sexta-feira, 28 de março de 2014

Capítulo 13 - Apenas um passeio

No dia seguinte, lá estava eu lendo o diário de novo. Eu não consigo me controlar e ultimamente tenho dado “uns grandes saltos”. Por sorte, não havia nenhum colega de trabalho me rodeando, era apenas a Kazuko e o Takumi. Keiko já foi para casa.
Minha esposa estava, sentada ao meu lado na cama, amamentando nosso pimpolho. (risos) Logo percebeu que iria ler mais um pouco e nem se incomodou. Continuei a ler...

Querido diário,
agora são mais de meia-noite. Sei que essa hora era para estar no quarto de Makoto. Porém, hoje ele me levou a um lugar lindo... Vamos por partes!
Makoto saiu, como na maioria dos dias. Auxiliei Keiko um pouco nas coisas da casa e fui a biblioteca. Acabei o outro livro que lia, aquele sobre magos elementais e tal. Vasculhei aquelas enormes prateleiras, nos dois andares do cômodo. Parece que estou em uma livraria em que posso levar qualquer coisa. Tá! Eu exagerei!
Peguei mais uma história de fantasia, afinal, eu preciso esquecer essa minha vida de escrava um pouco. E como não posso sair, minha única forma de ir a outro lugar é através da leitura.”

Ela sempre tentava escapar do que vivia. Eu nunca consegui sequer me imaginar no lugar dela. Mas eu sempre tive uma ótima noção do que ela passava. Eu vi isto a minha vida toda.

Mais um daqueles universos com diversas dimensões paralelas entre si. Seres místicos e com grandes poderes.
Um grande vilão, que quer de qualquer maneira ter tudo aquilo sobre o seu comando. E ele não medirá esforços para conquistar esse propósito.
De certa forma, isto lembra a mim mesma.
Eu sou a mocinha e a heroína da história e tenho que lutar pelo o que quero.
Makoto é o vilão, o que ele quer dominar é a minha vida, ou melhor dizendo, me dominar. Como se eu fosse algum tipo de ser indomável e rebelde.
E estou realmente curiosa para saber como esta história irá se desenvolver e terminar.
O resto do meu dia se passou de acordo com a rotina que você já conhece.
Makoto retornou e jantamos. Após isso, ele pediu para eu trocar de roupa, pois me levaria a um lugar. Vesti-me depressa, descemos e saímos. Makoto dirigiu para a direção contrária da cidade. Começamos a subir e subir.
Minutos depois, chegamos finalmente. Era o topo de uma das montanhas ao redor da cidade.
Saltamos do carro e fomos a frente dele, a fim de olhar a vista. Quando vi, me impressionei! Nunca tive uma visão tão linda da cidade.
Pela primeira vez, ela não estava cinza, eu via cores e mais cores, espalhadas em vários pontinhos. A minha volta tinha a grama e as árvores. Fechei os olhos e respirei fundo. Eu guardei este momento em minha mente. De repente, soprou uma brisa gelada, que fez eu me bater de frio. Makoto colocou seu paletó em meus ombros.
–Obrigada, Makoto! - agradeci sorrindo
–De nada.
Um breve silêncio se fez. Depois, eu perguntei:
–Por que me trouxe aqui?
–Ora, só queria te mostrar um lugar que eu gosto. E pelo que percebi, gostou também.
–Nunca vi nada igual.
–Sei disso! Quem vive do lado pobre da cidade não sai de lá.
–E sem cinza... - completei, sem graça
–Sem cinza! - disse rindo
Senti o braço de Makoto passar por trás de mim e sua mão pousou pouco abaixo do meu ombro.
Ele me abraçou? Foi isso mesmo? “Ele quer alguma coisa”, pensei.
–Quer ir para o carro? - questionei
–Será que não posso simplesmente abraçar você?
Fiquei encabulada e com vergonha, por isso me calei. Makoto continuou:
–Não precisa ficar envergonhada. - sorriu – Acho que você sempre fica um pé atrás comigo. Não te culpo! - me puxou para mais perto – Será que podemos ser mais próximos?
–Eu não sei, Makoto.
–Você dorme comigo todas noites praticamente. Eu não consigo manter uma relação com você, tipo dono e escrava.
–Entendo. Essa hierarquia pesa demais.
–Podemos esquecê-la e sermos amigos? O que acha?
–Por mim, tudo bem.
Então encostei minha cabeça em seu ombro. Ficamos olhando aquele conjunto de luzes por um tempo. Makoto soltou de repente:
–Sabe, Kazuko, apesar de te conhecer pouco, gosto muito de você.
–Eu também, Makoto. - falei sorrindo”

Aquele momento em que se fica totalmente envergonhado é esse.
É estranho um dono gostar de sua escrava. Realmente, não é algo comum! Eu me sentia estranho por isso. E não! Eu não estava apaixonado pela Kazuko... Ainda.
Ela colocou o menino no berço e depois ficou apoiada em mim, de maneira bem semelhante ao que lia. Nem falou nada, só ficou ali. Parecia que também estava dando umas escapadas e lendo.
Então, eu prossegui...

Eu estou até agora tentando entender o porquê dele ter dito isso. Só espero que tenha sido sincero. Com toda essa situação, eu também gosto do Makoto. Da companhia dele. O que me assustou e surpreendeu foi ter comentado, assim, do nada. Em seguida, ele puxou outro assunto:
–Você sabe que meu aniversário está chegando, Kazuko?
–Não sabia. Nem sei a data do seu aniversário.
–Eu quero que ajude a Keiko nos preparativos. Vou dar uma festa em casa.
–Tipo essas coisas de comida e decoração?
–Isso mesmo. E outra coisa: Também quero que participe da festa.
–Como convidada?
–Sim. Você faz parte da minha vida. - deu uma breve pausa e falou – Posso contar contigo?
–Claro, Makoto.
–Fico feliz. Sério!
–Eu quero é saber o que fará no meu aniversário.
–Podemos ver isso depois.
E eu ri. Ele sabia que estava de brincadeira com ele.
Ficamos mais uns cinco minutos, entramos no carro e voltamos para casa. No caminho, Makoto colocou música e era uma que gostava. Não me contive em não cantar. Ele achou engraçado e comentou:
–Você canta bem!
Ao chegarmos, Makoto mandou-me dormir no meu quarto. Perguntei se ele tinha certeza, ele disse que sim. Vim para cá e tomei um banho. Admito que estou ansiosa pelo aniversário do Makoto. Conversarei com Keiko sobre o mais rápido possível.
Agora eu dormirei.
Boa noite!”

Fechei o caderno e pus no criado-mudo.
Kazuko me abraçou, mas de um jeito que... Bem... “Quer brincar um pouquinho?”
E foi o que fizemos.

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