Ontem, eu e Gustavo tivemos uma conversa um pouco séria e até tensa, talvez mais do meu ponto de vista do que do dele. Eu não sei se o que ele está sentindo por mim é mais do que eu sinto por ele. Na verdade, eu ainda não tinha parado para pensar direito sobre minha relação e muito menos meus sentimentos por ele. Só estou levando isso como uma amizade colorida e uma companhia de foda mesmo. Não me vejo namorando alguém ainda, não ao pensar racionalmente no assunto.
Logo de manhã, acordo, tomo meu café, me arrumo e vou para a minha terapia. Eu vou uma vez a cada quinze dias! Tem já alguns anos, quase dois para ser exata. E o foco do dia eram sobre meus complexos com o blog, com o reaparecimento do meu ex e também da conversa com o Gustavo.
Tinha acontecido muita coisa nesses poucos 15 dias, mas do meu amigo de foda ela já sabia. Mas, as outras coisas eu vou ter que atualizá-la. Não sei se uma hora de sessão vai ser suficiente para tal. Cheguei, nos cumprimentamos e me sentei numa das poltronas e ela ficou na outra. Logo ela perguntou como eu estava e o que tinha acontecido no intervalo de tempo entre uma sessão e outra. E logo fui despejando tudo, contando com mais detalhes sobre o reaparecimento do meu ex, o almoço de família e sobre o Gustavo. E ela, pontualmente, comentou sobre os assuntos.
- Não acha que está na hora de dar um ponto final nessa história com seu ex? Entendo que já falou com ele diversas vezes e há a medida restritiva, antes que aconteça algo mais grave, diga que você realmente não quer mais nada, em alto e bom som.
- Isso vai ser difícil. Tanto para ele entender, já que não respeita a distância, quanto eu conseguir falar sobre.
- Não vale a pena tentar? Transfira a força que aquela Helena do blog tem para a Helena da vida real. Aquela está em algum lugar ai!
- Eu estava pensando nisso. Estou cansada de fugir.
E falou sobre meu anonimato com o blog...
- E também precisa criar coragem para contar a sua família sobre o blog. Eles precisam saber!
- Seria muito criticada por eles.
- Mas e sua irmã e prima? Comece por elas!
- É uma boa ideia! – sorri
E sobre o Gustavo...
- Ele te perguntou isso?
- Sim. Eu fiquei tão nervosa! Talvez seja porque não me sinto pronta pra outro relacionamento.
- Não, você sente medo de se machucar igual antes. Porque, por mais entranha que seja, você já tem uma relação com ele. Sabe o que sente por ele?
- Eu nunca tinha parado para pensar...
- Você gosta dele. Do jeito que fala, dá para perceber! Agora se é por amizade ou por romance, só você pode dizer. Reflita sobre isso! Mas, da mesma maneira que ele falou, não se pressione, faça no seu tempo.
E assim, conversamos sobre mais algumas coisas da minha autoconfiança e sobre o resultado dos exercícios que tenho feito nos últimos tempos. E por incrível que parível, a sessão acabou no horário.
Sai de lá e parei para almoçar no caminho, aproveitando para ir a um dos restaurantes que mais gosto e que tem perto da minha casa, o mesmo em que encontrei o Pedro naquele domingo à noite e fugi dele de novo. Minha terapeuta tem razão: tenho que dar um ponto final nisso, de uma vez. Eu já tentei outras vezes, mas mais fugindo do que enfrentando.
Depois de comer, voltei para casa, tomei um banho e fiquei de bobeira assistindo algo na TV, sem perceber a hora passar.
Então, enquanto relaxava tomando uma xícara de chá, já no meio da tarde, meu interfone toca. O que indica uma visita! Não, a única pessoa que estou esperando é o Gustavo e mais tarde. Quem será? Atendo e o porteiro diz:
- Sra. Helena , tem um homem aqui chamado Pedro, ele quer saber se tem permissão para subir.
Não acredito que ele me encontrou de novo. Que inferno! E o porteiro deu a minha localização dentro do condomínio de mão beijada para ele. Tudo bem que ele não sabe do histórico, não o culpo, ela só está fazendo o trabalho dele. A questão é: como ele me achou? Será que alguém o indicou?
Bom, não era muita hora para pensar nisso. Queria ter mais calma e preparo para lidar com a tarefa que recebi da psicóloga, mas a vida quis pregar mais uma de suas peças. Eu queria escolher esse momento, mas tudo bem. Então, me motivei mentalmente para conseguir. Imediatamente respondi:
- Não! Eu desço ai! Obrigada!
Com a roupa que estava, peguei o elevador e desci. Assim que porta se abriu, sai e lá estava ele, de braços cruzados na entrada e assim que me viu, sorriu maliciosamente. Aproximei-me dele, que disse:
- Helena, querida. Descobri que você morava aqui e vim te ver.
- E quem te disse que morava aqui?
- Ora, seu irmão.
- Ah, ele. – sorri, sem graça – E o que você quer?
Ele ficou uns segundos em silêncio, sem entender se aquilo era de verdade, eu não tinha fugido ainda.
- Vim lhe falar para voltar a namorar comigo.
- Olha, Pedro, eu já te disse que não.
- E por que não? A gente se dava tão bem. Por favor, eu te amo.
- Eu já te disse meus motivos todas às outras vezes. E infelizmente, não é só amor que sustenta uma relação.
- Helena, por favor, eu preciso de você.
- Não, você não precisa. – soltei, já sentindo a raiva subir a minha espinha – Você precisa é de uma mulher para inflar seu ego e ser o seu capacho.
- Não diga isso, Helena. Eu nunca te tratei mal!
- Ah, Pedro, faça-me o favor. Isso é mentira! Nunca vou esquecer quantos vezes você mandou-me trocar de roupa, me proibiu de sair, e claro, quando pegou todos os meus rascunhos e jogou fora. Você fazia eu me sentir péssima todos os dias! Eu sentia que não valia nada! Eu posso ficar horas e mais horas aqui listando todos os traumas que você me deu e até hoje eu tento curar.
- Eu posso te ajudar com isso.
- Entenda! Eu não quero mais nada com você! - gritei
- Mas, a sua mãe disse...
- Como é que é? – bufei – O que ela disse?
- Disse que você ainda gostava de mim e fugia por medo.
- Eu não acredito nisso! – cruzei os braços – Saiba que ela mentiu para você.
- Helena... – ele ainda insistia e pegou no meu braço
- Não encosta em mim! – esbravejei
E então, me agarrou a força, segurando meus pulsos. Eu sabia que ia me forçar de novo a beijá-lo. Tentei inutilmente me soltar e vi que foi uma péssima decisão ter descido. Eis que escuto o portão do condomínio abrir e fechar logo em seguida e rapidamente olho para a direção do som e lá vem Gustavo, com a bolsa dos seus equipamentos transpassada no peito, se aproximar. Então, tirou a mão de Pedro de cima de mim e falou:
- Ela já não foi o suficientemente clara que não quer mais nada com você?!
- Ei, cara, a gente só estava conversando.
- Conversando? Sei!
- Agora ela precisa de você para se defender?
- Se necessário for, sim! Mas, sei bem que ela se vira sozinha.
- Vai ficar mesmo com esse merda, Helena? Vai me trocar por esse cara?
- E se for, o que pode fazer? Nada! – respondi – E, por favor, quero que respeite a minha decisão!
- Eu vou falar sobre isso com sua família e a sua mãe.
- Acredite, me ameaçar com isso não funciona mais. Não sou mais a mesma pessoa que conheceu.
- É isso o que vamos ver!
- Ah, Pedro, faça o que você quiser. Eu não quero mais nada com você e quero que respeite a distância.
- Você ainda vai perceber que sou o melhor para você.
E simplesmente saiu. Eu me mantive com o olhar firme sobre ele, até que ele se virou e me observou uma última vez. E eu fiquei séria e imponente. Eu precisava encarar isso. Não foi da forma que eu esperava e sei que isso ainda não teve um “ponto final”. Eu só quero ter paz!
Assim que ele sumiu de vista, eu baixei meu olhar e senti o fundo dos olhos arderem e as lágrimas querendo sair. Gustavo perguntou:
- Você está bem? Desculpa, eu não queria me meter nesse seu assunto de novo.
- Não, tudo bem. Obrigada! – sorri, olhando para ele – Eu preciso é resolver isso de uma vez! Eu não aguento mais! Só quero viver em paz!
- Quer ir lá para casa? – ele indagou
- Sim, eu preciso de companhia agora.
Entramos, subimos de elevador e fomos para o apartamento dele.
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