sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Capítulo 4 – O jantar romântico?

Sai cedo de casa para poder ir ao mercado, precisava comprar os ingredientes para o meu convidado especial da noite: Gustavo, ou só G. Nem eram tantas coisas, mas aproveitei para repor o estoque, porque algumas coisas já estavam em falta. Enquanto estava na fila, recebi uma ligação da minha mãe. Atendi, porque já até pressentia sobre o que seria.

- Alô, mãe. – falei

- Filha, tudo bem? Está em casa?

- Não, eu sai. Vim ao mercado para comprar umas coisas.

- Finalmente saiu daquela caverna que é a sua casa. Filha, você precisa arrumar um emprego. Ainda não entendo porque saiu daquela revista, ganhava tão bem.

- Mas não era feliz trabalhando lá. E alias, estou ganhando bem mais agora.

- Com o quê? Filha, eu não sei com o que você trabalha.

- Eu trabalho como escritora, escritora fantasma. Sabe quando alguém famoso vai lançar um livro e não sabe escrever? Então, eu escrevo fingindo ser essa pessoa.

Bem, parte dessa resposta era verdade e a outra mentira. Eu já fiz antes alguns freelas desse gênero, mas agora não mais. E minha mãe, obviamente, ia ser uma das pessoas que não iam gostar de saber o que eu realmente escrevo. Até porque ela é toda conversadora!

- Por que não escreve suas próprias histórias? Que vergonha é essa que você tem, filha?

- Ai, Rita, - esse é o nome da minha mãe, eu a chamo assim quando me irrito – para com isso. Eu estou feliz assim. Não quero ser super conhecida!

- Mas, escreva o que é só seu. Tenho certeza que irão gostar. – imagina se ela soubesse – Alias, sua prima não para de ler aquela tal da Achi... Ichi... Sei lá que diabo!

- É Echii.

- Isso! Aquela mulher que escreve aquelas coisas sem pudor. Acredita que a última foi com um fotógrafo? Essa garota dá para qualquer um!

- Eu acho os textos dela bem poéticos. – respondi

- É sem-vergonhice. Isso sim! Sua tia sempre pega sua prima lendo essas coisas.

- Ela já é maior de idade, mãe.

- Não importa. Estando na casa da sua tia tem que respeitar as regras.

- Não entendo porque ler contos eróticos seria desrespeito a regras.

- Quando for mãe vai entender. Alias, já arrumou alguém?

- Não, Rita. E eu nem quero. Estou feliz sozinha!

- Mas, precisa dar um jeito na sua vida. Vai ficar sozinha para sempre?

- Se assim tiver de ser... Será!

- Vou ver se acho um pretendente para você. Vou falar com minhas conhecidas!

- Rita, este não é o século 14, é o 21. Eu não preciso de marido para ser completa e feliz, pelo amor da deusa!

- Filha, não insista. Sou sua mãe e sei o que é melhor para você.

- Ai, está bem. – bufei, sem querer discutir mais – Vou desligar. Está chegando a minha vez. Te amo!

- Também te amo, filha. Tchau!

Despedi-me e desliguei, feliz por aquela conversa ter terminado. Eu tento ter a melhor relação possível com a minha mãe, mas eu e ela pensamos bem diferente uma da outra. Ela nunca descobriu sobre as “sem-vergonhices” que escrevo, só chegou a ler as outras coisas, mais romances. Eu fico imaginando o choque caso ela descobrisse. Com certeza, seria julgada pela família inteira, mais do que já sou. Considerada a ovelha desgarrada desde a adolescência.

Voltei para casa andando, já que era perto. Fui pegar o elevador para subir e encontrei com Gustavo. Ele me sorriu e perguntou:

- Para quê tudo isso?

- Maioria para hoje à noite. Animado?

- Devo confessar que sim. Devo vestir algum traje especial?

- Não. Pode ir com a roupa que quiser.

- Tudo bem! Até mais tarde! – chegamos no nosso andar

- Até.

Cada um de nós seguiu para uma direção, pois nossos apartamentos ficam em lados opostos. Entrei em casa e comecei a guardar as compras. Separei os ingredientes e coloquei o vinho, escolhido para hoje, e as outras bebidas para gelar. Fiz meu almoço e descansei um pouco. Como estava com as postagens adiantadas, pude tirar esse dia de folga. Mais tarde, retornei a cozinha e já fui colocando a mão na massa para fazer a minha receita especial, que é risoto com salmão grelhado. Levei um bocado de tempo, mas me sobrou o suficiente para tomar um banho e colocar outra roupa antes do Gustavo chegar. Lavei o cabelo, coloquei uma das lingeries que ganhei, coloquei o meu melhor vestido e fiquei esperando. Estou até ansiosa, devo confessar. A campainha tocou e eu sabia bem quem era. Abri e ele estava bem informal, colocou uma camisa de botões estampada, bermuda e uma sandália. Foi ai que percebi que meu visual estava bem mais... Como diria? Ousada!

- Nossa! – ele disse – Se tivesse avisado, eu vinha à altura desse vestido.

- Não precisa. Está bom assim. Eu que quis me arrumar. Não é todo dia que recebo visitas em casa.

- Eu te visitei ontem, H. – reclamou

- Mas veio a trabalho. Não conta! – apontei a mesa – Sente-se que só vou trazer a comida.

A mesa já estava posta. Com os jogos de talheres e taças devidamente posicionadas. Trouxe o vinho primeiro e pedi para ele ir abrindo e servindo. Voltei e peguei os dois pratos de comida. Sentei-me junto com ele e disse:

- Risoto com salmão grelhado. Eu espero que goste.

- Cheiroso e bonito está. Vamos ver se está bom?

Fizemos um brinde e fomos comer. Ele gostou bastante, porque raspou o prato até o final.

- Onde aprendeu a cozinhar assim? – indagou

- Com a minha avó, que já partiu tem um tempo. – sorri nostálgica

- Também sinto falta das minhas.

- Vou tirar a mesa e lavar tudo.

- Nada disso. – protestou – Você fez a comida, eu lavo a louça.

- Que convidado educado você é, G. Tudo bem então! Vou te esperar no sofá! – peguei o vinho e as taças – Com isso aqui!

Não demorou muito e ele voltou, ocupando o outro lado do sofá. E foi ai que a conversa começou. Falamos sobre tudo que se possa imaginar, sobre a família, a faculdade, sobre os planos. Ele me perguntou sobre o blog, toda a origem, porque até isso eu escondi. Eu perguntei a ele sobre seus trabalhos como fotógrafo. O papo foi se estendendo e a garrafa de vinho se esvaziando. Então, olhei para a caixa com os produtos, que ainda estavam na sala. Levantei-me, procurei um dos óleos de massagem e também peguei umas camisinhas.  Olhei para ele e questionei:

- Quer ir lá pro quarto?

- Para testar isso? Se você quiser.

- Lembra que eu disse que queria repetir.

- Claro que lembro.

- E se for agora? Tem problema?

- E por que veria problema nisso? – colocou a taça na mesa de centro, levantou-se e veio em minha direção

E diferente da outra vez, ele pegou na minha cintura e me beijou calmamente. Soltei o que segurava – nada que ia quebrar, deixei a taça na mesa também – e respondi a seu ato. Acabamos indo para o sofá e ficamos atracados naqueles beijos por uns minutos. Até que decidimos ir para o quarto, lembrando de levar o que separei. E eu tinha certeza que aquilo ia me render mais um conto no blog, porque ele me olha com esse olhar de admiração que ainda não entendo e isso me cativa e me deixa louca.

Acordei no dia seguinte com o Sol entrando pela janela. Eu estava sem roupa e Gustavo também. Ele fica a coisa mais linda dormindo. Não quis incomodá-lo e como sei que ele ia acordar com fome, fui fazer o café da manhã.

Enquanto preparava tudo, escutei alguns passos arrastados caminhando para meu encontro. Um bom dia foi resmungado e eu disse para ele esperar na mesa que já estava terminando. Levei tudo e fomos fazer a segunda refeição juntos.

- Desculpa ter dormido aqui. – ele falou

- Não tem nada. Depois daquele vinho todo, você não ia chegar do outro lado do corredor e nem eu ia conseguir te levar.

- É... Ficamos um pouco alegres.

- Sim, mas foi bom de qualquer maneira.

- Vai escrever sobre isso mais tarde?

- Provável que sim! Se importa?

- Não. Já disse que gosto de ler o que escreve. Alias, esquecemos de tirar as fotos dos produtos ontem, nem tirei a câmera da bolsa.

- Pois é. Pode fazer depois de terminar de comer. Pode até usar a mesa de centro e aproveitar essa luz linda da manhã.

Enquanto eu escrevia o novo conto para postar mais tarde, Gustavo tirava uma a uma as fotos dos produtos para mim. Na sequência escolhemos as melhores e ele foi para seu apartamento. E eu fiquei o resto do dia escrevendo e pensando no que acontecera na noite anterior, que não ia sair da minha cabeça tão cedo.

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