sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Capítulo 2 - Escândalo

Poucos minutos depois, a pista de dança foi aberta na área interna, o que fez com que a maioria dos funcionários presentes na festa fosse para o lado de dentro. Apesar de ser noite e a brisa do mar estar correndo, ainda estava bastante quente.
Ana Maria e Dimas foram um dos que ficaram do lado de fora, bebendo o champanhe devagar e aproveitando a noite estrelada. Eles acabaram emendando uma conversa:
- Ana, o que te fez sair de Charmosinha e tentar a vida aqui no Rio?
- Ah, eu sempre quis algo a mais para mim. - sorriu - E não era naquela cidadezinha que eu ia achar.
- Sua família tem algo com o mercado das flores?
- Minha mãe trabalha com essências! Ironicamente, ela produz sabonetes também.
- Por isso que veio trabalhar na empresa?
- Também! Bom, digamos que eu entendo um pouquinho, só não devo ter um nariz treinado igual ao seu.
- Acredite, é horrível ter o nariz sensível assim! Até agradeço quando pego um resfriado.
Os dois riram juntos, apesar da pequena hierarquia entre eles, o clima estava bem leve. Até que ele indagou:
- E tem vontade de seguir carreira trabalhando com flores, essências, sabonetes?
- Na verdade, não. Sempre gostei muito de arte, de esculturas.
- Interessante!
- Uma pena que, com o trabalho, eu não tenho praticado muito.
- Imagino que more bem longe da sede, não é?
- Sim! Pego transporte cheio para ir e voltar.
- Nem consigo imaginar isso! Sempre tive tudo na palma da mão.
- Eu tive que brigar até para nascer!
- Como assim?
- É uma história longa, mas... Eu sou a caçula de três irmãs. Mamãe não queria mais filhos, mas ficou grávida de mim, ela não me queria, mas meu pai insistiu. Depois que nasci, ela nunca me deu muita atenção. Sou basicamente a filha rejeitada!
- Sinto muito por isso!
- Eu estou acostumada. - sorriu cabisbaixa - Acho que é por isso também que não teve tanto drama quando me mudei.
- E o seu pai?
- Bom, ele faleceu quando eu tinha 13 anos. Ele estava viajando a trabalho e sofreu um acidente.
- Também perdi meus pais num acidente, uns anos atrás. Somos só eu e a minha avó!
- Sinto muito pelo seus pais!
- Obrigado! Acho que é por isso que continuo com a empresa, para manter o legado e poder dar orgulho a eles onde estiverem.
- Com certeza eles estão orgulhosos! Olha tudo o que você conquistou!
- Seu pai também deve estar muito orgulhoso de você.
Ana Maria sorriu, agradecendo.
Enquanto os dois conversavam, a dupla que adulterou a bebida observava, esperando o efeito para colocar a segunda parte de seu plano em ação.
Apesar de ter levado um pouco de tempo, Dimas estava com uma sensação estranha em seu corpo. No começo, pensara realmente ser o calor, aumentado pela quantidade de roupas que usava, tanto que até tirou o paletó no final do discurso para ficar mais à vontade. Porém, com o decorrer da conversa com Ana Maria, aquilo não passava. E ele notou que ela, mesmo usando uma roupa mais fresca, tinha alguns fios de suor escorrendo pelo pescoço e começou a se abanar.
- Tá um calor né? - ele soltou, quebrando totalmente o assunto de antes
- Sim! Mas acho que é só a gente que está se sentindo. - ela passou a mão no pescoço - Que droga, estou até suando!
As narinas de Dimas se mexeram enquanto ele olhava Ana Maria, sendo inebriadas pelo cheiro do suor dela, misturado com seja lá o que aqueles outros dois botaram na bebida. Ele realmente estava interessado na garota, mas ainda estava bastante controlado e se aproximando devagar - por isso a conversa mais leve e informal -, só que algo dentro dele estava se descontrolando e não parecia só o calor.
Ana Maria já sabia que o chefe de sua empresa era um homem bem bonito só pelas fotos, contudo ao vivo, era muito mais. Mesmo sendo tímida, ela estava correspondendo às investidas dele, porque ele pareceu bem simpático, sendo até um pouco esquisito. Mas, quem não o é? Enquanto conversavam, além do calor, sentia outra coisa dentro de si, talvez efeito do que colocaram na bebida, porém ela era muito ingênua neste assunto para poder compreender com exatidão.
Dimas, num impulso repentino, deu um passo à frente e ao mesmo tempo puxou Ana Maria para perto, obrigando que seus lábios se encontrassem. Primeiro foi só um toque, que depois se tornou intenso demais. Levou alguns segundos até que os dois encontrassem o ritmo da coisa. A dupla que estava espionando comemorou e já tirou algumas fotos daquela cena, mas eles ansiavam por mais e esperavam que eles fossem alguns andares para cima.
Quando Ana e Dimas se desvencilharam, estavam surpresos pelo que tinha acontecido.
- Desculpe por isso! - ele falou - É que...
- Tudo bem! - sorriu sem graça
- Eu sou seu chefe, pode pegar mal para você.
- Acho que ninguém viu. Estamos aqui neste canto! - comentou olhando em volta e vendo as poucas pessoas no recinto distraídas e conversando
- Não sei o que deu em mim! - disse, olhando para a boca dela - Eu não sou assim.
Ele mal conseguiu terminar de falar e ocorreu outro beijo, da mesma forma que o anterior. Mas agora, as mãos dele estavam procurando lugares para tocar o corpo da funcionária.
O beijo terminou e os dois estavam ofegantes, sentindo calor e se olhando. Ana tentava fingir que estava tudo bem, que não tinha problema, mas ela queria mais daquilo e sabia que não era uma vontade natural, só que era desconhecido até então, mas ainda assim delicioso. Pensou ser o momento que a amiga tanto lhe falou sobre isto! Dimas sabia que estava perto do seu limite e ainda não compreendia como aquele fogo surgiu do nada, passara boa parte da tarde com ela e não tivera isso, talvez fosse o efeito da bebida. Precisava tomar uma atitude e resolver aquilo, fosse sozinho ou com Ana Maria. Segurou a mão dela e fez a pergunta fatídica:
- Quer ir lá para o quarto comigo?
Ela apenas assentiu, dizendo sim.
Então, os dois voltaram para o lado de dentro e pegaram o elevador, ignorando a tudo e a todos em volta. Enquanto subiam, eles trocaram alguns beijos e se embolaram no pequeno ambiente flutuante.
A porta se abriu e Dimas puxou Ana pela mão, arrastando-a para o quarto. Destrancou com o cartão e entraram. Um pé com sapato social fez a porta se fechar e os dois quase que caem no chão em vez da cama. Não se sabia onde começava um e terminava o outro. Mesmo com o ar condicionado do quarto, que ficou ligado, o calor não passava, só aumentava. Não houve tempo para pensar, só para sentir e aproveitar aquelas sensações inesperadas.
As peças foram saindo, dando lugar a um contato pele a pele. O penteado e maquiagem foram se desfazendo, os perfumes foram se misturando. As bocas não se desgrudavam, os gemidos começaram baixos e se tornaram cada vez mais altos. Para ela, era a sua primeira vez e nunca tinha sentido nada assim antes, aquele fervor, aquele desejo. Para ele, poderia até ser uma vez como tantas outras que tivera, mas o cheiro daquilo, o cheiro dela estava tomando conta de seus pulmões, liberando alguma sensação desconhecida por ele até então.
Os dois se uniram naquela cama bagunçada, trocando carícias, beijos, gemidos, chegando ao ápice quase que ao mesmo tempo, influenciados pela substância que colocaram em suas bebidas e que desencadeou tudo aquilo. E quando acabou, todo aquele fogo descontrolado simplesmente se fora, dando espaço à consciência e duas pessoas ofegantes.
Dimas deitou-se ao lado de Ana Maria e logo soltou:
- Esqueci a camisinha. Que merda! - pôs a mão no rosto
- O que o pessoal vai falar? - ela se perguntou
Eles nem tiveram tempo para pensar e sequer descansar do ato, pois a porta do quarto se abriu abruptamente e a luz cegou os seus olhos. E o que surgiu, quando a visão voltou ao normal, foram duas figuras, gritando e uma delas com o celular filmando e tirando foto daquela cena. Imediatamente, cada um dos dois puxou um lençol, tentando esconder o que desse, em especial Ana Maria escondeu o rosto de tanta vergonha. Porém, logo o chefe esbravejou, pois reconheceu aqueles dois:
- O que vocês estão fazendo aqui?
- Acabando com sua reputação, jovem Dimas. Não queremos você metido com a nossa cidade! - falou um
- Até porque, como confiar em uma empresa que o dono se relaciona com as subordinadas. - gargalhou, puxando o lençol onde Ana se escondera
- Ana Maria! - gritando em uníssono
- Cunhado! - ela respondeu
- Peraí? Vocês se conhecem? - apontou e já tirando conclusões , esbravejou em seguida - Isso era um plano de todos vocês?
- Não! - Ana Maria tratou de responder, querendo apenas sumir
- A gente nem sabia que ela trabalhava na sua empresa. - disse o cunhado
- Não reconhecemos ela porque estava sem os óculos. - disse o pai do cunhado
- Eu não acredito em nenhum de vocês.
- Foi a minha primeira vez... - Ana disse num sussurro, sentindo as primeiras lágrimas caindo no rosto
Dimas sentiu a verdade naquela frase incompleta, percebendo que ela era vítima daquela situação igual a ele. Só que agora havia imagens dos dois naquele quarto e ele tinha que dar um jeito dessas fotos sumirem. Levantou-se depressa, se enrolando no lençol e tentou alcançar a dupla para pegar o celular, mas os dois foram mais rápidos. Sentiu que precisava de ajuda para resolver a situação. Retornou para a cama, simulando a derrota, pegou seu telefone, mandou uma mensagem ao seu assistente, pedindo para que ele subisse ao quarto rápido, trazendo seguranças. Enquanto esperava os reforços, resolveu enrolar a dupla:
- O que vocês querem para que essas fotos nunca sejam divulgadas?
- Já dissemos! Não o queremos envolvido com os negócios de Charmosinha. - o cunhado disse
- O que eu fiz demais para despertar tanto ódio do sindicato?
- Você é um ricaço metido que quer se aproveitar das nossas pequenas produções para sua empresa. - disse o outro
- Já pensaram que talvez isso aumente e muito o comércio de lá? - ele retrucou
- Não queremos saber! Já vimos seu contrato, tem coisas que não admitimos.
- Sobre isso, nós podemos sentar e resolver!
Ana Maria continuava encolhida na cama, debulhada em lágrimas, enquanto o CEO continuava debatendo com os outros dois. Até que ele soltou:
- Queriam tanto me prejudicar que até envolveram uma pessoa inocente em toda essa situação. Ela não tem nada a ver com o assunto e agora corre risco de ter sua imagem divulgada em todos os lugares. Inclusive, nós dois fomos dopados... O que adiciona uma coisinha a mais no processo que posso mover contra vocês.
- Não seria capaz disso! - duvidou o cunhado
- Sou muito capaz! Segundo vocês: não tenho escrúpulos!
Nesse instante, chegou o Assistente Antônio, acompanhado de dois seguranças do hotel.
- O que houve, senhor? - indagou o empregado
- Esses dois entraram aqui e tiraram fotos íntimas minhas e desta moça ao meu lado.
- Estão usando uniformes de garçom. - disse um dos seguranças - Como entraram aqui?
Os outros dois simplesmente olharam em volta e encontrando uma brecha, saíram correndo, sendo seguidos pelos dois seguranças. A perseguição rolou por poucos minutos no andar, deixando a dupla de Charmosinha encurralada. A janela que dava para os fundos do hotel, no corredor, estava aberta. Quando foi cercado, o cunhado recebeu uma trombada e o aparelho celular voou para fora, se espatifando no chão vários andares abaixo. Após isso, os dois foram detidos e levados de volta ao quarto. Um dos seguranças perguntou:
- O que quer que façamos, senhor? Chamamos a polícia?
- O celular? - indagou o assistente
- Se espatifou no chão lá embaixo. - disse o cunhado chorando - O aparelho que ainda estou pagando.
- Só tirem eles daqui. Não quero me aborrecer mais com isso! E obrigado pelo serviço, senhores.
Os dois seguranças apenas assentiram e saíram arrastando os outros dois para fora do hotel. Quando ficaram a sós, o assistente perguntou:
- Como isso foi acontecer?
- Eles doparam nossas bebidas e depois que aconteceu tudo tiraram fotos e filmaram.
- São de Charmosinha mesmo?
- Sim! Inclusive, parentes da Ana Maria.
- Ana Maria? - coçou a cabeça - A moça que ganhou o sorteio e é sua convidada da noite?
- Ela mesma! - apontou para a pessoa escondida nas cobertas, lembrando de uma coisa - Preciso que compre uma coisa na farmácia para mim.
- E o que seria?
Dimas cochichou no ouvido do assistente, que logo saiu correndo para providenciar o pedido. Assim que ele sumiu de vista, o CEO fechou a porta e retornou à cama, mas desta vez, parando ao lado de Ana Maria.
- Ei! - chamou, puxando a coberta - Pode sair desse casulo. Eles já foram!
Ela tinha ficado em silêncio na maior parte da situação, não sabia como reagir e a única coisa que ela queria era sumir da face da Terra. Mas, ela sabia que tinha que falar alguma coisa para não deixar o outro preocupado:
- Eu... Eu... Não sabia que eles estavam aqui. Não tenho nada a ver com isso.
- Eu sei! Nós somos vítimas dessa história toda!
- Se eu soubesse que isso ia acontecer, tinha ficado em casa.
E ela danou a chorar de novo, mas Dimas apenas se sentou perto dela e abraçou, oferecendo consolo naquele momento.
Alguns minutos depois, o assistente retorna com o que comprou, abrindo a porta usando o seu cartão.
- Aqui, senhor. - disse mostrando - E trouxe isto também, só em caso de dúvida. - mostrou as camisinhas
- Obrigado! Pegue um copo de água e traga o comprimido para mim.
Ele fez conforme o outro solicitou e ao entregar perguntou:
- Tudo bem com ela?
- Está abalada! Dê tempo a ela! Pode nos deixar a sós? Pode voltar para a festa.
- Claro, senhor! - falou se afastando - Com licença!
Assim que a porta bateu, chamou Ana. Ela levantou a cabeça, olhando para ele e tentando entender o porquê do copo e do comprimido.
- É uma pílula do dia seguinte. Nós fizemos sem proteção!
- Ah sim! - pegou o comprimido e tomou sem falar mais nada
- Desculpe ter estragado a sua primeira vez. - ele declarou
- Tudo bem! Na verdade, tirando a parte do bebida, até que foi... - e sorriu, tímida - Acho que eu também fui afetada seja lá pelo que eles colocaram no champanhe. - e riu
Ana Maria pegou seus óculos e seu celular, que estavam na cabeceira da cama. Ela olhou a hora e falou:
- Hora da carruagem virar abóbora!
- Já é tão tarde assim? - disse ele olhando o relógio do celular - Bom, pelo menos tome um banho de banheira... Não tem no seu quarto!
- Posso mesmo? - ela perguntou
- Claro! É a minha convidada da noite.
Sem nem pestanejar, ela correu para o banheiro, encheu a banheira com água morna, colocou alguns sais de banho e perdeu a noção do tempo, distraída em pensamentos. Pensou sobre aquele dia maluco e tudo o que tinha acontecido e em como ela queria matar o cunhado e o pai dele. Acho que estava vivendo um momento especial, mas era apenas efeito de algo externo. Não que ela não tenha se sentido atraída pelo chefe, porém toda situação aconteceu fora de seu controle. Não foi ruim, só não foi da forma que ela imaginou e fantasiou.
Saiu do banho enrolada na toalha e viu que já tinha uma muda de roupa pronta e separada por Dimas para ela.
- Vou te levar de volta ao seu quarto.
- Não precisava da roupa.
- Precisava sim! Inclusive... - disse entregando o vestido e os sapatos de festa que estavam espalhados no quarto até pouco tempo antes - Isso é um presente!
Ela agradeceu e os dois desceram de elevador até o andar dos quartos mais simples. Dimas deixou-a na porta do quarto e antes de se despedir, disse:
- Bom, talvez nos vejamos no café da manhã.
Ele ia se afastar, contudo Ana o puxou pelo braço e deu um beijo nele, algo que ele não estava esperando.
- Nos vemos amanhã!
Ana Maria entrou no quarto e encontrou a amiga ainda acordada.
- Isso são horas, dona Ana? - brigou de brincadeira
- Eu estava com o chefe!
- Até agora? - se espantou - Então a noite foi boa hein?
- Na verdade não!
E então, Ana e Larissa ficaram acordadas ainda um bom tempo, para uma deixar a outra atualizada do que tinha ocorrido.

***

A dupla, constituída do cunhado e de seu pai, foi enxotada do prédio do hotel e logo ao serem jogados na entrada, viram as peças do celular todas espalhadas no chão. O cunhado recolheu os pedaços e dentre eles estava um cartão de memória e que ele comemorou muito que ele estava inteiro.
- Que alegria toda é essa? - indagou o mais velho
- O cartão de memória está inteiro. O computador tá lá no carro?
- Sim! Por quê?
- Preciso dele.
Os dois foram ao estacionamento onde estava o carro e aproveitaram para ir embora. Enquanto o pai dirigia, o cunhado ligou o notebook e encaixou o cartão de memória na entrada própria e o dispositivo foi reconhecido. Ele abriu e estava tudo lá, as fotos e os vídeos.
- Está tudo aqui!
- Que maravilha! - comemorou o pai - Agora acabamos com esse rico de merda!
- Mas, e a Ana Maria?
- Borramos o rosto dela! Mas isso precisa estar na internet no máximo na segunda.
- Vou providenciar. - respondeu o meu novo
- Vamos para o nosso hotel e faremos isso de lá.

***

As duas amigas, após horas de fofoca, dormiram bem e acordaram para aproveitar as últimas horas da hospedagem tomando um café daqueles.
Arrumaram suas bolsas e já deixaram tudo pronto para irem embora. Ambas queriam voltar cedo pois tinham que trabalhar no dia seguinte e o transporte nos domingos era péssimo. Desceram para o restaurante, pegaram a comida e enquanto se alimentavam, distraídas, uma pessoa veio falar com elas.
- Bom dia, senhoritas. Posso me sentar com vocês?
A amiga quase deu um pulo por causa do susto. Já Ana Maria apenas sorriu e cumprimentou de volta, respondendo sim à pergunta feita.
- Ele enlouqueceu né? Sentar com a gente? - a amiga perguntou
- Só quer ser simpático, uai.
- Fale por você, já que vocês né... Ontem né...
Ana Maria riu, constrangida, mas a outra não estava errada.
Ele pegou a comida e sentou-se ao lado da funcionária que não estranhava sua presença, resolveu inclusive puxar conversa:
- Gostaram da estadia no hotel? E da festa? - a segunda pergunta sendo direcionada para a amiga
- Bastante! - respondeu a amiga - Tomamos banho na praia, aproveitamos o spa do hotel, a comida também... Foi maravilhoso! E a festa, bem, foi animada!
- Animada? - rebateu Ana Maria - Mais que animada né?
- Para você também, Aninha! Não fui só eu que aproveitei a noite.
Ao ouvir a frase, o chefe se engasgou com a comida, tendo uma crise daquelas de tosse. Ele bateu algumas vezes no peito e Ana Maria deu uns tapas nas suas costas. Não demorou muito e a tosse passou. Ela brigou com a amiga:
- Você sabe que foi por culpa do meu cunhado né?
- Sei, eu sei, Aninha.
- Foram circunstâncias além do nosso controle. - o chefe complementou
- Não finjam que foi só por causa daquilo. - aprontou o garfo para a amiga
Os dois se olharam, pois não era mentira, eles só não queriam admitir.
- Será que podemos trocar de assunto, Lari? - Ana pediu
- E perder a chance de te ver constrangida? - riu de leve - Tudo bem, eu paro! E não se preocupem, não vou contar para ninguém o que aconteceu na noite passada.
- Agradeço a sua discrição. - o chefe agradeceu - Seria um escândalo e tanto!
- Mas seria pior para mim. - Ana completou
- Exatamente! - a amiga concordou - Então, isso morre entre nós três. - fez o símbolo de fechar a boca com os dedos, guardando segredo
Ficaram um tempo comendo em silêncio, até que o chefe puxou novamente:
- Como farão para voltar para suas casas? Vão chamar algum carro?
- Carro? - a amiga debochou - A gente nem tem dinheiro para isso.
- Vamos de transporte mesmo! Por isso vamos sair mais cedo.
- Quanto tempo isso leva?
- Uma hora e meia. - respondeu a amiga - De carro deve dar uns quarenta minutos. Só para você ter uma estimativa!
- Eu levo vocês! - ele declarou
- Não precisa! É do outro lado da cidade. - protestou Ana Maria
- Faço questão! Já que amanhã estarão na sede da empresa, devem chegar descansadas.
- Poxa, não vou recusar! Já que faz tanta questão! - a amiga soltou, sentindo um chutão de Ana na sequência - Ai!
- Por favor! - disse ele olhando para Ana - Para chegarem em segurança.
Ela apenas assentiu, concordando enfim.
Eles terminaram o café da manhã, fizeram o check-out do hotel e rumaram para o carro, logo pegando o caminho para o subúrbio da cidade, para as casas de Ana e Larissa. As bolsas estavam no porta-malas e elas foram guiando-o no trajeto. O grupo foi conversando brevemente no trajeto, falando sobre suas funções na empresa.
- É do setor contábil como a Ana, Larissa?
- Sim! Praticamente entramos juntas na empresa.
- Fazemos de tudo um pouco. - completou Ana
- Eu sei. É uma falha deste setor, porque certeza que vocês teriam capacidade para cuidar de mais coisas e sozinhas.
- Por isso que nós duas queremos alcançar uma promoção... Trocar de setor! - disse Lari
- E qual setor gostaria de ir? - indagou ele
- O desenvolvimento de produtos. - respondeu ela
- E você, Ana?
- Marketing. - sorriu
- Em breve devemos abrir um processo seletivo interno para tal. Sempre fazemos!
- Então iremos nos inscrever. - sorriu a amiga
Depois, a viagem para a zona menos turística da cidade seguiu apenas com comentários sobre como foi a festa, que provavelmente seriam os comentários da manhã seguinte, quando todos estariam de volta. Como dançaram, como beberam, como conversaram e riram.
Cerca de quarenta minutos de trajeto e Larissa foi deixada primeiro em sua casa. Se despediu da amiga e do chefe, entrando no condomínio onde fica seu apartamento.
- Esse condomínio não aparenta ser ruim. - soltou Dimas
- Isso porque você ainda não a ouviu falando sobre as coisas que acontecem aí. - riu
- Eu imagino! - riu de volta - E você, onde mora?
- Não é muito longe daqui e bem... Não é nenhum condomínio. É uma quitinete!
- Mostre o caminho.
Ana fez conforme ele solicitou e em menos de cinco minutos, eles estavam na frente do portão da pequena vila onde ela morava.
- É aqui?
- Sim! Obrigada a carona!
- Não tem de quê!
Ana Maria foi pegar sua bagagem na mala, porém com a quantidade de coisas que ganhou da festa - ainda mais porque foi a convidada de honra do CEO - acabou se estabanando para tirar, sofrendo com o peso. Essa situação chamou a atenção de Dimas, que desceu do banco do motorista e foi ajudá-la. Acabou que ele teve que carregar até o lado de dentro, pois realmente estava muito pesado.
A moça de óculos seguiu na frente e entrou numa das casas, passando por um pequeno corredor com algumas portas, parando na frente de uma delas e abrindo. Dimas estava atrás dela e deixou a bolsa pesada ao lado da porta, observando como o ambiente era pequeno. Ele tinha ideia de que as pessoas moravam em locais apertados, mas nunca vira com seus próprios olhos.
- O que foi? - Ana o tirou do devaneio
- É pequeno né?
- Um pouco! Mas, é só para mim e eu não sou tão espaçosa, então, até que funciona.
- Bom, eu já vou indo.
- Está bem! - olhou para baixo, tímida - Até mais ver!
Dimas sentiu um cheiro diferente no ar, dizendo que ela não queria que ele fosse embora. E ironicamente, ele também não queria.
- Tem certeza? - indagou - Não parece que quer que eu vá. Senão nem teria me chamado para entrar... Com a desculpa da mala!
- Eu... Eu... - Ana tentava encontrar as palavras
Dimas fechou a porta, trancando apenas eles dois no ambiente. Ficou olhando para aquela garota que conhecera da maneira mais inusitada no dia anterior. Ela parecia tão comum aos olhos de outras pessoas, mas, para ele, ela tinha algo de diferente. Talvez fosse realmente o cheiro que o atraiu, porém, as poucas horas que passara com ela já lhe mostraram um pouco de sua personalidade. Ela não ia falar, ele quem tinha que tomar uma atitude. E assim o fez, dando um beijo nela. Calma, tranquilo, como deveria ter sido na noite anterior. Quando os lábios se separaram, ela protestou:
- Não devia ter feito isso!
- Por quê?
- Agora mesmo é que não vou deixar você ir.
Ao terminar a frase, Ana simplesmente se jogou nos braços deles, emendando um beijo atrás do outro. Primeiro, os dois se atracaram no sofá da pequena sala e depois, precisando de mais espaço, se jogaram na cama que era bem ali do lado. Não havia metade da ferocidade, mas havia o dobro de desejo se comparado com a noite anterior.
As peças de roupas foram caindo e se espalhando pelo chão, arremessadas uma a uma. Logo estavam apenas de roupas íntimas. Dimas parou um segundo para observar Ana, que fazia o mesmo com ele. Estavam guardando aquele momento em suas memórias!
Dimas tirou os óculos de Ana e colocou-os na mesa de cabeceira, voltando a beijá-la logo em seguida, misturando ainda mais o seu cheiro com o dela, criando uma fragrância que ela nunca mais esqueceria.
Ana sentia os toques de Dimas em seu corpo como pequenos choques que percorriam por toda sua espinha. Ela ainda estava descobrindo como era se relacionar com alguém desta forma, ainda estava para descobrir sobre o que gostava ou não. Talvez ele fosse um bom guia para a tal descoberta.
Não demorou muito e logo eles estavam com respirações sincronizadas, fazendo a cama de madeira ranger ao arrastar no piso, sem esquecer da devida proteção dessa vez. A temperatura aumentava dentro daquele ambiente fechado. Eles atingiram o ápice, soltando gemidos baixos para que os vizinhos de parede não pudessem ouvir.
Terminaram esticados na cama, olhando para o teto, tentando recuperar o fôlego.
Dimas ainda ficou mais algumas horas na quitinete com Ana Maria, mas teve que voltar pois na manhã seguinte já viajaria a trabalho novamente.
- Espero que nos vejamos de novo. - ele disse antes de ir
Ana ficou sorridente, arrumando a bagunça que eles fizeram. Depois se preparou para descansar, pois o trabalho já voltava no próximo amanhecer, o que ela não sabia era que não seria mais uma manhã qualquer.
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