sábado, 30 de abril de 2022

Inimiga do Crime - 12 Meses com Minorin: Abril


 

"O bom senso é derrubado. Os valores também são suspeitos.

Não posso pagar, mas não tenho medo.


Estou no espelho? Me sinto tímida!

No meio de um mundo em mudança"


(SELF PRODUCER - Minori Chihara)


***


Desde a minha infância, acompanhei os super-heróis e os seus grandes feitos. E um dos meus sonhos era poder ser uma super-heroína, porém a vida - e nem a genética e muito menos um acidente - nunca me deu nenhum poder para chamar de meu. Então, apenas segui como um cidadã comum ou quase isso.

Ainda tinha aquela pontinha de esperança em mim, que de alguma forma eu trabalharia com os supers. Era o que eu queria!

Durante a minha adolescência também surgiu o interesse pela moda e por construir roupas e este hobby se juntou a minha outra paixão e no fim, se tornaram a minha profissão. 

Eu me especializei em ser uma designer para super-heróis. Desde os trajes que eles usam até os equipamentos, eu os construo e vejo os heróis salvarem o mundo usando todos eles.

Também levantei o meu império de moda fazendo roupas para as pessoas comuns. Meus desfiles de novas coleções são sempre lotados, nos dois âmbitos.

E por longos anos eu me acomodei. Estava muito satisfeita com a minha vida e o meu trabalho, de ver os supers usando as minhas invenções. Eu aceitei que talvez nunca pudesse ser como um deles, mas uma descoberta me fez perceber que estava profundamente enganada quanto a isso!


***


Mais uma temporada, mais um ano e mais duas novas coleções para apresentar no dia de hoje. Novas tendências serão lançadas e todos vão seguí-las.

Está uma correria nos bastidores! Modelos, maquiadores, cabeleireiros e outros membros da minha equipe estão agitados e fazendo barulho. E faz sentido, afinal, faltam poucos minutos para o primeiro desfile.

Eu estou dando os últimos ajustes nas peças que já estão em seus modelos e deixando-as prontas para o grande momento.

- Melissa! Faltam dez minutos! - gritou minha secretária, chamada Samantha

- Quantas modelos faltam? - perguntei

- Faltam 5, chefinha. - disse meu assistente, chamado Benjamin

- Tragam-nas aqui, imediatamente! Quero todos a postos o mais rápido possível!

Ao ouvirem a frase, todos os cabeleireiros e maquiadores pararam com sua movimentação e liberaram os modelos para mim. Observei o visual de cada uma e arrumei as peças. Estava tudo pronto! Mais um ano de trabalho e ideias que seriam apresentadas. E eu sempre sentia o mesmo frio na barriga da primeira vez!

Primeiro foi o desfile de moda para pessoas comuns, com as novas cores e cortes para a nova estação. As modelos e os modelos caminharam pela passarela, exibindo as minhas peças. E eles eram pessoas diversas, de cores, de tamanho e de corpos. Era algo que eu sempre reforçava em meus trabalhos: Minhas roupas eram para todos!

E essa ideia ia de contramão a dos meus colegas estilistas, que discordam disso. Porém, eu não ligo!

Este terminou com uma grande salva de palmas. Na sequência, começa o segundo desfile, voltado para os heróis. Já podia ver muitos conhecidos e que estampam uma posição bem alta no ranking. Todos eles ansiosos para ver que acessórios poderão usar ou novos tecidos tecnológicos que utilizarão para fazer seus uniformes. E os apetrechos deste ano estão de dar orgulho, pois levam anos para serem concluídos e ao virem a público já é uma grande vitória.

Os da vez são: Uma pistola de energia plasmática, sem necessidade de recarga; um tecido praticamente indestrutível e que não precisa lavar; a pastilha que aumenta e muito as suas habilidade por curto período; um bastão luminoso, compacto e versátil, que serve como arma e muitas outras.

Assim, o segundo desfile - com outra salva de palmas - e a apresentação daquela noite terminaram. Eu apareci na passarela e acenei para todos! Deram-me o microfone e eu discursei:

- Boa noite a todos! É um prazer ter todos vocês comigo aqui hoje, acompanhando mais um desfile da M-Peace. Sempre fico com um nervosismo enorme de apresentar novos projetos. Mas, pela reação, imagino que todos gostaram! Para as roupas civis, pensei em cores mais alegres e cortes que deixam as peças mais frescas, usando também tecidos leves. São roupas para as mais variadas ocasiões! Logo elas estarão disponíveis para compra em nossas lojas físicas e em nossa loja virtual. - mais aplausos, logo prossegui - Quanto aos heróis, pensei em coisas que ainda estão faltando para facilitar o trabalho de vocês e a mais importante, creio eu, seja o tecido indestrutível e que não precisa ser lavado. Basta dar uma sacudida para tirar a poeira e já estará pronto para salvar o mundo novamente. Os heróis que estiverem interessados, basta entrarem em contato e podemos marcar uma reunião para mostrar com mais detalhes tudo o que foi apresentado. É isto! Obrigada e boa noite!

Sai da passarela, sendo seguida pelos modelos, que me abraçaram e agradeceram pela oportunidade.

Levou ainda algumas horas para que todos desmontassem e eu finalmente poder ir para casa. Cheguei com a sensação de dever cumprido! Agora era esperar os resultados e os lucros que esse evento me proporcionariam.


***


Como o desfile foi num final de semana, aproveitei o resto do período de descanso que restava. O que leva a um dia de semana e ao próximo dia útil.

Acordo cedo, me arrumo e rumo para o escritório da minha empresa, a M-Peace.

Vamos ver quantos heróis ficarão interessados em adquirir minhas novas invenções. Por enquanto, a minha secretária vai marcar infinitas reuniões para as próximas semanas. É uma rotina anual com a qual já estava acostumada!

Outra coisa que faz parte da minha rotina nas segundas é ver a lista atualizada do ranking de heróis, comandada pela Associação dos Heróis, que é a empresa governamental que lista e organiza todos que de alguma forma salvem inocentes e o mundo.

E os olhos de todos estão sempre apontados para os dez primeiros lugares, pois os que mais estivessem presentes dentro deste Top 10 no período de um ano, farão parte do grande esquadrão Planet Patrol, recebendo as missões mais importantes e de nível mundial.

Mas, como um herói poderia figurar no ranking de heróis? 

Obviamente, de acordo com os seus feitos! Quantas pessoas salvou, quem ele derrotou, qual catástrofe ele impediu. Todas essas coisas somam no currículo de um super.

A lista pode variar muito de uma semana para a outra, pois os atentados ocorrem em todos os locais do mundo. Porém, de uns anos para cá, tenho notado que são as mesmas caras que estão nesses dez primeiros lugares.

São poderosos que estão sempre estampando as manchetes e estão com os seus nomes na boca dos mais comuns. Mas, eu sinto que tem alguma coisa errada nessa história.

Mas, tenho medo de mexer neste vespeiro e acabar prejudicando o meu trabalho. É complicado!

Hoje ser herói se tornou uma profissão tão importante quanto a minha, ouso dizer até mais relevante. Existem poucos que ainda escondem suas verdadeiras identidades por trás de máscaras. Agora, quase nenhum as usa, apenas o uniforme mais espalhafatoso possível e fazem questão de aparecer o máximo possível!

E toda essa situação é bem recente, desde a criação da Associação uns dez anos atrás.

Meu devaneio de indignação é interrompido pelo meu assistente dizendo que meus heróis agenciados vieram para a reunião. É uma outra área que estou explorando, ajudar alguns heróis a alcançar seu sucesso na carreira.

Logo vai completar um ano que os estou agenciando e ambos tinham conseguido boas façanhas, mas nada que os fizesse aparecer sequer no Top 100. O meu palpite é que esta seja uma das reclamações de hoje

Permiti que eles entrassem e apareceram duas pessoas, a princípio comuns, que usam os codinomes de Sereia Silenciosa e Passo Pesado, mas são só a Rebecca Diaz, uma universitária que tem um grito supersônico; e o Brandon Simmons, que é alto e tem super força, em suas pernas especialmente, mas ele é um homem de meia idade solitário. 

- Podem se sentar, fiquem à vontade. - falei e assim fizeram

-Melissa, o que temos que fazer mais? - perguntou Becca

- Como subimos posições no ranking? - reforçou Brandon

- Isso vocês já estão fazendo… - não tinha nada melhor para responder - Mas, o sistema leva muita coisa em conta e uma delas também é o tempo. Vocês estão nisso há menos de um ano!

- Sabe que revelar nossas identidades está fora de questão. - Sereia foi incisiva

- Sei bem disso! - coloquei a mão na testa - Temos que pensar em algo.

- Nossos equipamentos são excelentes. - disse Passo - Ainda mais aquelas botas que não fazem barulho e amortecem a minha força quando precisa.

- Também temos conseguido feitos de média importância. Assaltos, terremotos locais, essas coisas.

- O sistema de rankeamento é falho, infelizmente! - confessei - Mas, vocês chegam lá!

- Obrigada pelo apoio de sempre. Só que é frustrante! - Sereia de novo

- Eu sei! - concordei - A minha secretária vai levá-los para a sala dos protótipos para que vejam os novos apetrechos que preparamos para vocês.

- Ótimo!

Usei o telefone para chamá-la através do ramal.

Depois da reclamação dos meus heróis e das minhas estranhezas, eu estava decidida a investigar essa questão do ranking e tirar essa história à prova. Claro, contando com a ajuda dos meus funcionários de confiança!


***


Passados alguns dias, sendo eles de muito trabalho por um lado e de muita pesquisa e ligações para meus contatos do outro.

Peguei os heróis que figuram no Top 10 do ranking quase de maneira permanente e fui em busca de suas origens e seus feitos do passado. A maioria deles nasceu já com seus poderes, o que era o mais comum mesmo.

Encontrei também as notícias relacionadas aos seus recentes feitos e fui notando um padrão, pois eram sempre os mesmo tipos de situação, num espaço de tempo bastante semelhante. Inclusive, até os vilões eram de um mesmo grupo.

Tudo bem que os vilões de vez em quando conseguiam fugir ou o sistema falho da justiça os libertava, então era até normal um vilão ser derrotado diversas vezes.

E com todos os nomes que pesquisei, encontrei-os linkados a uma mesma agência de heróis, chamada CMB. Não era errado ser agenciado, mas era muito irônico todos eles serem da mesma. Ou seja, um alerta se acendeu na minha cabeça.

Entrei em contato com um amigo jornalista, chamado William Smith, especialista em super-heróis, já que não encontrei nada muito conclusivo sobre o tal CMB.

- Oi, Mel, do que precisa de mim?

- Will, está muito ocupado?

- Olha, é um pouco tarde. É tão urgente assim?

- Sim!

- Estou saindo da redação agora e passo no seu escritório.

- Tudo bem!

E desligamos. Pouco minutos depois minha secretária anuncia ele e eu permiti sua entrada.

- O que aconteceu?

- Preciso de uma informação.

- Sobre o que exatamente?

- Deixa eu resumir para você a história: Acho que o sistema de rankeamento de heróis é muito falho. Acabei fazendo umas pesquisas que me levam a pensar que ele seja corrupto também.

- E você acha que isso é novidade pra mim?! Há anos isso está bem na nossa cara, só as pessoas que ficam encantadas por seus heróis salvando o dia e não percebem.

- Enfim, em minhas pesquisas, percebi que todos os do Top 10 são ligados a…

- A CMB! - ele me interrompeu - E você não encontrou nada sobre eles.

- Exatamente! Isso que queria saber de você, sobre essa agência de heróis.

- Anos atrás que descobri essa sujeira toda, mas fiquei com medo de contar para alguém ou publicar e deixei quieto. Basicamente, é uma empresa de fachada, que é comandada por alguns dos maiores vilões da atualidade. E descobri também que os heróis agenciados recebem para trabalhar para eles. No caso, cada salvamento lhes dá uma bonificação em dinheiro. Só que os atentados são todos armados! Inclusive, a CMB está infiltrada também nas agências de notícia, o que ajuda ainda mais com a popularidade desses poderosos.

- Eu não acredito nisso! - comentei incrédula

- Acredite! O sistema está todo corrompido!

- Temos que dar um jeito de resolver isto…

- Resolver? Melissa, é impossível! Só se…

- Eu destruísse o esquema deles.

- Como?

- Esses atentados sempre tem um padrão, eu já notei.

- Você não está pensando em dar uma super heroína né? Você não tem poderes!

- Não tenho poderes, mas tenho coisas que valem tanto quanto…

- Dinheiro! - ele completou

- Isso!

Chamei Sam e Ben pelo telefone, no instante seguinte eles apareceram. Eles estavam bastante assustados!

- Vamos ao nosso arsenal de armas e de roupas. Eu tive uma ideia. - eles apenas assentiram - Você vem junto! Preciso de você para que isto funcione.

Sai do escritório sendo seguida pelos três. Um já sabia de minhas intenções, já os outros dois estavam tentando entender aquilo ser tão repentino. Então, pedi a William que tratasse de explicar o que descobriu. Meus subordinados ficaram em choque.

Logo chegamos ao destino e fiz uma pequena seleção de acessórios, como os sapatos silenciosos, batom laser, óculos infravermelho, dados envenenados, brincos explosivos.

Depois fui à sala das roupas, onde ficam expostos os tecidos e roupas de super-heróis que estamos trabalhando. E num dos manequins lá do fundo estava ela, uma das primeiras roupas que eu desenhei. Pensando um pouco nos poderosos mais antigos, com uma mente infantil e fantasiosa. Era uma simples roupa preta, mas feita com um tecido tecnológico que camufla o usuário. Era um cropped de mangas longas e um short saia, uma roupa confortável, estilosa e prática. Acompanhada, é claro, de uma máscara apropriada, daquelas que tampam os olhos.

Tirei a roupa do manequim e ia me trocar quando fui interrompida pelo meu assistente:

- Peace, o que vai fazer com isso?

- Vocês vão ver!

Levou alguns minutos, mas logo saí trajando a roupa. O trio que me esperava do lado de fora me olhou surpreso, pois nem se compara com nada que se usa hoje em dia.

- Uma heroína à moda antiga. - falou William

- Ficou ótima em você! - disse Samantha

- Acho que essa roupa é bem apropriada. - falou Benjamin

- Seguinte, - tratei logo de explicar - eu vou assumir uma identidade de super heroína para derrubar a CMB e os heróis corruptos que ela agencia.

- Não seria melhor pedir para o Passo Pesado e Sereia Silenciosa para fazerem isto? - perguntou a secretária

- Você agencia heróis agora? - questionou o jornalista - Inclusive, já ouvi falar deste dois.

- Estou começando no ramo. Eles só não conseguem subir no ranking e agora descobri o porquê!

- E qual o plano? - indagou meu assistente

- Segundo minhas contas, o atentado programado de um dos heróis da lista é amanhã. Então, irei até o local antes e farei o serviço no lugar dele. Devo deixar uma pixação na parede para levantar um alarde. E o nosso grande William Smith aqui vai nos ajudar a noticiar tudo isso.

- Você quer é matar a todos nós. Se eles descobrirem…

- Eles não vão descobrir! Essas coisas são só noticiadas de manhã. Você só vai dar o furo!

- Será que vai dar certo, senhora? - Ben, de novo

- Estou com medo, confesso! - soltou Sam

- Só tem um jeito da gente saber: temos que tentar. - sorri - Então, amanhã de noite, todos aqui neste mesmo horário para traçarmos os últimos detalhes do plano e começar a colocar em ação.

Assim, tirei a roupa e todos nós voltamos para casa. A noite seguinte prometia e muito.


***


Na noite seguinte, depois do expediente, lá estávamos nós de volta à sala de arsenais para explicar o plano. Eu identifiquei os padrões cíclicos dos atentados armados, tanto o período quanto ao local. Segundo as minhas contas, desta vez seria no subúrbio sul da cidade.

Coloquei o meu novo traje e chamei todos.

- Então, vou tentar falar de forma resumida. - contei brevemente sobre a minha descoberta. e prossegui - Como disse ontem, nosso objetivo é atrapalhar as ações desses heróis associados ao CMB.

- Todos os do Top 10? Espalhados no mundo todo? - perguntou Samantha

 - Não teria como atrapalharmos o Top 10 de heróis inteiro com este nosso plano. Dois dos presentes no ranking são daqui de onde moramos, atuando também nas vizinhanças. Com estes já vai ser o suficiente para fazermos algum barulho e causar incômodo. Até porque logo o bolso de alguém vai começar a doer.

- Sabe que logo vai ter um alvo enorme na sua cabeça, né? - reclamou Will

- Por isso a identidade secreta, para proteger a mim e a vocês.

- E o que faremos para ajudar então? - questionou Benjamin

- Vocês dois vão fingir em assalto, só para distrair o Falange. A força dele irá te salvar hoje.

- E eu? Vou ser só o noticiador dos feitos é?

- Exatamente! - sorri - O seu papel também será dar um nome para esta heroína. Seja criativo!

- É uma responsabilidade grande! - falou nervoso

- Eu confio em você! - olhei para a cara dos três, ainda receosos - Bom, eu irei na frente. Usaremos isto para nos comunicar. - e entreguei pontos de ouvido para todos - Assim que encontrar o lugar, lhes indico e seguimos adiante com o plano.

Ao terminar o que tinha para dizer, vesti minha máscara, fui até o estacionamento e peguei uma das motos que ficavam guardadas ali. Subi nela, dei a partida e acelerei, rumo a meu destino. Confesso que, por dentro, a minha criança interior pulava, pois de certa forma realizaria um pouco do meu sonho, mesmo que a causa para tal fosse outra. Secretamente, por anos também, pratiquei de tudo um pouco, porque a gente nunca sabe o dia de amanhã. Então, eu tenho os básicos necessários para me defender.

Foram uns vinte minutos pilotando até a região, passei brevemente pelos quarteirões e logo encontrei o local, que estava lotado de capangas de não sei quem. Avisei no comunicador:

- Encontrei o lugar. É o galpão na Rua Cinco.

- Também encontramos o Falange e parece ir na direção do endereço que encontrou. - respondeu o jornalista - A dupla já foi para a abordagem. Eu lhe informo!

- Ótimo!

Aguardei alguns segundos e logo ele falou de novo:

- Pode agir agora! Nosso alvo está distraído! Tem quantos aí?

- Tem uns dez, mas eu dou conta! Se esconda e me mantenha informada.

- Pode ficar tranquila que seu assistente corre bem rápido, Mel. Acho que o super não pega ele não!

Ri por dentro com o comentário, já que não podia fazer barulho para não chamar a atenção dos homens presentes no local. Mas, agora era hora de me revelar:

- Quando é que o Falange chega? - perguntou um dos que guardavam a porta

- A qualquer momento! Está perto da hora marcada! - respondeu o outro

Sai por detrás das sombras e me mostrei para a dupla da porta:

- Ei, quem é você? - perguntou um deles

- A heroína que vocês não gostariam de ter conhecido.

Ao dizer isso, apaguei um e logo na sequência o outro, usando golpes próximos a nuca, porém não letais. Como o portão do galpão estava aberto, logo os do lado de me perceberam e sem perguntar nada vieram me atacar. Por sorte, eu já tinha visto que eles não estavam com armas de fogo, então não corria risco de ferimentos muito sérios caso algo desse errado.

Fui derrubando um de cada vez, desferindo socos e chutes em pontos cruciais e nocauteando-os com o mínimo de esforço. Minhas aulas de artes marciais estão se pondo a prova neste momento, até porque o meu tamanho é uma pequena desvantagem se for comparar com a média de altura dos soldados dos vilões, então tenho que me utilizar de alguns artifícios para me defender.

Tomei alguns golpes aqui e ali, mas nada que tenha me machucado tanto. Logo, estavam todos desmaiados! Usei o comunicador para falar com meu trio:

- Pessoal, tudo certo por aqui! Vou só pichar a parede. - disse pegando a lata de spray nas mãos - Will, corra para pegar fotos para o seu furo, antes que eles acordem!

- Ok! - ele respondeu - Seu assistente despistou o herói e eles estão bem longe. Só seja rápida, estou indo prai!

- Quando o herói devolver a minha bolsa, eu aviso! - falou Sam

E parti para a segunda parte do plano. Usando da lata de spray, escrevi a seguinte mensagem: “O ranking de heróis é uma farsa!”.

Quando terminei de escrever a frase, ouvi o som de um flash, que vinha da câmera do Smith.

- Eu ainda não posso aparecer!

- Pode e deve! Precisamos dar um nome para você. Eu pensei em Inimiga do Crime, o que acha?

- Acho um nome excelente!

Logo ele terminou de tirar as fotos e ficou para despistar ainda mais o nosso alvo. Eu sai correndo depressa, fui para a moto e sai em disparada.


***

No dia seguinte, a manchete do jornal dizia o seguinte:


“Nova Heroína denuncia possível sistema de corrupção no ranking de Heróis”


E ao ler a matéria, vi que ele deu mais detalhes sobre o local, a frase da pixação, os inimigos caídos e sobre o surgimento atrasado do Falange, que deu uma pequena declaração dizendo que estava para atender o chamado, mas uma cidadã foi assaltada na rua escura e ele cumpriu o seu dever.

E na parte final da matéria estava escrito o seguinte:


“Essa heroína à moda antiga surge como talvez um alerta a como todos nós vemos os heróis atualmente. Há apenas holofotes e um estrelismo exacerbado. Será que esta é realmente a nova e verdadeira “Inimiga do Crime” que sempre procuramos em todos os heróis?”


O jornalista já cumpria bem o seu papel, só tínhamos que fazer muito ainda. Aquele era só o começo!


***


Uns dias depois, lá estávamos nós lá de novo. Quer dizer, só eu e William, desta vez não precisaríamos de uma distração, já que o local era bem no meio de uma estrada. Íamos interceptar um caminhão com carga suspeita.

Sem que o motorista percebesse, seguimos com ajuda de um dos carros mais rápidos que eu tinha e subi no veículo grande, com dificuldade pois o vento do rosto e alguns sacolejos da estrada podiam me fazer cair. Fui direto para a parte de carga e qual não foi a minha surpresa de ter encontrado reféns ali dentro, junto com uma pequena carga estranha.

Retornei, com cuidado, para a parte da frente, dando um grande susto no condutor, que o fez girar o volante para me fazer cair. Porém, eu segurei firme na porta do lado do carona, entrei na cabine e apaguei o motorista. Assumi a direção do caminhão e o parei no primeiro acostamento que encontrei.

Tudo isso aconteceu numa alta velocidade, sendo acompanhada de perto pelo jornalista.

Abri o compartimento de trás e ajudei a libertar os reféns. Enquanto todos eles ligavam para seus familiares ou pessoas queridas, para avisar que estavam bem, peguei a carga - que eram de drogas - e simplesmente as empilhei e ateei fogo.

Recebi os agradecimentos de todos os presentes, que foram todos entrevistados pelo jornalista e logo depois fiquei observando a pilha de drogas queimar, o que é bem irônico de fazer, pois essa missão era do Wi-fire, que tem poderes de fogo.

Ouvi novamente o som do flash e dessa vez percebi a sua luz também. Com a câmera pendurada no pescoço, ele veio falar comigo:

- Ótimo trabalho, Inimiga do Crime. Já colhi depoimentos dos reféns e todos estão muito agradecidos pelo seu feito.

- Quem sabe já não suba umas posições no ranking né?

- Ainda vai levar um tempo, talvez uns meses. Mas, “roubando” dos grandes, a escalada talvez venha depressa.

- Vou pichar esse caminhão! - afirmei pegando a lata de spray

- Qual será a frase agora?

- O Top 10 é uma mentira!

- Vá depressa…

- Eu tenho tempo!

Fiz conforme falei. Os reféns já estavam prestando depoimento à polícia e eu sumi de vista e o jornalista pegou o carro e viemos embora. Nem chegamos a encontrar com nosso alvo. Porém, o contato militar de William confirmou que ele apareceu no local logo após a nossa saída, alegando que recebeu um chamado, mas se atrasou!

No dia seguinte, lá estava a notícia relacionada à nova heroína de roupa e máscara pretas, que agia na calada da noite, mais uma vez.

Aquela heroína que era apenas uma sombra nas duas imagens em que apareceu. 

O jornalista disse em sua matéria:


“Quem será esta heroína que só conhecemos a silhueta? Quem se esconde por trás daquela máscara? Será que ela é uma pessoa comum? Ou alguém poderosa?

Talvez só o tempo nos dará mais detalhes sobre ela, se ela quiser que isto aconteça.

Enquanto isso, que novas façanhas a “Inimiga do Crime” vai realizar?”


***


E a rotina noturna de interceptar os atentados programados se tornou desgastante, mas bastante satisfatória. As frases de efeito sempre eram um ponto alto do que fazia.

As semanas foram passando e a Inimiga do Crime atingiu o Top 100 do Ranking de Heróis. Porém, eu sabia que era de maneira desonesta e era só para denunciar o sistema. Só que a mensagem que ficou para heróis novatos ou menores, era de quem ainda era possível subir no ranking. Claro que, no meio dessa bagunça de andar pelas ruas, resolvia uma pequena situação aqui ou ali, que me favorecia com a questão de popularidade com os cidadãos. E neste quesito, eu tinha uma forcinha do meu amigo William, que sempre escrevia matérias muito boas sobre a tal Inimiga do Crime.

E claro, de Benjamin e Samantha, que me ajudavam a manter os detalhes das roupas, equipamentos e a identidade secreta em ordem.

Enquanto isto, os dois heróis que eram nossos alvos - Falange e Wi-fire - perderam umas posições.

Inclusive, meus dois heróis agenciados, Passo Pesado e a Sereia Silenciosa, estavam muito empolgados com a Inimiga do Crime, pois eles se viam e muito nela.

Os dois estavam um dia na minha empresa, vendo alguns detalhes para melhorarmos seus equipamento e comentaram entre si:

- Melissa, você viu o que a Inimiga do Crime fez? - indagou Becca

- Sim! Deve ter sido demais!

- Ela é tão legal, quero ser como ela. Uma pena que não tenha aparecido tanta coisa para a gente.

- Vai melhorar. - tentei animá-los

- E será que aquilo que ela denuncia é verdade? De que o sistema de heróis é corrupto? - Brandon questionou

- Mas, ela está subindo posições. Pode ser que a denúncia seja falsa!

- Ou será que o que ela faz não é para mudar o sistema? - joguei a pergunta no ar - Ela está mexendo uns pauzinhos para mostrar umas coisas.

- Tem razão! - Passo acrescentou - O ranking só deu esta mexida após o surgimento dela.

- Vamos ficar de olho então. - a Sereia completou

E o pior que realmente o que eles disseram fazia sentido. Minhas ações podiam ser interpretadas ao contrário, mas, eu não queria mexer no ranking, eu queria era mexer na CMB e por enquanto eles nem davam sinal de coisa alguma!


***


Coloquei meu uniforme, preparei os meus equipamentos para o que, a princípio, deveria ser sobre mais uma noite normal em que a Inimiga do Crime agiria.

Era mais um local abandonado - inclusive, havia uma enorme falta de criatividade - em que tinha uma carga estranha.

Só que já havia algo estranho na entrada. Tudo muito deserto e escuro!

Estava em contato com o meu trio e já tratei logo de avisar:

- Estou sentindo a situação estranha. Fiquem de olhos abertos!

- Por quê? - era a voz de Will

- Não parece haver sinal de viva alma e nem há luz também.

- Será que pode ser uma emboscada? - sugeriu Ben

- Provável! - concordei - Mas não vou fugir!

- Já deixei os contatos do Passo e da Sereia a postos, se precisar. - falou Sam

- Se ficar muito tempo sem responder, tomem a liberdade de agir.

Ao terminar de falar, dirigi-me ao local e adentrei a porta semiaberta. Qual não foi a minha surpresa sentir alguém me imobilizando e me colocando sentada e amarrada em uma cadeira. Não consegui ver nada, já que não deu tempo de ativar a visão infravermelho da máscara.

Só enxerguei quem era quando uma luz, bem acima de mim, se acendeu, revelando duas figuras altas, que reconheci como Falange e Wi-fire. Ouvir gargalhadas e eles começaram a conversar comigo:

- Ora, ora, se não é a Inimiga do Crime. - o forte falou

- Veio atrapalhar nosso caminho de novo? Só que dessa vez estávamos te esperando. - o outro disse

- Vocês demoraram viu? - ironizei

- Se escondendo por trás desta máscara e roubando nossas missões… Assim é fácil subir no ranking de heróis.

- Nunca quis subir no ranking, mas sim denunciar a agência de vocês.

- Nós já sabemos disso! - uma terceira figura, trajando terno e gravata, apareceu - Fico surpreso que uma mulher como você tenha descoberto o nosso esquema. Afinal, quem é você?

- Um dos bem previsíveis, devo admitir!

E um soco me atingiu, bem forte no rosto, já podia até sentir o gosto de sangue dentro da boca.

- Não é mole ser herói em tempo integral, nem tudo dá dinheiro e reconhecimento demora. - reclamou Falange

- Muitos têm a família para alimentar. - falou Wi-fire - Não é desonesto receber para salvar umas pessoas.

- Todos esses atentados são uma farsa. Vocês dois foram reconhecidos por coisas que não fizeram, assim como todos do Top 10 do ranking.

E mais um soco, dessa vez na barriga, o que me fez perder o ar.

- O que importa, Inimiga do Crime, é que o sistema é totalmente nosso! A Planet Patrol também é nossa, o mundo inteiro é nosso! - proclamava o chefe - E vamos tirar essa baratinha, que é você, do caminho.

- Mas antes, você vai sofrer um pouco…

E a partir daí foi uma sequência de socos, chutes e outras formas que encontraram para me torturar e ferir. Apanhei tanto que a minha visão já estava turva e a minha consciência ia e voltava. Senti cortes de faca, que arderam ao marcarem a minha pele. Também senti seus dedos em partes do meu corpo! E eu estava ali, indefesa, pensando o provável motivo da demora do meu “grupo de resgate” e com medo de que algo pior acontecesse comigo, pois eles prometeram que iam me matar.

Logo senti que era este momento, pois o com poderes de fogo me ameaçou:

- Diga adeus às suas noites de ação e a pequena escalada que fez no ranking.

Semiconsciente, pressenti que era o momento e fechei meus olhos, já pronta para meu destino fajuto de heroína sem poderes. Detalhe este que ninguém sabia!

Neste instante, o chão começou a tremer, como se fosse um terremoto. Os outros três se assustaram, mas eu sabia exatamente quem era e seria de grande ajuda.

Passo Pesado entrou acompanhado da Sereia Silenciosa, que soltou um grito ensurdecedor e que obrigou o trio a tampar os outros para minimamente se proteger.

Senti duas mãos desatarem os nós da corda que segurava minhas mãos e não foi surpresa perceber que era o Will. Ele tinha que cobrir aquela ação para noticiar no jornal no dia seguinte!

- Você está bem, Mel? - ele perguntou, obviamente ao ver meu estado

- Acho que sim, Will!

- Desculpe a demora! O Passo e a Sereia se perderam no caminho.

- Já estava preocupada… Pelo menos eles vieram!

No fundo, quase abafado, ouvi o som da luta dos meus dois heróis contra o trio. Eu com certeza ia perder a consciência de novo.

- Já chamamos a polícia também! - ele completou - Vamos te levar no hospital… - notei sua voz preocupada e logo gritou pros outros dois - Eu vou sair com ela daqui!

- Tudo bem! - parecia a voz da Sereia - Eu dou cobertura!

A última coisa que eu lembro é de sair carregada e do sacolejo da corrida até o lado de fora do galpão.


***


Não sei quanto tempo passei desacordada, mas acordei no hospital. 

Abri os olhos e vi o meu trio aflito no quarto e cada um de jeito. Samantha sentada e quieta; Benjamin olhando pela janela para tentar se distrair; William andando de um lado a outro do quarto.

Levou uns segundos para eles perceberem meu despertar, mas a alegria foi mútua e por pouco todos não pulam na cama.

- Quanto tempo dormi? - indaguei

- Umas 12 horas. - respondeu Sam

- Quero agradecer de novo a ajuda de vocês. - sorri

- Não foi nada, chefinha. - falou Ben

- O que importa é que você está bem! - disse Will

- Inclusive, tem mais duas pessoas que querem te ver. - falou a secretária de novo 

Ela foi em direção a porta e fez sinal chamando alguém para entrar, que eram Rebecca e Brandon.

- Tivemos que revelar sua identidade para eles. - completou o assistente

- Se a gente soubesse que você era a Inimiga do Crime esse tempo todo… - comentou a Sereia

- Tínhamos feito um trio! - acrescentou Passo

Sorri com o comentário, porque seria realmente interessante a nossa dinâmica. Mas, ainda tinha outras questões na minha cabeça:

- E a CMB? E os outros dois heróis?

- Acho que isso só eu posso explicar. - disse o Jornalista, esticando o celular - Leia! É a matéria de hoje!

Olhei para a tela e vi o seguinte título:


“Suposto sistema de corrupção da CMB é descoberto!”


- Soltou sua matéria finalmente? - perguntei

- Isso e aproveitei a nossa escuta para colher mais provas. - respondeu ele - E a polícia e a Associação de Heróis vão investigar essa história.

- Até porque, uma heroína em ascensão quase foi morta por dois heróis agenciados pela CMB e o chefe deles. - comentou Benjamin

- Esperamos que o rankeamento de heróis seja revisto. - acrescentou Becca

- Não era só você que estava insatisfeita com ele. - Brandon discursou - Muitos outros heróis também! Já abrimos uma petição para rever o ranking inteiro.

- E os heróis que ficam na Planet Patrol… - disse Samantha

- A única coisa que pedimos agora é que se recupere! - disse o jornalista, olhando para mim - Sua identidade está segura. Tudo vai se resolver!

Assim, a pequena reunião, se é que posso chamar assim, terminou. Todos saíram e me deixaram sozinha no quarto!

Em alguns dias já estava melhor dos ferimentos, que em sua maior parte foram leves.

Logo, retornei a minha vida normal, trabalhando com minhas roupas, meus heróis e outras coisas mais.

Por enquanto, não sabia qual seria o destino da Inimiga do Crime.


***


Algumas semanas depois, estava em meu escritório, quando William apareceu para conversar comigo.

- Saudades das nossas noites agitadas salvando a cidade! - comentou ele

- Eu também sinto! - sorri

- E o que será da Inimiga do Crime? Vai revelar sua identidade? Vai continuar escondida? Ou vai sumir de vez?

- Sempre foi o meu sonho ser uma super heroína e é ótimo ser a Inimiga do Crime. Mas, ela nasceu com um objetivo muito claro e ele já está se encaminhando para ser cumprido.

- Então, seu propósito com ela já foi realizado?

- Sim! Inclusive, acho que fica interessante ela sumir da mesma forma que apareceu. Dá um misticismo e certa lenda para a história dela.

- Nem eu poderia ter pensado melhor!

- Só não quero mais pôr a minha vida em risco como foi naquela noite. Realmente achei que vocês não iam chegar a tempo!

- É compreensível!

- E prefiro ajudar o Passo e a Sereia a se tornarem os heróis que tanto sonham.

Ele apenas sorriu e se preparou para ir embora.

- Bom, acho que não tenho mais nada para fazer aqui.

- Will, não quer sair qualquer dia desses para um jantar? - joguei assim na lata

- Claro! - sorriu mais ainda

Ele acenou e saiu da sala.


***


Alguns meses depois


Já faz um tempo que a Inimiga do Crime simplesmente desapareceu, porque eu quis que fosse desta forma. Foi bom poder brincar de super heroína um pouco, confesso. Porém, também é bom estar de volta a minha rotina tranquila de estilista para pessoas comuns e para os heroís.

A denúncia feita acerca do ranking da Associação funcionou. A forma que os heróis são colocados na lista é bem diferente agora. Claro que os feitos e o alcance deles ainda são levados em conta, mas agora tem uma comissão inteira que fica monitorando as ações dos heróis, para ver se elas não seguem um padrão, como acontecia com a CMB.

Inclusive, a CMB não existe mais. Depois de todo o escândalo, ela foi descontinuada e os seus heróis agenciados desapareceram assim como ela. Umas das corporações sumiu, mas quantas outras não existem por aí? E quantos outros vilões não estão escondidos? Ou melhor, será que estes não voltarão?

Se bem que não quero pensar nisto, tenho mais coisas para me preocupar, como a minha nova coleção - que terá seu desfile daqui uns meses, mas a correria é de bem antes -; meus próprios heróis agenciados - o Passo Pesado e a Sereia Silenciosa - que estão indo muito bem no ranking agora, subindo bastantes posições em poucos meses; e meu relacionamento. Pois é, o amigo jornalista não é mais só meu amigo! Quem diria, não é?

É mais uma segunda-feira e o ranking de heróis semanal tem algo de especial, porque é aquele dia do ano em que o Top 10 anual é divulgado e o grupo da Planet Patrol para o ano seguinte é definido.

Eu estava acompanhada de Rebecca e Brandon no meu escritório, pois os dois estavam ansiosos com o resultado. As chances deles entrarem no Top 10 era altíssima, levando em conta que eles fizeram parte da descoberta da podridão da CMB.

No horário certo, a página da Associação foi atualizada e eu li para eles o ranking geral:

- 1º lugar: Inimiga do Crime! - confesso que sorri com a notícia, fui pulando até encontrá-los em duas posições - 7º Lugar: Passo Pesado e 8º Lugar: Sereia Silenciosa.

E a comemoração foi conjunta!

- Meus parabéns! - disse os abraçando - Estou muito orgulhosa de vocês!

- Nós também estamos orgulhosos de você. - disse Passo - Se não fosse a Inimiga do Crime…

- Uma pena que ela não vai assumir seu lugar como membro da Planet Patrol conosco! - Becca falou

- O 11º lugar vai ter sorte neste ano!

O resto daquele dia foi regado a comemorações e bastante trabalho!

Claro que no decorrer dos dias comentaram sobre o sumiço da Inimiga do Crime, pois ela sequer se apresentou para assumir sua posição como líder da Planet Patrol, porém, era aqui que a sua lenda começava a ficar mais forte. Ela jamais seria esquecida!



***


“Os sonhos mudam constantemente, Novos sonhos

Eu quero encontrar mais mistério

(...)

Eu te chamo de Patrulha do Planeta, Venha para a terra

Que tipo de jogo devo começar?”


(Planet Patrol - Minori Chihara)

 
 

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Epílogo - 1 ano depois

Este dia, exatamente um ano atrás, foi quando o vídeo revelando oficialmente a minha identidade como a autora do Contemporânea Erótica final foi ao ar. De lá para cá, algumas coisas mudaram. Eu perdi um pouco a paz do anonimato e de poder andar na rua ou em outros ambientes públicos sem que ninguém me abordasse para uma foto ou para pedir um autógrafo. Mas, confesso que gosto quando meus fãs me param e dizem o quanto amam o meu trabalho com o blog.

Ainda recordo quando um dos meus fãs sem querer descobriu quem eu era e com medo de que ele pudesse simplesmente revelar para todo mundo, nós fizemos um acordo maluco de trabalho. E a gente se envolveu em algo bem maior do que só os negócios, teve amizade colorida e o nosso romance.

O Gustavo se tornou o segundo membro da equipe do Contemporânea, usando o nome de Mister G. Ele assina alguns textos e continua sendo o fotógrafo oficial. E claro, continua sendo o meu namorado também.

E quanto às duas queixas de agressão.... Bom, nenhuma das duas vítimas retirou e aconteceu o que esperávamos: o serviço comunitário e uma indenização. Dos males o menor!

Com a revelação - a de verdade - minha mãe ficou ainda mais surpresa e chocada. Ainda tem as questões dela quanto ao que os outros acham, porém aquele choque de realidade serviu de alguma coisa. Ainda não compreende, mas agora ela aceita - assim como aceitou o meu namorado com o G - e sabe que este é meu trabalho. Acho que sempre vai ser complicado conviver e lidar com a Rita, então só aprendi a tornar isso o menos pior possível para mim.

Minha irmã continua morando e namorando firme e forte com a “colega de quarto” dela. Está já no último período da faculdade e trabalhando na área. Meu pai ficou ainda mais feliz quando contei tudo e disse que tem muito orgulho de mim. Meu irmão finalmente conseguiu passar em alguma daquelas provas e agora tomou jeito e está seguindo a sua carreira. E é através do Arthur que, de vez em quando, acabo recebendo uma notícia do Pedro. Afinal, eles são bem próximos! E na real, não me importa onde e como está meu ex.

E quanto ao processo de violação de direito de imagem? Bom, eu e Gustavo ganhamos, com direito a indenização do Matheus e também de alguns sites que permitiram que o tal vídeo ficasse no ar por tanto tempo.

Mas, e o Contemporânea Erótica como ficou? E o meu bendito livro?

O blog vai muito bem obrigada! Conseguimos ainda mais parcerias e todas as postagens estão bombando mais do que nunca, especialmente os contos eróticos. E há um produto a mais, temos pelo menos um vídeo por semana, de temas variados. Falando de relacionamento, vida sexual e outros. Se bem que o tipo de vídeo que mais faz sucesso é respondendo as perguntas e dúvidas dos fãs.

E para comemorar este dia tão especial - e que tem o aniversário do vídeo e do meu namoro com o Gustavo -, está acontecendo um evento muito importante. É o lançamento dos dois produtos que foram adiados por muito tempo: o meu livro e o photobook com as minhas fotos sensuais e nuas.

Acabou que deixamos as fotos vazadas anteriormente disponíveis de maneira gratuita e resolvemos refazer o ensaio para finalmente transformar no sonho do Gustavo, que era parcialmente meu também, em realidade.

E por que não escrever a minha própria história num livro? Contando minhas experiências como escritora de conteúdo adulto e toda a vergonha que sentia de me revelar por conta dos preconceitos.

O nome do photobook é: Echii em todas as suas nuances e cores.

O nome do livro é: Erótica Contemporânea, a história de uma blogueira anônima.

Sendo sincera, eu não queria escrever um livro autobiográfico, porém o meu amigo editor insistiu bastante pois achava que era algo bastante inspirador para todos. O livro fictício ficou para depois!

E foi por isso que o projeto foi adiado por tanto tempo, eu tive que fazer um livro novo do zero. Aliás, eu refiz muitos projetos de livros antes deste último ser a escolha.

O evento está lotado tanto de fãs quanto da imprensa. Até minhas amigas jornalistas vieram cobrir o meu lançamento! O local escolhido foi um pavilhão de eventos tradicional para os lançamentos da editora, que também arrumou o livro de fotografias.

É um coquetel com sessão de autógrafos. Já tem a mesa a postos, duas cadeiras - uma para mim e outra para o Gustavo -, com exemplares dos livros expostos em cima. Logo estarei sentada lá assinando e tirando fotos. Confesso que estou sentindo um leve frio na barriga.

Já perdi a conta de quantas entrevistas concedi num dia só e em tão pouco tempo. Há realmente muitos veículos cobrindo aqui. O que me lembrou por um breve momento quando eu trabalhava com isso e fazia o mesmo. Sei como é estar do outro lado e não quis ser a entrevistada chata, então respondi a todos muito bem, mesmo no fundo estando cansada. Foi uma correria nestes últimos meses e especialmente nesta última semana. Acho que quando chegar em casa, vou tomar um banho e só me jogar na cama.

Estava distraída conversando com as amigas quando o editor chamou a mim e a Gustavo e disse que estava na hora. Nos arrumamos na mesa e após receber o microfone, meu amigo começou:

- Boa noite a todos os presentes! É um evento muito especial que está acontecendo aqui hoje. Minha amiga Helena, que a maioria de vocês aqui conhecem como a Echii, finalmente publicou o livro dela. - aplausos e ele prosseguiu - Junto temos a publicação do projeto de fotos sensuais que ela e o Gustavo fizeram num local paradisíaco. Vamos ouvir um pouco as palavras dos dois.

E passou o microfone para mim. Respirei fundo e discursei:

- Não sou muito boa com as palavras faladas, mas quero agradecer a todos os presentes aqui hoje. Obrigada por acompanharem o meu trabalho e o prestigiarem. Se não fosse pelo carinho de vocês, não estaríamos aqui hoje. Este projeto é uma grande realização de um sonho meu e o Contemporânea Erótica e os seus leitores ajudaram a proporcionar isso. E com certeza será o primeiro de muitos!

Aplausos e mais aplausos. Passei o microfone ao Gustavo, que falou:

- Eu não poderia falar melhor do que a Helena, mas acabo lembrando a maneira que nos conhecemos e em como chegamos ao dia de hoje. Claro que o blog tem a ver com isso. E é incrível ver o crescimento e a realização de alguém que é tão especial para mim! - ele sorriu, me olhando - Eu já fui como muitos aqui e admirava a Echii do blog, porém quando conheci e me aproximei da Helena de verdade, foi então que me apaixonei. O resto da história acho que vocês sabem né? - risos vieram da plateia - Bom, é esta perspectiva que quis passar com o ensaio e as fotos, mostrar um outro lado, a real pessoa por trás dos textos. Espero que todos enxerguem isto. Obrigado!

Outro salva de palmas e foi liberada a sessão de autógrafos.

Eu e Gustavo passamos horas e mais horas assinando, sorrindo, tirando fotos, conversando com os fãs. Realmente tinha muita gente ali e eu só tive noção disso quando todas elas passaram pela nossa mesa.

Vimos alguns conhecidos e familiares. Nossos pais, irmãos, amigos: todos vieram prestigiar o nosso trabalho. Fazer a pose de vitória após todo o caminho árduo que percorremos.

A sessão de autógrafos acabou bem tarde. Gustavo voltou dirigindo para praticar - ele vai fazer a prova prática em breve - e eu fui como instrutora. Não tem muito que se preocupar, ele aprendeu direitinho e já está dirigindo super bem. Viemos conversando para que nenhum dos dois pegasse no sono no caminho.

- Eu ainda estou sem acreditar que chegamos até aqui, H!

- Eu também, G! Quem diria que um ano atrás ia acontecer tanta coisa.

- Pois é! Parece que finalmente as coisas estão dando certo. Trabalhamos juntos, estamos juntando uma grana boa… Uma pena não poder comemorar o nosso primeiro ano de namoro.

- Mas acabamos de comemorar neste evento.

- Você entendeu o que eu quis dizer. Comemoração só minha e sua!

- Fico te devendo um jantar então.

- Eu não quero comida, eu quero você! Mesmo cansado, eu quero.

- Tá bom! Meu apê ou o seu? - pois é, ele ainda mora do outro lado do corredor

- Tanto faz! Pode ser no seu!

E passamos o resto do caminho cantando música bem alto no carro.

Mas descemos do elevador e já estávamos nos agarrando, tanto que a gente quase caiu. Abri a porta depressa e fomos direto para o quarto e com certeza viria mais um conto desta transa maravilhosa.

Tomamos um banho na sequência e decidimos ficar deitados fazendo carinho um no outro até pegar no sono. Era um silêncio gostoso só das nossas respirações bem pertinho. Até que o Gustavo resolveu me surpreender.

- Feliz aniversário para nós! - ele disse

- Parabéns para nós!

- Será que ainda é muito cedo para um próximo passo? - soltou

- O que quer dizer, Gustavo? - eu o chamo pelo nome quando nervosa

- Juntar nossos trapos, sabe? É péssimo ter esse corredor nos separando.

- Que palavreado é este?! - e ri, ansiosa

- É que eu não quero te assustar. - falou, se levantando e indo na sua calça largada no chão, pegando uma caixinha azul e voltando pra cama - É que tem uma semana que comprei isso e eu fiquei pensando numa hora boa durante o lançamento para pedir isso, mas foi tão corrido que nem deu tempo.

- O que é isso?!

- Exatamente o que parece! - ele sorriu, nervoso - Não sei como pedir isso, mas você aceita ser a Miss G?

- Posso continuar sendo a Echii? - eu quase quebrei o momento

- Foi só um modo de dizer. Só responde que tô ansioso!

- Claro que eu aceito, seu besta! - e dei um beijo nele - Só esqueceu de mostrar o que tem na bendita caixa, mesmo que eu faça ideia do que seja.

- Verdade!

Então abriu a caixa e lá tinha um anel de prata com alguns brilhantes. Era bem simples, mas muito bonito.

- Desculpa! Seu noivo ainda é meio ruim do bolso.

- Tudo bem! É muito bonito! - sorri - Bota no meu dedo.

E assim, ele o fez. E ficamos olhando um para o outro, sorrindo igual dois bobos apaixonados.

E acreditar que toda essa história começou por causa de duas caixas de encomendas que foram trocadas. Entre uma blogueira anônima e um fotógrafo recém-formado.


FIM

sábado, 23 de abril de 2022

Capítulo 35 - O pedido

 

Meu dia foi só de trabalho, ainda cuidando dos mesmos ensaios de antes, afinal, são muitas fotos para editar. Até que Helena mandou mensagem já querendo combinar de gravar o vídeo hoje mesmo. Eu já tinha ciência de que havia certa urgência quanto a isso, só não achava que era tanta. Marcamos para a noite, após o nosso jantar.

Quando deu o horário fui lá, comemos e escolhi o escritório como o nosso cenário de gravação. Já trabalhei algumas vezes fazendo vídeos, especialmente com aquele filha da puta do Matheus, então aprendi a fazer o básico como ajustar a iluminação e ver a questão de áudio e tudo o mais.

Helena estava aparentemente nervosa, porém se saiu muito bem falando com a câmera, ou melhor, desabafando com ela. Finalmente veriam o lado dela da história, desde o início. Toda uma história que eu já sabia pelo tempo de convivência com ela.

***

E nada além do normal que eu tenha dormido lá. É bem complicado ficar perto da Helena e não querer fazer nada além de só jantar, ver um filminho, ou gravar um vídeo. Dormir é até mais fácil, confesso!

Acordei antes dela e fiz o café da manhã mais caprichado que consegui, já que eu sou um desastre na cozinha. Aproveitando inclusive o que ela já tinha na despensa, que por sorte está sempre bem abastecida.

Ela apareceu no corredor enquanto eu estava distraído colocando as coisas na mesa. Sorriu, me deu bom dia e já foi se sentando para comer.

- Assim eu fico é mal acostumada hein, G?

- De vez em quando pode! - e ri

Acomodei-me na cadeira ao lado e começamos o desjejum. Ai ela resolve soltar uma bomba:

- Aliás, eu estava tão aflita ontem em conseguir fazer o vídeo direito que esqueci completamente de contar uma coisa.

- O que? - senti um calafrio correr a espinha - Não é o que estou pensando né?

- Não… Calma! - ela achou engraçado - Agradeço a preocupação, mas minha menstruação já veio este mês.

- O que é então? Agora fiquei curioso!

- O Pedro apareceu na porta do prédio ontem.

- Como é? Por que não me chamou? Ele fez alguma coisa?

- Eu tinha acabado de voltar da terapia e fui comprar meu almoço. Como posso explicar o que houve… Nem eu entendi. Mas, em resumo, ele finalmente desistiu de mim!

- Isso é uma boa notícia né?! - fiquei receoso de comemorar

- É sim, G! - sorriu no canto da boca e falou em seguida - Uma pena é que ele me chamou de vagabunda e que não me dava ao respeito. Disse que não queria mais nada com uma mulher como eu.

- Acho que entendo porque está chateada, H.

- Ah, se eu soubesse que seria tão simples que ele me “dispensasse”, eu pedia pro nosso primeiro ensaio ter sido com o meu rosto aparecendo.

E nós gargalhamos! Bom, dos males era o menor. Pelo menos, ela estaria em paz agora sem o Pedro no pé dela. Eu comentei no fim:

- Vamos ver como vai ficar a acusação de agressão que ele fez contra mim. E o Matheus deve ter aberto uma também. Meu histórico não está bom! - coloquei a mão no olho roxo que já estava doendo pouco

- Vai acabar tudo bem. Você não tem histórico agressivo! Pode ser que receba um serviço comunitário. Veja isso com o meu advogado.

- Vamos ver como vai rolar o nosso processo também. Só quero que o Matheus pague pelo que fez! - olhei para minha mão - Peço desculpas por ter agido num momento de raiva.

- Tudo bem, G! Eu também te expulsei daqui num momento assim. O que importa é que conseguiu a confissão dele e temos as provas de rastreamento de IP, como disse a Marina.

-  Espero só que dê tudo certo, H. - mudei de assunto - E aquela treta na sua casa? Recebeu notícias da sua mãe?

- Acho que ela não vai querer me ver por um tempo, ainda mais depois da “malcriação” que eu fiz com ela. E os seus pais e seu irmão? Como reagiram?

- Demonstraram apoio. Bom, no meu caso é mais fácil!

Ela apenas assentiu, concordando. Depois, indagou:

- E o vídeo? Quando vai editar?

- Hoje mesmo! O bruto não ficou tão grande. Trago pronto para você hoje a noite, está bem?

- Está ótimo!

A nossa conversa prosseguiu durante o tempo em que continuamos comendo. Porém, trocamos de assunto para trivialidades quaisquer, só para relaxar a cabeça.

Logo arrumamos tudo e limpamos o que sujamos. Guardei meu equipamento e me despedi de Helena, que antes de me deixar passar pela porta, me deu um beijo daqueles. Por muito pouco que eu não voltei e dei um jeito nela naquela cama bagunçada.

Rumei para meu apê e depressa descarreguei os arquivos, sentando em seguida no computador. Apanhei um pouco porque havia um tempo que não mexia no programa de edição de vídeo, foi complicado lembrar as funções e como se faziam as coisas. Demorou, mas peguei o jeito de novo e antes do almoço já tinha editado tudo e só mandei renderizar.

Aproveitei enquanto o vídeo salvava e peguei uma lasanha congelada e coloquei no micro-ondas para fazer, com a minha barriga já roncando alto. Liguei a TV e coloquei a série que estava assistindo para continuar, até que o apito do aparelho soasse e eu pudesse comer.

***

Mais tarde, retornei à casa de Helena, trazendo comigo, num pendrive, o bendito vídeo editado. Era a hora da verdade! Estava me tremendo nas bases, ansioso para que ela gostasse. Era o “direito de resposta da Helena” após tudo o que aconteceu. Seria o momento em que ela mostraria a sua identidade (de verdade) para os outros e eu era responsável para que a sua mensagem estivesse bem feita.

Ela trouxe o notebook para a mesa da sala e lá encaixei o pendrive, abri-o e mandei rodar o vídeo. Helena se manteve estática, séria e atenta a todo o vídeo, como se estivesse se avaliando porque nem tinha se visto depois da gravação do bruto. Foi um longo silêncio de pouco mais que dez minutos, apenas com o som saído do alto falante do computador. Por fim, veio o agradecimento e a música de encerramento, junto com aquela tela final padrão da plataforma que talvez o vídeo fosse postado.

- Então, o que achou? - perguntei logo

- Eu gostei! Era isso mesmo que eu queria. Obrigada, G!

- E quando postaremos?

- Demora muito para fazer uma conta? Tem tanto tempo que fiz a minha que nem lembro… Acho bom que tenha uma só para este vídeo!

- Não leva tanto tempo assim, podemos fazer agora e já colocar o vídeo lá!

- Ótimo! Enquanto isso vou pedir a nossa comida.

Pois é! O jantar hoje ficaria por conta do restaurante escolhido pela Helena.

Enquanto ela fazia o pedido pelo celular, fui criando a conta e já deixei o vídeo carregando. Algo que não levou 15 minutos, porque a internet dela é bem rápida.

- Pronto! Vídeo carregado, qual vai ser o título?

- Uma mensagem a todos os leitores da Contemporânea Erótica.

- É um bocado grande! - protestei

- O que sugere?

- Vídeo aos amantes da Contemporânea Erótica.

- É um bom título! - ela sorriu - Deixa eu só escrever um pequeno texto e aí postamos pra valer.

Acabei a observando escrever o seguinte:


“Para todos os amantes do Contemporânea Erótica,

Tirei esses poucos dias para pensar a respeito de tudo o que houve nesta última semana.

Confesso que ainda não digeri completamente e ainda estou recebendo todas as mesmas mensagens de haters e outras pessoas que não me conhecem e que só querem prejudicar o meu trabalho.

Ainda estou muito mal com tudo isto! Mas, não podia abandonar vocês.

Então, finalmente - de verdade e pra valer desta vez - vou mostrar o meu rosto e o meu nome, o real.

Por isso, fiz este pequeno vídeo com a ajuda de um amante do blog assim como vocês - inclusive o título foi sugestão dele - e nele conto toda a minha história até aqui.

E eu espero que vocês continuem me ajudando a escrevê-la, aqui, junto comigo.

Eu sou a Echii do Contemporânea Erótica, mas desta vez lhes apresento a Helena.”


E encaixou o vídeo logo no final da postagem! Respirou fundo, olhando a tela preenchida com seu texto e com a imagem do vídeo. Ela não estava pensando em apagar e desistir daquilo, né? Porém, ela soltou o ar, pegou a minha mão e falou:

- É agora ou nunca! Que seja o que tiver de ser.

Assim, com as nossas mãos unidas, apertamos o botão de publicar a postagem juntos e com o cu na mão de qual seria a repercussão.

Não tardou muito e a comida chegou. Decidimos comer vendo um filme desta vez. E uma raridade aconteceu, nós realmente vimos o filme. Por um tempo, a gente ficou dividido entre prestar atenção e se alimentar. Depois, focamos só na tela. Porém, não significa que não ficamos agarradinhos no sofá. Na verdade, Helena ficou deitada no meu colo boa parte deste tempo. Era um filme de suspense, então nós dois ficamos bem apreensivos com a situação da personagem principal. 

O final do filme foi chocante e a gente nem sabia o que falar sobre aquele final. Acho que nós dois queríamos era matar o roteirista, o diretor, todo mundo envolvido na produção e que fizeram um filme excelente, mas com um final que deixou a desejar. Os atores se entregaram muito ao papel, o que deu um gosto a mais do filme. Ah, se eu escrevesse avaliações de filmes, eu ia detonar só por causa deste final.

Peguei meu celular e olhei a hora, já estava bem tarde. Como não ia acontecer nada demais mesmo - porque se fosse eu e Helena já estaríamos enrolados nas cobertas nessa altura - decidi ir para a casa. Ia me despedir de Helena, só que fui interrompido.

- Fica hoje aqui.- ela pediu e se explicou em seguida - Só dormir!

- Tá carente é? - zoei

- Para de graça hein? - sorriu - Se não quiser, tudo bem.

Só que ela fez um carinha de súplica e não deu para resistir e eu aceitei. Fomos nos deitar para dormir. Eu tirei a minha roupa, ficando só de cueca e ela fez a mesma coisa ficando de sutiã e calcinha. Ajeitamo-nos na cama, ficando deitados um de frente para o outro. Helena com uma das pernas em cima de mim e com uma das mãos fazendo um cafuné.

- Por que não quis dormir sozinha hoje? - perguntei curioso

- Estou nervosa por causa do vídeo. - confessou - Se eu ficar sozinha não vou pregar o olho e vou ficar olhando o blog e as minhas redes o tempo todo. Tô com medo que esse vídeo piore toda a repercussão.

- Não vai, H. Fica tranquila! Eu também estou nervoso com uma coisa.

- Ah é. E o que seria, G?

- Se eu te pergunto uma coisa ou não.

Já está bem claro que eu quero pedir a Helena em namoro tem um tempo, porém com toda essa história do vazamento do nosso vídeo e das fotos dela, não encontro a hora certa. Eu queria fazer logo após a viagem, mas veio tudo junto e de uma vez, atropelando meus planos.

- Não vai saber se não perguntar… - falou

- Queria saber se podemos dar o nosso próximo passo, porque já construímos uma cumplicidade e uma amizade. Só que não é nenhuma dessas coisas que eu sinto por você. Eu te amo, Helena! - respirei fundo, já tinha feito esta pergunta a outras e sempre temia a resposta - Aceita ser a namorada? Namorar comigo? Tomar isto entre nós oficial? - sorri de nervoso

- Claro que eu aceito, Gustavo. - ela riu - Eu sinto a mesma coisa e não posso simplesmente não fingir que você arrombou a porta trancada do meu coração e arrumou tudo aqui dentro. Eu também te amo!

E nos beijamos, oficialmente como um casal. Nem percebemos quando pegamos no sono!

***

O dia seguinte amanheceu e assim que despertamos, arrumamos a mesa do café e a minha namorada - como é bom falar isto - foi conferir o blog e as redes.

- Está explodindo de comentários, G! - ela comentou - Comentários positivos! Meus leitores e as outras pessoas estão demonstrando apoio. Claro que tem um ou outro hate ali, mas não é mais a maioria. - seus olhos lacrimejavam - Eu estou tão aliviada que fiz isso. Não preciso mais ter medo!

- Isso é excelente. - disse olhando mais de perto - Agora começa uma nova fase do Contemporânea Erótica!

- Uma nova fase que começou lá trás, quando a gente se conheceu. - pegou em minha mão - Obrigada por isso!

- Não agradeça a mim, agradeça as nossas encomendas que foram trocadas.

Nós dois rimos, porque era a mais pura verdade. Toda a nossa - por enquanto breve - história começou por causa de duas caixas trocadas.

- Aliás, quero você como meu fotógrafo oficial a partir de agora. - ela soltou

- Por mim, tudo bem. Desde que me pague!

- Eu sempre paguei tá, seu linguarudo!

- Quer dizer que eu faço parte da equipe do Contemporânea? É um dos requisitos para ser seu namorado?

- Eu diria que é um privilégio!

- Sinto-me honrado em trabalhar com você. - e ri

E agora, naquele dia, uma nova fase de nossas vidas e também uma nova fase para o blog que admiro e acompanho desde o começo.

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