domingo, 30 de outubro de 2022

Universo Fragmentado - 12 Meses com Minorin: Outubro


 

“O novo mundo está entre a razão fria e os milagres

Como eu... te encontrei aqui?

Faz sentido?

(...)

Proteja o paradeiro de uma vida fraca

o significado grita

A pós-imagem brilhante carmesim derreteu no universo

a esperança está caindo

(...)

O futuro influenciado pela suspeita é o carma do passado”


(TERMINATED - Minori Chihara)


***


Duas soldadas do planeta NEO, onde só habitavam mulheres, estavam em uma missão de resgate para uma terceira soldado que estava perdida no planeta Terra há mais de uma semana. Ela desceu com um esquadrão para coletar informações sobre a antiga civilização que foi a origem de todos os humanos espalhados pelo universo, porém, ela se desgarrou quando o grupo foi atacado por um esquadrão do planeta masculino TERMINATED.

A maior parte do planeta era constituída de ruínas, que um dia com certeza foram construções proeminentes, mas agora eram apenas engolidas e se misturavam com a vegetação natural.

Com ajuda de um localizador, elas sabiam em que perímetro procurar. Encontraram uma base e entraram nela. Observaram o lugar e viram que alguém estava usando aquele espaço, talvez fosse quem elas estavam procurando e estavam certas! A soldado Marie abraçou as amigas Pauline e Lorraine. Mas, ela parecia apreensiva com relação a alguma coisa, só que as outras pensaram ser apenas alívio.

- Pegue suas coisas para sairmos daqui, retornarmos a FANTASIA e depois para casa. - disse a mas velha, Lorraine, que era general

Só que não deu tempo de fazer mais nada. Som de passos vieram e diversos soldados homens, trajando o seu traje completo e armados, adentraram, cercaram e renderam as três, que puseram as armas no chão e deixaram as mãos à mostra.

Novamente da porta, apareceram mais dois homens, um dos mais jovens, sem uniforme, que Marie pareceu reconhecer, e outro vestido com um uniforme de alta patente.

- Ora, ora, o que temos aqui?! Você me prometeu uma e são três? Excelente, soldado White.

- Seu traidor! - esbravejou Marie, deixando as outras sem entender nada

- Ela disse que viriam resgatá-la! - respondeu o outro

- Uma pena que as mulheres de NEO tenham tão poucos recursos militares. - e gargalhou - Será ótimo! Nosso doutor vai adorar os três espécimes para estudar sobre as mulheres.

- Seremos reféns? - perguntou Pauline, que era mecânica

- Reféns não, cobaias! - respondeu o líder - Vamos, algemem-nas e vamos retornar à TREASURE e traçar o curso de casa.


***


O grande grupo chegou à nave e as três soldadas foram jogadas numa cela minúscula. Elas oficialmente estavam perdidas e se tornaram reféns dos perversos homens.

- Ah, ótimo! - reclamou a general - Nunca mais veremos NEO outra vez!

- Desculpa! - falou Marie - Não deu tempo de avisar sobre ele.

- Aquele homem? - indagou a mecânica - Ele estava com você naquela base.

- Sim! Nós dois nos perdemos de nossos pelotões e nos juntamos para sobreviver. Só não sabia que ele ia fazer isso.

- Era esperado. Os homens são nossos inimigos, você sabe disso! - comentou Lorraine

- Não tem como virem nos resgatar? - questionou Marie

- Impossível! - falou Pauline - É muito complicado passar por essa armada toda e bem, nós somos só três. Você recruta, eu mecânica…

- E generais também têm aos montes. - interrompeu - Só vão nos substituir!

A mais nova começou a chorar, pois aquela era a sua primeira missão como soldado de NEO e ela já tinha praticamente perdido o seu posto. O que aconteceria com elas a partir dali? Ou até chegarem em TERMINATED? O medo tomou conta dela.

- Ei! Não chore! Estamos aqui para nos ajudar, tá bom? Vamos passar por isso juntas e quem sabe consigamos voltar para casa. - tentou acalmá-la Pauline

- Vamos ver quanto tempo vão nos levar para ver o tal doutor. - riu a mais velha - Com certeza estaremos mortas e dissecadas até amanhã, do jeito que são esses homens.

Lorraine recebeu uma cotovelada repreensiva da mecânica do trio, chamando sua atenção para que parasse de falar para não assustar a mais jovem.

Só depois elas saberiam o que seria feito delas naquele lugar horrível e repleto de homens.

Mais tarde, receberam uma refeição, que para elas foi bastante estranha. Era só uma barra que parecia uma sola de sapato, escura e sem gosto algum.

- É… - disse a general - Realmente somos prisioneiras!

- Isso é horrível! - falou a mais jovem

- E eu quero vomitar. - disse a terceira

Passaram-se alguns minutos e elas foram empurrando aquela coisa para dentro de seus estômagos. Um guarda abriu a porta e as mandou sair, dizendo que era o momento de ver o tal do doutor. Elas caminharam por longos corredores cinzentos até pararem na frente de uma das portas e adentrarem no recinto, que era uma sala ampla e bastante clara, repleta de aparatos médicos, bem parecidos com o que elas conheciam de NEO e suas naves.

- Senhor, trouxe os espécimes femininos! - declarou o guarda

- Ah, obrigado! Pode deixá-las comigo.

- Tem certeza? Elas são soldadas e podem te atacar e fugir.

- E para onde iriam? Já estamos a anos-luz da Terra e da FANTASIA, iriam se perder dentro de uma cápsula espacial. E elas estão desarmadas.

- Se é assim que deseja… Com sua licença!

Assim que o guarda saiu e a porta se fechou, uma faísca saiu de uma das máquinas. Aquilo chamou a atenção justamente da mecânica do grupo.

- Ah, que droga! - o doutor se abaixou na frente da placa do aparelho - Agora pifou de vez!

- Eu posso dar uma olhada? - indagou Pauline

- Pode! Eu já pedi várias vezes para virem consertar, mas dizem que esta área não é importante.

Ela se aproximou e se agachou, observando as luzes vermelhas piscando. Não demorou muito para que ela entendesse qual era o problema.

- Tem ferramentas por aqui?

- Tem numa maleta, logo ali. - apontou um dos armários

Ela foi lá, pegou e retornou. Enquanto isso, as outras duas também chegaram perto para ver. Aproveitando para observar a aparência do médico, que usava uma roupa diferente dos outros homens da nave, talvez por sua posição e tinha cabelo negros um pouco longos, presos num rabo de cavalo e olhos castanhos.

- Essa placa aqui é bastante antiga. - disse enquanto vestia luvas que encontrou e pegou a chave de fenda - É normal que com o tempo os fios internos percam a força ou até arrebentem… E parece ser este o caso. Vou só remendar para dar um jeito, mas precisará trocar o fio.

- Ora, eu agradeço, de verdade. Mecânica não foi das aptidões que desenvolvi, mesmo que muitos digam que eu devia.

- Isso é normal. Cada um de nós tem a área onde faz melhor as coisas. - e sorriu

Pauline tirou os parafusos da placa, abriu o compartimento, usou fita para remendar o fio, depois reposicionou a placa e as luzes que estavam vermelhas ficaram verdes.

- Prontinho!

- Ah, muito obrigado! - coçou a cabeça - Que falta de educação a minha, meu nome é Demetrius Smith.

- É um prazer, sou a Pauline Hubert. E estas são Marie Allaire e Lorraine Delyon.

- Não sei para que as apresentações, ele vai nos abrir em cinco minutos e estaremos mortas nessas macas. - reclamou a mais velha

- Nada disso. - ele protestou - Não vou abrir ninguém. Na verdade, serão minhas cobaias para que eu estude o corpo feminino.

- Como é? - disse a mais jovem - Isso é um absurdo!

- Esperem, meninas. - a mecânica já tinha simpatizado com ele - Como fará isso?

- Bom, farei exames periódicos em vocês, medindo estrutura, vendo como seus corpos funcionam, estas coisas.

- E vocês nunca fizeram isto antes, doutor? - ironizou a general - Com todas as outras que capturaram?

- Olha, sei que nossos povos e planetas são inimigos, mas sei que de alguma forma podemos funcionar juntos… Acabar com tudo isso.

- Foi seu chefe quem mandou dizer isso? - cruzou os braços a recruta

- Não! Esta missão para o Planeta Terra foi para coletar informações sobre nossos antepassados, eles viviam juntos e em harmonia no passado.

- Nossa nave também foi em busca de informação também sobre nosso passado, mas para conhecer mais da cultura antiga. - respondeu Pauline

- Objetivos bem diferentes! - ele observou as três - Mesmo sendo da mesma espécie vocês três são bem diferentes não é?

Ao comentar isso, ele percebeu como as três pareciam uma escada, se for comparar a altura, assim como o formato de seus corpos e as cores de cabelos eram diferentes, sendo que Marie era ruiva com olhos azuis, Pauline tinha cabelos e olhos castanhos escondido por trás de um óculos e Lorraine tinha cabelos escuros e olhos verdes, acompanhados por uma pele mais escura.

- Como é? - a general quase pulou em cima dele, já sem paciência para conversa, as outras duas seguraram

- Preciso que tirem as roupas e vão para o scanner ali ao lado, por favor.

- A roupa toda? - indagou a mecânica

- Não, fiquem de roupa íntima.

- Não, não farei isto! - reclamou a general - Vai saber se tem um laser ali…

- Já confiei em um homem uma vez… Para nunca mais!

- Olha, vocês podem colaborar por bem ou por mal… Posso chamar alguém para sedá-las agora mesmo e fazer o que eu quiser. - jogou o argumento

Meio receosas e com medo de serem apagadas, conforme ele comandou, elas o fizeram. Cada uma passou no scanner e nada aconteceu de mal. Pauline foi a primeira a sair curiosa com o resultado.

- Venham aqui! Vou mostrar a vocês!

As três se aproximaram da tela brilhante que o doutor olhava e viram seus corpos escaneados dos pés à cabeça. Ele tratou de explicar:

- Eu queria ver as semelhanças entre mulheres e homens… - e mostrou um comparativo entre os dois - E são bastantes! Tirando essa parte aqui! - apontou para o baixo ventre - Imagino que seja o sistema reprodutor de vocês. Ele aparenta ser interno, diferente do nosso.

- E como são os de vocês? - indagou a Lorraine, querendo fazer graça - Não existe?!

- Assim! - puxou a foto de um homem nu, para susto das outras duas, mas não de Marie

- Como vocês andam com essa antena no meio das pernas? - questionou a mecânica

- Andando! - ele riu - E como vocês andam com essas duas bolas na frente do corpo? É a mesma coisa!

Ficou um breve segundo de silêncio, antes do doutor falar:

- Podem se vestir. Estão dispensadas por hoje! Vou pedir a um guarda para levá-las de volta.

Logo ele apareceu, Lorraine e Marie saíram primeiro, pois Demetrius chamou a terceira para conversar:

- Obrigado por sua colaboração hoje, Pauline.

- Não há de quê! - ela sorriu - Na verdade, estou fazendo isso para que minha estadia na TREASURE não seja horrível.

- É, faz um bocado de sentido. Mas nós homens não somos os monstros que vocês pensam que somos.

- E nem nós mulheres o somos, Demetrius.

Ela ia partir, mas ele tinha mais uma pergunta:

- Só por curiosidade: Como vocês se reproduzem? Como nascem novas mulheres?

- Em resumo: Nós unimos a nossa semente com a de outra mulher e uma carrega o bebê até nascer.

- Interessante. Eu queria ver isso!


***


As três retornaram à cela e resolveram conversar sobre o que acontecera.

- Então, acho que nós não vamos morrer. - falou Pauline

- Eu preferia que me matassem logo, assim ficava menos tempo neste lugar. - reclamou Lorraine

- Concordo com você. - disse Marie

- Meninas, foi tão ruim assim? De verdade?

- Por que você está do lado dele? - a mais jovem acusou

- Eu não estou do lado de ninguém. Mas, pensem um pouco, se a gente participar desse experimento/pesquisa pode ser que deixemos de ser prisioneiras.

- E quem garante? - a general protestou

- Ninguém! Mas não custa tentar, afinal, o pior que pode acontecer é nós morrermos e meio que vocês duas já estão contando com isso.

- Olha, - Lorraine cruzou os braços - você me convenceu!

- Se pelo menos recebêssemos uma comida melhor… - murmurou Marie

- Quem sabe com a situação melhor eles não nos deem algo mais tragável!

- Mas, vamos combinar uma coisa? Uma promessa? - levantou a recruta

- Que seria? - a general respondeu

- Nós vamos proteger umas às outras, não importa o que aconteça.

- Eu prometo! - disseram as outras duas em uníssono

Assim, aquela longa estadia das três mulheres na TREASURE se iniciou e as levaria a caminhos que nem elas mesmas nem podiam imaginar.


***


Algumas semanas se passaram e as três continuavam todos os dias visitando a sala do doutor, onde ele realizava exames e mais exames nelas. Alguns apenas de observação, outros com agulhas e outros usando os aparelhos presentes na sala.

E a colaboração delas lhes deu algumas pequenas liberdades. Elas ainda ficavam na cela durante o período de repouso da nave, mas podiam circular livremente durante o dia, já que eles usavam um horário semelhante ao do planeta na nave.

Demetrius ficou bastante interessado no sistema reprodutor das mulheres, tanto que o ele monitorava com aquilo tudo era justamente as mudanças dos ciclos delas. Além das cobaias em si, ele usava o material que foi colhido na missão, trazendo bastantes informações sobre esta parte do funcionamento do corpo feminino.

Pelo o quê o doutor tinha aprendido, as mulheres tinham um sangramento característico uma vez ao mês, pelo menos. Lorraine e Pauline, nesse meio tempo, tiveram um destes. Mas, o corpo de Marie ainda não dava indícios de que isto ia acontecer.

As mulheres achavam que era apenas um atraso por conta de todo o estresse que as três estavam vivendo nas últimas semanas, justificando desta forma para o médico. Já que apenas uma semente de outra mulher, num procedimento bastante complexo feito em NEO, podia engravidá-la, ou era o que elas pensavam…

- Isso é bastante estranho. - declarou o doutor - Eu preciso examiná-la por dentro, para saber que está tudo bem.

- Não é necessário! - protestou a jovem - Logo ela vem!

- Está atrasado há mais de 15 dias. Preciso mesmo que deite na maca. Vou pegar o aparelho! - ele falou firme

- Mas… Mas… - ela ia chorar

- Calma, Marie. Vai dar tudo certo! - consolou Pauline

Ela se alojou no espaço e segurou na mão das amigas.

- Só tire a parte de baixo da roupa. - disse colocando um pano cobrindo sua barriga e suas pernas. - Para ficar um pouco mais confortável.

- Onde você vai colocar isso?

- Exatamente onde está pensando. Se doer, me avise.

Ele pegou um aparelho que se parecia com um bastão e colocou dentro dela, imediatamente, a tela diante dele se acendeu, porém virada apenas para sua direção. Ele passou pela parte interna até chegar ao útero de Marie. O doutor não entendia nada do que via.

- Que esquisito! Tem um amontoado de células aqui, presas nessa parede vermelha. O que será isso? Um parasita?

- Deixa a gente ver, rapaz! - se prontificou a general, sendo acompanhada da outra

Elas observaram a tela por um tempo, tentando decifrar o que o médico tinha visto, o que seria o amontoado de células. Ele aprontou onde viu, ao ver suas caretas confusas. Então, Pauline falou:

- Não é um parasita! Marie está grávida!

- Como é? - a mais jovem se chocou - Isso é impossível!

- É tão possível que está aqui! - completou Lorraine - Meus parabéns, querida recruta! Você vai ter um bebê!

- Ah, é um bebê então? - ele coçou a cabeça - Isso vai ser bastante interessante de acompanhar!

- Mas ela vai precisar de cuidados, de repouso, de vitaminas, se alimentar bem. - soltou a mecânica numa indireta

-  E eu tenho que informar ao capitão da nave sobre isto. E pedir instalações melhores para vocês. Bom, agora nós temos a resposta ao seu atraso… Vou estudar sobre isso no que encontramos na missão, para tentar aprender e lhe ajudar no que for necessário.

- Pode chorar, Marie. - a general falou abraçando-a e depois sussurrou - A gente conversa melhor no quarto.

- Pode se vestir novamente… - disse tocando no ombro dela, tentando reconfortar de alguma forma - E estão dispensadas!

Lorraine foi auxiliar a mais jovem, enquanto Pauline foi conversar com o médico, como ela fazia em alguns dias.

- Você pareceu bastante assustado com a notícia, Demetrius!

- Não é isso! É só que eu nunca vi algo tão incrível assim, Pauline.

- O corpo humano é uma máquina incrível, não é?

- Assim como as máquinas que você conserta. - ele sorriu

Os dois tinham se aproximado um pouco nas últimas semanas, ainda mais porque o doutor sempre precisava de uma manutenção em algumas das máquinas, porque ainda havia a desculpa dada pelo capitão sobre a negligência dos consertos.

- Só por curiosidade: Como vocês homens se reproduzem?

- Nós fazemos uma técnica de clonagem, unindo dois DNAs, metade de cada, diferentes. Ai colocamos numa incubadora e as células vão se multiplicando e formando o novo corpo, mas o que sai já é uma criança, não um bebê.

- Sério que você nunca viu um bebê?

- Não!

- Vai descobrir a coisa mais fofinha do mundo. Pode apostar! - sorriu

Ela se despediu dele, deixando Demetrius com diversos pensamentos, acerca do que aconteceu naquele dia e também sobre a mecânica. E qual não seria o choque da nave inteira ao saber que uma das cobaias femininas carregava um bebê dentro de si.

Pauline caminhou até a cela e lá se encontrou com as outras duas. A mais jovem chorando, em desespero, enquanto a outra tentava fazê-la se acalmar. Chegou e se juntou a elas, lançando:

- Marie, conte o que aconteceu, por favor. A porta está fechada e ninguém pode nos ouvir.

- É, como você acabou grávida? Você não fez o procedimento não é? - Lorraine perguntou

Ela apenas mexeu a cabeça, sinalizando o não.

- Segundos meus pequenos cálculos, você teria que estar de bem mais tempo… Porque seria antes da missão. Como isso aconteceu? - Pauline também queria saber

- É uma história longa… Posso contar? - falou entre soluços

- Pode e deve! - responderam juntas as outras duas


***


Algumas semanas antes


O pelotão feminino entrou em atrito com o masculino, pois ambos se encontraram durante suas missões ao planeta Terra. Nervosa e com medo, Marie correu dos tiros e se perdeu de seu grupo, indo parar numa antiga base. Ela ficou um tempo ali, recuperando a respiração, segurando sua pistola, para se defender de quem se aproximasse.

Ela ouviu passos e imediatamente se levantou com armas em punho, encontrando com outro ser bípede, mas que trajava um capacete, mas não era o do exército feminino.

- Calma! - ele disse com as mãos próximas à cabeça - Eu estou sem mais tiros, não vou te machucar.

Ela manteve a arma em punho, ainda como uma ameaça. Ele tirou o capacete, finalmente revelando seu rosto, que não era nada do que ele ouvira falar sobre a outra espécie, colocando-o sob o primeiro apoio empoeirado que achou. Ele tinha um cabelo loiro e olhos castanhos, traços bem comuns em seu planeta. Ainda com as mãos levantadas, deu pequenos  passos em direção a Marie. Pegou a pistola de sua mão e também encontrou um apoio qualquer para tal. Depois, disse:

- Eu me perdi do meu pelotão. Você também? 

Ela apenas assentiu, ainda sem reação, pois ela sentira uma coisa estranha quando os olhares deles se cruzaram.

- Eu sou Cameron. E você? - perguntou a ela

- Sou Marie.

- Vamos fazer um acordo?

- De que tipo?

- Não iremos sobreviver neste planeta inóspito sozinhos, então podemos nos aliar até que venham nos resgatar. E ai?

- Não se esqueça que eu tenho os tiros.

- E posso muito bem roubá-los de você. 


Algumas dias depois


A dupla conseguiu se entender e convivia bem dentro daquela base. Ambos estavam quebrando e desconstruindo estereótipos acerca da espécie oposta, construindo uma relação amigável.

Além de explorarem o planeta, com uma fauna e flora que só viram em seus arquivos, também pesquisaram dentro daquele local, encontrando diversas coisas sobre a antiga civilização humana, desde a sua origem, passando por eras de castelos e reis; eras de navios e outros povos; eras dos carros e cidades grandes; eras das naves e de quando a população deixou o planeta para trás.

Logo após o jantar, os dois resolveram ver de que maneira aquela população se reproduzia e que foi boa parte do motivo de conseguir se espalhar pelo universo, com certeza. E foi aí que eles tomaram um susto, pois se depararam com algo que para eles não fazia o mínimo de sentido. Viram imagens de pessoas da espécie masculina e feminina cruzando iguais verdadeiros animais. O acervo era muito grande e eles não sabiam se aquelas imagens eram reais ou não… Talvez fossem de filmes ou qualquer outra coisa. Porém, uma curiosidade foi despertada e ambos ficaram horas a fio no arquivo, apenas saltando para um ou outro, uns mais explícitos, outros mais dramáticos.

Toda aquela experiência despertou alguma coisa esquisita em ambos.


Mais alguns dias depois


Depois da experiência esquisita dos vídeos, o clima dentro da base ficara diferente. Marie se pegava olhando para o outro quando ele estava sem camisa; já Cameron se pegava olhando para ela quando ela usava uma roupa mais curta.

Ainda naquela noite, após o jantar de novo, eles acabaram se esbarrando num dos corredores apertados no lugar e acabaram ficando próximos demais. Se olharam nos olhos e, como numa das cenas que viram dias antes, acabou acontecendo um beijo. Com certeza, esse comportamento seria completamente inapropriado em seus planetas, porém eles estavam sozinhos ali e isso não importava. Eles se atracaram com bastante vontade e foram para a cama mais próxima, praticamente repetindo o que viram e sentindo coisas que nunca sentiram antes. As carícias aumentavam e as peças de roupa iam saindo. O suor escorria por seus corpos e os sons aumentavam. Apesar de nunca terem feito isto com a espécie oposta, eles sabiam exatamente como agir e fazer, talvez porque não fosse realmente muito diferente de fazer com alguém da mesma espécie que eles.

Por alguns minutos, não se sabia onde começava um e onde terminava o outro. Apenas a luz baixa, vindo de uma das luzes do corredor iluminava o quarto, quando Marie e Cameron atingiram o ápice daquilo que para eles era desconhecido até aquele instante. E sem dúvidas, iam querer sentir aquilo de novo, de novo e de novo, porque era uma coisa maravilhosa!


***


- Espera aí! Você fez com ele? - Pauline se chocou

- Como isso é possível? Anatomicamente falando. - Lorraine falou - Como ele colocou este bebê aí dentro?

- Também não sei. Eu não queria! - e chorou - O que vamos falar para o doutor?

- Não vamos falar nada. Ele não precisa saber! - a general declarou

- Lembra da nossa promessa né? - a mecânica complementou - Vamos te proteger e apoiar.

- Então, eu quero falar com este soldado. Preciso contar o que está acontecendo. - declarou a jovem

- Tem realmente necessidade? - Lorraine novamente

- É o que quero fazer!

As duas apenas assentiram, concordando. A vontade das duas era realmente questionar o porquê dela ter se deixado levar e feito algo tão antinatural como fazer isso com a espécie oposta. Em seus mundos era estritamente proibida a relação com os homens, por todas as razões que elas já conheciam, sendo uma delas: eles tinham espinhos naquele lugar. Casais e famílias apenas com mulheres era algo normal e comum, agora homens e mulheres fazendo isto e sendo família? Ai não!

E com a espécie masculina era exatamente a mesma coisa, nada de se relacionar com mulheres, só que eles acreditavam que elas traziam diversas doenças que eram letais. Então, o conceito de “masculinidade” para eles era ser um grande soldado ou ter uma boa profissão e constituir família com um outro de sua confiança, trazendo novos homens com as melhores características dos dois.

- Tudo bem, vamos procurá-lo amanhã. - a general respondeu

- E vamos ver qual vai ser o resultado do médico ao conversar com o capitão. - Pauline levantou - Acho que pode piorar e muito nossa situação aqui nesta nave.

- Certeza que quando a sua barriga começar a aparecer, todos virão ver. - Lorraine falou

- Ou é capaz de, se descobrirem que foi um homem que fez isso, nós três chegarmos em TERMINATED grávidas. - a mecânica supôs

- Tem razão! - a general coçou o queixo - Já ouvi falar que a reprodução dos homens tem uma taxa baixa de sucesso, por isso tentam buscar uma forma alternativa.

- Só espero que não sejam com as mulheres incubadoras. - a mais jovem falou


***


O doutor Demetrius reuniu as todas as pequenas evidências da sua pesquisa e o exame que fez em Marie também, tudo para levar ao capitão e contar sobre a descoberta.

Ele entrou na central de controle da nave e viu todos os operadores em suas posições, enquanto o piloto e o capitão conversavam sobre alguma coisa. O médico chamou o comandante que só faltou bufar ao vê-lo e ele já se anteviu, dizendo:

- Smith, já disse que não tem como fazer melhorias no seu setor e como já te disse, os consertos pós-batalha contra as soldados de NEO ainda estão tomando o tempo de nossos mecânicos.

- Já estou ciente, Capitão Hughes. Inclusive, não preciso mais de reparos, todos os necessários já foram feitos.

- Ora, que ótimo! - se meteu o piloto - Finalmente aprendeu!

- Não! Quem consertou foi a Pauline.

- Quem é essa? - o capitão fez careta

- É uma das cobaias femininas, Capitão. - respondeu um auxiliar

- Quem diria… - ironizou o piloto

- Não é sobre isto que vim lhe falar. - Demetrius logo cortou, antes de surgir algum comentário

- Então desembucha logo! Não tenho todo o tempo da galáxia.

- A Marie, outra cobaia, está grávida! Em resumo, ela vai ter um bebê.

- Como é? - em uníssono de todos no recinto

- Como eu explico? - ele pensou alto - Bom, o sistema de reprodução das mulheres é que elas juntam sua semente com a de outra mulher e uma delas gera a criança, que nasce bem pequena, que elas chamam de bebê.

- E ela já chegou em nossa nave assim? - o capitão se animou

- Sim, senhor! Mas leva um tempo para o corpo mostrar.

- Obrigado, Smith. Vou informar a TERMINATED sobre sua descoberta. Monitore-as ainda mais e descubra se de alguma forma nós podemos aproveitar desse sistema reprodutor delas.

- Claro, Capitão. Farei todas as anotações necessárias! Mas, preciso pedir algumas coisas com relação a isto também.

- Agora pode ir, Smith! - dispensou o doutor - Mas que notícia boa no meio desse mar de porcarias.

Demetrius saiu da sala de comando e retornou a sua cabine, ficando bastante pensativo sobre o que ocorrera em seu dia. Sua curiosidade sempre fora vista como um problema por todos os outros de TERMINATED. Uma de suas vontades sempre foi estudar como o corpo humano funcionava, não só a espécie masculina, mas a feminina também. Ele sabia, ainda no começo de seus estudos para seguir na profissão, que o sistema de reprodução de seu mundo, apesar de ser incrível, ainda era muito falho e com o tempo a baixa taxa de natalidade seria um grande problema, se comparar com o do planeta rival. E isso já estava acontecendo, era só ver a quantidade de soldados mulheres que eles enfrentaram no planeta Terra. E o médico sabia muito bem que a resposta estava justamente naquelas criaturas ou naqueles monstros - como eles acreditavam - que tinham outro jeito de se reproduzir.

Agora com uma de suas cobaias grávida, ficaria bem mais fácil para descobrir o que acontecia com seus corpos e de que forma ele poderia reverter aquilo em favor de sua espécie.

Ele adormeceu pensando em seus futuros planos.


***


No dia seguinte, as três mulheres foram se encontrar com o doutor, que já veio com todas as recomendações para a nova gestante, que já estava com alguns de seus sintomas característicos. Cumprimentou rapidamente todas e logo perguntou:

- O que ela tem?

- Enjoo matinal. - Pauline falou colocando-a sentada numa cadeira dali

- Ah, sim, eu vi isto em minhas pesquisas. Com o passar do primeiro trimestre estes sintomas vão passar.

- Nós já sabemos. - Lorraine foi grossa - E os nossos pedidos? Conseguiu algum?

- Bom… O capitão me enxotou assim que contei a notícia.

- Enquanto isto ficamos com uma grávida dormindo no chão frio e comendo comida de barata. - a mecânica entrou no protesto

Marie não tinha nem forças para falar, ela estava se concentrando em não vomitar.

Demetrius ficou sem o que responder, até que todos na sala foram surpreendidos pelo Capitão aparecer atravessando a porta.

- Bom dia a todos! Então, Smith, cadê a nossa grávida?

Ele cumprimentou e apenas apontou a jovem sentada na cadeira, que o olhou com uma cara péssima, mas não era por causa dele.

- Ah, droga. Ela vai vomitar. - disse Pauline já puxando a mais nova direto para o banheiro, sendo seguida pela general

- Achei que ela fosse estar radiante, afinal é uma nova vida que gera. - falou o capitão animado

- Gerar um bebê, segundo o que li, senhor, exige muito do corpo, ainda mais no início. São muitas mudanças, principalmente hormonais.

- E em quanto tempo teremos este bebê?

- Cerca de alguns meses… Nove, para ser exato!

- A TREASURE vai estar quase chegando em nosso planeta.

- Capitão, - a general apareceu e falou - posso lhe pedir algumas coisas?

- E você quem é?

- Sou Lorraine Delyon, uma das cobaias. Na verdade, os meus pedidos são por conta do estado de nossa amiga.

- E o que você quer? Já tem muitas regalias para prisioneiras.

- Como o doutor já lhe disse, gerar um bebê é uma coisa bastante difícil e complexa. Nossa amiga, para que esta criança nasça saudável, precisa ser bem cuidada. Precisa se alimentar bem, não dessa coisa que vocês chamam de comida… Precisa de um bom lugar para dormir, ainda mais porque quando a barriga dela ficar maior, vai ter muitas dores na coluna. Quanto ao acompanhamento do doutor, acho que será bastante satisfatório!

- Seja lá o que for que querem conosco, - a mecânica retornou com a outra - envolve este bebê e ele e sua mãe precisam ser bem cuidados.

- E em troca de quê fariam isto? - o capitão já pensou em algo - Não posso lhes dar um quarto mais confortável e comida melhor se não trabalharem para tal.

- Nós duas trabalhamos aqui na TREASURE. - Lorraine falou, olhando para a outra que concordou

- Capitão Hughes, elas são minhas cobaias. - reclamou Demetrius

- E continuarão sendo. Mais tarde, peço que vão aos setores de suas especialidades para saber o que fazer. Vou providenciar um quarto melhor para vocês. Quanto a comida… Bom, vocês podem cozinhar com o que temos na despensa, já que nunca usamos.

- Ótimo então! Façamos assim então! - a general desafiou

- Foi um prazer conhecê-las e espero que a amiga de vocês esteja de melhor humor para quando vier da próxima vez.

O capitão saiu do recinto, deixando as três revoltadas.

- Meninas, não precisavam fazer isto por mim. - Marie agradeceu

- Lembra da nossa promessa né? - Pauline retrucou

- Perdoem-me por isso. - o médico discursou

- Está tudo bem, rapaz. - a general tentou animá-lo - Não temos medo de trabalho.

- Aliás, não aguentava passear mais na nave sem nada para fazer.

Ele sorriu, era engraçado ver que com o pouco tempo de convívio, eles já se davam bem.

Após aquilo, tudo correu normalmente. Demetrius fez exames nas três, passou os remédios para a gestante e dispensou-as. Na saída, elas já tinham um objetivo: Ir atrás do tal soldado para que a Marie pudesse contar a verdade.

E era a pequena hora de descanso de todos os presentes na nave, antes de retornar para o segundo turno do dia, então a maioria estaria no saguão principal, a parte mais extensa da nave e que dava visão para todo o espaço pela área transparente bem a frente.

As três caminharam até lá, percebendo a algazarra que aquela espécie fazia. Porém, quando elas surgiram, o recinto ficou em silêncio. Todos eles se perguntaram o que aquelas três mulheres faziam ali. A quietude se manteve por um tempo, com a mais jovem fazendo uma varredura procurando alguém e encontrou-o. Se dirigiu a ela, acompanhada das duas amigas e todas sendo observadas. A história da gravidez e do bebê já estava circulando pelos corredores, mas eles não sabiam qual das três estava e àquela altura ainda não dava para perceber.

Cameron White, que foi o soldado que passou alguns dias na companhia de Marie na Terra se assustou quando viu que o grupo se aproximava. Ele ficou sem graça, por conta dos que os colegas em volta poderiam falar, porque ele mal tinha se recuperado dos comentários de quando retornou da Terra.

- Preciso falar com você! - ela foi incisiva

- Sobre o quê?

- Prefiro conversar num lugar mais reservado.

- Tudo bem! - ele olhou para as outras duas - Suas amigas vão?

- Sim!

Então foram para um local mais afastado e ao canto para que pudessem conversar.

- O que é tão importante?

- Já deve estar circulando pela nave a história de que uma das mulheres está grávida.

- Ah, sim, o pessoal comentou mais cedo.

- Então, sou eu! E tem mais uma coisa: - ela baixou o tom - Você colocou esse bebê aqui.

- Você está é louca! - ele esbravejou

- Estou falando a verdade.

- Quem não garante que você saiu do seu planeta assim?!

- Vem, Marie, vamos embora! - pediu Pauline tocando em seu ombro

- Ele não vai entender. - disse Lorraine

As três tomaram o caminho de volta para seu quarto/cela, esperando que em breve não precisassem mais dormir ali.

Mais tarde, a mecânica e a general assumiram seus novos postos como tripulantes da TREASURE. A general se tornou uma simples guarda da nave e a mecânica recebeu os serviços de conserto que ninguém queria.

E assim, a viagem para TERMINATED foi se seguindo, em poucos dias, as duas já estavam mais do que adaptadas em suas novas funções. Receberam um quarto novo, com camas decentes e um espaço confortável para as três e finalmente puderam comer uma comida de verdade, pois a nave mantinha um estoque de comida real, mas eram apenas para quando os soldados ficassem doentes e precisassem de algo mais natural. Fora isto, eles comiam aquela barra de proteína horrível! Camas e comida eram exatamente o que elas queriam.


***


Alguns meses depois


Demetrius estava em sua enfermaria, observando os arquivos dos antepassados humanos e comparando com as anotações que tinha sobre suas três cobaias, especialmente a que estava gerando um bebê. Ele estava bastante animado e empolgado em descobrir como acontece esta coisa incrível que o corpo feminino pode fazer: ser uma casa para outro.

Então, as três cobaias chegaram para os exames daquele dia. E a barriga de Marie parecia cada semana maior e ele não fazia ideia de quando aquele bebê finalmente ia se separar da mãe.

Os exames das duas primeiras foram coisas bem rápidas e rotineiras, já que seus corpos com os ciclos normais não apresentavam mais tantas diferenças, pois já havia observado aquilo.

Deixando o melhor para o final, ele pediu que Marie se deixasse na maca e usou o aparelho para olhar o neném. Toda semana ele acompanhava o crescimento dele. Ainda com base nos documentos encontrados, via que se estava tudo certo e se o bebê continuava crescendo bem e saudável.

- Vamos agora ouvir o coração. - e um ruído ecoou bem alto dentro da sala - Forte como sempre!

- Uma garota bem forte que temos aqui. - sorriu Lorraine

- Epa, espera aí! - o doutor vira alguma coisa - O que isto aqui?

- O quê? - Pauline se aproximou da tela

- Aqui, entre as duas pernas. - ele apontou

- Parece uma antena… Igual a que um homem tem!

- E o que isso significa? - a mãe perguntou

- Deixa eu olhar nos meus arquivos. - ele digitou rapidamente e logo achou - Acho que seu bebê é um menino e não uma menina como pensávamos.

- Mas isso é impossível. Nós só podemos gerar outra mulher. - a general falou

- Ao que parece, podem gerar um homem também. Ainda não tenho uma explicação para tal, mas irei descobrir.

- E bem, está tudo bem como ele? - perguntou Marie

- Está sim! - ele sorriu e vendo a cara de preocupação dela respondeu - Fique calma, pelas minhas pesquisas, independente do sexo do neném vai seguir tudo normal. No mais, estão dispensadas.

- Esse bebê só nos dá sustos. - riu Lorraine - Vou para meu turno agora.

- E eu vou me arrumar para preparar o nosso almoço. - disse a outra, descendo da maca

- E bem, eu tenho que fazer algumas manutenções por aqui.

- Então terei companhia. - ele sorriu

As outras duas se despediram, deixando a mecânica e o médico sozinhos. Ela começou a olhar as máquinas e ver se elas precisavam de alguma arrumação, enquanto o doutor ficou com a cara enfiada em suas anotações. Depois de algum tempo que Pauline puxou assunto:

- Vai informar ao capitão que o bebê é menino?

- Eu preciso informar! Ele reporta tudo para a base em TERMINATED.

- É uma notícia e tanto. - ela abaixou para olhar embaixo de uma máquina - E nós mulheres estamos ferradas com isso!

- Por que? Não entendi!

- Quanto tempo para começar outra guerra e os homens transformarem as mulheres em meras incubadoras? - levantou-se

- Mas meu objetivo não é este!

- Eu sei que não, mas quem está acima de você vai ver isso como uma oportunidade e tanto. - ela pegou uma ferramenta e continuou - Que mal lhe pergunte: qual foi o último bebê homem que nasceu?

- Eu nem faço ideia. Deixa eu ver aqui. - pesquisou no computador - Caramba! Nunca houve um na história do meu planeta.

- Por essa não esperava. Imaginei que houvesse um ou outro durante a colonização.

- Não, eram todos no mínimo adolescentes.

- Em NEO o que mais tem são mulheres tendo bebês.

- Por isso a população de vocês cresce tanto. Nosso jeito de reproduzir é muito complexo e pouco efetivo.

- Por isso que uma mulher vai ser a incubadora perfeita.

- Vou descobrir um jeito de fazer sem que precise de uma mulher carregar a criança.

Ela se aproximou dele, já tinha acabado do serviço e foi ver o que ele tanto olhava na sua tela.

- Pesquisando ainda?

- Sim!

- Você nunca sai daqui, Demetrius?

- Só para dormir e comer. Estou focado nas minhas cobaias e a pesquisa.

- Preciso relaxar um pouco, só trabalho vai te desgastar.

- E fazer o quê? Ninguém daqui interage comigo, Pauline.

- Justamente porque você não sai. E bem, você fala comigo e com as meninas. Já é alguma coisa. Vem jantar conosco hoje, comer uma comida decente.

- Agradeço o convite, mas não! Preciso descobrir o porquê ela está carregando um menino e não uma menina. Isso é bastante estranho!

Sem falar nada, ela tocou em seu pulso, puxando-o para fora da cadeira. O toque dela fez com ele sentisse um arrepio pelo corpo. Ela estava bem próxima dele e ele simplesmente congelou. Os rostos ficaram bem perto um do outro, ele sentiu a respiração dela em sua face. Seu coração falhou uma batida, justamente por conta de coisas que ele andava pensando.

- Ei, tá tudo bem? - ela perguntou, preocupada

- Está sim! - ele sorriu, sem graça

- Tá vendo? Precisa mesmo descansar.

- Tudo bem! Vou fazer o que disse, vou jantar com vocês hoje.

- Oba, que ótimo! - ela pulou de alegria - Então você vai me ajudar a preparar, porque hoje na escala sou eu quem tem que cozinhar. E eu sou meio desastrada para isso, então uma ajudante vai servir.

- Que horas e onde te encontro?

- Pode me encontrar na cozinha, pouco depois que todos pararem seus turnos. - ela pegou a sua maleta de ferramentas - Agora eu tenho que ir para outro setor, bem escuro, sujo e que só uma mulher pode consertar. Até mais tarde!

E Pauline fez uma coisa bastante inocente ao seu ver, mas que deixou a outra parte desnorteada. Ela simplesmente deu um beijo em seu rosto, fazendo-o ficar de novo sem reação.

Não eram os primeiros toques que as três mulheres lhe davam, mas com a mecânica ele sentia uma coisa diferente e que ele não sabia explicar. Coisas que os abraços e apertos de mãos das outras duas não lhe afetam.

Ele queria também descobrir uma explicação para isto!


***


Mais tarde, no horário combinado, Demetrius estava aguardando no local marcado. Não demorou muito para que a Pauline aparecesse, usando uma roupa mais leve, já que tecnicamente ela estava fora do horário de trabalho.

- Oi, Demetrius. Eu demorei?

- Na verdade não. Acabei de chegar!

- Vamos então! - puxou-o para dentro da minúscula cozinha da nave

- Caramba, acho que eu nunca entrei aqui.

- Isso porque eu e as meninas demos um jeitinho, mas este lugar estava imundo. Ninguém usava né?

- E tem mesmo comida aqui? - perguntou observando os armários

- Tem para viajarmos para NEO e voltar. - ela riu - Se só nós três comermos. Se fosse uma nave de mulheres, essa comida não duraria metade da viagem e teríamos que reabastecer.

Ele abriu um dos armários e viu o quanto estava recheado de comidas em conversa. Todas mantidas em temperaturas bastante baixas para durar anos se precisasse. O que era o suficiente para alimentar todos os tripulantes daquela nave por um tempo, mas eles preferiam a barra processada e compensada, para não gastarem muito tempo em refeições.

A mecânica se aproximou de onde estava, olhou por um tempo e encontrou o que queria e pediu ajuda dele para colocar as coisas na bancada.

- Como vai descongelar isso tudo a tempo? - ele indagou curioso

- Fácil! Bem aqui! - apontou para uma máquina - Um descongelador que deixa a comida com aspecto fresco em poucos segundos. Aí, teremos todos os ingredientes para usar.

- E o que vai preparar? Estou curioso!

- Uma carne com um molho, que encontrei num dos arquivos de receitas. - puxou uma mini tela e mostrou - Receita dos nossos antepassados!

- Interessante. Como faremos?

- Você nunca fez uma receita antes?

- Não, nós só comemos as barras mesmo. E raramente alguém fica doente em nosso planeta, então a comida fica guardada e depois se tornam mais barras.

- Quando você comer comida de verdade, não vai querer outra coisa. Vai ver! Basta seguirmos os passos daqui e vai dar tudo certo.

Pauline e Demetrius ficaram um bom tempo seguindo o passo a passo da receita e se divertindo bastante com isto. O doutor finalmente estava experimentando novas sensações, como o cheiro da comida e vendo como eram ingredientes naturais. Em certo momento, uma parte do molho espirrou no rosto da outra e imediatamente, Demetrius foi limpá-la, tocando levemente em sua face. Ela parou e ficou olhando nos olhos dele. Ela também estava sentindo coisas que não sabia explicar, também sentia aquele toque, da mesma forma que ele sentiu o dela mais cedo no laboratório.

Porém, os dois foram interrompidos pelas outras duas que chegaram para a refeição. A mais velha notou que estava rolando alguma coisa, mas preferiu deixar quieto. Quem sabe ela conversaria sobre o assunto com a mecânica mais tarde.

- Parece que tem um convidado para o jantar. - comentou Marie

- Ah, eu o chamei para nos fazer companhia. Ele sempre fica tão sozinho na sala dele.

- Já está tudo pronto? - indagou Lorraine

- Sim! Vamos sentar à mesa e nos servir. - Pauline respondeu

Num conjunto em grupo, uma colocou uma toalha na mesa, outra colocou os pratos, talheres e copos; a última trouxe a comida para o centro da mesa. O doutor observava bastante curioso a cena, indiretamente era um dado para sua pesquisa, dessa vez sobre os hábitos da espécie oposta. Ao sentar no lugar destinado à ele, desabafou:

- Acho que é a primeira vez que me alimento assim.

- A comida em NEO não é só para nos manter vivas, é um momento prazeroso, em que nos reunimos para relaxar e conversar. - disse a mais velha

- Para nós em TERMINATED, comer é só parte do processo.

Ele se serviu e finalmente colocou o primeiro pedaço da refeição na boca, sentindo uma explosão de sabores e sensações, por conta dos temperos e das texturas presentes.

- E ai? - Pauline indagou - Gostou?

- É maravilhoso! Como eu vivi tanto tempo sem isto?

- Acho que agora temos oficialmente a quarta pessoa à nossa mesa. - Marie soltou

Todas as três riram e a fome era tanta que tudo seguiu em silêncio até que acabassem de comer. Então, a mais jovem puxou um assunto:

- Doutor, já contou ao capitão sobre hoje? - levantou a general

- Não tive tempo ainda, devo fazê-lo amanhã. Por quê? Algum problema?

- Na verdade, eu queria lhe confessar uma coisa. - imediatamente as mãos das duas tocaram na dela, demonstrando apoio - Este bebê que carrego foi gerado enquanto eu estava na Terra.

- O que isso quer dizer? Não entendi!

- Bom, quem colocou ele dentro de mim foi o soldado Cameron, que passou aquela semana comigo na Terra.

- A senhorita tem certeza disso? E porque não me falou antes?

- Eu tenho, só não contei antes por medo de que talvez não acreditasse em mim.

- Então, é por isso que o bebê é menino… Faz bastante sentido! Vocês fizeram? Se não for abuso perguntar, é claro.

- Sim! - ela falou cabisbaixa

- Eu li em minhas pesquisas dos arquivos dos nossos antepassados que os homens e mulheres cruzavam para poderem se reproduzir. E nasciam meninos e meninas, mas tenho que ver o que fazia isto acontecer. Cientificamente falando.

- Vai contar ao capitão sobre este detalhe? - indagou a mais velha

- Tenho que contar tudo a ele. É parte do meu trabalho!

- Mas aí, vão saber que eu fiz isso com um homem.

- Tudo bem. Eu não falarei sobre este detalhe.

- Obrigada!

O resto da refeição se seguiu num longo e tenso silêncio, pois o assunto de ser cobaia e depois do bebê sempre deixava as três muito apreensivas. Lorraine e Marie ficaram para arrumar tudo, enquanto Pauline e Demetrius decidiram sentar para conversar no saguão principal, que àquela hora estaria vazio.

Sentaram em um dos bancos dali e ficaram observando as estrelas e tudo o mais pela parte transparente. Apesar de suas espécies viverem viajando pelo espaço, ainda era impressionante o tamanho e imensidão dele.

- É incrível pensar que todos os humanos saíram de um planeta minúsculo como a Terra. - ela falou

- E se espalharam pelo universo inteiro. Só queria entender em que momento a gente se dividiu.

- Talvez tenha em algum registro do que encontraram, se bem que isso nem deve importar mais. - ela olhou para cima - Ansioso por saber como a sua nova descoberta repercute em TERMINATED?

- Confesso que sim, mas por outro lado fico sentido pela Marie.

- Ela tomou muita coragem para te contar a verdade.

- Acho engraçado que ela e o outro soldado…

- Disse ela para mim que foi atração! Bom, eu não sei o quê é sentir isso, nunca senti por ninguém!

- Nem eu muito menos! Sempre fiquei pensando que havia algo de errado comigo.

- Eu também! - ela riu - Até tentei me relacionar com outras mulheres, mas nunca houve a faísca que descrevem.

E naquele instante, suas mãos se tocaram levemente, mas não houve arrepio e nem nada constrangedor. Talvez eles nem tivessem percebido o toque, mas o conforto que todo aquele diálogo causara já era o suficiente para responder muitas coisas.


***


No dia seguinte, assim que conseguiu, o doutor foi contar ao Capitão Hughes sobre a descoberta do sexo do bebê. Notícia esta que deixou praticamente a nave inteira animada, pois poderia ser finalmente a solução para séculos de uma taxa de natalidade bem baixa. Demetrius manteve a verdade em segredo, conforme prometeu a jovem Marie. Apenas afirmou que ainda estava pesquisando para saber o porquê do bebê ser masculino e não feminino como eles pensavam, o que em parte era verdade.

Aquele virou o assunto da tripulação durante o dia inteiro, fosse apenas de felicidade ou até de especulação para todas as possibilidades. A barriga já protuberante de Marie ainda era mais chamativa aos olhos, principalmente depois da descoberta. Antes, ela era só um bicho estranho que estava carregando um bebê que crescia dentro dela. Agora ela carregava o futuro da espécie masculina, com todas as respostas para muitas coisas.

Fora este detalhe, o dia de todos da tripulação seguiu-se com bastante trabalho, cada um em suas funções. As mulheres fizeram os exames de rotina, enquanto a grávida teve seu bebê observado mais uma vez, mas para que o Capitão visse. Ele ficou maravilhado de ver uma coisa tão pequena que trazia tanta esperança.

Assim que o exame acabou, o doutor conversou com o capitão:

- E o que a base reportou da notícia?

- Ficaram animados! Querem que descubra para que possamos pensar num novo método de reprodução, usando as tantas mulheres que nascem… Quem sabe!

- Eu queria aproveitar as nossas próprias incubadoras.

- Ah, mas temos uma máquina muito mais eficiente bem aqui. - apontou para as mulheres - Inclusive, a central mandou que quando descobrir o procedimento que o realize nas outras duas cobaias.

As três mulheres ouviam aquela conversa já sentindo toda a raiva subir em seus corpos. O que elas previam estava para acontecer: as três iriam chegar grávidas ou com algum bebê em TERMINATED. E com certeza, a busca por mais mulheres incubadoras levaria a mais uma longa guerra entre os planetas. Se bem que a grande guerra nunca havia acabado, só tinham pequenos períodos de paz alternados com batalhas em locais perdidos da galáxia.

- Eu não quero seguir com minha pesquisa assim, Capitão Hughes.

- Não importa sua opinião! Foi uma ordem da central! Deve cumprir.

- Sim, senhor! - falou, olhando para baixo

- Espero que descubra logo a resposta disso… O futuro de TERMINATED está em suas mãos. Sem pressão, doutor. - ironizou o capitão antes de sair

- Eu não vou deixar que nada aconteça com vocês. - ele declarou assim que o outro saiu - Eu vou arrumar uma forma de não precisar usar os corpos de vocês.

Aquela declaração de confiança deixou-as mais tranquilas. Realmente, o médico era o único homem com o qual podiam contar.

- Precisamos traçar um plano. - falou Lorraine - Para evitar ao máximo o que a sede quer e avisar sobre os planos deles à nossa base em NEO.

- Nessa parte, acho que posso ajudar. Eu tenho acesso à sala de controle e é lá onde ficam os comunicadores da nave, podem mandar esse aviso por lá.

- Muito bem, Demetrius. - sorriu Pauline

- Vamos montar isso com mais calma, meninas. Agora é hora de vocês irem ao trabalho. - falou a mais jovem

O resto do dia seguiu numa normalidade que se tornara conhecida para as três mulheres e já era bastante rotineira para os homens da nave, que ainda comentavam sem parar sobre a novidade.

Chegou a hora do jantar e o médico se encaminhava para a cozinha, pois ele não ia mesmo perder o jantar por nada. Aprendera rápido o valor de uma refeição real!

Quando chegou, as três já estavam sentadas esperando-o, até porque eles iam conversar sobre o tal plano que tanto queriam fazer. Ele se serviu e sentou-se junto a elas.

- Temos que primeiro ver qual é o momento em que à sala de controle fica sem guarda. - falou Marie

- Essa parte é fácil. Eu posso ver e até pedir para ficar de plantão uma noite, só para garantir. É uma das que sempre querem trocar, é o pior turno.

- Ótimo! E temos que ser rápidos também. - Pauline acrescentou - Melhor a gente já até escrever o que vai falar.

- E o código para mandar, pode ter algum bloqueio de sinal pras naves de NEO. - Lorraine recordou

- Esse costuma ser uma peça, tínhamos nas nossas naves, é só tirar e tá tudo certo. - complementou a mecânica

- Excelente! Não sabia que íamos decidir tão rápido! - Marie se animou

- Pensamos no básico, ainda vamos montar o resto! - a general foi realista - Vou começar a pegar uns turnos mais tarde, para não deixar tão na cara.

- Ótimo! E eu também. - Paulijne concordou - Ai não fica esquisito ficarmos andando tão tarde na nave.

- E nós? - Demetrius indagou - O que faremos?

- Podemos fingir que houve uma emergência com o bebê e por isso estão fora do quarto. - a general de novo

O grupo apenas se olhou confirmando que era aquilo mesmo o que iriam fazer. Eram até um plano simples e que com certeza ia dar certo e era a única opção para pedir socorro a seu planeta ou elas seriam transformadas em mera chocadeiras.

Ao final da refeição, os quatro limparam o lugar e seguiram juntos em direção a seus quartos. Era um horário em que a maioria estava conversando ou no saguão principal ou pelos corredores. E claro que a passagem do quarteto pelos corredores chamava a atenção, reacendendo os comentários sobre a grávida. Em como a barriga dela já estava grande, que parecia que ela ia explodir a qualquer hora, como que ela tinha conseguido ficar assim… Muitas coisas que a raça masculina não entendia.

Ao alcançarem o saguão principal, se ouviu uma algazarra acompanhada de vários homens em uma roda ouvindo algum outro fazendo uma declaração. O grupo foi observar a pequena reunião e logo as três mulheres reconheceram o soldado Cameron  White, que ficou junto da recruta durante uma semana na Terra. E o que ele falava deixou-as horrorizadas! Contava com detalhes como tinha sido a semana na Terra, em como ele fez e aconteceu com a recruta por lá, descrevendo com minúcias as vezes em que deitaram juntos. O médico observava a cena e ficara enojado, diferente dos outros que estavam ouvindo, que estavam adorando aquela história depreciativa de uma mulher. E para piorar, o soldado acrescentou:

- E vejam só o que aconteceu não é, rapazes? Ela ficou grávida! E fui quem colocou o bebê dentro dela, fui eu! Tem que ser muito homem para fazer isso, porque o bebê dela é como um de nós. - completou batendo no peito e sendo aplaudido

Um ato de fúria, Demetrius saiu empurrando os outros até chegar perto do que falava. Seus punhos já estavam cerrados. O outro debochou assim que o viu:

- Ora, olá, doutor. Veio ver a minha história para ajudar na sua pesquisa? Acho que não tem mais mistério sobre o que fazer, não é?

- Não! Vim pedir para você parar.

- Parar com o quê?

- De falar delas assim! Das mulheres!

- Ora e por quê? Contei alguma mentira? Ou será que você está se tornando amiguinho delas?

- E se eu estiver?

- Será um traidor da nossa espécie!

Sem pensar novamente, o médico deu um soco bem encaixado no rosto do soldado, arrancando uma boa quantidade de sangue. Ele recebeu um golpe do outro logo em seguida, bem no olho. Os dois caíram no chão e começaram a trocar golpes entre si, numa briga que provavelmente só iria acabar com um dos dois desmaiado. Os homens à volta apenas gritavam e incitava ainda mais, coube a Lorraine e Pauline separar os dois, ao som de vaias dos outros, que queriam ver o final daquilo.

Elas puxaram Demetrius para longe dali, andando depressa pelos corredores.

- O rosto dele está todo ensanguentado. - comentou a mecânica

- Eu estou bem! - ele disse - Por sorte não se machucaram para nos separar.

- Não devia ter feito isso, rapaz. - a general falou - Piorou sua reputação.

- Ele fez certo. - Marie discordou - Obrigada por me defender!

- Eu nunca liguei para isso. Só não queria que ele continuasse a falar aquelas coisas sobre ela… E faria o mesmo se falasse sobre uma de vocês.

- Eu só fiquei nervosa vendo a briga. - disse a gestante

- Lorraine, eu vou com ele para a enfermaria para limpar e colocar curativos.

- Não, foi só superficial. Tem kit de primeiros socorros no meu quarto. É melhor nos protegermos lá!

- E eu vou ficar tomando conta da Marie, caso algum engraçadinho queira vir no quarto.

E assim, eles se dividiram. A general e a mais jovem se trancaram no quarto e decidiram esperar a poeira baixar até o dia seguinte.

Enquanto a mecânica e o médico foram ao quarto dele. Ele se sentou na cama e indicou o kit de primeiros cuidados. Ela abriu a maleta usando a senha indicada e pegou os materiais necessários, como algodão e gase. Com ajuda de água, ela molhou e foi limpando o rosto dele, tirando o sangue e revelando alguns roxos de tantas pancadas seguidas.

- Você não precisava ter feito isso, Demetrius. - a mecânica reclamou - Olha o seu estado!

- Logo eu melhoro, Pauline. Como disse, eu faria por qualquer uma de vocês.

- A gente sabe se defender também.

- Eu sei que sabem. E essa foi a primeira vez que eu me meti em briga e é por causa da espécie rival. - ele riu - Chega a ser ridículo!

Depois disso, um dos machucados ao serem limpos fizeram com ele soltasse um leve som de dor. A mecânica pediu desculpas, mas que aquilo era necessário.

- Vai precisar de gelo. Onde tem? - ela perguntou

Ele indicou. Ela pegou, colocou o gelo enrolado em pano qualquer que encontrou e colocou em cima do olho dele.

- Obrigado! É diferente quando se é o paciente.

- É o mínimo que podia fazer! - ela sorriu

Um breve silêncio se fez entre os dois, eles se olharam. Demetrius com um gelo tampando metade do rosto e Pauline preocupada depois daquela briga. E um magnetismo inesperado aconteceu! Eles aproximaram os rostos, ela afastou o gelo e logo seus lábios se tocaram. Talvez fosse uma atração ou desejo que tivessem um pelo outro já havia um tempo, mas a situação de perigo fez com isso despertasse.

Foi um beijo calmo, em que apenas encontraram uma experiência nova. Eles se afastaram e ambos ficaram apreensivos, aquilo não era natural.

- O que eu estou fazendo? - ela falou, vendo o vapor sumir do óculos

- Me pergunto a mesma coisa. - disse colocando o gelo de volta

- Eu não devia ter gostado disso, mas gostei! - sentou-se ao lado dele

- Eu também gostei! Nunca senti isso beijando alguém.

- Isso não é natural!

- Nós aprendemos que não é natural. Nossas espécies são inimigas agora, mas antes ficavam juntas.

- É verdade! - ela olhou para ele, pensativa - Eu não deveria querer isso, mas eu quero!

- Então se sente da mesma forma que eu?

- Imagino que sim! Não sei o que pensar.

- Olha, Pauline, estamos só nós dois aqui. A porta está trancada… Podemos fazer o que quisermos.

- Mas, a Marie fez e…

- Eu não faria isso com você, sabe bem! Melhor não pensar muito.

Ficaram alguns segundos de silêncio, até que ela pulou no colo dele, puxando o gelo de sua mão e lançando para longe. Demetrius tirou os óculos dela, deixando sobre um apoio qualquer, finalmente vendo aqueles olhos encantadores que sempre ficavam por baixo das lentes. Em seguida, eles se observaram por uns segundos, sentindo a respiração um do outro nas próprias faces. Pauline o beijou, mas, desta vez, feroz e com vontade. E ele correspondeu da mesma forma!


***

Ao soar de mais um alarme para o início da rotina na nave, os dois acordaram e nem tinham o que descrever sobre a noite anterior, porque não havia maneira de expressar o quanto de novas sensações e descobertas eles tiveram. Procuraram as roupas espalhadas pelo quarto e se vestiram. A mecânica aproveitou para dar mais uma olhada nos ferimentos do médico. Os roxos ainda iam levar uns dias para sumir.

Eles se preparam para sair do quarto, mas antes eles se olharam e comentaram:

- O que aconteceu aqui fica só entre nós? - ele perguntou

- As meninas vão acabar sabendo.

- É verdade! - ele riu

- Foi só dessa vez! - eles disseram juntos

Saíram do quarto e se encontraram com as outras duas na mesma sala de sempre, para os exames rotineiros. Lorraine e Marie já estavam lá e ficou bem claro para elas o que tinha acontecido. Antes mesmo que pudesse começar, um guarda apareceu e pediu para Demetrius fosse à sala do capitão e ele imaginou que fosse pela situação da noite anterior.

Assim que o médico sumiu de vista, a general e a recruta foram sondam mais mecânica.

- Como foi ontem? Vocês fizeram? - Marie começou

- Podia ser menos direta né? - reclamou Lorraine

- Bom, é complicado de explicar. Eu cuidei dos machucados dele, rolou algo entre nós e acabamos nos beijando e uma coisa levou a outra. Mas, foi só dessa vez! Eu me deixei levar pelos sentimentos aflorados da briga.

- Acho que não foi só a briga. - declarou a general - Você gosta dele e ele de você.

- Como amigo! - ela rebateu

- Não só como amigo que queremos dizer. - a mais jovem retrucou

- Eu estou confusa. - ela se sentou numa das cadeiras - Foi tão… Diferente! Eu nunca senti nada assim antes.

- Conversem vocês dois mais tarde. Deixem a coisa seguir! - Lorraine sugeriu

- Mas ele é um homem! - Pauline declarou  - É contra nossa natureza!

- Era o que nós achávamos até poucos meses atrás. - disse a recruta - Eu achei que era e me atrai por um homem.

- Tudo bem! Vou falar com ele mais tarde. Só estou com medo dessa conversa na sala do capitão.

Enquanto isso, neste mesmo momento, Demetrius chegara à sala de controle e foi levado à sala privada do capitão e falaria com ele. Ao entrar na porta, ele se deparou com o soldado White, com quem teve a briga, que mal olhou para ele.

- Finalmente chegou, Smith! Bom, vamos direto ao assunto: soube da briga de vocês ontem. Não quero saber o motivo, mas ouvi que o nosso soldado - aprontou para o outro - foi o responsável por colocar o bebê dentro da nossa cobaia. Isso é verdade, doutor? Não minta para mim, sabe das consequências!

- Sim, foi ele, Capitão. - não tinha como guardar mais o segredo

- Como eles fizeram isso? - levantou o capitão

- Não sei uma expressão melhor, mas basicamente eles tiveram relações.

- Com uma mulher? - se virou para White - Você é louco, mas isso pode salvar nossa espécie!

- Senhor, - Cameron falou - durante a semana na Terra vimos alguns vídeos antigos sobre como os humanos se reproduziam e foi isso que despertou em nós um desejo, uma curiosidade.

- Uma atração… - o médico completou, mais falando dele do que do outro

Então, uma tela se acendeu atrás do Capitão. Parecia que eram outros homens de alto escalão de TERMINATED, do grande conselho, talvez para determinar qual caminho seguir na pesquisa.

- Ouviram senhores, já temos a resposta: Basta ter uma mulher e teremos todos os homens necessários para subir nossa taxa de natalidade.

- Capitão, não há garantia de que o bebê seja masculino… Pode ser feminino também!

- Com base em que diz isso? - alguém na tela falou

- Nas minhas pesquisas sobre os nossos antepassados. Antes da divisão, as crianças nasciam de um sexo ou de outro. E eu já sei o porquê isto acontece, mas tenho que testar.

- Pois trate de encontrar. - outra voz soou na tela - Nossa ordem é para engravidar as outras duas cobaias.

- Como é?! - ele perguntou indignado - Não farei isso!

- Por que não? Vai descumprir uma ordem? - Hughes pressionou

- Gerar uma criança traz muitas mudanças para o corpo delas, é bastante desgastante. Não vão querer cobaias cansadas para mostrar no planeta não é?

- Faz um pouco de sentido. - mais uma voz na tela falou - Porém, queremos mostrar a nossa população e ao resto do conselho o que as mulheres podem fazer e não pode ser só com um espécime.

- Então, trate de escolher dois homens para terem relações com as outras duas cobaias. - disse a primeira voz de novo - Queremos elas com bebês o mais breve possível. E isto não é negociável!

- Tudo bem! Vou informá-las imediatamente! Mas, quero tentar um outro método.

- Qual? - bufou um na tela, achando que era uma chance de enrolá-los

- Não é necessário ter a relação em si, mas podemos pegar nosso esperma e introduzir dentro delas, usando uma seringa, de forma artificial.

- Bom, assim facilita o trabalho. Não vai ter nenhum homem não fazendo o que não gostaria.

E a cabeça do médico pensou: E essas mulheres estarão fazendo o que não querem por puro capricho de vocês.

- Se bem que, o doutor pode ficar com uma das cobaias. - comentou o soldado com a cara roxa - Eu o vi saindo com a mecânica do quarto dele hoje de manhã.

- Isso é verdade?! - indagou o capitão

Droga! Ele queria que fosse segredo, ele queria que fosse só uma vez. Ele não queria que as coisas seguissem este rumo. Precisavam agora, o mais breve possível, avisar para o lado feminino desta divisão sobre a plano maldito, porque ele sabia exatamente qual seria a última fala daquela reunião.

- Sim, é verdade, senhores! Me deixei levar. - falou cabisbaixo

- Ele está cheio de afeição com as três. - comentou White - Não me admira estar se tornando uma delas.

- Você pode só calar a boca?! - falou entredentes

- E se eu não calar? - provocou a outra parte

- Posso muito bem estourar a sua cara de novo!

- Rapazes! - ordenou Hughes - Já chega. Está tudo resolvido.

- E o médico pode ficar com a cobaia, se assim desejar. Já a outra, escolha alguém. - proclamou uma das vozes na tela

- Agora sim vai começar o nosso plano de acabar com as mulheres, ou melhor, rebaixá-las ao pior lugar deste universo. - falou a primeira voz na tela, gargalhando depois - E tornar os homens de TERMINATED ainda mais fortes e numerosos.

- Dispensados! - mandou o capitão

Os dois saíram da sala, sendo acompanhados pelos olhares dos outros na sala de controle. O médico retornou para sua sala de origem, agora ele tinha que contar tudo o que aconteceu e quais medidas contra a sua vontade teria que realizar.

As três mulheres o aguardavam apreensivas e já pressentiram o pior só de ver a cara dele. Logo elas pediram para ele contar o que acontecera, que se sentou na sua cadeia habitual e finalmente falou:

- Em resumo, acho que vai acontecer o que vocês estavam temendo: ficarem grávidas.

- Não acredito! - Marie incrédula

- É verdade! E eu não tive como rebater, ainda mais porque o colega com o qual briguei ontem fez o favor de espalhar as relações de vocês dois. Agora os homens do alto escalão e do conselho sabem a forma de fazer isso com vocês e agora querem que as três estejam assim, para mostrar aos outros membros e seguir com o plano deles.

- E qual seria este plano? - Pauline indagou

- Rebaixar as mulheres, usando os corpos de vocês para aumentar a natalidade.

- Isso é um absurdo! - reclamou Lorraine - Vão nos obrigar a ficar com homens para tal.

- Bom, para isso eu tenho uma solução. É só um “menos pior”, mas em minhas pesquisas encontrei uma coisa chamada inseminação… - e explicou o procedimento, falando em seguida - Precisamos urgente mandar a nossa mensagem ao governo de NEO.

- Hoje a noite mesmo estarei de guarda no turno mais tarde, próximo a sala de controle.

- Meu turno já é mais tarde hoje também.

- Ótimo, vamos executar hoje então. Não da forma que queríamos, mas vai ter que servir.

- E já decidiu quem vai ser o pai dos bebês delas? - perguntou Marie, preocupada

- Eles permitiram que eu escolhesse, mas quero dar essa permissão a vocês. E eles já até souberam sobre mim e a Pauline, me deixaram ficar com você, se eu quisesse.

As três percebiam o quanto ele estava nervoso com tudo aquilo, Demetrius sempre foi bastante educado com elas, mesmo em meio aquela péssima situação em que se encontravam. Ele realmente tinha apreço por elas, realmente se tornando parte daquele grupo e ele queria protegê-las, assim como protegeria aos outros de sua espécie. 

- Eu já tenho uma ideia de quem eu quero. O meu companheiro de guarda, o Miles.

- Tudo bem, vou avisar a ele e ao capitão. Mandarei ele colher o esperma e faremos o procedimento amanhã.

- E você, Pauline? - questionou a mais nova

- Acho melhor, Marie, deixarmos eles sozinhos. - Lorraine pediu - Vamos aproveitar e dar um jeito na bagunça daquele quarto.

Ambas saíram do recinto, pois sabiam que aquele momento seria bastante pessoal para os dois e não queriam atrapalhar.

Assim que a porta se fechou, Pauline se aproximou do médico, tocando em seu braço. Os dois trocaram um olhar que podia dizer muitas coisas, por fim, a mecânica falou:

- Para mim, pode ser você.

- Então, colherei o meu amanhã para o procedimento também.

- Não! Não desse jeito. Se formos fazer isso, quero que seja igual ontem.

- Tem certeza? - ele finalmente correspondeu ao carinho dela

- Sim! Eu não me importo de ter um bebê seu! - ela sorriu, quase chorando - Ai, eu sou uma tonta! Sentindo isso por um homem.

- Eu sou um tonto também, ao sentir isso por uma mulher. - secou a lágrima dela que escorreu

- Somos iguais então!

Os dois se beijaram, com a mesma vontade de horas antes.

- Agora, eu preciso ir ajudar as meninas a arrumar o quarto. Te vejo mais tarde?

- Nos vemos mais tarde! - respondeu sorridente


***


Bem mais tarde, quando maior parte da nave já estava descansando e o curso estava ligado no piloto automático, Lorraine fazia a sua ronda noturna perto do local programado. Era apenas o primeiro dia dela trabalhando naquele horário, então ela queria passar o mais despercebida possível, para não dar pistas do plano.

Pauline também participava de arrumações noturnas, passeando por diversos cantos escondidos da nave, também não querendo chamar atenção.

Já Demetrius e Marie ainda estavam no quarto, porém os relógios estavam sincronizados para a execução. Na hora do jantar, eles programaram tudo e agora era a hora da verdade.

A general e a mecânica se encontraram primeiro, indo direto à sala de controle. Uma ficou de guarda na porta, enquanto a outra foi tirar a peça que precisavam para mandar a mensagem.

O médico e a recruta se encontraram na metade do caminho entre seus quartos e rumaram para o lugar marcado, encontrando as outras duas lá. Eles entraram e já estava tudo pronto, era apenas gravar a mensagem e enviá-la em seguida. Não fora uma tarefa tão difícil para a mecânica, que já fizera aquilo outras vezes nas naves femininas, ainda mais quando haviam batalhas espaciais.

Então, o médico e recruta se puseram à frente da tela, falando o seguinte na mensagem:

- Aqui é o doutor Demetrius falando direto da nave militar masculina TREASURE para o planeta NEO. Três de suas soldados da missão à Terra foram raptadas e mantidas como reféns e cobaias. Durante o monitoramento das suas funções corporais, descobrimos que a Marie - ela apareceu na tela e mostrou a barriga - estava grávida. Mas, ela não fez o processo do mundo feminino, na verdade ela teve relações com um homem e isto aconteceu. O bebê dentro dela é do sexo masculino! Sei que é muita informação para assimilar de uma vez, mas os homens da mais alta patente de TERMINATED descobriram isso e me ordenaram engravidar as outras duas cobaias, para mostrar ao governante do planeta o plano deles, que é transformar os corpos das mulheres em incubadoras para os futuros nascidos do planeta. Estou enviando essa mensagem não por mim, mas pelas três mulheres que estão aqui e por todas as outras. Eu só queria uma forma de subir a taxa de natalidade em meu mundo, só que não desta forma. Só espero que a nossa mensagem chegue a vocês, como um aviso e também um pedido de socorro!

Ele parou a gravação e mandou imediatamente para o destinatário. Era o que eles podiam fazer por enquanto, agora era esperar uma resposta.

Pauline recolocou a peça no lugar, apagando o envio da mensagem do histórico, para tirar qualquer evidência e os três saíram da sala de controle.


***


Mais um longo período se passou dentro da nave, mas dessa vez eles já estavam mais perto de TERMINATED.

A general foi inseminada com o esperma do homem que ela escolheu, seu colega de trabalho, o procedimento ocorreu bem e em poucas semanas ela confirmou a gravidez.

Pauline e Demetrius continuaram se encontrando no quarto dele por diversos dias, aproveitando para descobrir mais sobre aquilo que eles sentiram da primeira vez. E cada noite, eles se conectavam ainda mais e isto só se reforçou quando poucas semanas depois ela também confirmou uma gravidez.

Enquanto isso, a barriga e o bebê de Marie cresciam cada vez mais e o momento do nascimento do bebê se aproximava. Pelos cálculos do médico, ele nasceria quando já estivessem no planeta.

Outro homem ingressou no grupo, Miles, que foi o rapaz que Lorraine escolheu como doador, era um dos guardas da nave, que por conta da companheira de trabalho já tinha se aliado às mulheres também. E ele fazia questão de acompanhar todos os detalhes do crescimento do bebê, porém a relação dele com a general era apenas de amizade.

Inclusive, ambas as novas gestantes continuaram a cumprir suas funções dentro da nave, ainda era possível até a chegada.

E um dia, finalmente eles alcançaram a órbita de TERMINATED. TREASURE permaneceu lá em cima, enquanto a tripulação desceu usando naves menores, chegando no meio da base militar da capital do planeta.

As mulheres se chocaram com o que viram. Era tudo meio marrom e bastante simétrico, até as poucas árvores. Era um mundo bem oposto ao delas, que se parecia e muito com a antiga Terra.

Todos foram levados até uma casa dentro da base, que tinha uma área médica que era super equipada com o que precisavam, afinal as três mulheres eram ainda cobaias e prisioneiras. E lá o médico permaneceu, monitorando as gravidezes e fazendo os exames necessários. As mulheres pediram para que suprimentos fossem mandados para que elas pudessem comer e assim o fizeram. 

Nos primeiros dias dentro da nova residência, o grupo recebeu uma encomenda e uma mensagem vinda de um destinatário desconhecido, num dispositivo portátil, que inclusive pedia para abrir com todo o recinto fechado. E qual não foi a surpresa de ver que era uma resposta à mensagem que eles enviaram naquela noite.

No vídeo, apareceu uma outra general de alta patente das mulheres, acompanhada de uma cientista e também da governante do planeta. Elas disseram o seguinte:

- Olá, Demetrius, Marie, Pauline e Lorraine, recebemos a mensagem de vocês dentro da FANTASIA. Nos assustamos ao ver uma de nossas soldados na mensagem e tudo o que aconteceu com elas. Imagino que, se estiverem vendo isso, já estejam em seu destino e todos estão com bebês na barriga, certo? Encaminhei a vossa mensagem para a nossa governante e também à nossa chefe de pesquisa, para que conseguissem buscar uma solução para o que o doutor disse.

- Bom, - começou a cientista - no pacote que receberam estão alguns óvulos femininos que nós coletamos de nosso banco, já que geralmente sobram muitos depois dos tratamentos. Nós, de NEO, cedemos ao doutor para que ele use para buscar um novo método que não se aproveite das mulheres. Só por ter sido você enviando a mensagem, acreditamos que seja um aliado e demos um voto de confiança.

- Com relação à política… - a governante desta vez - Em breve, deve haver uma reunião com os líderes do planeta de vocês e já estou providenciando alguma forma de conseguirem defender o ponto de vocês, mas o doutor deve ter descoberto algo até lá. No mais, é isto! Qualquer coisa, mandem outra mensagem.

- Ah, e se cuidem bem garotas! - disse a outra general

E a tela desligou! Agora, em solo do planeta masculino, o médico finalmente tinha a sua nova missão.


***


E assim, mais uns dias se passaram… Até que finalmente Marie começou a reclamar de algumas dores intensas, o que durou horas e mais horas, quando a bolsa se rompeu. Com ajuda das amigas e do doutor, ela conseguiu trazer ao mundo um lindo menino e o primeiro bebê masculino em milênios.

- Ele é tão lindo! - disse Lorraine

- Que nome vai dar para ele? - perguntou Pauline

- Vai ser Elliot!

- É um belo nome! - Demetrius sorriu

A nova mãe foi tratada e logo foi descansar e começou a cuidar do seu filho, contando com ajuda das outras duas. O dia fora bastante agitado para todos e logo se recolheram. O médico e a mecânica, que agora dividiam o mesmo quarto, ficaram conversando antes de pegar no sono:

- Que dia longo! - ele falou

- Sim, sempre o dia do nascimento de um bebê é assim.

- Em alguns meses será o nosso! - fez carinho na barriga - Amanhã vou ver se dá para descobrir se é uma menina ou um menino.

- O que você prefere? Outro menino como a Marie?

- Pouco me importa! Eu nem queria que você estivesse assim para começar.

- Eu sei! - pôs a mão por cima da dela - Mas já que estamos aqui…

- Prefiro não me antecipar. O que vier para mim está bom! - ele sorriu

- E descobriu o que fazer com os óvulos?

- Eu pensei muito nestes dias e talvez eu os insemine. Mas vou precisar fazer bem minuciosamente. Mas, vai dar certo!


***


Já no dia seguinte, as mulheres foram para seus exames de rotina. E dessa vez, havia um novo paciente, que foi consultado primeiro junto de sua mãe, para que ambos voltassem para descansar.

Depois foi a vez das outras duas. Primeiro, Lorraine, que já estava acompanhada de Miles. Ela levantou a blusa, exibindo a barriga já um pouco crescida. O médico colocou o gel sob o abdômen inchado e colocou o aparelho em cima, passeando pela pele, enquanto sua tela mostrava o que estava lá dentro. Ele foi conferindo coisas que não fizera no dia anterior, já que todos ficaram na loucura do parto de Marie.

Então, ele finalmente viu o que estava procurando e declarou:

- Bom, parece que temos outro garotão aqui! - ele sorriu - No mais, ele está saudável e crescendo bem!

Limpou a barriga dela e a liberou, a general desejou boa sorte à amiga e saiu, deixando apenas Demetrius e Pauline na sala.

- Agora é a sua vez!

- Confesso que estou um pouco nervosa.

- Vai ficar tudo bem!

Ela levantou a blusa, revelando a sua barriga, que das três ainda era a menor, talvez por sua gravidez ter sido a última. O médico fez um carinho ali e depois pegou na mão dela. Para ele, era sempre uma coisa estranha estar monitorando o seu próprio filho, quando pensou que nunca teria um.

Da mesma forma, colocou o gel e repetiu o procedimento, vendo as mesmas coisas que na paciente anterior e outra vez apareceu o que ele queria.

- Viu alguma coisa? - ela já ansiosa

- Vi sim! - virou a tela na direção dela - Não vejo nenhuma antena aqui. - falou brincando - Temos uma menina aqui! - ele se alegrou, permitindo que uma lágrima escorresse

Ela também chorou, talvez, por ser menina talvez fosse permitido que ficasse com a criança. Não tinha comentado com ninguém, mas ela tinha medo de seu bebê ser masculino e que o planeta ficasse com ele depois de tudo isso.

O médico levantou-se de sua cadeira e se aproximou dela, beijando-a.

- Vai ficar todo melado de gel! - ela riu quando se separaram

- Verdade. Deixa eu te limpar. - pegou um tecido e começou a tirar o gel - Talvez o alto escalão não goste muito que teremos uma menina, mas estou muito feliz! Espero que ela se pareça com você.

Ela baixou a roupa, descendo a maca. Antes de sair para deixá-lo no laboratório trabalhando, ela perguntou:

- E já conseguiu alguma coisa com os óvulos? E aquela grande reunião?

- Eu os fertilizei hoje mais cedo, as divisões celulares aconteceram, então imagino que tenha funcionado. Mas preciso da incubadora para saber se deu certo mesmo! Quanto ao Conselho, agora que o bebê da Marie nasceu, finalmente devem marcar.

- Será que a defesa de NEO virá nos ajudar?

- Eu imagino que sim! Mas, nunca se sabe.

- Bom, vou deixar você trabalhar. Até mais tarde!

- Até mais tarde!


***


Alguns dias passaram e conforme o médico falou, o Grande Conselho com os grandes de TERMINATED foi marcado. No horário estabelecido, um carro veio buscá-los e os levou ao grande prédio central onde as grandes decisões do planeta aconteciam. O destino dos dois mundos seriam decididos naquela grande reunião.

O doutor Smith, contando com a ajuda das outras, havia se preparado para fazer a sua defesa e apresentar a sua grande pesquisa. Ele já tinha tudo o que precisava para evitar que acontecesse o rebaixamento das mulheres.

O grupo, formado por Demetrius, Pauline, Lorraine, Marie com Elliot e Miles, chegou à grande sala e todos os alta patente e também conselheiros já estavam à espera deles. E um dos que estava lá era o Capitão Hughes, que os trouxe até ali, havia semanas que eles não viam. Os conselheiros fizeram uma cara de choque quando viram as duas grávidas e um bebê, nenhum deles jamais tinha visto um. Então, um conselheiro começou:

- Sejam bem-vindos ao Grande Conselho! Hoje iremos decidir sobre o futuro reprodutivo de nosso planeta e vejo que já temos três ótimos espécimes. A palavra é sua, doutor!

- Obrigado! Sou Demetrius Smith, eu estava na missão da TREASURE no planeta Terra quase um ano atrás e lá conseguimos três cobaias do sexo feminino. Primariamente, comecei a observar seus corpos, para entender como funcionam, contando com auxílio dos materiais que coletamos na nossa missão. Porém, a coisa mudou quando descobrimos que a Marie estava grávida…

- Desculpe interromper, senhor. - falou outro - O que significa esta palavra? Não entendi!

- É quando uma mulher descobre que está carregando um bebê. - respondeu Pauline

- E você quem é? - perguntou o primeiro que falara

- Vou apresentá-las a vocês! - e disse o nome de cada um - Posso continuar com que estava falando?

Todos na sala assentiram e ele prosseguiu:

- Bom, com a descoberta fiquei sem reação e sem entender, tanto que achei ser um parasita no início. As próprias mulheres que me explicaram melhor como tudo funcionava e contei com isso e os outros dados para monitorar o bebê. - e um grande telão se acendeu - Estas aqui são alguns deles neste começo e claro, do avanço da gravidez de Marie.

- Mas pelo que soube, as mulheres são capazes apenas de ter meninas e pelo que soubemos este bebê é um menino.

- Sim, este dado está correto. - afirmou Demetrius

- Nós mulheres temos um jeito de reprodução em que duas mulheres juntam seus genes e uma carrega a criança. - explicou Lorraine

- Achamos que a criança era uma menina, mas quando fui ver num dos exames de rotina, encontrei um órgão masculino e logo depois, elas me disseram de onde essa gravidez surgiu, quer dizer, como este neném foi feito.

- Fiquei uns dias perdida na Terra e até virem me resgatar, eu estava na companhia de uma soldado da brigada masculina da missão. Acabamos nos envolvendo e ele me traiu.

- Esse homem é louco! - soltou um - Ele está vivo?

- Muito vivo e muito bem, sem se importar com o filho dele. - comunicou Marie

- Sinto muito! - falou outro conselheiro

- Eu tentei manter a informação em segredo, mas o próprio soldado em questão contou tudo para a nave inteira e a história chegou até vocês e bem, daí que veio a ordem de que as outras duas cobaias fossem engravidadas também.

- E como fizeram isto?

- Comigo, - Lorraine iniciou - foi escolhido um homem doador e o esperma dele foi injetado dentro de mim, sem precisar de relação. E este homem foi o Miles. - apontou para o amigo

- Já eu, bem… - Pauline olhou para o doutor - Acho que está bem claro para todos que eu e o Demetrius estamos juntos e fizemos este bebê usando métodos naturais.

- E o que resultou dessas gravidezes? - indagou o capitão

- A Lorraine espera um menino, mas a Pauline espera uma menina. E eu descobri o motivo disso!

- Parece que elas vão explodir! - comentou mais um conselheiro

- Isso porque o senhor não me viu nas últimas semanas. - comentou Marie - Antes dele nascer.

- E Smith, o que faz essa determinação do sexo?

- O nosso cromossomo. Eu mesmo descobri analisando minuciosamente e comparando com o DNA feminino. Elas têm um cromossomo só e nós temos dois, que na hora da divisão de espermatozóides podem ter um outro ou outro, se juntando com o óvulo delas e determinando o sexo. - tudo isso sendo explicado com uso de imagens

- Mas como isso não acontecia na nossa clonagem? - indagou outro

- Eu pensei a mesma coisa, mas a nossa clonagem usa metade de um DNA e metade do outro, ambos de outros tecidos que não dos reprodutores, então dava esta falha de nascer sempre um homem.

- Então é só termos uma mulher que podemos ter bebês assim?

- Não se precisa necessariamente uma mulher, mas a parte reprodutora dela, o óvulo, que tem uma taxa de sucesso bem mais efetiva do que a nossa clonagem, só pensar que era isso que nossos antepassados de milênios atrás faziam e se espalharam pelo universo inteiro.

- Nossas incubadoras não suportam coisas assim. - falou um, que claramente queria uma desculpa para uma guerra

- Nossas incubadoras geram crianças maiores, um bebê deste tamanho não é nada! - reclamou o médico

- E como sabe de tudo isso, doutor? Onde conseguiu o que precisava para fazer suas experiências além das cobaias?

- Para o gene masculino, usei o meu e o de nosso colega Miles, aqui do lado. Já o feminino…

Um som forte assustou a todos, era a porta sendo aberta com a entrada de um grupo de mulheres, usando os uniformes de NEO.

- Olá, senhores! Desculpem a interrupção! Eu sou a Dominique, representante de NEO, em nome da nossa presidente e soube que hoje teria que defender essas mulheres e o nosso futuro.

- Ah, vocês vieram. - Marie sorriu, aliviada

- Por que não viríamos, quando claramente esses homens estão montando um plano para nos transformarem em incubadoras dos bebês deles? - ela olhou para o médico

- Para essa parte, usei os óvulos que me foram doados pelo planeta NEO, porque contei sobre este plano nefasto que vocês têm.

- Que absurdo! Com base em quê nos acusa disso?

- Meu senhor, temos três mulheres aqui que além de raptadas, foram engravidadas e seguiram com gestações que elas não gostariam, por puro capricho de vocês. Para descobrir um jeito de solucionar a baixa taxa de natalidade de vocês. - declarou a representante

- Que fique claro que eu fui contra engravidá-las à força! - Demetrius complementou

- Mas transformou essa aqui a seu favor. - apontou um para Pauline

- Que fique claro, antes dessa história toda, eu tive uma relação com ele. - ela defendeu

Começou um alvoroço na sala, quando Dominique vociferou:

- Vocês só querem uma desculpa para começar mais uma guerra conosco e tenho quase certeza que estão atrás disso!

- É uma situação que pede uma medida drástica! - disse um dos conselheiros - Aliás, vocês logo se recuperam disso. É rápido!

- Você sabe quanto tempo dura uma gestação, senhores? - questionou a representante - São nove meses… Bem longos!

- Você está mentindo para nos enrolar. - revoltou-se outro

- Posso afirmar que isso é verdade! - declarou o Capitão Hugues - A moça que está com bebê nos braços passou boa parte de nossa viagem grávida. Nós viajamos por oito meses da Terra até aqui!

- É um absurdo! - reclamou outro - Precisamos aumentar nossa natalidade rápido, mas levar todo esse tempo é demais!

- E para gerar uma só! - protestou outro

- Ah, os homens e a pressa. - bufou Lorraine num cochicho - Desde a nave percebia isso.

- E quanto tempo leva para as incubadoras de vocês gerarem as crianças? - indagou Dominique

- Cerca de umas 12 a 24 horas, ou seja, um dia no máximo. Mas isso é com a clonagem, eu ainda não pude testar com a junção dos óvulos.

Os conselheiros começaram a conversar paralelamente, numa pequena discussão do que deveriam fazer, já que eles não tinham ideia do tempo que levava para a mulher gerar o bebê. A representante pediu a palavra:

- Senhores, tendo em vista este problema, lhes ofereço um acordo e uma solução. Nossa presidente está interessada em tempos de paz, assim como boa parte das mulheres em nosso planeta e acabar finalmente com essa guerra milenar entre nossos povos. Então, o médico Demetrius Smith parece ter descoberto um meio alternativo de reunir os genes de homens e mulheres para que não precisassem se “misturar” conosco. Deixem-o testar nas incubadoras.

- E se der certo? Ou se der errado?

- Se funcionar, nós mulheres lhes doaremos óvulos anualmente. Muitas de nós congelamos na juventude, mas não usamos todos. Se der errado, nós vamos continuar buscando uma alternativa. Como disse, minha presidente só quer o fim desta guerra não declarada.

- Interessante!  - falou um

- Eu gostei da proposta! - proclamou Hughes - E sinceramente, eu convivi até que um pouco com elas três durante a viagem e as mulheres não são os monstros que vocês pensam. Meu voto é em apoiar e aceitar o pedido da representante.

- Eu também! - e essa fala repetiu-se várias vezes até se tornar unânime na sala

- Bom, rapaz, - disse Lorraine - parece que conseguimos.

- É sim! Conseguimos! - sorriu e olhou para Pauline, que veio lhe abraçar

Poucas horas depois, naquele mesmo dia, o médico foi levado até as incubadoras e colocou três em funcionamento para o seu teste. E para sua felicidade, as três deram certo e os bebês começaram a se desenvolver. Ele chamou os conselheiros e lhes mostrou, assim como fez com a representante. E em cerca de poucos dias, nasceram três novos bebês meninos, que foram destinados para serem cuidados e criados.

O plano tinha dado certo, o problema dos homens estava resolvido e nenhuma mulher mais precisaria ser incubadora de bebês para o planeta.


***


Alguns anos depois


Demetrius chegou em casa, depois de passar um dia num plantão daqueles no hospital, conviver com bebês e suas mães era o que mais gostava de fazer. Ele se mudara para NEO com Pauline e as outras duas, deixando toda sua vida lá para trás, recomeçando tudo. No começo foi bastante estranho para as mulheres do planeta terem um homem andando pelas ruas, mas com o tempo se acostumaram com a presença dele, assim como todos os outros que se mudaram para lá, incluindo o guarda Miles, que trouxe seu filho Bart consigo.

Ele abriu a porta de casa e logo suas pernas foram agarradas por uma garotinha que se parecia muito com a mãe.

- Madeline, filha, cuidado que o papai está cansado. Ele trabalhou o dia todo! - a voz de Pauline veio de outro cômodo até a sala

- Está tudo bem! - se abaixou na altura da menina - Dá um abraço! Eu estava com saudades!

A pequena pulou no pescoço dele, apertando o mais forte que podia. Logo ela saiu e voltou a brincar, então ele foi falar com a esposa.

- E o seu dia, como foi? - se aproximou, lhe dando um beijo

- Cansativo! - ela riu - Não é fácil tomar conta dela com essa barriga cada dia maior. Mas, quando ela foi para a escola, consegui consertar algumas coisas.

- Não consegue parar de mexer em máquinas, né?

- Assim como você não consegue parar de estudar o corpo.

- Termos visita hoje?

- Sim, logo eles chegarão. Vão trazer as coisas, eu não tive tempo de cozinhar.

- Não teve tempo ou você não quis?

- Um pouco das duas coisas.

Ela ia dizer uma coisa, mas parou quando sentiu um chute forte na barriga. Imediatamente, ela pôs a mão dele em cima e falou:

- Ele sempre fica assim quando você chega.

- Estou ansioso para conhecê-lo. - disse fazendo carinho

- Logo nós iremos. Inclusive, escolheu o nome?

- Sim, vai ser Matheo.

- É lindo! - ela sorriu - Nem eu poderia ter escolhido melhor.

- Mas você escolheu Madeline.

- Eu sei! Mas eu sempre tive diversas ideias para nome de menina, mas não para de menino.

A campainha tocou. Demetrius foi atender e eram as suas visitas. Lorraine - que continuava trabalhando no exército de NEO -, Marie - que se tornou professora -, Miles - que abandonou a carreira militar, virando diplomata - e as duas crianças, Elliot e Bart, que regulavam idade com Madeline. Eles traziam a refeição daquela noite, que era mais uma desculpa para eles se reunirem para conversar e se divertirem.

O grupo que se uniu em meio a um universo praticamente partido, com a grande divisão de mulheres e homens, juntos trazendo a solução para evitar uma guerra, dando esperanças e uma perspectiva de um futuro melhor.


***


"Também estou pensando em uma nova promessa

dias desastrados

Paixão Inflexível

para o futuro

As pessoas serão testadas e se tornarão mais fortes

agarre-se a grandes esperanças

(...)

Um lindo céu estranho, para sempre

Eu quero começar, meu coração está gritando

Você está indo para essa nova terra"


(NEO FANTASIA - Minori Chihara)

 
 
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