sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Capítulo 10 - Almoço em família

A noitada com o Gustavo ontem foi muito divertida, mesmo que tenha bebido um pouco além da conta. Acho que eu fiquei um pouco nervosa com o almoço de hoje e talvez também porque a postagem com as fotos que ele tirou saíram ontem também. Talvez perdesse minha companhia de fodas e coisas aleatórias. E na boa, precisa de motivo para encher a cara? Acho que a vida adulta por si só já é mais que suficiente.

Eu nem faço ideia de como acordei na minha cama hoje de manhã, só sei que estava só de sutiã e calcinha, o que pode indicar que transei bêbada e não é bom sinal. Foi ai que ouvi algum som vindo da cozinha, será que era o Gustavo fazendo café? Ele dormiu aqui? Fui para a sala e a mesa já estava posta me esperando e claro que eu perguntei se fizemos alguma coisa na noite anterior, ele afirmou que não, mas não significa que ele não queria, só que eu estava fora do meu estado normal. Quem me dera todos os caras com quem já sai fossem assim. Seria mais provável eu acordar pelada, com um bilhete ridículo e uma cama vazia se fosse outra pessoa. Bem, eu acabei vomitando nele – que mico meu pai -, mas mesmo assim, ele me limpou e ficou aqui caso precisasse. Não sei se o G faz essas coisas porque ele é meu fã – nem sei se a visão dele sobre mim é essa – ou se ele gosta de mim ou porque ele é assim mesmo. Não estou fazendo drama, só estou me questionando e bem que eu queria ter a cara de pau de perguntar para ele.

Bom, a transa só foi adiada para agora de manhã. E como todas as outras vezes foi bem gostoso, tanto que perdemos a noção da hora e tivemos que nos arrumar correndo para ir para a casa dos meus pais. Gustavo correu para o apartamento dele para tomar banho e se ajeitar e eu fiz o mesmo aqui. Encontramo-nos novamente no estacionamento. Eu coloquei um vestido florido, mas fresquinho com sandália. Já ele colocou um short colorido, uma regata sobreposta a uma camisa de botões, com chinelo. Ele estava até bem largado, mas são o tipo de roupa que meu irmão usa, então acho que não tem problema quanto a isso.

Era um pouco distante do nosso condomínio, então demorou um pouco, mas nada que uma boa playlist não resolvesse. Bom, Gustavo ficou rindo da minha empolgação com algumas músicas, porque a lista era minha. Bom, não posso fazer nada quanto a meu gosto musical um pouco diferente. Ele deve ter notado isso ontem lá na boate, já que algumas dessas músicas tocaram lá também.

Logo estávamos mais no subúrbio, onde tem casas bem mais antigas e menos prédios. Entrei em várias ruas menores e finalmente chegamos. Pois é, meus pais moram bem longe de mim, o que é bom. Descemos e meu pai já estava na varanda.

- Helena, filha, seja bem-vinda. – disse assim que me viu e foi abrir o portão – E esse quem é?

- Esse é o Gustavo, um amigo.

- É um prazer, senhor... – disse apertando a mão do meu pai

- Roberto. – completou – Venham, entrem. Sua mãe está na cozinha.

Entramos e fui lá falar com a minha mãe e já encontrei com algumas tias e primas curiosas demais pelo meu acompanhante. Cumprimentei a todas e Gustavo foi simpático. Dei um abraço apertado na minha mãe que logo retribuiu. Tinha que ver o sorriso que ela deu quando viu o G.

- Ora, dessa vez veio com o namorado?

- Ele não é meu namorado. É um amigo!

- Amigo... Sei...

- Prazer, - ele se pronunciou – sou Gustavo.

- É um prazer, eu sou Rita. E você é o que da minha filha?

- Sou só um amigo. – sorriu amarelo

- Irmã... – gritou Marina descendo as escadas

A gente se abraçou com vontade, eu e minha irmã nos damos muito bem. Veio seguida da Bia, que eu tenho certeza que é a prima que lê meu blog. Elas cumprimentaram e se apresentaram ao Gustavo, que foi lá para fora depois.

- Ele é bem gato hein irmã. – comentou Marina

- Tão se pegando? – a prima indagou

- Informação confidencial. – ri brincando – Bem, sim!

- Tá podendo hein? Como o conheceu?

- A gente se cruzou no prédio. Ele mora no mesmo andar que eu.

- Alias, - minha prima dessa vez – o fotógrafo que tirou as fotos do Contemporânea era Gustavo também e a cara dele não me é estranha...

- É impressão sua, prima!

- Não, olha só! – minha irmã – Eu estava lendo o blog antes de vir e tinha deixado o perfil para ver depois e é o Gustavo mesmo.

- Ele conhece a dona do blog?

- Não sei. Só perguntando a ele. Eu nem sabia que ele tinha tirado fotos dela. – menti na maior cara de pau

Não ia deixar o segredo ser revelado tão fácil, mesmo que para elas não houvesse problema, prefiro me prevenir. E elas foram sondar o pobre, espero que ele consiga mentir tão bem quanto eu.

Ajudei a minha mãe a terminar a comida e logo sentamos à mesa, que estava posta no lado de fora de casa, pois boa parte dos parentes vieram. E pelo visto o assunto do almoço seria o Gustavo e as fotos que ele tirou de mim, porque a minha família conservadora não perde a chance de criticar uma mulher independente e que escreve sobre sexo na internet. Isso porque as duas abençoadas comentaram entre si e as tias fofoqueiras ouviram.

Como sempre, a minha tia mais velha fez a oração agradecendo pela comida e a reunião da família ali. Mal colocamos a comida no prato e uma veio com o assunto de cara:

- Então, Gustavo, soube pelas meninas que você é fotógrafo e que tirou fotos daquela sem vergonha daquele blog que elas adoram ler. É verdade?

- Como disse a elas – ele respondeu – a Echii mora lá no meu prédio. Acabei cruzando com ela sem querer. Como ela já estava procurando um fotógrafo, reunimos o útil ao agradável.

- As fotos ficaram incríveis. – falou Bia – Se eu não tivesse tanta vergonha ia querer umas assim também.

- Nada disso! – repreendeu a mãe dela – Filha minha não tira foto pelada.

- Não é pelada, é de sutiã e calcinha. – respondeu – É bem diferente!

- Tanto faz. É sem vergonhice.

- Essa coisa tinha que ser proibida de existir. Imagina se alguma criança acaba achando.

Eu tentava ao máximo manter a minha boca cheia e fazia questão de mastigar a comida 82 vezes de cada lado da boca, para que ficasse ocupada. Sentia meu sangue ferver com todos os comentários que a família foi falando. Apenas minha irmã e prima me defendendo. Gustavo estava sentando ao meu lado e com certeza notou o quanto eu estava me segurando para não despejar tudo o que eu pensava.

Sabe, não tem problema nenhum eles não gostarem do conteúdo do blog ou até acharem um pouco inapropriado. É só fazer algo bem simples: Não ler, não visitar e não comentar sobre. Bem ou mal, eles estão me dando ibope, porque sem dúvidas, alguns dos meus tios que souberam disso hoje, vão acabar indo lá conferir. Tudo isso gera mais visitas para mim! Então, agradeço de qualquer maneira!

Os comentários foram no mesmo padrão de sempre, o que estou até bem habituada e calejada de ouvir, mas isso não significa que eu fique menos puta com eles. É bem chato e desanimador quando alguém critica seu trabalho assim.

Consegui me manter a refeição inteira quieta. Todos acabaram de comer e eu fui ajudar minha mãe a limpar tudo para esfriar a minha cabeça, só que, é claro, se tratando da minha mãe, estava tremendamente enganada. Porque ela resolveu me atazanar também:

- Filha, quando vai arrumar outro trabalho? Estou ficando preocupada!

- Mãe, eu já trabalho, mas só que é de casa.

- E um namorado? Suas primas estão ai casando e tendo filho. Quando será sua vez?

- Por que você me cobra tanto?! – indaguei nervosa

- Pode tentar voltar com o Pedro, ele era um bom rapaz.

- Não, mãe. – fui incisiva – Ele só parecia. Fez um inferno na minha vida!

- Não use essa palavra. Ele gostava muito de você, filha.

- Talvez sim, mas não de um jeito saudável. Eu não tinha confiança e nem energia para nada quando estava com ele. Me sentia sufocada!

- Se continuar sendo tão exigente, vai acabar é ficando sozinha. Nenhum homem vai te querer!

- Que seja assim, mãe! – bufei – Olha, vamos parar com essa conversa, porque eu sei que não vamos chegar a lugar nenhum. Eu sei o que faço da minha vida!

- Se é assim que você diz... – falou por fim

Acabamos de lavar a louça e arrumar a cozinha, olhei a hora no celular e vi que já tinha ficado tempo bem além do tolerável para a minha saúde mental. Só que, diferente das outras vezes, eu estava com companhia e não sabia se ele queria ficar mais tempo. Eu esperava que não!

Fui até o quintal e vi o quão animadamente ele conversava com todos, parecia explicar algumas coisas sobre fotografia e sobre a carreira dele. Bem, pelo menos uma pessoa aqui recebe apoio. Se bem que ele não é da família e é homem, não precisa de muito para ser elogiado, basta nascer. Só ver o meu irmão!

E por falar nele, aquele traste ficou olhando de cara feia pro Gustavo. Não sei se não gostou dele ou se é porque ainda é um pouco sentido com o meu término com o Pedro, que é amigo de infância dele. Pelo que sei, de vez em quando, ele ainda vem na casa dos meus pais, mas graças que nunca é quando estou.

Chamei o Gustavo num canto, interrompendo a conversa e perguntei:

- Olha, você já quer ir embora? – sem graça – Eu vi que a conversa está boa!

- Por mim, ficava um pouco mais, mas eu já percebi seu desconforto desde mais cedo. Se você quiser ir, nós vamos!

- Obrigada! Eu não aguento ficar um minuto mais. – respondi sorrindo

Despedimo-nos de todos, pegamos nossas coisas, ganhamos quentinha para comer mais tarde e rumamos de volta ao condomínio.

- Eu me diverti muito hoje, Helena. Obrigado pelo convite!

- Eu quem agradeço, por pouco não surto lá.

- Sei bem, é complicado. Almoço de família parece que é clichê acontecer essas coisas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © Contos Anê Blog. All Rights Reserved.
Blogger Template by The October Studio