Obs: Tem algumas palavras que tem o glossário lá no final do capítulo.
Tsuyoshi
conduziu Akemi até o sofá, onde ela se sentou. O garoto foi buscar
um copo de água para ajudá-la a se acalmar.
-Aki-chan,
me conta esta história direito e com mais detalhes.
-Eu
sai no mês passado com o Hayama Takeshi da 3-C. Nos divertimos no
karaokê e fomos ao motel depois, até usamos camisinha. Mas, eu
comecei a me sentir muito mal essa semana e pensei que podia ser uma
gravidez. Estava com uma pulga atrás da orelha! Fiz o teste só para
tirar essa preocupação, só que... - não completou a frase,
apertou o copo de vidro de leve
-Só
fez este teste de hoje de manhã?
-Só
ele!
-Por
que não faz outro? Este pode ter dado errado.
-Pode
ser. Tem mais uma dessas coisas na caixa, no mesmo lugar onde estava
esse.
-De
onde tirou a chave? - ela só assentiu, ele pegou e entregou-a –
Aqui.
O
rapaz indicou onde ficava o banheiro. Akemi repetiu o processo que
fez de manhã e saiu em seguida.
-Temos
que esperar cinco minutos. - afirmou receosa
Os
dois ficaram o tempo todo sem trocar uma palavra. Akemi se sentou
novamente e tentou se distrair olhando para o teto. Tsuyoshi falou:
-Duas
listras querem dizer o quê?
-Positivo!
- respondeu parando ao lado dele
-Então,
deram duas listras... E de novo pelo visto!
Aiga
não disse nada, só começou a chorar. Depressa, Washiyama
abraçou-a, oferecendo-a um ombro para chorar. Ela ficou um tempo
assim até se acalmar. O garoto disse depois:
-Aki-chan,
eu disse que vou te ajudar com isso. Olha para mim! - ela o fez –
Eu tenho uma prima que trabalha numa clínica aqui perto e é no
caminho se sairmos da escola. Quer que eu ligue para ela e
confirmamos essa gravidez e você decide o que fazer?
-Sim!
É melhor resolver isto logo!
O
menino ligou para a prima naquele instante. Ela era ginecologista e
trabalhava lá. Ele explicou a história pulando muitos detalhes,
apenas usou as palavras amiga e grávida. Ele conseguiu marcar para o
dia seguinte, logo após a aula deles no dia seguinte, um sábado.
-Pronto!
- afirmou ao final da ligação
-Tsuyoshi-kun...
Estou tão nervosa.
-Eu
imagino. Mas olha, eu irei com você amanhã está bem? Estarei lá
com você.
-Obrigada!
- ela sorriu entre as lágrimas
Ele
respondeu com um leve sorriso no canto da boca e completou:
-Agora,
é hora de você ir para casa. - pegou os testes sobre a bancada –
E leve isso com você.
-Acho
melhor não! Minha irmã poderia ver.
-O
meu irmão poderia ver e seria mais estranho para mim do que para
você. - ele riu antecipadamente – Sem Mpreg, obrigado!
Os
dois riram. Realmente fora um comentário engraçado. Tsuyoshi-kun
levou-a até o seu apartamento.
-Fique
bem, Aki-chan. Qualquer coisa, você tem o meu número.
Ela
assentiu e entrou. Suspirou desesperada. Teria resposta para o que
queria no dia seguinte.
A
certeza já estava em seu coração, mas a razão precisava tomar um
choque para ela acreditar no que aconteceu.
Passou
o resto da tarde e boa parte da noite sozinha, sua irmã chegara bem
tarde como na maioria dos dias.
-Aki,
ainda acordada? Você tem aula cedo amanhã.
-Sei
disso! Só vou terminar de assistir ao programa e já vou deitar.
-E
como foi a aula hoje? - perguntando, sentando-se ao lado dela no sofá
-Foi
normal, como sempre! Ainda estou num período importante de estudos.
-E
fico feliz de ver que está se dedicando, ao invés de sair com
garotos todos os dias.
-As
vezes isso enjoa um pouco, irmã. São apenas diversões temporárias.
-Se
sabe disso, porque ainda faz.
-Sei
lá! Acho que só para não ficar deslocada.
-Esse
é o mal da sua idade: Ser aceito. Quando se envelhece um pouco mais
é que se percebe o quão bom é ser diferente e não se deixar levar
pela maioria. - ela sorriu, nostálgica – Ai você vai perceber
quanto tempo perdeu tentando se encaixar quando simplesmente podia
ser você mesma.
-Espero
um dia entender isso, Onne-chan¹.
***
E o
irmão de Tsuyoshi, Kenichi, chegou em casa do trabalho. Assim como a
vizinha e paixonite, ele morava com o irmão que se mudara para
Tóquio a trabalho. E seus pais continuaram na cidade natal.
E o
garoto teve uma surpresa com Akemi naquele dia. Ele queria se
declarar para ela, mas acabou se envolvendo em algo que era pessoal
demais para ela. Por seu amor a garota resolveu ajudá-la. Porém,
além deste ponto não sabia o que iria fazer. Só não queria vê-la
sofrer, por isso oferece uma mão a ela. Era algo muito complicado
para se calcular o que poderia acontecer e isso transparecia em seu
rosto, tanto, que seu irmão indagou:
-Parece
preocupado. O que houve?
-Nada.
Só preocupado... Com a escola.
-Muitas
provas?
-E
muita matéria, Nii-san².
-Pelo
menos você não tem mais nada com o que se preocupar.
-Sim,
tem razão. - e mentiu mentalmente
***
E o
dia seguinte, sábado, chegou. As aulas começavam na mesma hora de
todos os outros dias e iam até o meio-dia, era uma tortura estudar
seis na semana, mas os alunos já estavam acostumados.
O
relógio e o sinal da escola bateram meio-dia. Os alunos começaram a
sair.
Akemi
e Tsuyoshi tinham combinado de se encontrar algumas esquinas depois
da escola, tudo isso para evitar comentários.
A
garota foi na frente e ficou esperando-o. Poucos minutos depois ele
apareceu.
-Vamos,
Aki-chan?
-Sim,
Tsuyoshi-kun.
Caminharam
por mais alguns minutos até chegar a clínica.
O
rapaz cuidou de toda a entrada dela por lá. Eles preencheram uma
ficha com as informações dela e ficaram aguardando. Então, ela
finalmente foi chamada e eles entraram no consultório.
-Boa
tarde, Aiga-san e Tsu-kun.
-Boa
tarde, Sanako-chan.
-Essa
é a amiga a que se referiu no telefone?
-Ela
mesmo!
-Aiga
Akemi é um prazer. Sou a Dra. Yamamura Sanako. E qual o problema?
A
menina ficou pouco receosa de responder, olhou para o garoto que lhe
deu uma pequena dose de coragem para falar.
-A
minha menstruação está atrasada tem umas duas semanas. Também
estou sentindo uns enjoos, até fiz um teste de gravidez... Dois...
Que deram positivo.
-Entendi.
Bem, pode ir para aquele lado de sala, tire sua roupa e vista o
avental que eu vou te examinar.
Enquanto
a menina estava fora da visão dela por apenas uma divisória que
havia no ambiente, Sanako cochichou com o primo:
-Ela
é só sua amiga mesmo?
-Sim.
-Tem
certeza? Tem cara de ter você no bebê também.
-Não...
Eu só gosto dela e... Quis ajudá-la. - ele bufou – Não estou
mentindo.
-Vou
acreditar em você. - e falou com Akemi – Já se trocou, Aiga-san?
-Sim!
-Estou
indo... - olhou pro primo – E você fique aqui!
A
ginecologista abriu o avental e examinou a paciente por fora, só por
rotina. Depois pegou um ultrassom interno.
-Para
quê isso? - Akemi perguntou
-Para
ver se há um bebê ai.
-Mas
comprido assim, nunca vi nenhum assim.
-Este
é interno, colocarei dentro do seu canal vaginal. Abra as pernas!
Colocou
gel na ponta daquilo e começou o exame. Mexeu um pouco para lá e
para cá e finalmente conseguiu ver algo.
-Ora,
ora! O quê temos aqui? - apertou um botão na máquina para tirar
fotos – Meus parabéns, você está grávida!
E
foi assim que o choque chegou e de vez. Ela olhou para a tela, que
foi virada para ela e não sabia o que pensar. Um desespero tomou
conta dela. Ela pensava no que faria.
A
médica tirou o ultrassom de dentro dela e pediu que se vestisse de
novo e voltou a companhia do parente.
-E
ai?
-Temos
um resultado positivo. Aiga-san está grávida!
E
ela começou a pegar e preencher alguns papéis, até que Akemi
retornou e se sentou na cadeira vazia, quieta.
-Bem,
nós temos um assunto sério aqui. - Sanako se pronunciou – Você
deve decidir se vai prosseguir com a gravidez ou se vai abortar. Mas
não precisa responder agora, precisará de um tempo para pensar.
Tenho certeza que foi uma notícia forte para você. - e mostrou os
papéis – Estes aqui são para você pegar os documentos
necessários para a sua gravidez: A cartilha e o chaveiro³. E este
outro é para autorizar o aborto, como você é menor de idade
precisa de alguém responsável para assiná-la. Preencha o que você
for usar.
-Ok!
E outra coisa, Yamamura-san, se for fazer o aborto terei que marcar
também?
-Sim!
Mas você sabe do que um aborto poderá fazer no seu corpo não é?
-Não
faço ideia.
-Bem,
ele vai prejudicar o seu corpo um pouco e pode ser que no futuro
tenha dificuldades para engravidar. E quanto mais demorar a fazer, o
feto estará maior e mais prejudicial será.
-Entendo!
- ela disse, cabisbaixa
-Bem,
é só isso. - completou a doutora – Quando decidir é só ligar
para cá e marcar. - estendeu um cartão
-Claro!
Obrigada!
Assim,
eles saíram. Tsuyoshi acompanhou Akemi para casa. Durante o caminho
seguiram em silêncio. A menina não esboçava nenhuma reação desde
que saiu de trás daquela divisória no consultório.
Eles
finalmente chegaram ao prédio. Subiram até o andar deles e o garoto
resolveu falar quando chegaram as portas, uma ao lado da outra:
-Aki-chan,
tá tudo bem mesmo? Você não falou nada e continua com a essa cara
indiferente desde que saímos de lá.
Ela
estava de costas para ele, não queria demonstrar o que se passava
por sua cabeça. A sua indecisão. O seu medo. Tinha conseguido
manter tudo guardado e lhe torturando por dentro, até aquele
momento.
Permitiu
que as primeiras lágrimas caíssem, silenciosas. Continuou virada de
costas para ele.
O
rapaz, ansioso por uma resposta, virou-a para si e não precisou
ouvir uma palavra dela, teve a resposta que queria. Depressa, colocou
Akemi entre os seus braços e lhe ofereceu novamente o ombro como
consolo. E também, não disse mais nada.
Passados
alguns minutos, ele falou:
-Vem,
Aki-chan. Eu não vou deixar você sozinha.
Pegou
a chave do apartamento dela e entraram. A garota se arrastou até o
sofá. Não parava de chorar. Ele se pronunciou e pegou um copo de
água para ela.
-Tsuyoshi-kun,
o que eu vou fazer? - perguntou pegando o copo
-Você
que tem que decidir, Aki-chan. Mas, primeiro, tem que contar isso a
sua irmã.
-Sim.
Esse é o problema! Eu vou levar um sermão dela. E se bobear, ela
chama os meus pais aqui.
-Mesmo
se for para o aborto? Precisa disso tudo por parte dela mesmo?
-Eu
conheço a minha irmã. Ela ficava me dando conselhos quanto a tomar
cuidado e olha o que houve... Tsuyoshi-kun, eu quero morrer!
-Por
que ia querer morrer? Eu não sei o que seria de mim sem você. - ele
soltou sem pensar e acabou fazendo uma careta
-O
que quer dizer com isso, Tsuyoshi-kun? - ela questionou
-Não
é nada, Aki-chan! Eu... Eu...
-Você
gosta de mim? - sorriu de leve e chorou um pouco mais – Apesar de
eu ser quem sou?
-E o
que você seria, Aki-chan, além de uma menina normal?
-Uma
pessoa irresponsável e a mais falada do colégio.
-Eu
não vejo isso. Vejo uma garota diferente das outras, que veio de uma
cidade pequena e começou a estudar em Tóquio e tem a mesma melhor
amiga desde sempre. - falou pegando na mão dela
-Não
precisa falar essas coisas para me consolar. Isso não vai mudar o
fato de que tem um bebê aqui. - e colocou a mão na barriga – E eu
tenho que resolver! Não vejo outra opção a não ser falar com a
minha irmã... Mas ainda assim estou com medo.
-Se
você quiser eu posso ficar ao seu lado enquanto fala com a sua irmã.
-Se
fizer isso ela vai pensar que o filho é seu e não é.
-Eu
não ligo para isso! Na verdade, não vejo problema em ter um filho
com a Aki-chan.
-O
quê? O que você está dizendo? - ela soluçou
-Caso
queira ficar com esse bebê, eu serei o pai dele.
-Tsuyoshi-kun...
- ela olhou para ele – Obrigada! Você gosta mesmo de mim, não é?
-Sim,
mais do que imagina.
-Então
precisarei de você do meu lado quando for contar sobre o bebê a
minha irmã amanhã.
-Estarei
aqui! Só me chamar.
-Agora
você tem que ir. Daqui a pouco ela chega e eu preciso me recompôr.
-Está
bem, Aki-chan. Eu te vejo amanhã.
A
garota levou-o até a porta e agradeceu a ele mais uma vez.
O
dia seguinte seria muito importante para ambos. Tsuyoshi acabou se
envolvendo naquilo mais do que queria, mas para ele tudo valia por
seu amor a Akemi. E se necessário fosse, ele levaria a mentira de
ser o pai da criança até o fim.
Glossário:
1-
Onne-chan: Irmã mais velha. É como um “maninha” para nós.
2-
Nii-san: Irmão mais velho.
3-
No Japão, eles dão a cartilha para acompanhar o pré-natal. O
chaveiro é para as pessoas identificarem as grávidas no transporte
público. É um chaveiro escrito: “Na minha barriga tem um bebê”.
(Vi no canal da Lidy Soto no Youtube)
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