quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Boletim de Anelândia: #4 - Crenças disfuncionais e a falta de confiança na carreira

Publicada originalmente em 24 de Outubro de 2022

 
Olá, pessoas! Estou de volta! Dessa vez trazendo uma atualização mais reflexiva e eu espero que entendam o que eu quero dizer por aqui.
Vão ser pequenos desabafos e coisas que eu sinto com relação a minha carreira como escritora. Eu também trabalho bastante sobre isto na minha terapia e tento da melhor forma lidar quando acontece do sentimento surgir com força.
E um disclaimer gigante: Eu não sou psicóloga, o que falarei é com base na minha experiência como paciente ao conhecer os esquemas/crenças.

Agora segura que lá vamos nós!

A falta de reconhecimento enquanto autora

Isso sempre foi uma grande questão para mim e não é nem porque a literatura nacional (e independente) é bastante desvalorizada.
Eu comecei a escrever praticamente no final da minha infância e a coisa foi aumentando durante a adolescência, mas eu só decidi levar como carreira quando já estava mais velha.
E bem, poucas pessoas levaram isso a sério quando eu fiz isso, principalmente a família, especialmente meus pais. Talvez porque eles ainda vissem aquela menina de 11 anos que ficava escrevendo em cadernos.
Ainda me recordo quando publiquei o meu primeiro conto e eu tive que ouvir a audácia de um tio perguntando quanto era só a minha parte no livro, porque era só isso que ele ia pagar.
Ou o caso de uma pessoa conhecida (que inclusive tinha sumido da minha vida, mas agora voltou) que quando comprou o livro do conto, foi e mandou uma mensagem anônima no meu tumblr dizendo que eu devia parar de sonhar e procurar alguma coisa mais útil para fazer. E pasmem, tudo isso porque ela não tinha gostado da temática do meu conto em específico.
Confesso que esse foi mais um daqueles dias em que eu simplesmente tive vontade de jogar tudo para o alto e desistir.
Sim, eu tenho a mensagem guardada, para lembrar que ninguém mais vai me derrubar assim.

Essa falta de reconhecimento me afeta muito até hoje, seja pelo simples fato de eu tentar divulgar na internet e não ter alcance (mas isso é assunto para outra edição).
Eu só comecei a ser levada mais a sério lá em 2019, quando depois de juntar os meus primeiros salários paguei a publicação do primeiro volume de As Aventuras de Jimmy Wayn e de O Diário da Escrava Amada. (Que eu até lembro que tentei fazer uma campanha no catarse que foi um flop horroroso.) Fazendo também o lançamento de ambos na Bienal do Rio de 2019, onde subloquei um estande para expor os livros.
Mas, eu conquistei o pouco espaço e o pouco reconhecimento que tenho a muito custo e contando com o apoio de pouquíssimas pessoas, sendo a principal delas o meu noivo/marido/conje, que foi a primeira que leu algo meu lá em 2007/2008.
 
Uma humilde foto da minha mesa da sessão de autógrafos na Bienal 2019.

A bendita (ou seria maldita?) comparação

Quando estamos inseridos num meio com tanta gente que está fazendo as próprias coisas (só para não falar “fazendo os próprios corre”) e tentando se promover, é claro que vão haver as comparações, mesmo que elas não sejam justas.
Quantas vezes não me pego desanimada porque vejo o autor X que publicou um conto novo depois de um ano sem nada e eu que estou trabalhando e lançando coisa nova o tempo todo nem consigo isso? Ou quando o autor Y consegue 100% na campanha dele no catarse e eu fiz a minha e fiquei com 7%? Ou até o autor Z consegue ganhar algum concurso e quando eu participo ou num ganho ou quando tenho uma chance é capaz do concurso explodir só para eu não ganhar? (Isso pode até parecer exagero, mas já aconteceu mais de uma vez.)
Indiretamente a gente se compara e isso não é justo, mas nós fomos ensinados a ser assim.
Tenho plena consciência também de que cada um tem a sua trajetória e o seu próprio tempo para as coisas acontecerem. Só que eu tenho um sentimento de que nunca é a minha vez, entende? Muitos tentam me consolar falando: Calma, Anelise, tudo em seu tempo. Sua vez vai chegar.
E nossa, como me frustra… MUITO! É o que eu sempre falo na minha terapia: parece que eu tô nadando num rio e eu nunca chego na outra margem, sendo que a outra margem é o sucesso/realização.
Eu tô sempre no quase! Sempre me cobrando demais, buscando aprovação, me sacrificando e me punindo e muitas outras coisas. Inclusive, tentando me inserir em grupos que parecem que eu não faço parte, estou sempre alheia… E na “panelinha” de autores, eu tô sempre na bordinha, no cabo.
E tudo isso é consequência das minhas crenças disfuncionais, que tem origens que são exatamente o que vocês devem ter pensado: a minha criação, ou seja, meus pais.

Cena de um mangá que eu amo: Ore No Yubi De Midarero

Lidando com as crenças disfuncionais


Já tem uns anos que eu estou com a minha psicóloga, mas uma das coisas que trabalhamos nas sessões são relacionadas a minha carreira de autora, de ter mais confiança, de fazer o meu e tudo o mais.
E um dos temas que me foram mostrados por ela são justamente as crenças disfuncionais, que nada mais são do que alguns “monstrinhos” que vivem dentro de nós e podemos alimentá-los ou não e em certos momentos uns estão mais alimentados do que outros. São modos que nos comportamos quando temos certos desconfortos e temos formas diferentes de enfrentá-los.
E sério, foi uma das melhores coisas que eu já trabalhei na minha terapia, porque eu percebi quais são as origens de certos pensamentos meus, como eles começam e agora sei o que fazer para lidar com eles, sem precisar fugir.
Eu sei que o sentimento vem, não se pode evitar, mas se pode lidar com ele de uma maneira melhor e mais saudável.
Vou exemplificar melhor para vocês entenderem…
Antes, quando eu era abatida pela frustração e por aquele sentimento de fracasso, eu ia na rede social vizinha e postava “reclamando”, algo como: Ah, por que eu continuo tentando seguir na minha carreira de autora? Não sou boa, não escrevo nada direito.”
E claro, eu era entupida de mensagens das pessoas falando para eu não desistir, que o que faço é muito legal, que um dia eu chego lá. E bem, em resumo, este meu comportamento era fruto da crença de “Busca por aprovação” e este era o jeito errado que eu lidava com isso. Mas, agora eu sei quando vem e não faço mais isso!
Outro exemplo, que foi até o que apitou altíssimo quando fiz o último teste das crenças, foi a de Isolamento Social, que nada mais é do que não se sentir pertencente a nenhum grupo, segue ficando sentada isolada, sempre quieta. Sem contar que as coisas que eu gosto, a maioria das pessoas não conhecem, o que piora. Acho que agravou mais com a pandemia ainda, mas quando vejo as descrições de cada uma dessas crenças consigo me relacionar bastante com algumas delas.
Mas, lidar com as crenças que sempre estiveram presentes é bastante difícil, então é uma passo de cada vez.
Só para reforçar, as crenças disfuncionais são um tema da minha terapia e para descobrir quais estão “ativos” é preciso fazer um teste que o psicólogo aplica. (E que pode ser repetido em períodos, já que muda muito.)
São 18 crenças ao total, mas só para deixar de curiosidade, foram essas que eu conheci até hoje: Isolamento Social; Postura Punitiva; Busca por aprovação; Sentimento de Fracasso; Auto Sacrifício; Padrões Inflexíveis ou Crítica Exagerada; Inibição Emocional; Negativismo ou Pessimismo; Autocontrole e autodisciplina insuficientes.
 

A adulta saudável


Outra personagem que tive contato na minha terapia neste ano foi a “adulta saudável”, que eu inclusive fiz como um Moda Personagem, a pedido da minha psicóloga.
Ainda lembro da experiência de fazer o visual dela, porque eu até tinha lido como uma personagem e confesso que até chorei quando estava na sessão explicando e então percebi que essa personagem sou eu mesma, é a Anelise.
Vou parafrasear o texto que eu pus no meu instagram quando compartilhei as fotos dela:
 
Pensei ela como um daqueles meus sentimentos que aparecem no conto "A Busca da Criatividade", talvez até uma das melhores amigas da Determinação.
Ela é poderosa, ela é dona de si, ela sabe controlar os outros sentimentos e sabe as origens e bases de tudo o que sente. Ela tem a alma colorida, é espontânea, adora a cor vermelha.
Só que ela não é uma personagem, ela é uma versão melhorada de mim. A minha versão depois de anos de terapia que finalmente se entende e se acolhe quando necessário, pensando principalmente naquela pequena Anelise que nem sempre podia fazer tudo o que queria ou reprimia muito seus sentimentos.
Ela é livre, ela coloca todos os acessórios que quer, coloca uma pinta, um batom vermelho, veste o que quer e faz o que quer. Simplesmente não liga para os outros, ela é, simplesmente e plenamente, ela!

E sim, eu estou me tornando cada dia mais uma adulta saudável, que sim, sente as coisas na sua intensidade, mas sabe exatamente de onde vem e como lidar com isso de uma forma saudável e que não seja prejudicial à ela e nem aos outros.
É também aquela desconstrução do “o que os outros vão pensar”... Que pensem, que digam, que falem! Isso diz mais respeito a eles do que a mim!

A adulta de milhões!

Existem bons dias e maus dias e tá tudo bem!

Então, depois desta ladainha toda (só eu mesmo para usar essa palavra), vamos a umas pequenas conclusões, porque eu já me alonguei até demais e vocês devem estar querendo é me bater! (Olha a postura punitiva passando gente…)
Ainda bem que eu faço a minha terapia, uma vez a cada quinze dias e já estou trabalhando e cuidando da minha saúde mental. E foi o que me salvou e muito dos momentos em que que simplesmente queria desistir dessa coisa de ser escritora e manter só como hobby. (Especialmente o episódio traumático de quando fui organizadora de uma antologia. Se eu sobrevivi àquilo, sobrevivo a qualquer merda menor!)
Mas, eu sou humana, sou imperfeita e sim, tenho meus altos e baixos. São coisas que ainda estou aprendendo e desenvolvendo e é um processo.
Tem dias que eu estou com algumas dessas crenças ligadas no 220v querendo acabar comigo, mas eu respiro fundo e tento encontrar um jeito de enfrentar aquilo.
Tem horas que me pergunto e me sinto um fracasso ambulante ou que cobro demais uma perfeição que é impossível de alcançar ou quando recebo uma crítica negativa do meu livro e me sinto um lixo e só quero sumir, porque eu errei e isso não pode, tem que ser perfeito.
Até mesmo lidar com a raiva é um processo… Porque tem momentos que penso que é errado sentir raiva, mas das últimas vezes foi justificado na situação.
E também conquistar a minha confiança e acreditar que sim, essa coisa de ser autora vai dar certo, aliás, já está dando. Que meus livros e histórias são importantes e que só eu posso contar as histórias deles. É um passo de cada vez e cada conquista mínima é para se comemorar!
Enfim, gente, desculpe a zona, a bagunça, mas espero que tenham gostado do nosso Boletim de hoje.
Até a próxima!

Mais um da Hoshiya porque sim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © Contos Anê Blog. All Rights Reserved.
Blogger Template by The October Studio