sexta-feira, 5 de abril de 2024

Capítulo 3 - Vazamento de imagens

Ana Maria e Larissa se encontraram na porta de entrada da Lírio D'ouro. Já na entrada perceberam um pequeno burburinho diferente, mas imaginaram ser apenas ser sobre as fofocas comuns de final de semana. Porém, assim que chegaram ao seu setor, uma colega as abordou:
- Ana, Lari, ficaram sabendo da fofoca do CEO da empresa?
- Não! Qual? - Larissa respondeu
- Parece que ele dormiu com uma das funcionárias na festa da empresa.
- Como? - Ana falou quase num suspiro e sentindo um calafrio
- Vazaram cenas íntimas dos dois no quarto do hotel. Pegaram eles no flagra!
- E descobriram com quem foi? - indagou a amiga se fazendo de desentendida
- Não! O rosto dela está borrado nas imagens, só o Dimas que dá para ver.
- Isso ainda vai dar um BO dos grandes. - comentou outro lá do fundo
- Podemos ver as fotos? - questionou Ana
- Claro! Aqui! - a colega mostrou a tela do celular
Ana não tinha sequer pensado naquelas imagens no último final de semana, para ela tinham sumido junto com o celular que se espatifou no chão. Só que ela esqueceu o detalhe de que seu cunhado e o pai dele não medem esforços para terem o que querem, mesmo que isso prejudique suas próprias famílias. Mesmo que estivesse envolvida sem querer no ocorrido, usaram as imagens mesmo assim. Apesar do rosto estar borrado, talvez fosse questão de tempo até que alguém mais inteligente ligasse os pontos e descobrisse que era ela a funcionária presente naquelas fotos íntimas.
Larissa observou as fotos incrédula! Ela conhecia bem a amiga e qualquer olhar mais atento a reconheceria nas imagens. Ou será que é por que ela sabia que era Aninha naquelas fotos? Porém, ela ficou calada e manteve o segredo da amiga seguro.
Durante o período de trabalho da manhã, mesmo com o serviço acumulado, os funcionários levantavam infinitas teorias e suposições de quem estava com Dimas, o homem de reputação intocável até então. Quais os motivos de terem divulgado as imagens e qual o real objetivo por trás. Eram muitas perguntas e nenhuma resposta. Só havia o que saiu na imprensa e até o momento o dono da empresa nem tinha dado as caras e nem uma declaração aos veículos de notícias.
Assim que os relógios deram meio-dia, maior parte dos funcionários saíram de suas baias e se dirigiram ou para as ruas no entorno ou foram para as pequenas copas e refeitórios para poder desfrutar de suas refeições. Ana Maria foi uma das poucas que ficou para trás, já que decidiu terminar o que estava fazendo no computador. Ela odiava largar algo incompleto para ter que retornar depois. Preferia fazer até acabar e na volta do intervalo começar outra coisa. Geralmente Larissa a esperava para comerem juntas, mas naquele dia a amiga estava com uma fome e queria ajudar a conter as fofocas sobre a festa do final de semana.
Ana Maria ficou tão concentrada no que fazia que foi praticamente a última do setor a sair para o almoço. Pegou sua bolsa e se dirigiu até a copa do andar, porém, antes mesmo de alcançar o corredor, sentiu alguém a puxar pelo braço. Seus olhos se encontraram com os de um homem de cabelos loiros, cujo nome não saiu da boca de ninguém naquela manhã: Dimas. Já ele não só se inebriou com a visão dela, mas também com o cheiro, que sentira saudades num curto período de tempo.
- O que faz aqui? - Ana perguntou, constrangida por estar pressionada na parede - E se nos pegarem aqui juntos?
- Eu sei! Mas eu precisava falar com você.
- Já estou sabendo que eles compartilharam as fotos.
- Pois é! Os safados tinham backup e agora tenho que fazer contenção de riscos.
- Contenção? Comigo?
- Não exatamente! - ele gaguejou, desviando o olhar - Vamos para a minha sala, lá teremos mais privacidade.
- Eu preciso almoçar! - protestou - Lari saiu na frente para esquentar minha marmita.
- Tudo bem! - olhou o relógio no pulso - Pode comer primeiro. Assim que acabar, vá na minha sala, por favor.
Ana Maria seguiu pelo corredor, com o coração pulando no peito de forma descontrolada. Dimas rumou para o elevador e subiu para ficar à espera da outra.
***
Naquela manhã, Dimas acordou  resmungando com o despertador. Era fora do comum ele estar no Rio e ter que dirigir até a empresa. Dali a poucas horas, ele faria outra viagem de negócios para conquistar mais parceiras para a Lírio D'ouro.
Levantou e tomou seu café assistindo ao noticiário local, onde passavam as mesmas histórias de sempre e que ele ouviu sem dar o máximo de sua atenção. Era apenas um som de fundo enquanto comia e já ia respondendo as primeiras mensagens no notebook sob a mesa. Estava tão distraído que acabou tomando um susto quando ouvir o seguinte:
- E a próxima notícia é chocante! CEO da empresa Lírio D'ouro, Dimas Al'Beytar, foi pego em flagrante em momento íntimo com uma das funcionárias de sua empresa, a mulher não foi identificada. Mas, nas imagens - a tela mostrou as fotos do momento em que ele e Ana Maria foram surpreendidos por aqueles dois - é possível ver que os dois estavam sem roupas. As imagens foram recebidas por diversos portais no último final de semana e até agora não houve pronunciamento nem da empresa e nem de seu dono.
Quase que o café que Dimas bebia foi espirrado direto no aparelho de trabalho. Num pequeno controle, ele só cuspiu de volta na xícara! Para ele era uma surpresa, pois supostamente aquelas fotos simplesmente tinham sumido. Quem diria que os safados tinham uma cópia de segurança? O sindicato de Charmosinha ainda ia acabar com sua reputação.
Sentiu-se obrigado a adiar a viagem para poder resolver a situação, ou tentar resolver.
Porém, ele não pensou só em si, mas também na outra vítima daquela história: Ana Maria. Por enquanto, seu rosto ainda estava borrado, mas quem garantia que sua identidade não seria divulgada ou descoberta por alguém? Sentiu que precisava falar com ela o mais rápido possível. Ainda bem que sabia onde encontrá-la!
***
Assim que passou pela porta da copa, todos os olhares se dirigiram a Ana. Larissa percebeu algo na feição dela e entregando a marmita para ela, indagou num cochicho:
- Aconteceu alguma coisa?
- Nem te conto com quem encontrei. - falou no mesmo tom, pegando o objeto com cuidado
Nem foi preciso completar para Larissa saber de quem se tratava. Ambas se sentaram um pouco mais afastadas dos outros no ambiente e Lari perguntou em seguida:
- E o que ele queria?
- Ainda não sei, uai. Depois de comer, passarei na sala dele.
- Deve ter relação com as fotos.
- Imagino que sim!
- Será que algum de seus parentes já fez chantagem com ele?
- Talvez sim, talvez não! Só saberei quando chegar lá.
- Então termina de comer logo e vai. Aproveita o resto do almoço. - ela olhou o horário no celular - Logo vou voltar para o setor e a maioria dos funcionários também. O caminho fica livre para você!
- Depois lhe conto o que aconteceu.
- Não precisa nem avisar sobre. - riu Lari, saindo da copa
Não deu dez minutos e todas as pessoas que ocupavam a copa foram saindo para retornar aos seus locais de trabalho. Ana Maria terminou sua refeição com um pouco de pressa, lavou o que usou, rumou para o elevador e apertou o botão para o último andar. Assim que a porta se abriu, deu de cara com a recepção do CEO, onde uma secretária parecia acabar de voltar do almoço. Ela bufou assim que viu Ana Maria e indagou:
- Boa tarde, senhorita. Tem hora marcada com o Sr. Dimas? - indagou folheando a agenda
- Não, mas ele pediu que eu viesse até aqui.
- Lamento, mas... - começou, mas outra pessoa a interrompeu
- Pode deixar, Cat, que eu atendo a senhorita Ana. - era Antônio, assistente pessoal de Dimas
- Está bem! - soltou o ar - Você deu sorte, mocinha. - sentou-se em seu lugar
- Vamos logo que o Sr. Dimas está lhe esperando.
Antônio guiou-a para o grande portal que separava a recepção da sala do CEO, abrindo-a. Era um espaço ainda mais amplo, com grandes janelas de vidro, trazendo toda a luz natural possível para o ambiente. Dimas estava sentado diante de uma mesa grande, distraído mexendo no computador. O secretário chamou sua atenção e ele parou imediatamente.
- Ah, Ana Maria, por favor, sente-se. - apontou uma das cadeiras do lado oposto da mesa - Antônio, pode ficar também.
- Claro, senhor. - e se posicionou na cadeira logo ao lado
- Todos estão falando disso desde hoje cedo. - Ana soltou, após se sentar
- Sim! Saiu em todos os portais de notícias. Ainda bem que não encontrei com minha avó hoje, ela me mataria.
- Bom, você tinha falado de "Contenção de Riscos"?
- Sim! Antônio já está marcando uma coletiva com a imprensa para o final da tarde, eu tenho que me pronunciar sobre o assunto. - respirou fundo, se apoiando nas costas da grande cadeira - Bom, você ainda é anônima e eu gostaria muito de preservar isso. Não quero envolver você mais nesta história do que já está.
- Então, por que me chamou aqui?
- Creio que seja questão de tempo para alguém descobrir ou para seus parentes divulgarem sua identidade, afinal, você é nascida em Charmosinha.
- E podem usar isso para convencer os cidadãos e o sindicato a não cooperar e nem fechar nenhum acordo com o Sr. Dimas. - Antônio explicou, acenando com a cabeça
- Queria te avisar sobre isto. E... - gaguejou - Se algo acontecer, eu irei ajudar. Pode contar comigo! Até queria tirar as fotos de circulação, mas já saiu tudo de controle.
- Agradeço! - sorriu sem graça
- Antônio, será que pode nos deixar a sós um momento. E tranque a porta!
- Claro, senhor! - falou prontamente se encaminhando para sair
Ao ouvir o som da porta batendo e da tranca fechando, Dimas se levantou e caminhou em direção a Ana Maria, abaixando-se e ficando na altura dela.
- Desculpa mesmo por tudo isso. Se soubesse me controlar... - falou mexendo no cabelo dela e cheirando-o
- Nós fomos dopados! Não é culpa minha e muito menos sua. - disse tocando no rosto dele
- Nem aquela noite e nem ontem saem da minha cabeça...
Ao completar a frase, seus rostos se aproximaram e os dois trocaram um beijo tímido e escondido, mesmo que estivessem sozinhos naquela sala.
- Eu adiei minha viagem por uns dias para cuidar disso. - falo assim que as bocas se separaram - Só quis te avisar que está tudo bem!
Apenas assentiu, permitindo que Dimas a beijasse novamente. Ela sabia que aquilo não era certo, mas queria mesmo assim. Ele também sabia que não era nem hora e nem lugar para aquilo, porém não conseguia controlar os impulsos que o cheiro dela impunha. Trocaram carícias por alguns segundos, até que Dimas decidiu parar ou não o faria nunca.
- Acho melhor você voltar ao trabalho. - disse olhando no relógio, tentando disfarçar que não queria que ela fosse - Seu horário de almoço está acabando...
Ana Maria fez conforme ele falou, mas não sem antes deixar mais um beijo em sua boca.
***
Ana Maria retornou do seu horário de almoço e falou com Larissa que na hora de voltar para suas casas contaria o ocorrido com Dimas. Queria só ser um pouco cautelosa para que ninguém do trabalho descobrisse ao ficar ouvindo a conversa dela.
Pouco depois a notícia da coletiva de imprensa, que seria realizada no auditório da empresa, começou a circular. Mostrando para todos que a coisa realmente era bastante séria e sendo capaz de aumentar ainda mais a curiosidade e a quantidade de teorias criadas pelos funcionários. Já estavam especulando que talvez fosse a acompanhante do CEO na noite da festa. Mas, quem será que era? Eles nunca tinham visto! Realmente, alguns empregados mal conhecem os outros, porém, nem mesmo os colegas de setor reconheceram Ana Maria toda produzida com aquele penteado, vestido e maquiagem.
E de repente, um colega de setor simplesmente indagou:
- Ana, onde você estava no dia da festa? Não me lembro de ter visto você. Com a Larissa até me encontrei.
- É mesmo! Onde estava na festa? - soltou outra - Ganhou uma hospedagem de graça e nem te vimos.
Ana sabia bem o que eles queriam insinuar, era inocente, mas não era boba. Já tinha uma resposta pronta!
- Vocês sabem que a festa estava lotada, uai! Ainda mais quando o Dimas passou com a convidada e vocês tiveram só olhos para ela. Eu estava no meio da muvuca, como todo mundo. Na hora que a pista de dança abriu, a maioria foi para lá e eu fiquei um tempo com a Lari do lado de fora e como não sou tão fã de festa, logo voltei para o quarto.
- Pois é! - Larissa quis reforçar a história da amiga - Ela ficou comigo o tempo todo. Só na hora que vocês me viram, que foi na pista de dança, ela já tinha subido.
Os colegas se deram por convencidos com a história. Já que, normalmente, costumavam perder Ana Maria de vista, já que ela sempre passava imperceptível aos seus olhos. E realmente era bem fácil se perder com todos os funcionários da Lírio D'Ouro no mesmo ambiente.
O período da tarde de trabalho passou mais rápido do que o normal e logo era a hora de todos baterem seus pontos e pegarem o caminho de volta para casa. Só que, propositalmente, a coletiva foi marcada para este horário... Então muitos resolveram esticar um pouco para ver o desenrolar dessa fofoca!
O auditório já estava cheio de jornalistas, com câmeras fotográficas e filmadoras. O local ficou entupido de gente quando os funcionários desceram de seus setores. Inclusive, Ana Maria e Larissa foram ver, para disfarçar um pouco mais para os colegas. Todos estavam ansiosos pelo pronunciamento de Dimas Al'Beytar.
Não demorou muito e ele apareceu, entrando pela coxia e saindo no palco. Os flashes das câmeras começaram a piscar. Ele estava acompanhado de Antônio, que veio a seu lado e ficou parado de pé próximo a grande mesa posicionada, onde também estavam todos os microfones e gravadores de emissoras de TV e de rádio. Dimas pediu silêncio para que pudesse falar:
- Boa tarde a todos os presentes, tanto veículos de notícias quanto funcionários. Imagino que todos viram as fotos íntimas minhas vazadas nesta manhã. Fotos divulgadas sem meu conhecimento e nem permissão, que é um desrespeito comigo e com a outra vítima envolvida. Bom, essas fotos foram tiradas e espalhadas por pessoas que querem prejudicar a mim e aos negócios da empresa. Estou trabalhando numa grande proposta de parceria, mas estas pessoas não me querem e infelizmente, é desta forma que eles demonstram isto.  Em breve, eu e meus advogados resolveremos a situação. No mais, ficarei alguns minutos para responder perguntas. Antônio, por favor. - terminou olhando para o secretário, que estava organizando esta parte
Poucos segundos depois chegou a primeira pergunta. Após se identificar, a jornalista perguntou:
- Então sabe a origem da divulgação dessas fotos?
- Sim! Eu sei bem quem são. Inclusive, aconteceu uma situação no hotel e achei que estas fotos estavam perdidas, mas me enganei.
- Situação no hotel? - ela perguntou novamente
- Eles invadiram o quarto para tirar as fotos. Chamei a segurança e, a princípio, o celular caiu de um dos andares e se espatifou. Imagino que deu tempo de fazer um backup.
- Próximo. - disse Antônio
- Sr. Dimas, - se identificou - Minha pergunta é: Soube que está fazendo negociações com o sindicato de floristas de Charmosinha, para que eles forneçam para a Lírio D'Ouro. Os responsáveis são parte do sindicato?
- Bom... - ele deu uma pausa longa, dando uma confirmação - Acho que não é novidade para ninguém o quanto eles querem me prejudicar e fazer a negociação parar. Esse foi mais um episódio!
- Quem é o próximo? - Antônio se pronuncia mais uma vez
- Vai processá-los por conta destas imagens? - perguntou outro repórter
- Obviamente! Não ficarão impunes por tentarem prejudicar minha imagem de uma forma tão injusta.
O secretário pediu pela próxima pergunta e veio o que a maior queria saber:
- E quem é a moça com você nas fotos? Por que o rosto dela foi borrado por eles?
- A intenção deles foi prejudicar apenas a mim, sem importar com quem estava ao meu lado, mas essa moça é tão vítima da situação e deles quanto eu!
- E você a conhece? -  o mesmo emendou outra questão
- Nos conhecemos naquela noite, infelizmente.
Então, outras perguntas foram se seguindo, mas nada que fosse novidade para quem conhecia a história. Enquanto Dimas estava focado respondendo às perguntas, seus olhos iam passando pela plateia lotada, focando principalmente no autor da pergunta.
Com exceção de uma pergunta, que foi justamente sobre a pequena cidade das flores:
- E por que escolheu Charmosinha para essa negociação, já que estão tão inflexíveis, segundo suas próprias afirmações?
- A cidade é bastante conhecida, principalmente pela Festival das Flores, que eu fui no ano passado e pretendo ir novamente neste ano. -  durante a fala, ele acabou encontrando a jovem que até poucos dias atrás seria invisível a ele, só que agora não era mais, manteve seu olhar fixo nela por alguns segundos, como se respondesse a ela - Fiquei encantado com os cheiros das flores de lá e achei que seria uma boa parceria para a Lírio D'Ouro. Mas, toda negociação tem suas dificuldades, outras mais e outras menos.
Larissa percebeu que Dimas olhava na direção delas e notou como Aninha ficou estática quando houve o encontro de olhares dos dois. Por sorte, só ela notou.
Após mais algumas perguntas, Dimas olhou o relógio e disse que infelizmente o tempo acabou e que agora ele tinha outras coisas para resolver. E completou dizendo:
- Agradeço a todos e em breve darei mais informações sobre o andamento do processo. Boa tarde a todos!
Assim, ele e Antônio saíram pelos fundos, enquanto o resto foi aos poucos deixando o auditório e as dependências da empresa, se dirigindo aos respectivos transportes para voltar para casa. Larissa e Ana Maria caminharam um breve percurso até a estação de trem e já pegaram um pouco mais cheio que o normal, já que a coletiva fez com que todos saíssem mais tarde.
- E ai, Aninha, vai me contar o babado? - Larissa perguntou assim que teve oportunidade, depois do vuco-vuco de conseguirem entrar
- Não aqui! - respondeu e depois falou mais baixo - Tem muita gente da empresa por perto.
- Tem razão! Será que dá quando descermos na nossa?
- Sim! - ela sorriu
Então, ambas mudaram de assunto e seguiram o trajeto conversando sobre outro assunto trivial, até que finalmente o alto-falante anunciou a próxima estação e as duas se preparam para a descida não tão triunfal. Depois de um pouco de esforço, empurrando uma pessoa ou outra ali, desceram. Larissa mal esperou o trem fechar a porta e já implorou pela fofoca, pois ela estava sedenta. E a amiga fez jus a expectativa da outra, contando com detalhes sobre a puxada no corredor, a conversa preocupante na sala e depois as trocas de beijos que começaram tímidas e depois se afloraram, só que tiveram que parar.
- Amigaaaaaaaaaaaa! - Larissa deu um berro e uns pulinhos - Antes eu só achava que ele estava afim de você, agora tenho certeza.
- Pior que na coletiva ele citou Charmosinha... O pessoal do setor sabe que vim de lá!
- Fica calma! Ninguém vai saber que é você! Aliás, todo mundo te viu com o Dimas na festa, mas graças a maquiagem ninguém nem percebeu que era você.
- Mas eu vi todos me olhando, tava com aquele trem de lente.
- E muito linda com o vestido! Ele deu para você né?
- Sim! Ficou como um presente. - sorriu boba
- Ai, Aninha... - Larissa suspirou - Quem diria que seria logo você a pegar o chefe.
- Não foi intencional, Lari.
- Essa é a melhor parte! - ela riu - Vocês se encontraram sem querer, são os melhores encontros.
- Só espero que essa história logo se resolva! Fico com medo do que meu cunhado e o pai dele podem fazer para prejudicar o Dimas ainda mais.
***
Dimas saiu da coletiva exausto após responder aos jornalistas e aos funcionários curiosos, porém agora ele teria que encarar o julgamento da Avó Gertrudes, que até aquela altura do dia já vira aos principais jornais e sabia do grande escândalo.
O rapaz chegou acompanhado de Antônio e Gertrudes já os esperava com os braços cruzados e sentada no sofá. Antônio entrou na sala e deu um salto, pois ela estava escondida no escuro - até aquela hora já havia anoitecido - e só foi vista quando a luz foi acesa. Dimas não ficou surpreso, pois era algo que ela sempre fazia.
- Meu neto, é verdade aquilo o que eu vi na televisão a seu respeito? - ela perguntou incisivamente, ainda de braços cruzados
- Boa noite para você também, Vó!
- Me responda, Dimas! - esbravejou - Você pego junto com uma moça que conheceu naquela noite?! Eu disse para não se meter com o povo daquela cidade!
- Sim! - sentou-se derrotado no sofá - Mas tem mais detalhes que a senhora não sabe, pois não falei na coletiva.
- Como o quê?! - todos saiam num tom mais alto do que o normal
- Ele foi dopado, assim como a moça também. - respondeu Antônio, quase se encolhendo
- Dopado?! E como não viu que mexeram na bebida?!
- Estavam disfarçados de garçom. Vovó, por favor, era uma noite em que eu estava relaxando, não preciso ficar alerta o tempo todo!
- Meu neto, por favor digo eu! Olha o perigo que você está se colocando se envolvendo com essa gente... Ou vai acabar com a reputação dos Al'Beytar ou vai acabar morto... Sem deixar um herdeiro!
- Lá vem você com a essa história de novo... - bufou, se esticando no sofá
- Com a sua idade os seus pais já tinham você, mas só te vejo preocupado com a empresa e se envolvendo nesses casos de uma noite só com moças desconhecidas.
- Eu quero que a empresa cresça e isso é manter o legado da família, assim como todos que fizeram antes de mim. E dar uma boa velhice à senhora...
- Mas e depois? Para quem vai ficar isso tudo quando partir? - bateu as mãos no sofá
- Sabe que não quero constituir família agora... Mas um dia terei um filho.
- Só que eu quero um bisneto para cuidar e estragar o máximo que posso! Seu relógio biológico está gritando... Você fez trinta, meu neto!
- Chega disso, vó! Já estou resolvendo a situação e vou processá-los da devida forma!
- E vai esquecer a negociação com o Sindicato de Floristas de Charmosinha?
- Isso nunca! As flores produzidas naquela cidade são de ótima qualidade e que vai ajudar muito na nossa produção.
- Como é teimoso! Eles vão te destruir antes que consiga fechar a negociação.
- E terminarei a negociação antes do Festival das Flores!
A avó soltou um muxoxo, protestando novamente, mas sem ter um contra-argumento.
- Senhora Gertrudes, o Sr. Dimas tem razão. A cidade de Charmosinha tem bastante potencial comercial para nós.
- Não se meta, Antônio! - reclamou de novo - Você que enfiou isso na cabeça dele quando foram para o interior de Minas no ano passado.
- Em minha defesa, eu fui visitar uns parentes e eles comentaram da Feira e o Sr. Dimas só soube porque ouviu. Não tenho envolvimento nisso!
- Trate então de fazê-lo desistir! O povo daquela cidade é perigoso, são muito fechados há anos. Meu marido tentou negociar com eles, mas não teve sucesso.
- Os tempos são outros, vovó! E eu não sou o vovô, vou conseguir essa negociação para nossa empresa. Confie em mim!
- Teimoso igual o seu pai!
- Vou encarar isso como um elogio.
Dimas se levantou do sofá e deu um beijo na avó. Dispensou Antônio, que por sorte morava bem perto dali, e foi para o andar de cima, que era onde morava e foi resolver mais algumas coisas antes de dormir.
***
O resto daquela semana se passou sem maiores novidades. Dimas ficou cuidando dos detalhes com os advogados, contando com a ajuda do secretário Antônio. Posteriormente, seguiu para sua outra viagem de negócios em outro país e só voltaria dali umas semanas.
Ana Maria e Larissa seguiram o seus dias com seus serviços do setor de contabilidade e por sorte mais ninguém comentou mais nada sobre a festa e nem se tocaram no detalhe de Charmosinha, como Ana pensara.
Contudo, nas próximas semanas, mais uma notícia surpresa ia assustar aquelas dois que já tinham passado por um final de semana daqueles.
 

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