobre a H

- E aposto que tu ainda deu uns pegas nela. Ela é gostosa pra caralho!

- Não responderei essa pergunta.

- Você sempre muito certinho, né Gustavo? Por isso que não namora.

Só bufei. Tem horas que meu amigo é sem noção. E eu já tentei chamar atenção das merdas que ele fala, mas entra por um ouvido e sai por outro.

- Entra ai. - falei, por fim – Fique à vontade.

- Eu quero é ver no que você anda trabalhando tanto… - disse

- Vamos ao escritório!

Dirgimo-nos até lá e já pedi desculpas mentalmente para a Helena por levar esse trate do meu amigo para o lugar em que ela estava. Queria mesmo que ela fosse para casa, mas não podia obrigá-la a fazer isso.

E obviamente, porque eu conheço, que ele ia tecer um comentário assim que visse a H.

- Ora, se eu soubesse que já estava com visita, nem vinha Gustavo. Detesto ser empata, ainda mais seu, que não pega ninguém.

E sabe o que é pior? Ela nos olhou e fez cara de paisagem para o comentário dele. Um pequeno silêncio constrangedor e meu amigo falou enfim:

- Não vai me apresentar?

- Mateus, esta é a Helena, minha vizinha aqui no prédio. Helena, este é o Mateus, o amigo de quem lhe falei.

- É um prazer! - ela já respondeu, fechando o notebook e se levantando, apertando a mão dele – Gustavo, acho que já vou indo. Eu te incomodei o dia inteiro.

Um claro sinal de que ela não gostou nem um pouco da presença e eu entendo perfeitamente.

- Poxa, já vai? Eu acabei de chegar. - meu amigo protestou

- Desculpe, mas eu tenho coisas pessoais para fazer. E bem, vocês vão acabar conversando e eu preciso de silêncio para tal.

- Eu te levo até a porta! - declarei

Ainda bem que meu amigo ficou no escritório, assim poderia falar com a H.

- Perdoe-me por isso, H.

- Agora entendi porque perguntou se eu queria voltar pro meu apartamento. - sorriu, meio chateada – Depois nos falamos. - e me deu um beijo na bochecha

Respirei aliviado por ela ter ido para casa. Mateus me deu susto parado bem com cabeça para fora do escritório, espionando a mim e a Helena.

- Tá pegando é? - a pergunta mais óbvia que saiu da boca dele

- Não vai adiantar se eu disser que não.

- Ela é gostosa! Ainda mais com aquela roupa. Como você aguenta ficar com ela no mesmo ambiente e não fazer nada?

- Porque eu minimamente sei me comportar e me controlar.

Ah, se ele soubesse o controle que eu tive com ela vestida com lingerie da primeira vez e fazendo todas aquelas poses e dançando para mim. Assim, não vou dizer que sou perfeito e também fico olhando para as mulheres que vejo na rua, a Helena inclusa. Só que não vejo necessidade de colocar isso em forma de palavras, como meu amigo faz e que acaba sendo uma coisa até um pouco chata já para mim, imagina para as mulheres que acabam ouvindo.

Quis dar aquele assunto da H como encerrado, pois sei o quanto Mateus iria me encher a paciência e não estava a fim de ficar falando sobre outra pessoa. Fomos para o escritório e fui mostrando a ele os meus trabalhos dos últimos dias, que são aquela mistureba de tudo. Ele elogiou as fotos de aniversário, as fotos da aniversariante e debutante. Quando cheguei nas fotos das duas mulheres mais velhas no motel, eu já sabia exatamente o que esperar e foi o que fez. Disse que aquelas mulheres eram feias e não eram gostosas, eram só velhas e acabadas, e também ficou indignado de eu ter aceitado o trabalho, que eu só devia tirar fotos assim de mulheres mais novas. Sinceramente, ele tirou essa visita para torrar a minha paciência. Dessa vez, não deixei para lá. Ele estava passando dos limites do sem noção.

- Cara, sendo capitalista, elas me pagaram pelo ensaio. Se me pagarem, eu farei, indepedente de quem seja.

- Bom, eu não faria. - ele retrucou, meio puto já

Só para esclarecer, Mateus foi meu colega de faculdade e diferente de mim, ele se formou e já foi trabalhar numa agência e com emprego fixo – e contatos – fica fácil se manter. Ele realmente me ajuda muito para conseguir uns freelas. Durante o meu curso foi uma boa companhia, mas agora tem cada vez mais mostrado ser machista e tudo o mais.

O meu sangue já estava subindo a cabeça pelo combo de coisa que ele tinha falado desde que pisou no meu apartamento e eu não ia deixar passar em branco.

- Mateus, nós trabalhamos diferente. E sinceramente, não estou ainda na sua posição de poder escolher qual trabalho aceitar ou recusar. Também não me importo de fazer esse ensaio, em qualquer circunstância. E na boa, não estou com vontade de discutir contigo sobre isso, mas eu fico puto com umas coisas que você fala, ainda mais sobre os outros.

- O quê? Não posso falar que elas são velhas e feias? Elas são!

- Você pode não achar bonito, só não ficar externando isso. Cara, só pensa um pouco no que você fala. A minha amiga ficou incomodada com o que você falou por dois minutos, por que acha que ela foi embora?

- Tem hora que você exagera, hein Gustavo?

- Tá bom, se você acha que é exagero. Tô cansado de tentar te alertar.

E resolvemos mudar de assunto e eu quis logo trocar de álbum também. Ficamos conversando sobre como poderia melhorar minha divulgação nas redes sociais, agora que estava com bastantes fotos para atualizar meu feed. Mateus quem me ajuda nestas questões, porque como trabalha com isto, entende mais do que eu. E foi para isso que quis vir hoje. Não tardou muito e logo ele foi embora e eu dei graças, porque queria ficar um pouco sozinho.

A fome me bateu e aproveitei para comer as sobras da comida que a Helena fez. Assim que terminei, limpei tudo e peguei o telefone para mandar uma mensagem para ela:

Desculpa de novo pelo meu amigo sem noção. Eu sei que se sentiu incomodada com o pouco que ele falou. Acredite, já falei com ele sobre isso, mas ele não escuta.”

E ela me respondeu:

Eu acredito em você. Ele lembra e muito as pessoas da minha família, estou acostumada. Só não estava com saco para ficar no mesmo ambiente.”

Tudo bem. Nem deu para agradecer sua ajuda hoje. Só preciso encher minha despensa agora.”

Não é nada! É o mínimo que faço para retribuir. Podemos ir ao mercado juntos, preciso reabastecer a minha geladeira. Está ocupado amanhã?”

Só durante a manhã. Tenho outra sessão de fotos, de um casal.”

Iremos a tarde então. Alias, devo fazer algo para levar no almoço da sua família?”

Não precisa! Minha mãe detesta que as vizinhas cozinhem e tenham que levar coisas para contribuir.”

Ok! Devo confessar que estou ansiosa para este almoço.”

Pelo visto é só você, para mim é a coisa mais normal. Não quero mais te incomodar, H. Boa noite!”

Boa Noite, G!”

sexta-feira, 12 de março de 2021

Capítulo 18 – Sentindo algo

Gustavo tentou me animar bastante depois do ocorrido no hall. E conseguiu, na verdade!

Eu ainda não sei de que parte de mim saiu toda aquela força, enquanto por dentro eu estava gritando desesperadamente, de medo, de ansiedade. Pode ter sido a “eu do blog” como a minha terapeuta disse, mas creio que tenha sido um misto disso e do quanto eu amadureci nesse pouco tempo. Ainda consigo ver aquela Helena antiga, acuada e calada. Porém, a minha eu de agora, que conquistou independência de forma assustadora, está abraçando esta Helena do passado, que é a que aparece quando meu ex simplesmente surge, e lhe dá apoio. E foi essa Helena do passado que tomou coragem e falou. Foi essa Helena que chorou, porém junto com a outra que tinha orgulho.

E havia uma influência externa: Gustavo. Que pediu licença para aquela Helena insegura e chamou a outra, enquanto falava palavras de apoio e força. Segurando em minha mão e dizendo que o que eu tinha feito foi incrível. Disse isso dando de novo seu ombro e seu abraço para eu poder me segurar e desabafar. Ainda não deu tempo de pensar o que eu sinto por ele e tenho outras coisas a resolver e sei que ele vai esperar por isso. Agora, prefiro apenas aproveitar e agradecer por tudo o que ele tem feito.

E algo - um tanto esperado e inesperado ao mesmo tempo - aconteceu e nos beijamos. Só não da maneira selvagem e desesperada quando queremos transar. Ele encostou levemente os lábios nos meus e eu o trouxe para perto de mim. Ficamos alguns minutos ali, trocando carícias, meio embolados no sofá, mas curtindo o momento.

Eis que a barriga do Gustavo deu sinal de vida e eu tive que alimentá-lo. Meio que juntei as poucas coisas que ele tinha de comida – e dei o puxão de orelha devido – e fiz algo para jantarmos. E como sempre, o clima foi agradável e leve, onde descobri mais um pouco sobre ele.

Fui encarregada da louça e nem demorei muito, pois era apenas uma panela e alguns pratos, já que o resto nós lavamos durante o preparo da refeição.

Dirigi-me ao escritório e vi que o Gustavo estava olhando fotos dos ensaios e vi um que eram duas mulheres, vestidas em lingerie. Aquilo me deu uma ideia, junto com algumas sugestões que recebi de leitores e que era algo que sempre quis fazer: um ensaio nu.

Falei com Gustavo e ele ficou todo animado com a ideia, pois sempre quis fazer um ensaio assim, mas nunca encontrara alguém com coragem o suficiente para tal. E agora ele tinha a mim!

Combinamos de fazer num local mais afastado, ainda a decidir, para evitar suspeitas e olhares curiosos. E eu também queria uma desculpa para viajar, já que tem um tempão desde a última vez.

Eu já estava me sentindo melhor e decidi parar de perturbar o meu pobre vizinho e falei que ia para casa. Porém, ele me surpreendeu e pediu para que eu ficasse, mas o olhar que ele me lançou nunca tinha visto. Subiu-me um calafrio na espinha e eu o encarei por breves segundos e nos beijamos! Instintivamente pulei e enlacei as minhas pernas na sua cintura, sem dar pausa ao movimento de nossas bocas. E nos deixamos levar de novo! Pela primeira vez, eu fiquei nervosa, ansiosa e senti meu coração acelerado enquanto estou com o Gustavo. E ele percebeu:

- Helena, por que seu coração está acelerado assim?

- Eu não sei! – respondi, retomando o fôlego

- Você nunca ficou assim. – colocou a mão em meu peito

- Parece que vai sair pela boca.

- Você quer parar? – indagou

- Não. – suspirei

Nesta altura já estávamos no quarto dele e atracados na cama. Gustavo começou brincando com os meus seios, apertando as minhas coxas, explorando cada parte do corpo. Depois, eu tomei a frente e fiz um oral nele, daquele jeito que eu sei que ele gosta. E não demorou muito para que estivéssemos completamente nus. Protegemo-nos devidamente e dessa vez eu fiquei por cima. Rebolei com vontade em cima dele, apoiando minhas mãos em seu peito. E nos não desgrudávamos nossos olhares um do outro. Não demorou muito até que atingíssemos o ápice.

Acabamos perdendo a noção da hora e eu dormi lá de novo. Despertei com os primeiros raios de sol que entraram pela janela. Eu ainda dormia abraçada ao Gustavo e adorei sentir o cheiro dele assim com tão cedo. Um pouco do próprio cheiro dele, misturado com o do pós-sexo. Eu poderia ficar ali observando ele dormir por muito tempo, mas no segundo seguinte, ele se mexeu e abriu os olhos e quando me viu, apenas sorriu.

- Bom dia, H. – ele disse – Quer tomar café?

- Bom dia, G. Será que a gente pode ficar aqui mais um pouco?

- Podemos!

E acabou que repetimos a dose da noite anterior, tendo uma maravilhosa transa matinal. Em seguida, nos vestimos – eu coloquei só o sutiã e calcinha e ele só a cueca - e fomos juntos pra cozinha e preparamos dois mistos-quentes e café com leite. Comemos sentados a mesa, num clima agradável e leve.

- Vai trabalhar hoje? – perguntei

- Sim, mas não vou sair para lugar nenhum. Por quê?

- Nada. Será que posso passar o dia aqui? Se não for incômodo.

- Claro que não, Helena. Já disse que gosto da sua companhia. Pode até me ajudar a escolher as fotos.

- Aproveitamos também para ver possíveis lugares para a sessão de fotos especial. E eu preciso adiantar alguns textos.

- E do livro? Nada ainda?

- Bem, o editor me sugeriu escrever alguns contos inéditos e botar no livro em vez de um Romance completo.

- É uma ótima ideia.

- Até porque eu tenho alguns contos engavetados. Bom, estão no meu caderno.

- Opa, será que posso ler? Ou vai me dizer que tem inspirada comigo lá também?

- Bem... Tem! Não preciso que todas as transas virem contos pro blog, mas algumas gosto de guardar para mim.

- Aquele dia que eu falei para não escrever sobre, você pôs nesse caderno?

- É! Desculpa por isso. Eu prometi que não ia.

- Não vou ficar com raiva se me deixar ler.

- Está bem!

Terminamos de tomar café e eu fui em casa para trocar de roupa, pegar meu notebook, o caderno secreto dos contos e trouxe comida para fazer o almoço – porque essa despensa está uma vergonha – e voltei para o apartamento do Gustavo. Ele se sentou no computador no escritório e eu fiquei sentada na poltrona que tem no mesmo cômodo, com uma almofada apoiada abaixo do notebook, organizando algumas coisas do blog e vendo sobre a viagem, enquanto ele ia editando as fotos que tirou ontem.

Fazendo companhia um para o outro apenas. E eu me distraí em alguns momentos pensando na conversa que tive com a terapeuta sobre ele. E eu fiquei tentando entender o meu coração acelerado de ontem. Agora eu estava normal, mesmo hoje quando acordei estava normal. Será que foi pelo calor do momento? Ou será que são meus sentimentos querendo transparecer?

sexta-feira, 5 de março de 2021

Capítulo 17 – Relacionamento

Acabei me deixando levar pelo sangue que ferveu e ajudei a Helena com o ex dela de novo. Eu sei que não deveria me meter, ela disse que resolve isso por ela mesma, mas eu não pude ver aquele cara tentando agarrá-la e beijá-la. Aliás, não consigo ver nenhum cara fazer isso e por muito menos, eu vou sim defender.

Chamei a Helena para vir aqui em casa, acho que não é bom que ela fique sozinha e eu ia me encontrar com ela de qualquer forma. Mesmo que seja só para ela ficar aqui assistindo alguma série.

Abri a porta, ela se sentou no sofá e eu fui pegar água. Entreguei-a e percebi que ela tremia bastante e estava chorando. Tenta confortá-la:

- Tá tudo bem, H. – sequei suas lágrimas

- Foi a primeira vez que eu o enfrentei depois desse tempo todo. Eu fiquei tão nervosa! – confessou – Por muito tempo eu só fugi.

- Se você estava mesmo nervosa, não notei até agora. Eu vi como foi firme com ele.

- Mas olha como eu estou agora... – disse cabisbaixa

- Importa é o que ele viu, que foi a Helena forte e empoderada. – levantei o queixo dela para que me olhasse

- Você tá falando igual minha psicóloga. – sorriu – Ela disse a mesma coisa hoje pra mim! Fico pensando se sou isso mesmo.

- É sim! – falei incisivo – É a dona de um blog incrível e que inspira muitas pessoas.

Ela não conseguiu dar uma resposta para isso. E eu, vendo aquela mulher que eu já admirava sem conhecer o rosto e que agora admiro por saber que ela não é perfeita igual eu imaginava, a beijei. Encontrando lentamente seus lábios meio molhados por causa do choro. E ela correspondeu, me abraçando e me puxando para mais perto.

Poucos minutos depois disso estávamos já agarrados no sofá, sem saber onde começava um e terminava o outro. Já tinha escurecido e eu até tinha comido em que festa que trabalhei, mas eu sou um saco sem fundo... Então, a fome me atingiu e se manifestou através de um som altíssimo da minha barriga, gritando por comida imediatamente. Helena riu de mim e perguntou:

- Quer comer alguma coisa?

- Bom, eu achei que você ia fazer o jantar.

- Não deu tempo, por causa daquele embuste. E você chegou mais cedo!

- Eu sei. Mas eu te ajudo a cozinhar, devo ter alguma coisa decente.

- Tipo macarrão?

- Exatamente!

- Isso serve!

Levantamos e fomos à cozinha preparar algo decente para comer. Ela abriu os meus armários e eu não fiz compras, porque tenho estado muito ocupado e estava tudo vazio. E eu tinha razão, só tinha macarrão e uns cremes de leite perdidos. Ela abriu a geladeira e viu que tinha um pedaço de bacon e leite. Além disso, tinham alguns ovos na bancada e que costumo comer de manhã.

- Mas isso aqui é uma vergonha viu, Gustavo.

- Você sabe que eu estava com grana curta e ainda não repus.

- Vou ter que pegar tomate e cebola lá em casa. Aqui não tem!

Ela saiu e logo depois, trazendo na mão o que disse que pegaria! Um de cada!

Então, começamos a cozinhar. Com Helena dando as instruções e tomando a frente, enquanto eu só ajudava. Não demorou muito e nosso macarrão a carbonara ficara pronto e nos sentamos a mesa para a refeição.

- Agora eu descobrir o porquê de você gostar de jantar comigo. Sua casa não tem comida!

Eu ri, sabia que ela estava brincando. Resolvi puxar assunto com ela:

- E a sua terapia? Como foi?

- Normal! Eu sempre falo um monte, ainda mais agora com tudo o que aconteceu.

- Eu já fiz quando adolescente, por causa do bullying, mas parei quando entrei na faculdade.

- Afetou a sua autoestima?

- Sim! Eu era magrelo, esquisito e isso era um prato cheio para valentões. Além da psicologia, eu fiz algumas aulas de luta, o que me ajudou bastante também.

- Por isso que conseguiu bater no Pedro e o derrubar tão facilmente?

- Sim! Sempre tive que brigar com quem era maior que eu! Então, eu sei o lugar certo para bater e com o mínimo de força dá resultado.

- Olha só! Mais uma faceta do Gustavo que eu conheço.

- E eu conheço muitas outras suas além da do blog.

- Sou muito diferente do que achava?

- Sim, mas no bom sentido. Eu não sei se falei, mas eu te tirei do pedestal de perfeição. Agora eu te enxergo de verdade.

- Vou encarar como um elogio.

- É um elogio! – sorri – Você é uma pessoa incrível e que conquistou tanta coisa sozinha. Eu te admito por isso!

- Eu te via só como uma pessoa aproveitadora e tive medo que você espalhasse meu segredo mesmo depois do acordo. Ainda bem que me enganei!

Ficou um pequeno silêncio em seguida. Um pouco constrangedor! Então, resolvi quebrar antes que piorasse:

- Se não for incômodo, pode lavar a louça? É que eu tenho que descarregar as fotos e editar também. Logo tenho que enviar pros clientes.

- Tudo bem! Vai lá!

Dirigi-me a meu escritório, que fica onde seria o outro quarto do apartamento. Liguei meu computador, peguei a câmera na sala, tirei o cartão de memória e encaixei no leitor. Passei as fotos para as pastas dos arquivos, onde mantenho tudo organizado. Depois de todas colocadas em seus devidos lugares, eu olho todas as fotos e vou separando as que quero ou não e vendo quais receberão alguma edição, que são coisas mínimas, como a mudança das cores, do brilho, essas coisas. Porém, nunca mexo muito em que está fotografado. Como disse antes, gosto das nuances das diferenças das pessoas, então, eu não edito para que os corpos pareçam perfeitos, deixo-os do jeito que são.

Eu estava tão distraído que nem percebi que Helena entrar e sentar no puff que tem ali. Eu dei um pulo da cadeira e ela gargalhou. E perguntou:

- Onde tirou essas fotos? Ficaram tão lindas!

Ela se referia as fotos da manhã, das duas mulheres lá no motel.

- Foi num motel lá para o outro lado da cidade.

- Adorei tudo! Elas, o cenário. Fico pensando se não podemos fazer um ensaio assim.

- Como é? – tive que virar para ela – Vai me explorar de novo?

- Não exagera. – comentou – Mas alguns leitores comentaram que seria bem legal ter um álbum de fotos minhas a venda. Pensei que a ideia pode ser boa!

- É sim! Podemos fazer de maneira digital e com o físico também. Sempre quis publicar um livro com as fotos que tirei. Mas, como faríamos isso?

- Esse ensaio que me deu a ideia. Podemos viajar para um lugar bem bonito e fazer umas fotos mais ousadas que essas.

- Quer dizer fotos nuas?

- Exatamente!

Acho que meus olhos brilharam, pois a Helena riu de mim.

- Sempre quis fazer um ensaio nu, mas nunca achei uma modelo que quisesse.

- Agora você tem! Organizamos tudo com calma para fazer ok?

- Ok!

- Bom, G, vou para casa. Obrigada de novo pela ajuda! – disse, se despedindo

Eu não queria que ela fosse, segurei em seu punho e falei:

- Fica aqui hoje!

- Você precisa trabalhar, não quero atrapalhar.

- Não vai. – disse me levantando – Eu posso fazer amanhã.

Pedi como uma súplica a ela. Ela sorriu e abruptamente acabamos nos agarrando. Seria mais uma noite daquelas!

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