terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Boletim de Anelândia: #5 - Avisos de gatilho e outras de forma de se proteger como autora (Falando sobre O Diário da Escrava Amada)

Publicada originalmente em 31 de Outubro de 2022

Olá, pipous! "Vortei"!
Hoje falaremos sobre mais uma das minhas histórias, talvez a minha mais conhecida pois a que mais divulgo, que é O Diário da Escrava Amada.
Uma história que me realizou bastante e também já me frustrou bastante como autora!
Enfim, bora lá né?

A origem e a inspiração

O DEA (a sigla do livro) surgiu lá em 2013, comigo no auge dos meus 20 anos. Eu já estava com vontade de escrever algo de gênero erótico, porque eu queria experimentar, como sempre faço! Deve ser por isso que eu tenho histórias de gêneros tão diferentes.
Então, eu acordei uma bela manhã e recordo muito bem de ter sonhado que reassistia ao meu yaoi/BL favorito: Ai no Kusabi.
E desde aquela época, ainda mais quando estou de folga, eu ainda fico mais um tempo na cama, enrolando para levantar. Fiquei pensando no meu sonho e eu não sei como as minhas sinapses fizeram (nunca entendo elas) mas acabou surgiu a ideia do enredo principal do livro. Basicamente uma sociedade no futuro em que as pessoas são bastante divididas pela classe social e aquelas que são pobres são vendidos como escravos sexuais para os ricos.
Assim, com um gerador de nomes aleatório - porque eu não fazia ideia de que nome colocar nos personagens - nasceram Kazuko e Makoto, com sua história contada através de um diário comentado.

Capas 1 e 2 do livro, da época do começo da publicação no Nyah

Evolução das capas no wattpad

Evolução das capas no Nyah Fanfiction

O processo de ser o meu maior livro (até agora)

Levei cerca de 5 anos para terminar de escrever o DEA - sim, eu sou leeeenta - entre 2013 e 2018, fosse escrevendo em casa, na faculdade, em viagem, em restaurante. Foi um livro que me acompanhou durante a faculdade de jornalismo e que me fez amadurecer muito como autora e também me jogou de cabeça nesse mundo de fanfics, já que o DEA foi publicado completo nas plataformas, como o Wattpad.
E bem, é um livro que ficou com 60 capítulos + prólogo + epílogo no final das contas. Quase 400 páginas no digital e quase 450 no físico!
Lá por 2019, decidi que queria fazer a campanha de publicação no catarse para lançar o livro na Bienal Rio do mesmo ano! Mas, a coisa foi bastante simbólica, porque eu consegui apenas 7% do valor total, mas eu já estava trabalhando e já ia custear os valores de tudo.
E por sorte, bem nessa época acabei ganhando um sorteio que dava uma capa completa e uma diagramação completa para vencedor e aproveitei para o DEA. (E foi a melhor coisa, porque eu passei tanto estresse por causa da antologia neste período.)
Mas fora essas coisas de publicação, este é um dos livros mais complexos que já escrevi, com personagens bastante complexos e um enredo cheio de nuances por trás. Eu tenho bastante ciência de que esta é uma não é uma história de romance fofinho e nunca foi sobre isso. E mesmo assim, eu amo Kazuko, Makoto, a história deles e a de tantos outros personagens presentes neste livro!
(Uma pena que nem todo mundo que lê percebe esses detalhes e só olha problematizando. Vou falar sobre isto mais a frente!)
 
DEA lá no Nyah, confesso que tenho pena de apagar!
 

Referências de Ai no Kusabi e outras coisas

Se tem uma coisa que existe e muito no DEA são referências, bastantes delas.
A começar pelas relacionadas com Ai no Kusabi, que estão nos nomes das cidades, tanto na época em que era dividida, quanto na unificação, que são Tana (de Tanagura, cidade dos ricos), Serec (Ceres, as favelas do mundo da novel) e Ioma (Amoi, mundo do novel). Sem contar que lá no epílogo aparecerem dois personagens que apenas são citados como um loiro e um mestiço e quem já viu Ai no Kusabi sabe exatamente o que isto significa!
 
Os maiores de todos os casais de BL, na minha humilde opinião!
 
Sem contar que Ai no Kusabi me inspirou tanto, que tem diversas músicas da OST do OVA de 1992 presentes na playlist da história (que até hoje não consegui colocar no spotify) e também a citação de abertura do livro é a letra de Eternal, uma das músicas de AI no Kusabi.
E se você observar certas coisas, o Makoto e a Kazuko são bastante parecidos com o Iason e o Riki mesmo.
E temos as referências mais simples, como as clichês em que cito uma obra minha na outra. Neste caso a que aparece é a Filha do Conselho (com o nome citado) e também o Mago Belo, citado indiretamente.
A última é para os mais inteligentes! haha
Tirando os primeiros núcleos de personagens que aparecem, a maioria dos nomes presentes no livro são de seiyuus. Alguns eu até joguei o sobrenome no meio, só catar tudo!
“E quem conseguir ganha o quê?”, vocês devem estar se perguntando.
Vou soar meio nojenta, mas apenas um “Parabéns pelo tempo livre”!

 
O trecho da música na abertura do livro.
 

O Dreamcast com Seiyuus

Ah, mas vocês acharam mesmo que eu não ia falar de seiyuus de novo nesta newsletter? Acharam errado! (Zeramos o contador de "falei sobre seiyuus, o recorde é 0 dias"!)
Brincadeiras à parte, uma das partes mais divertidas do DEA pra mim é justamente que o Dreamcast dos personagens do livro, pelo menos o casal principal do livro, são com seiyuus. Para a menina Kazuko temos a maravilhosa Asami Imai. Para o Makotinho temos o maravilhoso Kaji Yuuki (e o Lee Hong-ji por tabela).
E eu fiz isso não só porque sou apaixonada por dublador japonês, mas também porque os personagens são japoneses e eu queria fugir do padrão dos avatares por aí!

Asami Imai como Hirasawa Kazuko
 
Kaji Yuuki com Miyasaki Makoto

E como eu num valho nada, obviamente montei um Dreamcast Seiyuu - que posso separar uma edição para falar sobre - do livros quase todo. No caso, é seguindo a ideia de que seja um anime e os personagens tenham as vozes dos citados.
Várias outras minhas tem seu próprio Dreamcast Seiyuu - Super Agentes inclusas -, mas um dos meus favoritos é justamente o do DEA. (Sugitan como Koishiro é apenas tudo e um pouco mais!)



 

Quando coloquei o aviso de gatilhos (e continuo tendo problema com isso)

Tenho plena consciência que o DEA não é um livro com temas delicados, não é romancinho fofo. São dois personagens que iniciam uma relação de forma bastante adversa - para não dizer absurda a nossos olhos - e mesmo assim acabam se apaixonando. Mas o DEA não é apenas sobre isso, tem toda a questão de divisão, posição social e a hierarquia que é mostrada. Realmente é um livro muito complexo e com muitas nuances!
Próxima a época de publicação do livro físico, quando estava com a campanha no catarse lá na reta final, compartilhei sobre num grupo de autores, para dar aquela divulgada básica.
Cês acreditam que teve uma pessoa - imagino que outra autora - que pediu o link do livro e eu inocentemente mandei e a bonita foi lá - ciente dos gatilhos que tinha - e leu e fez questão de me esculachar num comentário?
Não anulando os gatilhos e as coisas que ela sentiu, mas ela disse que eu tinha banalizado o tema da escravidão e em como a cena da primeira vez tinha afetado ela por ser considerado estupro! E quando a pessoa faz isso, ela não tece um elogio, ela só quer te botar para baixo e quer parecer justiceira social e que ela está certa.
Confesso que por causa disso, eu cheguei, literalmente aos 45 do segundo tempo, a semanas de publicar, a pensar em jogar um trabalho de cinco anos no lixo, porque era assim que eu me sentia. (Se você leu a edição anterior, sabe bem que isso tem a ver com as minhas crenças disfuncionais.) E para piorar, no dia que isso aconteceu eu estava no trabalho! Imagina a situação?!
Desabafei num grupo de autoras e as meninas foram umas fofas e me acalmaram e me deram a sugestão de colocar os avisos de gatilhos para eu me proteger de algo assim de acontecer outra vez!
Segui a sugestão delas e no livro tem, na parte de trás, os avisos e a classificação 18+. No ebook lá na Amazon, os avisos estão antes da sinopse do livro e caps Lock: AVISO DE GATILHO. Quando eu divulgo, faço questão de recordar da pessoa ver os avisos.
E vocês acham que depois dessa vez parou? Na verdade, não! Essa história de pessoa que leu o livro ciente dos avisos - porque está bem grande - e acabou tendo os gatilhos despertados e veio reclamar comigo acontece periodicamente.
Agora eu me pergunto, tentando ao máximo não coringar, como a pessoa pode ser tão masoquista a esse ponto? Ler de propósito só para depois poder reclamar? (Acho que isso tem a ver e muito com a forma que consumimos as mídias hoje em dia, tema que dá outro textão se deixar.)
Se bem que eu sempre penso: Se esse povo for ver a obra que inspirou, entra em surto e tem uma síncope.
Não foi a primeira e com certeza não será a última e eu já aceitei isso sabe?
Meme para descontrair!
 

Como um autor pode fazer para se proteger?

Ainda falando dos avisos de gatilho, vou contar o causo da última vez!
Em Agosto, deixei o DEA de graça e sempre chegam as avaliações novas e esta foi justamente desta leva.
Um dia, recebi um direct no insta de autora e era uma menina falando que leu o livro e que tinha algumas coisas para falar. Por conta do histórico, eu já sabia que vinha bomba!
O Instagram resolveu me trolar e eu fiquei uma semana achando que a menina não quis falar porque eu vi a mensagem dela e em dois segundos respondi. Mas, quando finalmente apareceu a mensagem, não era nada do que já não esperasse. Ela tinha gatilhos com esses temas, mas resolveu ler o livro mesmo assim e bom, deu no que eu já sabia. (E certeza que a avaliação de 2 estrelas que faltava na Amazon era dela.)
Tudo bem que a menina foi super justa e falou bem de boas, só pelo fato dela ter ido no direct já comprova isso.
Mas teve um detalhe que me deixou bem "passada". A sugestão de que eu colocasse um disclaimer/aviso antes do início do livro que tudo aquilo era ficção e que eu como autora não concordo com nada do que está descrito ali.
Eu fiquei: cumá?
Quem me segue na internet sabe que nunca concordei com nada do livro, mesmo que fale sobre algum assunto em qualquer livro, não significa que eu ache certo!
Sem contar que, ao meu ver, existe uma tremenda e puta falta de interpretação de texto de muitas pessoas que leram o DEA. Alguns só enxergam as problemáticas, outros só enxergam o romance da coisa. E eu falei acima as nuances que tornam o livro muito complexo! (Talvez seja cancelada justamente por esse parágrafo.)
Resumo da ópera: não coloquei o que ela pediu, mas decidi passar o DEA para o gênero de dark romance.
Mas, cá só entre nós aqui… Mais uma reflexão…
O que mais a gente autor precisa fazer, ao escrever livros com temas mais pesados e bem problemáticos, temos que fazer para nos protegermos de coisas assim? Fazer sinal de fumaça? Fazer dancinha no tico teco? Sério mesmo, eu fico matutando isso na cabeça!
Não que a pessoa comentar sobre os gatilhos sejam o problema em si, mas essa cultura que estamos vivendo de sempre pisar em ovos e tomar sei lá quantas precauções para não ser cancelado (porque é isso que acontece hoje em dia).
Porque pode apostar que mesmo com os gatilhos, com o disclaimer sugerido e com a mudança de gênero do livro, vai aparecer alguém me mandando mensagem nesse estilo. E eu vou continuar com as mãos atadas, sem saber o que fazer, porque é um pulo para alguém espalhar coisas erradas sobre meu livro. (Já vi acontecer nessa internet, especialmente no twitter.)
E a conclusão disso tudo? Bom, a gente continua tentando avisar leitor e proteger a eles e a nós também, mas é algo bastante complicado. Só tem como lidar depois que a merda sobe!

Bem, pessoal, é isto!
Peço perdão por mais uma edição imensa, mas acabo me empolgando com algumas coisas.
Até a próxima edição do Boletim de Anelândia!  

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