sexta-feira, 24 de abril de 2015

Capítulo 2 - O melhor da academia

Dois meses se passaram desde a primeira vitória de Amélia. Ela melhorava cada dia mais e perder deixou de ser parte de sua rotina.
Marc continuava seu treinamento para ser o melhor da academia, com ajuda de Amélia. Agora, ela era uma adversária e tanto. O senso de observação, cujo ele ensinara a menina, se mostrava contra ele. Em um dos treinos, na casa de Marc, ela segurou o soco dele. Aquilo era meio impossível, devido a velocidade, até para o professor de karatê. Chocado, falou:
Como fez isso?
–Você sempre começa com a direita.
Marc, totalmente revoltado, continuou a sequência de golpes. Tudo foi seguido narrado pela voz de Amélia, enquanto defendia:
–Esquerda, direita, chute baixo, direita, direita de novo, chute alto. – deu um passo para trás – Opa! Esquerda, esquerda e direita.
–Eu não deveria ter te ensinado isso. - disse rindo
–Impressionado?
–Totalmente.
Amélia não conteve o riso, por causa da expressão que Marc fizera.
O garoto já se preparava para desafiar o melhor da academia e fazer do duelo deles um grande evento. Pedira para sua parceira, Amélia, espioná-lo. Ela descobriu muito sobre ele. Se chamava Rafael e era boxeador. Estava em seu posto há dois anos e recebera muitos desafios, porém ninguém fora capaz de derrotá-lo.
Apesar da enorme fama e favoritismo de Rafael, Marc estava determinado a quebrar isso.
Mas, algumas coisas teriam de ser feitas antes de Marc fazer o desafio frente a frente a Rafael. Foi, então, falar com o professor de karatê.
–Professor, posso falar com você?
–Claro! Vamos ali, para termos mais privacidade.
Dirigiram-se ao local indicado.
–Fale.
–É que... Bem, eu quero desafiar o Rafael pelo título da academia.
–Hum... E quer minha ajuda?
–Exatamente.
–Amélia. - a menina olhou – Venha aqui! - disse fazendo o gesto com a mão.
–Diga, professor.
–Acho que vamos precisar da sua ajuda para sondar e observar o Rafael.
–Eu já até sei o motivo. Não será necessário explicar. - comentou Amélia
O professor esclareceu todos os pontos aos jovens alunos. Falou um pouco o que sabia sobre o boxeador. A garota deu um jeito de descobrir quais eram os dias que Rafael estava na academia.
Alguns dias se passaram. Marc e Amélia marcaram de comparecer a academia para o garoto fazer o desafio. Ele pedira a menina para acompanhá-lo, apenas para ter um apoio moral.
Ao entrarem, todos pararam para observá-los, principalmente o rapaz. Rafael estava no saco de pancadas, Marc aproximou-se dele e falou:
–Rafael, posso falar com você?
–Claro. Mas, primeiro, quem é você?
–Sou Marc, faço karatê aqui.
–Hum... O que quer comigo? - perguntou Rafael, já pressentindo algo
–Eu te desafio a uma luta. Pelo título de “melhor da academia”. Aceita?
–Sim. Vai ser divertido!
Um aperto de mão selou tudo.
Então os dois karatecas saíram Cada um foi para sua respectiva casa.
Amélia chegou ao lar e percebeu que seu pai encontrava-se muito feliz e reuniu a família para contar uma novidade.
–Filhos, querida, tenho uma boa notícia.
–Diga, pai. - falou o irmão de Amélia
–Fui promovido!
–Isso é ótimo! - exclamou a esposa
–Ganharei o dobro, mas... Teremos que nos mudar para outra cidade.
–O quê?! - gritou Amélia – E nossa vida aqui?
–Ora, vai ficar por aqui.
–De novo não é, papai? Serei a novata da escola de novo. Legal!
Eles já passaram por situações de mudanças pelo menos umas três vezes; E a garota demora a se acostumar aos novos lugares.
–E alias, Amélia, não vai mais fazer essa coisa de luta. Não é coisa de menina e também não gosto daquele garoto que anda com você.
–O Marc? Você não o conhece, pai.
–E nem preciso. Estamos de mudança.
–Que raiva que eu tenho disso. Quando eu tiver minha vida... Ah...
Amélia saiu rápido da sala e bateu a porta do quarto. Ela afundou o choro no travesseiro, por dois motivos: Passaria por outra mudança; Por causa de Marc, tanto pelo que o seu pai disse, como o que sentia por ele.
Teria que tomar uma coragem tamanha para lhe dizer. Mas de quê adiantaria? A distância viria mais rápido do que pensasse. Ainda havia a reprovação do pai.
Amélia decidiu manter a sua mudança em segredo do amigo, para não preocupá-lo. E se concentrou em ajudá-lo no seu objetivo: Ser o melhor da academia.
A pedido de Marc, Amélia, disfarçada, fora até a academia com uma câmera para filmar o adversário dele treinando. Com isso, fariam um mapeamento completo do seu estilo. Uma vantagem para Marc.
Mais dias se passavam e a grande luta se aproximava. Era mais uma das tardes em que Marc e Amélia treinavam juntos. E naquele dia ele ensinava a ela alguns modos de derrubada. Marc fazia os movimentos e Amélia era a cobaia. O seu lado infantil gostava de girar, indo de um lado a outro e caindo.
Em um destes, Marc perdeu o equilíbrio e caiu em cima de Amélia. O corações de ambos aceleraram pela proximidade dos rostos. Os olhares se cruzaram, a menina sorriu. Os rostos se aproximaram mais, os lábios quase se tocando... O pai de Marc apareceu e os interrompeu.
–Filho, telefone para você.
Ele ajudou Amélia a se levantar e foi atender o telefonema. Quando Marc terminou, Amélia foi para casa, tinha que arrumar a mudança. Ambos estavam sem graça com o que acontecera. Ralph falou com o filho:
–Quase que beijou a Amélia hoje em. Gosta dela não é?
–Gosto. E agradeço por ter me interrompido. - disse ironicamente
–Acho que eu sou adivinha é?
E os dois riram. E depois, o pai comentou:
–Eu gosto da Amélia e acho que vocês formariam um belo casal.
–Obrigado, pai.
–Só digo a verdade.
Amélia chegou a sua casa.
–Filha, precisa arrumar suas caixas depressa. Mas mudamos semana que vem.
–Como é? Mas... Semana que vem é... A luta de Marc.
–Não interessa.
A menina sabia que não poderia reclamar.
–Tudo bem, pai.
E foi ao quarto, entristecida, arrumar as coisas.
A partir daquele dia, faltavam sete dias para a luta pelo título da academia. Os dois garotos treinavam a todo punho. Rafael estava confiante e tinha certeza de que ganharia. Afinal, ela era forte e musculoso. Seu adversário aparentava ser bem fraquinho. Marc prometera se esforçar para vencer a luta honestamente e ele não desonraria seu inimigo.
E finalmente chegou o dia! Dia da grande luta e da mudança de Amélia.
Os dois garotos decidiram descansar durante o dia para guardar energia e queimá-la a noite.
Amélia passou o dia fechando caixas e empacotando coisas. Terminaram tudo próximo ao horário da luta. Não demoraria muito para que fossem embora. Amélia queria falar com Marc antes da luta, se despedir dele, desejar-lhe boa sorte. Saiu de casa e foi correndo a academia.
Marc estava no vestiário, havia se trocado e esperava lhe chamarem. Ele estava nervoso, pela luta em si e por não ter visto Amélia aquele dia. Ele queria que ela participasse disso com ele. O professor de karatê apareceu.
–Marc, como está? Está nervoso?
–Um pouco. Rafael é muito bom!
–Modéstia a parte, acho você bem melhor.
O garoto sorriu. O professor desejou-lhe boa sorte e saiu.
Em seguida, Amélia chegou e viu a academia lotada. Realmente muitos vieram para ver. Ela encontrou o professor, cumprimentou-o e logo perguntou onde Marc estava. Ele indicou e a menina correu para lá, já que não tinha muito tempo. Abriu a porta, Marc estava de costas e ao vê-la entrar, se virou e falou:
–Pensei que não viria.
–Fiquei ocupada o dia inteiro. - disse mordendo os lábios
Marc percebera que havia algo errado.
–Aconteceu alguma coisa?
Amélia sabia que não poderia mentir.
–Eu só vim aqui para desejar boa sorte. E me despedir.
–Despedir?
–É! Eu não te contei, hoje eu vou me mudar para outra cidade. Não disse porque não queria te preocupar.
Marc ficou estático e demorou a responder.
–Então é isso mesmo? Vai largar tudo? Por que vai se mudar?
–Meu pai foi promovido.
–Entendo! - falou ele ficando triste, sentindo o coração apertar.
Amélia se aproximou dele. Colocou a mão no rosto de Marc, ele pôs a dele por cima.
–Manteremos contato. - disse ela sorrindo
Se olhares cruzaram-se novamente. A menina foi tomada por uma vontade do seu âmago. Nem pensou, apenas beijou Marc. Um beijo apaixonado e triste, por conta do clima de despedida.
Quando o beijo terminou, Amélia, caída em si, enrubreceu. Num sussurro, completou:
–Boa sorte, Marc.
Então, ela saiu. O coração de Marc estava confuso e totalmente fora de ritmo. Decidiu se concentrar em ganhar sua luta por Amélia.
Amélia saiu sentindo o peito pulando e um pouco ofegante. “Mas o que eu fiz?”, pensou. Ela sabia o porquê fizera, mas não queria admitir.
Aquele momentos se manteria na mente de ambos por um longo tempo.
A garota retornou a casa e logo a família partiu com a mudança. Em sua cabeça só tinha uma coisa: Marc.
O garoto logo foi chamado para a arena. Como o desafiado fora Rafael, ele escolheu o ringue de boxe para a luta; Marc não ligava para o lugar, desde que pudesse bater.
Os lutadores subiram, foram apresentados e logo começaria a luta. O professor de karatê apenas falou para Marc:
–Faça o seu melhor, sei que consegue e boa sorte!
Os dois jovens foram ao centro do ringue, se cumprimentaram. Rafael ironizou:
–Não vai colocar suas luvas?
–Eu não preciso.
O juiz deu o “valendo” e o sinal tocou.
Ambos armaram suas guardas e começaram a se encarar. Rafael deu uma sequência de socos, porém Marc desviou de todos. Rapidamente, contra-atacou e acertou uma belo golpe no rosto do adversário, que fez Rafael ter a cabeça jogada para trás.
Ele voltou da vertigem logo e continuou os seus ataques. A velocidade de Marc auxilou-o a desviar novamente. Rafael se irritou com aquilo e prosseguiu golpeando, cada vez mais rápido. Então, Marc finalmente recebeu alguns socos no rosto e barriga.
Pulou para trás para desviar da ferocidade de Rafael e dar uma respirada. Sentiu as dores e voltou ao combate. Marc quem realizou o próximo ataque. O combo que Amélia defendera facilmente, entrou no corpo de Rafael. Os dois chutes que causaram o maior dano.
Marc não deu tempo para o adversário recuperar o fôlego. Uma sequência de diversos chutes se seguiu. E afetou drasticamente Rafael. O boxeador ficou totalmente tonto e desnorteado. Marc apenas encerrou a luta com um outro chute em sua nuca, nocauteando-o. Toda a plateia vibrou, principalmente o pai de Marc.
Quando Rafael acordou, foram declarar o vencedor. O juiz chamou os dois ao meio do ringue. Levantou o braço de Marc e o anunciou como o novo melhor da academia.
Respeitosamente, ele abraçou Rafael e agradeceu pela luta. Ele retribuiu e se sentiu honrado por ter perdido seu título para um ótimo lutador.
–Eu posso treinar com você, cara? - perguntou Rafael
–Claro! Vamos trocar nossos ensinamentos. - respondeu sorrindo
Depois de tudo, no caminho de casa, Ralph indagou ao filho:
–E Amélia? Não a vi.
–Ela foi falar comigo enquanto estava no vestiário. Ela estava de mudança.
–Assim de repente?
–Já fazia um tempo, mas só me contou hoje. - Ele suspirou – E tem mais: Ela me beijou.
O pai deu uma risada de “Eu sabia!”.
–Espero que ela mantenha contato como prometeu.
–Eu também, filho. Eu também.

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