sexta-feira, 13 de março de 2015

Capítulo 2 – Apoio necessário

Obs: Tem algumas palavras que tem o glossário lá no final do capítulo.

Tsuyoshi conduziu Akemi até o sofá, onde ela se sentou. O garoto foi buscar um copo de água para ajudá-la a se acalmar.
-Aki-chan, me conta esta história direito e com mais detalhes.
-Eu sai no mês passado com o Hayama Takeshi da 3-C. Nos divertimos no karaokê e fomos ao motel depois, até usamos camisinha. Mas, eu comecei a me sentir muito mal essa semana e pensei que podia ser uma gravidez. Estava com uma pulga atrás da orelha! Fiz o teste só para tirar essa preocupação, só que... - não completou a frase, apertou o copo de vidro de leve
-Só fez este teste de hoje de manhã?
-Só ele!
-Por que não faz outro? Este pode ter dado errado.
-Pode ser. Tem mais uma dessas coisas na caixa, no mesmo lugar onde estava esse.
-De onde tirou a chave? - ela só assentiu, ele pegou e entregou-a – Aqui.
O rapaz indicou onde ficava o banheiro. Akemi repetiu o processo que fez de manhã e saiu em seguida.
-Temos que esperar cinco minutos. - afirmou receosa
Os dois ficaram o tempo todo sem trocar uma palavra. Akemi se sentou novamente e tentou se distrair olhando para o teto. Tsuyoshi falou:
-Duas listras querem dizer o quê?
-Positivo! - respondeu parando ao lado dele
-Então, deram duas listras... E de novo pelo visto!
Aiga não disse nada, só começou a chorar. Depressa, Washiyama abraçou-a, oferecendo-a um ombro para chorar. Ela ficou um tempo assim até se acalmar. O garoto disse depois:
-Aki-chan, eu disse que vou te ajudar com isso. Olha para mim! - ela o fez – Eu tenho uma prima que trabalha numa clínica aqui perto e é no caminho se sairmos da escola. Quer que eu ligue para ela e confirmamos essa gravidez e você decide o que fazer?
-Sim! É melhor resolver isto logo!
O menino ligou para a prima naquele instante. Ela era ginecologista e trabalhava lá. Ele explicou a história pulando muitos detalhes, apenas usou as palavras amiga e grávida. Ele conseguiu marcar para o dia seguinte, logo após a aula deles no dia seguinte, um sábado.
-Pronto! - afirmou ao final da ligação
-Tsuyoshi-kun... Estou tão nervosa.
-Eu imagino. Mas olha, eu irei com você amanhã está bem? Estarei lá com você.
-Obrigada! - ela sorriu entre as lágrimas
Ele respondeu com um leve sorriso no canto da boca e completou:
-Agora, é hora de você ir para casa. - pegou os testes sobre a bancada – E leve isso com você.
-Acho melhor não! Minha irmã poderia ver.
-O meu irmão poderia ver e seria mais estranho para mim do que para você. - ele riu antecipadamente – Sem Mpreg, obrigado!
Os dois riram. Realmente fora um comentário engraçado. Tsuyoshi-kun levou-a até o seu apartamento.
-Fique bem, Aki-chan. Qualquer coisa, você tem o meu número.
Ela assentiu e entrou. Suspirou desesperada. Teria resposta para o que queria no dia seguinte.
A certeza já estava em seu coração, mas a razão precisava tomar um choque para ela acreditar no que aconteceu.
Passou o resto da tarde e boa parte da noite sozinha, sua irmã chegara bem tarde como na maioria dos dias.
-Aki, ainda acordada? Você tem aula cedo amanhã.
-Sei disso! Só vou terminar de assistir ao programa e já vou deitar.
-E como foi a aula hoje? - perguntando, sentando-se ao lado dela no sofá
-Foi normal, como sempre! Ainda estou num período importante de estudos.
-E fico feliz de ver que está se dedicando, ao invés de sair com garotos todos os dias.
-As vezes isso enjoa um pouco, irmã. São apenas diversões temporárias.
-Se sabe disso, porque ainda faz.
-Sei lá! Acho que só para não ficar deslocada.
-Esse é o mal da sua idade: Ser aceito. Quando se envelhece um pouco mais é que se percebe o quão bom é ser diferente e não se deixar levar pela maioria. - ela sorriu, nostálgica – Ai você vai perceber quanto tempo perdeu tentando se encaixar quando simplesmente podia ser você mesma.
-Espero um dia entender isso, Onne-chan¹.
***
E o irmão de Tsuyoshi, Kenichi, chegou em casa do trabalho. Assim como a vizinha e paixonite, ele morava com o irmão que se mudara para Tóquio a trabalho. E seus pais continuaram na cidade natal.
E o garoto teve uma surpresa com Akemi naquele dia. Ele queria se declarar para ela, mas acabou se envolvendo em algo que era pessoal demais para ela. Por seu amor a garota resolveu ajudá-la. Porém, além deste ponto não sabia o que iria fazer. Só não queria vê-la sofrer, por isso oferece uma mão a ela. Era algo muito complicado para se calcular o que poderia acontecer e isso transparecia em seu rosto, tanto, que seu irmão indagou:
-Parece preocupado. O que houve?
-Nada. Só preocupado... Com a escola.
-Muitas provas?
-E muita matéria, Nii-san².
-Pelo menos você não tem mais nada com o que se preocupar.
-Sim, tem razão. - e mentiu mentalmente
***
E o dia seguinte, sábado, chegou. As aulas começavam na mesma hora de todos os outros dias e iam até o meio-dia, era uma tortura estudar seis na semana, mas os alunos já estavam acostumados.
O relógio e o sinal da escola bateram meio-dia. Os alunos começaram a sair.
Akemi e Tsuyoshi tinham combinado de se encontrar algumas esquinas depois da escola, tudo isso para evitar comentários.
A garota foi na frente e ficou esperando-o. Poucos minutos depois ele apareceu.
-Vamos, Aki-chan?
-Sim, Tsuyoshi-kun.
Caminharam por mais alguns minutos até chegar a clínica.
O rapaz cuidou de toda a entrada dela por lá. Eles preencheram uma ficha com as informações dela e ficaram aguardando. Então, ela finalmente foi chamada e eles entraram no consultório.
-Boa tarde, Aiga-san e Tsu-kun.
-Boa tarde, Sanako-chan.
-Essa é a amiga a que se referiu no telefone?
-Ela mesmo!
-Aiga Akemi é um prazer. Sou a Dra. Yamamura Sanako. E qual o problema?
A menina ficou pouco receosa de responder, olhou para o garoto que lhe deu uma pequena dose de coragem para falar.
-A minha menstruação está atrasada tem umas duas semanas. Também estou sentindo uns enjoos, até fiz um teste de gravidez... Dois... Que deram positivo.
-Entendi. Bem, pode ir para aquele lado de sala, tire sua roupa e vista o avental que eu vou te examinar.
Enquanto a menina estava fora da visão dela por apenas uma divisória que havia no ambiente, Sanako cochichou com o primo:
-Ela é só sua amiga mesmo?
-Sim.
-Tem certeza? Tem cara de ter você no bebê também.
-Não... Eu só gosto dela e... Quis ajudá-la. - ele bufou – Não estou mentindo.
-Vou acreditar em você. - e falou com Akemi – Já se trocou, Aiga-san?
-Sim!
-Estou indo... - olhou pro primo – E você fique aqui!
A ginecologista abriu o avental e examinou a paciente por fora, só por rotina. Depois pegou um ultrassom interno.
-Para quê isso? - Akemi perguntou
-Para ver se há um bebê ai.
-Mas comprido assim, nunca vi nenhum assim.
-Este é interno, colocarei dentro do seu canal vaginal. Abra as pernas!
Colocou gel na ponta daquilo e começou o exame. Mexeu um pouco para lá e para cá e finalmente conseguiu ver algo.
-Ora, ora! O quê temos aqui? - apertou um botão na máquina para tirar fotos – Meus parabéns, você está grávida!
E foi assim que o choque chegou e de vez. Ela olhou para a tela, que foi virada para ela e não sabia o que pensar. Um desespero tomou conta dela. Ela pensava no que faria.
A médica tirou o ultrassom de dentro dela e pediu que se vestisse de novo e voltou a companhia do parente.
-E ai?
-Temos um resultado positivo. Aiga-san está grávida!
E ela começou a pegar e preencher alguns papéis, até que Akemi retornou e se sentou na cadeira vazia, quieta.
-Bem, nós temos um assunto sério aqui. - Sanako se pronunciou – Você deve decidir se vai prosseguir com a gravidez ou se vai abortar. Mas não precisa responder agora, precisará de um tempo para pensar. Tenho certeza que foi uma notícia forte para você. - e mostrou os papéis – Estes aqui são para você pegar os documentos necessários para a sua gravidez: A cartilha e o chaveiro³. E este outro é para autorizar o aborto, como você é menor de idade precisa de alguém responsável para assiná-la. Preencha o que você for usar.
-Ok! E outra coisa, Yamamura-san, se for fazer o aborto terei que marcar também?
-Sim! Mas você sabe do que um aborto poderá fazer no seu corpo não é?
-Não faço ideia.
-Bem, ele vai prejudicar o seu corpo um pouco e pode ser que no futuro tenha dificuldades para engravidar. E quanto mais demorar a fazer, o feto estará maior e mais prejudicial será.
-Entendo! - ela disse, cabisbaixa
-Bem, é só isso. - completou a doutora – Quando decidir é só ligar para cá e marcar. - estendeu um cartão
-Claro! Obrigada!
Assim, eles saíram. Tsuyoshi acompanhou Akemi para casa. Durante o caminho seguiram em silêncio. A menina não esboçava nenhuma reação desde que saiu de trás daquela divisória no consultório.
Eles finalmente chegaram ao prédio. Subiram até o andar deles e o garoto resolveu falar quando chegaram as portas, uma ao lado da outra:
-Aki-chan, tá tudo bem mesmo? Você não falou nada e continua com a essa cara indiferente desde que saímos de lá.
Ela estava de costas para ele, não queria demonstrar o que se passava por sua cabeça. A sua indecisão. O seu medo. Tinha conseguido manter tudo guardado e lhe torturando por dentro, até aquele momento.
Permitiu que as primeiras lágrimas caíssem, silenciosas. Continuou virada de costas para ele.
O rapaz, ansioso por uma resposta, virou-a para si e não precisou ouvir uma palavra dela, teve a resposta que queria. Depressa, colocou Akemi entre os seus braços e lhe ofereceu novamente o ombro como consolo. E também, não disse mais nada.
Passados alguns minutos, ele falou:
-Vem, Aki-chan. Eu não vou deixar você sozinha.
Pegou a chave do apartamento dela e entraram. A garota se arrastou até o sofá. Não parava de chorar. Ele se pronunciou e pegou um copo de água para ela.
-Tsuyoshi-kun, o que eu vou fazer? - perguntou pegando o copo
-Você que tem que decidir, Aki-chan. Mas, primeiro, tem que contar isso a sua irmã.
-Sim. Esse é o problema! Eu vou levar um sermão dela. E se bobear, ela chama os meus pais aqui.
-Mesmo se for para o aborto? Precisa disso tudo por parte dela mesmo?
-Eu conheço a minha irmã. Ela ficava me dando conselhos quanto a tomar cuidado e olha o que houve... Tsuyoshi-kun, eu quero morrer!
-Por que ia querer morrer? Eu não sei o que seria de mim sem você. - ele soltou sem pensar e acabou fazendo uma careta
-O que quer dizer com isso, Tsuyoshi-kun? - ela questionou
-Não é nada, Aki-chan! Eu... Eu...
-Você gosta de mim? - sorriu de leve e chorou um pouco mais – Apesar de eu ser quem sou?
-E o que você seria, Aki-chan, além de uma menina normal?
-Uma pessoa irresponsável e a mais falada do colégio.
-Eu não vejo isso. Vejo uma garota diferente das outras, que veio de uma cidade pequena e começou a estudar em Tóquio e tem a mesma melhor amiga desde sempre. - falou pegando na mão dela
-Não precisa falar essas coisas para me consolar. Isso não vai mudar o fato de que tem um bebê aqui. - e colocou a mão na barriga – E eu tenho que resolver! Não vejo outra opção a não ser falar com a minha irmã... Mas ainda assim estou com medo.
-Se você quiser eu posso ficar ao seu lado enquanto fala com a sua irmã.
-Se fizer isso ela vai pensar que o filho é seu e não é.
-Eu não ligo para isso! Na verdade, não vejo problema em ter um filho com a Aki-chan.
-O quê? O que você está dizendo? - ela soluçou
-Caso queira ficar com esse bebê, eu serei o pai dele.
-Tsuyoshi-kun... - ela olhou para ele – Obrigada! Você gosta mesmo de mim, não é?
-Sim, mais do que imagina.
-Então precisarei de você do meu lado quando for contar sobre o bebê a minha irmã amanhã.
-Estarei aqui! Só me chamar.
-Agora você tem que ir. Daqui a pouco ela chega e eu preciso me recompôr.
-Está bem, Aki-chan. Eu te vejo amanhã.
A garota levou-o até a porta e agradeceu a ele mais uma vez.
O dia seguinte seria muito importante para ambos. Tsuyoshi acabou se envolvendo naquilo mais do que queria, mas para ele tudo valia por seu amor a Akemi. E se necessário fosse, ele levaria a mentira de ser o pai da criança até o fim.

Glossário:
1- Onne-chan: Irmã mais velha. É como um “maninha” para nós.
2- Nii-san: Irmão mais velho.
3- No Japão, eles dão a cartilha para acompanhar o pré-natal. O chaveiro é para as pessoas identificarem as grávidas no transporte público. É um chaveiro escrito: “Na minha barriga tem um bebê”. (Vi no canal da Lidy Soto no Youtube)

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